Por Kevin Lima, g1 — Brasília


O ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura Neri Geller afirmou nesta terça-feira (18) que ficou “chateado” com a sua exoneração do cargo anunciada pelo ministro Carlos Fávaro depois de suspeitas de fraude no leilão para compra de arroz importado.

Geller afirmou também ter sido contrário ao leilão (leia mais abaixo).

A exoneração de Geller foi oficializada em 12 de junho. A saída do então secretário ocorreu após o governo federal anular o leilão para importar 263 mil toneladas de arroz.

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A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), responsável pela disputa, havia justificado o cancelamento com base em indícios de incapacidade técnica e financeira de algumas empresas vencedoras. Geller estava no centro da polêmica.

Um ex-assessor de Geller, que também é sócio do filho dele em uma empresa, foi um dos negociadores do leilão. Entidades agrícolas e membros da oposição apontaram um suposto favorecimento da corretora do ex-funcionário de Neri Geller na concorrência.

A demissão de Geller foi anunciada por Fávaro no dia 11, junto do anúncio do cancelamento do leilão. Na ocasião, o ministro da Agricultura disse que o próprio secretário havia pedido demissão. À imprensa, Geller negou ter pedido a saída da pasta

Em audiência pública da Comissão de Agricultura da Câmara, Neri Geller afirmou somente ter conversado com Fávaro e dito não ter envolvimento com as supostas fraudes.

“Eu não devo. E, por isso, que eu fiquei chateado, sim, com o ministro da Agricultura com a forma como eu saí do governo”, disse.

Segundo ele, embora a decisão tomada por Fávaro seja “legítima”, o chefe da Agricultura poderia ter decidido por um afastamento até que “todos os pontos” fossem esclarecidos.

“Não saí a pedido. Eu não devia. Eu não devo. Poderia ter me afastado para esclarecer todos os pontos. Não seria justo eu simplesmente sair e isso ficar pelo diz que me disse”, afirmou o ex-secretário.

'Equívoco político'

Durante a audiência, Neri Geller negou ter participado do leilão de 263 mil toneladas de arroz. Segundo ele, a confecção da disputa foi feita pelo gabinete de Fávaro e pela Casa Civil da Presidência.

O ex-secretário narrou ter sido contrário ao leilão, em uma primeira discussão na Casa Civil. Ele declarou ter defendido somente uma redução da alíquota de importação do arroz para “estimular” a entrada de produtos do Mercosul. “Fui voto vencido”, afirmou.

Ao ser questionado por parlamentares, Geller avaliou, porém, que o leilão e a condução adotada pelo governo foi um “equívoco”.

“Teve um equívoco na minha avaliação, na condução dessa importação. Teve um equívoco. [...] No nosso entendimento, não houve má-fé. Houve um equívoco político.”

De acordo com Geller, o Planalto já discutia a situação do abastecimento e a alta do preço do arroz desde janeiro — quatro meses antes das enchentes que impactaram o Rio Grande do Sul e motivaram o leilão para importação do produto.

O ex-secretário disse ter feito apresentações sinalizando estimativas de uma “supersafra” de arroz no Rio Grande do Sul em 2024. 

“A minha posição, como secretário de Política Agrícola, era muito clara que, nesse momento, tinha-se também uma janela de oportunidade para a produção nacional”, disse.

Geller afirmou que, mesmo com os dados, a decisão de importar arroz foi tomada em uma reunião na Casa Civil.

Ao ser vencido na discussão, o secretário disse ter apoiado uma proposta de que o governo importasse somente 100 mil toneladas e que realizasse, então, um acompanhamento dos níveis de abastecimento do produto no país.

Mais tarde, o governo elevou o montante a ser importado para 300 mil toneladas. “Seria no máximo 100 mil toneladas e foi para 300 mil toneladas, o que acho que foi um equívoco político do governo”, declarou.

“Eu, de forma categórica, apresentei que nós já tínhamos 83% do arroz colhido e que esse arroz então estava nos armazéns. E o que faltava colher ainda estava fora dos eixos de inundação e poderia ser recuperado. Então, portanto, o arroz estava ali.”

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