Extra! Extra! Leia tudo sobre como é fácil fazer os colunistas publicarem o que você quiser!
Deu certo! Eu esperava escrever sobre isso apenas na quinta-feira, mas eu, claro, subestimei a rapidez da própria internet – e a falta de assuntos dos colunistas de celebridades! Então, por isso – e talvez abusando de sua paciência -, fiz esta edição extra no blog. Apenas para provar como é fácil manipular o que passa por notícia hoje em dia…
Ontem fui convidado para dar uma aula inaugural para alunos que entraram no último vestibular da ESPM, em São Paulo. O evento tinha um sabor especial: eu mesmo fui calouro da ESPM – cerca de 30 anos atrás… No meu tempo, os únicos cursos que existiam por lá eram justamente de Propaganda e de Marketing (o P e o M da Escola Superior). Hoje, porém, você pode se preparar para várias carreiras por lá – inclusive para a de jornalista! Por isso tudo, fiquei bastante animado em aceitar o convite para falar para cerca de 1.400 pessoas – entre alunos e seus pais.
Preparei a aula com uma espécie de trajetória da minha carreira, mas também fiz questão de ressaltar o que é importante para a vida de quem está entrando numa faculdade – que para mim, independente da profissão que o estudante (ou a estudante) escolher, tem que ser a atitude de ter uma cabeça aberta, justamente para absorver não só o que é dado em sala de aula, como todas as múltiplas experiências a que somos expostos nesse período tão fértil. Especialmente para quem vai trabalha com informação, eu queria chamar atenção para a confusão que existe hoje em dia entre o que é relevante ou não, o que conta como informação ou simplesmente ruído -ou ainda, o que era notícia ou não.
Para ilustrar isso, fiz uma espécie de teste: enquanto falava sobre o acaso (minha “religião”) e a imprevisibilidade das coisas, “revelei” aos alunos que, momentos antes de entrar no palco do teatro, ao sentar para autografar um livro, o puxador da gaveta da mesa onde apoie pegou na lateral da minha calça – e fez um pequeno rasgo. Aproveitando o “gancho”, falei que isso logo logo viraria notícia – que alguém ali na própria plateia poderia twittar aquela “notícia” e em seguida isso estaria sendo divulgado aos quatro cantos.
O rasgo em si não era nada demais: não mais de dois centímetros na lateral externa da coxa direita. Em momento algum me senti constrangido – a “fenda” era praticamente invisível de uma distância de mais de 50 centímetros. E, dito isso, prossegui com a palestra, na certeza de que alguém ali teria mordido a isca e, incapaz de resistir à tentação, teria twittado a tal “notícia”…
Para isso sair do auditório onde eu dava a aula para a primeira página de um dos portais de notícias mais lidos do Brasil (o uol), levou cerca de 24 horas! Há alguns minutos, abri a página inicial do site – e estava lá: “Zeca Camargo conta ter rasgado calça em palestra”. Comecei a rir – e estou rindo até agora…
Não porque o título, de tão mal escrito, leva o leitor a crer que um peguei minha calça num gesto furioso e a rasguei durante uma palestra – ou poderia até ser uma performance artística, sei lá! Mas a graça que eu estava achando tinha justamente a ver com o sucesso da armadilha que eu havia preparado para os colunistas de plantão – uma armadilha, diga-se, para que ficasse claro sua incompetência, preguiça, e, em última análise, irresponsabilidade. Afinal de contas, se você abraça o jornalismo, o mínimo que você pode fazer é ter a responsabilidade de apurar o que está escrevendo para que sua relação de credibilidade com o leitor (ouvinte, telespectador, internauta) permaneça intacta. No caso, a “notícia” do uol é um primor de “lavação de mãos”…
Como boa parte do que é publicado na internet hoje, a primeira providência é atribuir a responsabilidade de divulgação da “notinha” para outra pessoa. No caso, a o texto do uol, a “autoria” da notícia era dada ao colunista João Fernando, do jornal “Agora”. Sem dar nenhum contexto – quem liga para isso hoje em dia? – a notinha afirma que eu passei por um “vexame” – justamente o contrário do que eu havia colocado à plateia da ESPM (que riu do “acidente” como um evento natural). A foto publicada, como você pode imaginar, não era do “vexame”, mas de arquivo – mais precisamente (já que faltou apuração, vou dar aquela “forcinha”) do dia em que comemoramos meu aniversário na Redação do “Fantástico” no ano passado, durante as gravações do quadro “Medida Certa”.
Minha sede de informação pedia mais: fui saber o que João Fernando havia escrito sobre o “vexame”. E no link do jornal “Agora”, lá estava a “notícia”: ” Durante uma palestra para universitários no Teatro Bradesco, em São Paulo, a calça de Zeca Camargo rasgou no palco no momento em que ele falava sobre imprevistos. Na mesma hora, o apresentador revelou o acidente para as cerca de 1.400 pessoas da plateia”. Onde estava a palavra “vexame”? Na criatividade do redator da nota da uol, é claro! Não que a informação de João Fernando fosse um primor de apuração… Não definiu a proporção do rasgo, o contexto em que eu havia contado sobre isso, e muito menos minha previsão de que aquilo logo viraria “notícia”.
