Bolsonaro se encontra com Putin em Moscou
O presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, fizeram uma declaração à imprensa nesta quarta-feira (16), após uma reunião no Kremlin. Em sua fala, Bolsonaro defendeu a soberania de países e o empenho pela paz.
A viagem oficial de Bolsonaro acontece em um momento em que a Rússia está no centro de uma crise diplomática internacional. O país liderado por Putin movimentou milhares de tropas na fronteira com a Ucrânia, o que foi visto pelas potências do Ocidente como ameaça de invasão.
O encontro de Bolsonaro com Putin já estava marcado antes da escalada da crise. Para analistas políticos, o presidente brasileiro tenta inflar sua imagem posando ao lado de um poderoso líder global. Por outro lado, veem o risco de, assim, o Brasil desgastar sua imagem com aliados históricos e poderosos, como os Estados Unidos e a União Europeia, que se contrapõem a Moscou na questão ucraniana.
Nos dias que antecederam a viagem, o governo brasileiro ressaltou que a questão da Ucrânia não seria o foco da visita a Putin. Em sua fala ao lado do presidente russo, Bolsonaro não mencionou a crise diplomática.
"Senhor presidente, compartilhamos de valores comuns, como a crença em Deus e a defesa da família. Também somos solidários a todos aqueles países que querem e se empenham pela paz", disse o presidente brasileiro.
Bolsonaro e Putin fizeram uma declaração à imprensa depois de reunião no Kremlin — Foto: Reprodução/TV Brasil
Laços comerciais
Bolsonaro enfatizou que o Brasil tem interesse em ampliar as trocas comerciais com a Rússia.
Ele ressaltou o setor dos fertilizantes russos, importantes para o agronegócio brasileiro. E lembrou que os russos têm interesse em proteína animal do Brasil.
O presidente ainda disse que deseja aprofundar a relação com a Rússia na área de óleo e gás em temas como exploração em águas profundas e hidrogênio.
“Atribuímos elevada prioridade à dinamização da aliança tecnológica entre Brasil e Rússia”, declarou.
Fala de Putin
O presidente russo também defendeu a ampliação das relações comerciais com o Brasil. Ele lembrou da parceria nos Brics, por exemplo, grupo que reúne, além de Brasil e Rússia, China, Índia e África do Sul.
"Sem dúvida, continuaremos com a cooperação no âmbito dos Brics", disse Putin.
Ele também citou, como exemplo de laços entre os países, a escola do Teatro Bolshoi em Joinville. Putin prestou condolências a famílias de Petropólis, atingida por fortes chuvas que causaram dezenas de mortes.
Em um momento de sua fala, Putin manifestou "firme compromisso com o multilateralismo e resolução de conflitos por meios diplomático e político".
Os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e da Rússia, Vladimir Putin, reuniram-se em Moscou, acompanhados de intérpretes — Foto: Oficial Kremlin/PR
Cinco exames de Covid
Mais cedo, na reunião entre os dois presidentes, Bolsonaro se sentou ao lado de Putin. Para isso, ele teve que se submeter aos cinco testes de Covid exigidos pelas autoridades sanitárias russas.
De acordo com o blog do Valdo Cruz, o governo brasileiro queria essa imagem da proximidade com Putin.
Diferente de Bolsonaro, o presidente da França, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, não quiseram se submeter aos exames russos. Segundo agências internacionais, eles temiam ceder DNA às autoridades do país. Com isso, em reuniões recentes com Putin, se sentaram na ponta de uma mesa que chamou a atenção do mundo todo pelo comprimento exagerado e incomum.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de reunião em Moscou com o presidente da França, Emmanuel Macron, em 7 de fevereiro de 2022 — Foto: Sputnik/Kremlin via Reuters
Outros presidentes, em visitas recentes a Putin, se sentaram na mesma distância que Bolsonaro: Alberto Fernández (Argentina), Tayyp Erdogan (Turquia) e Aleksander Lukashenko (Belarus).
Geopolítica
Segundo nota divulgada pelo governo brasileiro, os líderes discutiram as perspectivas de fortalecimento da cooperação e intercâmbio militar bilateral.
Bolsonaro e Putin concordaram em “aprofundar a coordenação brasileiro-russa sobre temas da agenda” do Conselho de Segurança da ONU — o Brasil voltou a ocupar uma das vagas rotativas do colegiado — e citaram a necessidade de solução pacífica para conflitos.
“Os chefes de Estado expressaram preocupação com o aumento da instabilidade em diferentes partes do mundo, coincidindo na necessidade de que os conflitos sejam solucionados por meios pacíficos e pelo engajamento diplomático, em conformidade com o direito internacional, incluindo a Carta das Nações Unidas”, diz a nota.