O governo rebateu nesta quinta-feira (3) as afirmações atribuídas ao senador Delcídio do Amaral (PT-MS) na delação premiada revelada pela revista IstoÉ’. O acordo, que ainda não foi homologado, foi firmado com a Procuradoria Geral da República (PGR). O senador não confirmou o teor da reportagem.
Ex-líder do governo Dilma Rousseff, Delcídio deixou a prisão em 19 de fevereiro, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), após ter ficado 87 dias na cadeia acusado de tentar obstruir as investigações da Operação Lava Jato.
Na delação, Delcídio fez acusações ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à presidente Dilma Rousseff. A TV Globo confirmou que o acordo foi assinado, mas que ainda não está homologado porque um dos pontos foi objeto de questionamento e ainda está sendo ajustado.
Veja a seguir ponto a ponto o que diz a delação, segundo a revista, e o que disse o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, em nome do governo:
Nomeação de ministro do STJ
Delcídio: diz que Dilma nomeou o ministro Marcelo Navarro ao Superior Tribunal de Justiça, que se teria se comprometido a votar, em julgamentos no tribunal, pela soltura de empreiteiros denunciados pela Lava Jato.
Cardozo: "Dilma nunca se reuniu com Delcídio para discutir nomeação de ministro do STJ. Governo não interveio nas investigações e não interveio nos julgamentos. E não teve nem como criar intervenção na Polícia Federal."
Pasadena
Delcídio: diz que a presidente tinha conhecimento de todo o processo de compra da refinaria dos EUA que, posteriormente, foi investigado por superfaturamento.
Cardozo: "A revista não traz nenhum fato novo."
Conversa com Lewandowski
Delcídio: Dilma teria se reunido em Portugal com o ministro do STF Ricardo Lewandowski para tentar interferir na Operação Lava Jato, com a libertação de presos.
Cardozo: "Se fosse para mudar o rumo da Lava Jato, não era com o ministro Lewandowski que tinha que ser a conversa, porque ele não tinha nenhum rumo judicante na Lava Jato", disse. Segundo Cardozo, o encontro ocorreu na cidade do Porto para tratar de um "problema delicado", uma "proposta de elevação de subsídios de servidores do Judiciário".
Cerveró
Delcídio: diz que Dilma o indicou Nestor Cerveró, preso na Lava Jato, para a diretoria da Petrobras e atuou para que ele fosse mantido na direção da estatal.
Cardozo: não comentou especificamente sobre o caso.
CPI dos Bingos
Delcídio: descreveu uma operação de caixa dois na campanha de Dilma em 2010 feita pelo doleiro Adir Assad, também preso na Lava Jato, escândalo que foi abafado pela CPI graças à base de apoio do governo no Congresso.
Cardozo: "A CPI dos Bingos vai de julho de 2005 a junho de 2006 e a presidente havia assumido há cerca de uma semana a Casa Civil. Tem lógica? Ele intervir para beneficiar a presidente Dilma que havia assumido a Casa Civil há uma semana?"
Silêncio de Marcos Valério
Delcídio: em 2006, Lula e o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci teriam articulado um pagamento ao publicitário Marcos Valério para que ele não dissesse o que sabia durante o processo do mensalão. De acordo com o parlamentar, Valério exigiu R$ 200 milhões para se calar na CPI dos Correios, e Lula teria cedido. Palocci, conforme o depoimento, assumiu a tarefa de negociar o pagamento.
Cardozo: "Nunca soube disso. Nem que o Delcídio tivesse algum tipo de contato com Marcos Valério. Me lembro inclusive de ele ter posturas austeras na CPI."
'Pedágio' na CPI da Petrobras
Delcídio: acusou os senadores Gim Argello (PTB-DF) e Vital do Rego (PMDB-PB) e os deputados Marcos Maia (PT-RS) e Fernando Francischini (SD-PR) de cobrar empreiteiros para que eles não fossem convocados na CPI da Petrobras.
Cardozo: "Não tenho conhecimento disso. Não posso opinar sobre isso."
Interferência de Lula na Lava Jato
Delcídio: Lula pediu “expressamente” para que ele ajudasse o pecuarista José Carlos Bumlai, porque estaria implicado nas delações do lobista Fernando Baiano e de Cerveró.
Cardozo: não comentou especificamente sobre o caso.