Pois é… Virou! E com isso eu deixo você descansar e se preparar para este Carnaval. Assuntos tão relevantes como esse devem pipocar na sua tela nos próximos dias. Quem sabe outros acontecimentos como esse não vão abalar o mundo!
Mais uma vez, bom Carnaval! Com a ajuda de foliões como esses envolvidos no “vexame da minha calça rasgada” (sem contar os responsáveis pela minha “entrevista” na revitsa “Multticlique”, sobre a qual comentei no post anterior), a farra em 2012 promete!!!
2 outubro, 2013 as 2:29 am
O que você relatou é só um factoide.
Resposta do Zeca – fala Guilherme! Exato! E isso hoje é o que passa por jornalismo… Um abraço
22 março, 2012 as 6:35 pm
Olá Zeca. Tudo bem?
Além de ser sua fã, adoro suas sugestões literárias. E elas chegaram na hora em que minha estante não me oferecia nada de atraente para ler. E eu já estava recorrendo às bulas de remédios.
Obrigada. Continue com suas ótimas indicações. Um forte abraço.
13 março, 2012 as 7:04 pm
Muito bom…[e a velha maxima…. quem conta um conto aumento um ponto…parabéns
Julio
29 fevereiro, 2012 as 9:06 pm
Olá Zeca, antes de fazer meu comentário queria dizer que sou sua admiradora sempre … Desde que vi pela primeira vez, a “Fantástica Volta ao Mundo” xD *–*
Sou aluna iniciante de jornalismo na Universidade Unigranrio no RJ, e o que mais os professores “frizam” em aula é realmente a falta de apuração da Noticia. Depois que li seu post e tudo o que aconteceu, agora sim, acredito perfeitamente que Apurar um texto, uma noticia , um boato é muito importante.
E como um comentário pessoal : “Que merda heim Zeca ?! ( risos ) ”
Bjoos xD
27 fevereiro, 2012 as 9:32 am
Muito bom, Zeca!
Isso seria um ótimo assunto para uma aula de Jornalismo.
Em relação ao assunto, acredito que o Portal Terra seja o pior. Na minha opinião, sem credibilidade alguma.
abs,
24 fevereiro, 2012 as 9:15 am
Zeca,
Gostaria de aproveitar a oportunidade e a lebre levantada no seu texto sobre a qualidade da redação do UOL. Não tenho nenhum vínculo com nenhum portal, pois sou apenas leitor. Mas acho oportuno dizer a você, de dentro da Globo, que se o UOL apresenta textos, digamos, mal escritos, cabe uma preocupação das grandes em relação ao que o Globo.com publica diariamente. Vejo diariamente erros inacreditáveis de tão absurdos nas chamadas, leads e também nas matérias do portal. Infinitamente piores que os vistos no UOL, que apesar de não ser nenhum primor, ainda assim é o portal que apresenta o melhor nível de informação, conteúdo e redação. Observe…
23 fevereiro, 2012 as 10:44 pm
Na minha época isso seria chamado de “telefone sem fio”… a mensagem sempre chega distorcida! Texto muito bom, Zeca. Parabéns
23 fevereiro, 2012 as 4:47 pm
Zeca, muito divertido esse texto! E como o povo não tem o que fazer. Isso parece a Teoria do Agendamento… no qual a mídia dita o que você deve ler para rir ou para chorar. Não generalizando mas…
A Sábia Ignorância:
https://asabiaignorancia.blogspot.com/
23 fevereiro, 2012 as 9:05 am
Calça rasgada é? Hum… se você não tiver linha e agulha eu tenho!
Machado de Assis: Um Apólogo (a agulha e a linha)
“Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
- Por que você está com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?”…
Vale à pena ler!
Um abraço!
22 fevereiro, 2012 as 8:33 pm
Mas q gente mais sem criatividade!!!!
Nem pra criar uma manchete, ao menos, descente e que vende-se mais!!!! Rsrsrsrs
Como dizia a minha Vó Marina “Quem não tem o que fazer compra colher de pau e borda o cabo”
22 fevereiro, 2012 as 5:46 pm
Zeca!!!
Eu não resisto…
Estou FELIZ!!!!!!!!
O talento foi merecidamente vitorioso.
Parabéns a todos da Tijuca e a você também que acreditou e esava lá!!
É Paulo Barros, é Paulo Barros!!!!!!!!!
Beijão!!!!!!!!!!!
22 fevereiro, 2012 as 3:29 pm
Oi Zeca!!!
De fato, o ano começa, “oficialmente”, agora!
Sabe, neste Carnaval, eu lembrei de você não ter escrito mais nada sobre se visitou ou não a exposição “Índia!”, quando a mostra esteve lá no CCBB-Rio…
Esta lembrança foi inevitável, pois ela chegou a São Paulo!!
https://epocasaopaulo.globo.com/cultura/megaexposicao-sobre-passado-e-presente-da-india-chega-ao-ccbb/
Enfim, sem ter tido ainda o privilégio de visitar o país, eu creio estar, praticamente, “preparada” para quando você escrever aquele prometido post sobre a Índia. Lembra?
