Diretor da PF: 'Há possibilidade de ex-CEO da Americanas ser extraditado'
O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, disse que há possibilidade do ex-CEO das Lojas Americanas, Miguel Gutierrez ser extraditado ao Brasil. O executivo foi preso nesta sexta-feira (28) em Madrid. Rodrigues também afirma que o executivo, acusado de realizar fraudes contábeis na rede de lojas que, segundo as investigações, chegaram a R$ 25 bilhões, possa cumprir a pena na Espanha.
Rodrigues está em Lisboa, conversando com as autoridades portuguesas para estabelecer cooperação internacional com o objetivo de encontrar a ex-diretora da Americanas Anna Christina Ramos Saicali, que segue foragida. O nome dela segue na Difusão Vermelha da Interpol, a lista dos mais procurados do mundo.
O brasileiro Miguel Gutierrez vive na Espanha desde que o escândalo da Americanas estourou, em janeiro de 2023. Ele tem cidadania espanhola. "[Gutierrez] tem dupla cidadania e a Espanha não extradita os seus cidadãos. Temos que respeitar todos os trâmites da legislação brasileira, obviamente, e da legislação espanhola. Já entramos com pedido de prisão preventiva e extradição para o Brasil", disse Rodrigues.
"Agora, o poder judiciário brasileiro deve encaminhar a solicitação formal de extradição à Espanha, que fará a análise jurídica da verificação de sua nacionalidade e da gravidade do delito. Tem algumas situações a serem avaliadas com a soberania do estado espanhol. A partir dessas análises que nós vamos poder entender os caminhos, se é da possibilidade da extradição ou, até mesmo, do cumprimento da pena na Espanha."
"O Brasil vai respeitar a soberania espanhola e espera que os tramites sigam caminho o mais breve possível", disse o diretor-geral da PF.
A defesa de Gutierrez foi procurada pelo g1, mas não se manifestou até a última atualização desta reportagem.
Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas — Foto: GloboNews/Reprodução
A prisão do ex-CEO foi publicada em primeira mão pelo Blog da Malu Gaspar, do jornal O Globo.
A PF deflagrou na quinta-feira (27) a Operação Disclosure contra as fraudes contábeis nas Lojas Americanas que, segundo as investigações, chegaram a R$ 25 bilhões. Foram expedidos mandados de prisão contra Gutierrez e Anna Christina.
Ainda não há informações sobre para qual prisão Gutierrez foi levado. Segundo a Polícia Federal brasileira, ele foi localizado pelo Centro de Cooperação Policial Internacional (CCPI), que fica na Superintendência da PF, no Rio de Janeiro.
O CCPI é uma unidade que promove a articulação entre diversas instituições policiais e atua em países como: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Paraguai, Peru e Uruguai.
Quem é Miguel Gutierrez
Alvo de operação da PF, ex-CEO das Lojas Americanas é preso em Madri
Gutierrez se formou em engenharia mecânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em economia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Também fez um programa de formação de lideranças nos Estados Unidos.
Começou sua carreira na Americanas em 1993, quando a companhia ainda era presidida por Carlos Alberto Sicupira, um dos acionistas de referência da empresa e parte do notório trio de bilionários, ao lado de Jorge Paulo Lemann e Marcel Herrmann Telles.
Ao longo de três décadas na companhia, Gutierrez passou por diversos setores e logo agradou aos bilionários, pois era focado em estratégias para corte de custos nas operações, segundo apuração da Bloomberg.
Gutierrez assumiu a presidência da Americanas 10 anos após seu ingresso na empresa, onde ficou até dezembro de 2022. Saiu porque renunciou ao cargo. Nestes 20 anos de comando, Gutierrez fez raras aparições públicas.
No seu lugar, entrou Sergio Rial, que havia feito carreira no banco Santander. O executivo ficou no cargo por apenas nove dias, e pediu demissão após identificar as fraudes contáveis nos balanços corporativos do grupo.
Resultados financeiros maquiados
Americanas: entenda a fraude que levou à operação da PF
Segundo a investigação, os resultados financeiros da Americanas foram maquiados para demonstrar um falso aumento de caixa que valorizava artificialmente as ações da companhia na bolsa de valores brasileira, a B3.
Com esses números manipulados, segundo a PF, os executivos recebiam bônus milionários por desempenho e obtiam lucros ao vender as ações infladas no mercado financeiro.
A maquiagem foi detectada em pelo menos 2 operações:
- Risco sacado: antecipação do pagamento a fornecedores por meio de empréstimo junto a bancos;
- Verba de propaganda cooperada (VPC): incentivos comerciais que geralmente são utilizados no setor, mas no presente caso eram contabilizadas VPCs que nunca existiram.
De acordo com o Ministério Público Federal, Gutierrez pedia para que os balanços financeiros fraudados lhe fossem enviados em pen drives, para que não fossem rastreados.
Para a PF, Gutierrez vinha se empenhando em blindar seu patrimônio logo após deixar seu cargo na Americanas, "sabendo que o escândalo iria explodir".
Segundo as investigações, Gutierrez criou um "engenhoso esquema societário" que inclui o envio de diversas remessas de valores a offshores sediadas em paraísos fiscais. Offshores são rendimentos obtidos fora do Brasil, por meio de aplicações financeiras ou empresas no exterior.