Blog da Camila Bomfim

Por Camila Bomfim

Apresentadora do Conexão Globonews.


Entre os indícios contra desembargadores suspeitos da venda de sentenças, a Polícia Federal reuniu relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que apontam movimentações financeiras atípicas de integrantes do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJ-MS).

Os documentos são algumas das provas mais robustas do suposto esquema. E implicam, além dos próprios desembargadores, outros funcionários do tribunal e advogados.

Em um dos casos, o Coaf identificou que o assessor de um desembargador sacou dinheiro vivo e pagou boletos do magistrado. A PF suspeita que o esquema envolvia até o pagamento de despesas pessoais dos desembargadores.

O cenário gerado pela operação desta quinta traduz a gravidade do caso: desembargadores usando tornozeleira eletrônica por, supostamente, atuar como os criminosos que eles deveriam julgar.

Cinco desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul foram afastados nesta quinta-feira (24) em razão de uma investigação que apura corrupção e venda de sentenças. Entre os afastados, está o presidente do tribunal, Sérgio Fernandes Martins.

Operação afasta 5 desembargadores do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul

Operação afasta 5 desembargadores do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul

Joias, imóvel e veículos

Os relatórios de inteligência financeira produzidos pelo Coaf alertam, ainda, sobre operações com dinheiro em espécie para comprar joias e um imóvel para um dos desembargadores.

Há, também, compras de veículos em concessionários – novamente, com dinhero vivo. O uso de dinheiro, nesses casos, é sempre visto como uma forma de tentar dificultar o rastreio das operações.

Segundo as investigações, foi apontado que “comunicações pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF de operações suspeitas efetivadas por servidores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul e assessores do Desembargador ALEXANDRE AGUIAR BASTOS, envolvendo dinheiro em espécie e efetivação de pagamento de boletos, também em espécie, em favor do Magistrado”.

Ainda segundo o inquérito que embasou a operação, “o desembargador Alexandre Aguiar Bastos figura em relatórios do Conselho de Operações de Atividades Financeiras - COAF, em razão da comunicação ao órgão de controle de operações envolvendo dinheiro em espécie, em concessionária de veículo, no pagamento pela aquisição de imóvel e compra de joia.

A PF encontrou transações atribuídas ao desembargador Alexandre Bastos para a aquisição de imóveis, automóveis e moto aquática “sem que tenham sido identificadas transações bancárias correspondentes para o pagamento integral aos vendedores”. A PF aponta que isso “levanta-se o questionamento do modo de como teriam sido pagas e a origem dos recursos financeiros utilizados”.

Cinco afastados

Os afastamentos foram determinados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), que também autorizou a Polícia Federal a cumprir, com apoio da Receita Federal, 44 mandados de busca e apreensão contra eles, outros servidores públicos, 9 advogados, além de empresários suspeitos de se beneficiarem do esquema.

Foram afastados pelo STJ, pelo prazo inicial de 180 dias, os desembargadores:

  • Sérgio Fernandes Martins, presidente do TJ-MS;
  • Vladimir Abreu da Silva;
  • Alexandre Aguiar Bastos;
  • Sideni Soncini Pimentel;
  • Marco José de Brito Rodrigues.

Também foram afastados o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de MS Osmar Domingues Jeronymo e seu sobrinho, também servidor do TJ-MS, Danillo Moya Jeronymo.

O g1 tenta contato com os citados.

Leia abaixo a nota divulgada pelo tribunal:

"O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) informa ciência sobre operação deflagrada na manhã de hoje, 24 de outubro, nas dependências desta Corte.

Até o presente momento, o TJMS não teve acesso aos autos e ao inteiro teor da decisão que motivou a ação. Em virtude disso, não dispomos de subsídios suficientes para emitir qualquer declaração ou posicionamento sobre os fatos.

Reiteramos nosso compromisso com a transparência e a legalidade, e assim que tivermos mais informações, estaremos à disposição para atualizações."

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