Por Jéssica Sant'Ana e Luiz Felipe Barbiéri, G1 — Brasília


Câmara adia pela 3ª vez a votação da reforma do IR

Câmara adia pela 3ª vez a votação da reforma do IR

A Câmara dos Deputados adiou mais uma vez nesta terça-feira (17) a votação do projeto de reforma do Imposto de Renda de Pessoa Físicas, empresas e investimentos. Por 390 votos a 99, os parlamentares aprovaram um requerimento do PSOL para retirar a matéria de pauta.

Na quinta-feira (12), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), havia adiado a discussão a pedido de líderes partidários e disse que pautaria o texto para votação nesta terça.

Mesmo com o novo prazo, os deputados não alcançaram um acordo para votar o projeto.

Segundo o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), a maioria dos parlamentares é a favor da taxação dos dividendos (parcela do lucro das empresas distribuída aos acionistas) em 10% no primeiro ano, e só depois em 20%, um dos pontos polêmicos da proposta. Atualmente, os dividendos são isentos de tributação. O governo propôs a tributação em 20% dos dividendos já em 2022.

A mudança sugerida pelos parlamentares causaria perda de arrecadação aos municípios, segundo Barros.

“Para nós atendermos ao pedido da maioria dos parlamentares que é de reduzir [a tributação sobre] os dividendos para 10% no primeiro ano e depois 20 [%], nós temos perdas para os municípios. A gente atende um lado e desatende outro”, explicou.

“Eu sugiro então que nós concordemos com a solicitação dos parlamentares e em vez de votarmos o texto hoje e deixarmos os destaques para a próxima semana, nós deixamos toda a votação para a próxima semana para que a gente possa dar uma solução”, completou o líder do governo.

Barros disse, ainda, que os partidos apresentariam em plenário muitos destaques (pedidos pontuais de alteração), o que poderia desvirtuar o projeto.

“Os destaques podem desvirtuar o equilíbrio que foi garantido pelo próprio presidente Arthur Lira que, se tiver perda para os municípios, a matéria não vai a voto. Na dúvida se há ou não perda para os municípios, vamos concordar com a fala do deputado [Marcelo] Freixo (PSB-RJ), com a oposição, que aqui no plenário, vários pediram mais tempo para ajustar o texto.”

Veja no vídeo abaixo os principais pontos do projeto da reforma tributária que seria votado nesta terça-feira. Texto deve passar por modificações até a próxima semana:

Novas regras do Imposto de Renda estão na pauta da Câmara, hoje

Novas regras do Imposto de Renda estão na pauta da Câmara, hoje

Sem consenso

Além da falta de consenso sobre a tributação dos dividendos, empresários, governadores e prefeitos de capitais pressionaram pelo adiamento da votação, pois afirmam que a reforma vai resultar em perda de arrecadação para os cofres dos governos locais e aumento da carga tributária para alguns setores da economia.

Mesmo com as mudanças feitas pelo relator no quarto parecer apresentado, secretários estaduais de Fazenda calculam perdas de R$ 11,7 bilhões por ano para os cofres estaduais e municipais. A Associação Brasileira das Secretarias de Finanças das Capitais (Abrasf) fala em perda de R$ 1,5 bilhão somente para as capitais e maiores cidades do país.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) diz que o novo texto aumenta a carga tributária sobre investimentos produtivos dos atuais 34% para, no mínimo, 39,2%.

O relator nega. Ele diz que a reforma terá, ao final, impacto neutro para a arrecadação e que a carga tributária sobre as empresas vai ser reduzida em 10 pontos percentuais, passando de 34% para 24% na maioria dos casos, considerando as mudanças propostas para o Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

Governo entregou o projeto de reforma do Imposto de Renda à Câmara dos Deputados em junho. Relembre como foi:

VÍDEO: Guedes entrega 2ª etapa de proposta de reforma tributária ao Congresso

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Acordo com CMN

Antes da votação do texto, governo e relator chegaram a tentar um acordo com a Confederação Nacional dos Municípios (CNM).

Os prefeitos das capitais, representados pela Abrasf, não entraram no acordo. "A associação não concorda com o que foi combinado com a CNM", diz a Abrasf em nota.

Para apoiar a reforma, a CNM pediu em troca aumento permanente do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), uma transferência constitucional de recursos por parte da União aos municípios, e mudança no índice de correção do piso nacional do magistério.

Pelo acordo, o aumento no FPM será votado por meio de propostas de emendas à Constituição (PECs). Já a mudança no índice de correção do piso do magistério foi votada nesta terça. Porém, a mudança foi rejeitada após mobilização da oposição e da bancada dos professores, já que o novo índice de correção traria perdas para os professores.

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