Por Sara Curcino, TV Globo e g1 — Brasília


Jaques Wagner (PT-BA) durante sessão do Senado — Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), afirmou nesta quarta-feira (12) que não há "o menor interesse", da parte do governo, em derrubar a desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia e dos municípios neste ano.

Jaques Wagner reforçou que o governo topou acordo para manter a medida até o fim do ano.

"Governo não tem o menor interesse de derrubar acordo feito sobre desoneração dos municípios e dos setores até o fim do ano", disse o senador.

Em maio, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) anunciaram o seguinte:

▶️ Empresas: desoneração da folha de pagamentos mantida até o fim de 2024

  • Significa a substituição da contribuição previdenciária de 20% sobre o total dos salários dos funcionários pelo pagamento de imposto (de 1% a 4,5%) sobre a receita bruta do empreendimento;
  • A partir do ano que vem, as empresas de 17 setores voltarão a contribuir com a Previdência, com imposto de 5% sobre a remuneração dos empregados;
  • Haverá um crescimento gradual da alíquota, que vai atingir 20% em 2028 e assim não será possível contribuir sobre a receita bruta;
  • Entre as 17 categorias estão indústria, serviços, transportes, construção e comunicação;
  • Os setores, que são estratégicos para geração de emprego no país, argumentam que um fim abrupto da desoneração pode forçar a demissão de funcionários.

▶️ Municípios: desoneração da folha mantida até o fim deste ano

  • Neste caso, quer dizer uma alíquota reduzida da contribuição previdenciária, de 8%, sobre os salários dos funcionários, paga pelos pequenos municípios;
  • Haverá aumento gradual do imposto a partir de 2025, mas os índices ainda não foram informados. Isso vale para cidades com até 156 mil habitantes.

Valdo Cruz: Pacheco tem plano B para MP da desoneração

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Queda de braço

Antes do acordo entre Planalto e Congresso, houve uma queda de braço entre os dois Poderes. O parlamento havia aprovado a desoneração ainda em 2023. Mas o Executivo tentou derrubar o benefício.

Depois de ser derrotado em nova votação da matéria no Congresso, o governo levou tema para a Justiça. Em 17 de maio, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu 60 dias para a equipe econômica e os parlamentares apresentarem juntos uma solução. Enquanto isso, a desoneração segue valendo tanto para setores quanto para as prefeituras.

O impasse está agora na definição de como os custos gerados pela desoneração aos cofres públicos, de R$ 26,3 bilhões, serão pagos.

A primeira tentativa da equipe econômica foi uma medida provisória (MP) que proibia o setor produtivo de usar créditos da contribuição do PIS e da Cofins (tributos federais) para compensar débitos referentes a outros impostos.

O texto ainda vedava o regime especial do chamado "crédito presumido" de PIS/Cofins, em que as empresas podem compensar débitos vencidos com a Receita Federal ou pedir um ressarcimento do saldo de créditos em dinheiro vivo para o governo. A MP afetaria, por exemplo, a indústria, a indústria petroquímica e a agropecuária.

A MP foi mal recebida pelos setores impactados e também pelos parlamentares, a ponto de o presidente do Senado cancelar nesta terça (11) a mudança no uso desses créditos.

Após a devolução de parte da MP, tanto Haddad quanto Jaques Wagner afirmaram que não existe ainda um "plano B", ou seja, uma solução para ampliar a arrecadação com objetivo de bancar a desoneração.

Possíveis soluções

Pacheco defende junto ao governo uma série de propostas, que já tramitam no Congresso, para sanar o problema:

  • Repatrição de dinheiro de brasileiros no exterior com o pagamento de Imposto de Renda para regularização dos recursos;
  • Atualização de ativos no Imposto de Renda, medida que permitiria que pessoas jurídicas e físicas pudessem atualizar o valor de seus bens;
  • Legalização de jogos de azar, que aguarda votação em comissão do Senado;
  • Refis de multas aplicadas por agências reguladoras;
  • Uso de dinheiro esquecido no sistema financeiro;
  • Uso de depósitos judiciais que hoje estão sem titularidade.

Nesta quinta (13), Pacheco vai discutir os projetos com líderes partidários do Senado. Ele disse que pretende dialogar também com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Jaques Wagner, que representa o governo no Senado, explicou que algumas propostas, como a legalização dos jogos de azar, não serão imediatas, com isso não terão serventia para resolver a desoneração neste ano.

"Isso [jogos de azar] é o ovo no bumbum da galinha. Vamos supor que aprove agora, vai ter cassino para convidar gente para entrar para pagar imposto quando?", questionou o líder.

O senador petista argumenta que o Congresso precisa refletir sobre a compensação, não apenas a equipe econômica.

"Arrumaram uma despesa e não botaram como pagar. As ideias precisam completar R$ 20 bilhões. É óbvio que ele [Haddad] acha ótimo a repatriação para botar R$ 1 bilhão dentro [do orçamento]. Alguém cria um problema e ele [Haddad] tem que criar uma solução. Todos aqui [no Congresso] são devotos da Lei de Responsabilidade Fiscal, mas na hora de cumprir ninguém quer. Como é que paga a conta?", completou Jaques Wagner.

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