Lula diz que já tem ‘80% do ministério na cabeça’
O presidente eleito, Lula (PT), afirmou nesta sexta-feira (2) que a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) não será ministra do futuro governo e que só anunciará a equipe após ser diplomado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo ele, "80%" dos ministérios já estão "na cabeça".
Lula deu as declarações em entrevista coletiva no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). em Brasília, onde funciona o gabinete de transição de governo. Atual presidente do PT, Gleisi acompanhou a entrevista de Lula.
"Eu tive uma discussão com a companheira Gleisi e disse para a companheira Gleisi que, primeiro, o PT é um partido muito grande, o PT é um partido muito importante e o PT é um partido majoritário na montagem da governança dentro do Congresso Nacional", afirmou Lula.
"É muito importante manter o PT se organizando, manter o PT se fortalecendo, e tem outras pessoas que podem representá-la dignamente no governo, a começar pelo presidente da República. Então, o fato de eu ter dito para a Gleisi que ela não será ministra é o reconhecimento do papel que a Gleisi tem na organização política do PT no Brasil", acrescentou.
Ainda na entrevista coletiva, Lula também disse que:
- Quer aprovar PEC da Transição enviada, mas que aceita negociar;
- Discutirá com Biden democracia e guerra na Ucrânia;
- Orçamento 'secreto' não pode continuar como está;
- Quer influir nas decisões da Economia.
Antes de se dirigir ao CCBB e conceder a entrevista coletiva, Lula recebeu aliados no hotel onde está hospedado em Brasília e se reuniu com o ex-presidente José Sarney (MDB).
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Presidente eleito Lula concede entrevista coletiva em Brasília — Foto: Reprodução
Futuro ministério
Ainda na entrevista, Lula informou que só anunciará os ministros após a diplomação no TSE, marcada para 12 de dezembro.
"Eu não escolhi ministro. Estou em um processo de conversa com as forças políticas."
"Eu já conversei com forças políticas que não me apoiaram durante a campanha, mas que são de partidos que têm importância no Congresso Nacional, seja na Câmara dos Deputados ou no Senado. [...] Depois que eu for diplomado, reconhecido, aí vou começar a escolher meu ministério. Não precisa ninguém ficar angustiado", afirmou.
Lula também disse que a "base" dos ministérios do futuro governo será a mesma de quando ele deixou o mandato, em 2010, acrescentando o Ministério dos Povos Originários.
Durante a entrevista, Lula reafirmou ter compromisso com o crescimento econômico do país, com a retomada do emprego.
Segundo o presidente eleito, o trabalho que a equipe de transição tem feito é "minucioso".
Ao todo, a equipe de transição, coordenada pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), foi dividida em 31 grupos técnicos. E os relatórios preliminares começaram a ser apresentados nesta semana.
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PEC da Transição
Ainda na entrevista desta sexta-feira, Lula disse estar "convencido" que a Proposta de Emenda à Constituição conhecida como PEC da Transição será aprovada pelo Congresso Nacional, mas que aceita negociar com os parlamentares.
Entre outros pontos, a PEC prevê que as despesas com o Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família) ficarão fora do teto de gastos.
O governo eleito argumenta que a medida é necessária para garantir, por exemplo, o pagamento de R$ 600 mensais uma vez que a proposta de Orçamento do governo Jair Bolsonaro garante R$ 400.
"O que me interessa é a PEC que nós mandamos. Essa PEC já foi conversada com o presidente da Câmara, com o presidente do Senado, várias lideranças. Até agora, não há sinal de que as pessoas queiram mudar a PEC. As pessoas sabem que não é o governo que precisa dessa PEC, [sabem] que o Brasil precisa dessa PEC."
Lula também criticou a atual gestão.
"Quem deveria ter colocado a quantidade de recursos no Orçamento era o atual governo. O que ele está fazendo é tirando mais dinheiro, mais dinheiro da Saúde, mais dinheiro da Educação. Ou seja, me parece que eles querem deixar esse país a zero para a gente recomeçar a governar" afirmou Lula.
"Nós vamos consertar esse país. Em vim pra esta Presidência com essa missão, e nós vamos cumprir essa missão. Queremos a PEC porque precisamos investir em algumas coisas, precisamos retomar o Minha Casa, Minha Vida, precisamos colocar algum dinheiro no SUS."
"Temos coisas importantes, imprescindíveis para o povo brasileiro. Então, eu espero que o Congresso Nacional, Câmara e Senado, tenham simplesmente sensibilidade e possam votar do jeito que nós queremos. Se precisar ter um acordo, nós também sabemos negociar", completou.
A PEC prevê que o governo poderá estourar o teto de gastos em R$ 198 bilhões no ano que vem, mas economistas alertam que o montante eleva a dívida pública e gera incertezas sobre o futuro da economia e das contas públicas.
Paralelamente à proposta do governo, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) apresentou uma proposta que eleva o teto de gastos em R$ 80 bilhões no ano que vem. Tasso argumenta que o valor garante os R$ 600 do Auxílio Brasil e garante a recomposição do Orçamento da União.
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Perfil do futuro ministro da Economia
Lula foi questionado sobre o nome do novo ministro da Economia. O presidente eleito vem sendo cobrado para anunciar logo o comando da pasta. Isso, segundo o mercado e economistas, daria tranquilidade sobre a política econômica do novo governo, principalmente no que diz respeito ao equilíbrio fiscal.
Lula afirmou que o novo ministro vai refletir o "sucesso" das políticas econômicas de seus primeiros mandatos na Presidência. Ele citou feitos como obtenção de superávit primário e redução da dívida pública interna.
"Ou seja, então, o meu ministro da Economia será essa cara do sucesso do meu primeiro mandato. Olha a cara e será o ministro para fazer isso. Obviamente que o ministério tem autonomia, o ministério tem um monte de coisa, mas quem ganhou as eleições fui eu. E eu, obviamente, que quero ter inserção nas decisões políticas e econômicas deste país", disse Lula.
Orçamento secreto
Questionado sobre o orçamento secreto, Lula afirmou que o modelo não pode "continuar como está". Mas ele ressaltou que é a favor de emendas parlamentares, desde que transparentes e alinhadas com objetivos do governo.
"Eu sempre fui favorável que o deputado tenha emenda, mas é importante que ela não seja secreta. E é importante que a emenda seja dentro, sabe, da programação de necessidades do governo. E que essa emenda seja liberada de acordo com os interesses do governo. Não pode continuar da forma que está. Acho que todo mundo compreende isso", disse o presidente eleito.
Conversa com Biden
Lula ainda comentou o encontro que deverá ter com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. O presidente eleito disse que quer conversar sobre democracia e sobre a guerra na Ucrânia com o norte-americano.
"Nós vamos conversar política, a relação Brasil-Estados Unidos, o papel do Brasil na nova geopolítica mundial. Eu quero falar com ele da guerra da Ucrânia, que não há necessidade de ter guerra", afirmou Lula.
Joe Biden, presidente dos EUA — Foto: REUTERS/Jonathan Ernst