Bem, eu já cumpri parte da tarefa: li os livros “Um fim para o sofrimento” – Pankaj Mishra e “Cidade Máxima” – Suketu Mehta. A mim, me resta então visitar “Índia!” – a mostra!!
“Nos vemos”.
Um abração!!
22 fevereiro, 2012 as 2:36 pm
Oi de novo Zeca!
Pelo que se pode perceber, qual quer rasgadinho em calça de famoso é melhor noticia no para um jornalista do que ir atras do que realmente é importante ser mostrado….
As vezes penso que falta jornalistas de verdade no Brasil para fazer noticias que realmente valem a pena serem lidas.
Acho que é por isso que gosto do muito do CQC na Band, pelo fato de eles perseguirem os politicos e tentarem mostrar um pouco como eles (os politicos) são fora da epoca de eleição…Só acho que um programa como aquele recebe pouca audiencia pelo conteudo que passa.
22 fevereiro, 2012 as 2:16 pm
Grande Zeca!
Desde o post sobre aquela tia do Rock, a tal Rita, virei leitor assiduo do teu blog. No campo site do formulario para este comment eu posto link para um “mea culpa” de minha “opinião” sobre sua “opinião”. Lendo seus dois ultimos posts como sendo uma “bilogia” Eu confesso alguma dificuldade em entender sua “linha de raciocinio” no tocante a construção deste espaço. Você é um bocado admirável, mas a mim, este reles aprendiz de feiticeiro (das palavras) escreve muitas coisas retas por linhas tortas (ou o contrário). Não sei se deveria querer entrevistá-lo ou descobrir todas as suas próximas palestras.
De qualquer forma aprendo sempre um bocado por aqui.
Cordiais Saudações,
P.s.: (<– viu só?) Canalha mesmo isto de deturpar as palavras, tanto no caso da revista, como no caso da "gafe".
Há braços!
22 fevereiro, 2012 as 12:52 pm
Fala Zeca tudo bem?
Primeiramente queria falar seu blog e muito bacana, tem um conteúdo muito bom de ler que não da mais vontade de parar de ler rs, além disso seu blog tem um design atraente que deixa a leitura bem leve a equipe da criação do site merece um parabéns também.
Parabéns pelo o seu blog e continue compartilhando conteúdo de qualidade, pois isso ajuda,motiva muito as pessoas.
Um forte abraço,
Pablo Ribeiro
21 fevereiro, 2012 as 9:27 pm
Oi Zeca!!!
Então, vocè já ouviu “Under The Westway”?
It’s the new Blur song!!
https://www.youtube.com/watch?v=9WPKXPgMkbc
Enjoy!
Um abraço!
Resposta do Zeca – fala Andréia! não!!! Mas é a primeira coisa que vou fazer para “começar o ano”… agora, depois do Carnaval! Um abração!
21 fevereiro, 2012 as 12:28 am
Zeca, triste comprovação… falta conteúdo e há quem goste, por isso esse tipo de matéria vende…
Mudando de assunto, adoro seu blog e gostaria que você falasse sobre um grupo que acabo de conhecer \"Mumford and sons\". O trabalho deles é bem legal. Sei que eles estavam na sua lista dos sonhos para um Rock in Rio… Caso seja possível, ficaria bem interessada. Valeu!
Abraço, Helô.
20 fevereiro, 2012 as 7:15 pm
Olá Zeca!
Um rasgo na sua calça vira noticia, como se não tivesse coisa mais importante para publicarem…
Ops, me esqueci, durante o carnaval é só carnaval. Depois que passam a publicar matérias mais úteis para informar o povo brasileiro do que esta acontecendo no Brasil e no mundo.
Abraço
19 fevereiro, 2012 as 8:42 pm
Olá Zeca! Olá Zeca!
Viva feliz o Carnaval!
Ah alguns anos venho acompanhando os teus post’s e livros que tens escrito e já me acostumei com a tua natural sinceridade de relatar os fatos. Essa de dizer perante uma plateia que rasgou a calça é prova do que estou dizendo. O fato acontecido ser divulgado em público nada mais foi do que um “abre aspas”, sem peso na pauta principal do palestrante. Admiro-me que existem profissionais na área da mídia de tamanha pobreza intelectual que precisam, para mostrar serviço, (se é que é serviço?), copiar, alterar palavras de textos escritos por pessoa de mente fértil, atualizada com os assuntos do momento e, ou mesmo, sobre o histórico de uma celebridade em questão, se prestam para divulgar futilidades.
É um privilégio ser sua leitora!
Zeca, eu volto a me encontrar contigo aqui no final do mês. Estou indo por uma semana para o Chile. Mil besitos, Etel.
19 fevereiro, 2012 as 7:10 pm
Zeca,
Sobre a matéria. Valeu pela dica pra os futuros repórteres!
Dia 5 começam as aulas da FACOM (Faculdade de Comunicação) da UFJF. E eu vou estar lá, graças a Deus!
Vou me empenhar bastante, quero trabalhar na Globo, que é a melhor!
Abraço,
Gabriel Reis
S.J.Nepomuceno-MG