Ainda há vagas
Os Papais Noéis já estão nas ruas! Em outubro! E com eles, claro, os inevitáveis comentários sobre como o ano passou rápido… Não vou castigar seus ouvidos – ou, no caso, seus olhos, com esse ramerrão. Só chamo a sua atenção sobre a proximidade do fim de 2011 – um ano que, salvo alterações em escalas subatômicas que eu não pude registrar, correu cronologicamente exatamente como os outros – porque isso significa que eu já devo começar a preparar a minha já tradicional lista dos melhores discos do ano que você não ouviu…
Caso você seja novo – ou nova – por aqui, vale uma breve introdução. Desde dezembro de 2007, faço aqui neste espaço uma seleção de bons álbuns com os quais eu cruzei num determinado ano. São, como você pode imaginar, músicas que você não vai ouvir nas rádios convencionais. Sequer nas baladas que você se acostumou a frequentar. Não são exatamente sons e artistas estranhos – apenas criações inusitadas, que, apesar de brilhantes, não encontram espaço merecido, nesse universo sempre disputado do pop.
A lista de estreia, por exemplo, por um processo deliciosamente “serendíptico” fez com que o Beirut se tornasse uma referência musical no Brasil – e que o cara por trás disso, Zach Condo, se apaixonasse pelo Brasil. Em 2008, tive o prazer de introduzir no gosto brasileiro a anarquia eufórica de El Guincho. Em 2009, foi a vez de, entre outros, a ainda desconhecida Florence (and the Machine) – hoje, a grande aposta do pop para 2012. E no ano passado, teve Asa, Twin Shadow e Fredo Viola – “tutti buona genti”…
São discos que eu coleciono durante o ano todo – e pode apostar que a lista deste ano está animada… Mas não está completa! Já juntei coisas curiosas, porém, não pretendo adiantar nenhuma delas agora. A não ser que você me ajude…
É o seguinte: para que a seleção fique sempre diferente, eu procuro incluir todo tipo de música. Entre eles, uma boa banda do cenário independente – isto é, do rock independente. Ocorre que 2011 parece que foi um ano excepcionalmente fértil nessa área. Tanto que, diante de várias possibilidades de escolha, encontro-me ligeiramente perdido: é muita coisa boa e por isso peço uma força. Vou dar algumas opções de ótimos álbuns que escutei este ano e que poderiam todos marcar presença no ranking dos melhores discos que você não ouviu em 2011. Mas eu só quero incluir um deles – e vou fechar um compromisso contigo: vou colocar apenas o mais votado.
Você vai ver que a tarefa não é fácil. Todos são discos sensacionais, sensíveis, originais e competentes. Mas qual deles é o melhor – qual deles merece entrar para a lista? Avalie comigo! O que vou dar aqui é o nome – do álbum e do artista (ou banda) – e uma breve descrição dos motivos pelos quais eu gostei tanto dele. Estou seguro de que você não vai encontrar a menor dificuldade em ouvir esses discos – ou pelo menos partes significativas deles – aqui mesmo na internet. Assim, depois de uma rápida apreciação, você manda um comentário com seu favorito. E aí deixa a contagem de votos comigo. Vamos lá?
Aqui estão os “finalistas” a uma vaga na lista dos “20 melhores discos que você não ouviu em 2011”:
- “Portamento”, The Drums – não é exatamente um disco de estreia (é o segundo dessa banda), mas é tão original que parece que veio “do nada”! Como diz um amigo meu, se alguém descobrir de que planeta vem o vocalista, por favor, informe-nos. Mas esquisitice não é tudo: as melodias são imediatamente reconhecíveis – e fazem você sair cantando sem nunca tê-las ouvido antes. Meio moderninhos – na linha de Vampire Weekend, talvez. Mas bem melhor que isso, eu garanto!
- “Cadenza”, Dutch Uncles – esse é um daqueles discos que eu comprei “no embalo”, quando passei rapidamente, numa tarde por aquela loja de Londres, Sister Ray. Estava na prateleira das “recomendações dos funcionários” – o que sempre é um bom sinal. Não havia lido nada sobre eles – e me surpreendi. Melodias elaboradas e um conjunto que acaba sendo bastante original. E inesperado.
- “The weight’s on the wheels”, The Russian Futurists – um disco de pop inglês tão comportadinho que é quase “retrô”. Mas ele acaba te convencendo que você não precisa vir cheio de novidades para agradar. Várias vezes tive a sensação de ter colocado, por engano, um obscuro CD da minha coleção dos anos 80. Mas a produção é inegavelmente moderna. E sedutora.
- “In the grace of your love”, The Rapture – essa já é uma banda querida, cujo novo álbum, aliás, eu estava esperando ansiosamente. Não me decepcionei, claro. Aliás, gostei tanto que quase coloquei-o direto na lista. Mas, em nome do gosto popular, vamos jogá-lo no páreo com os outros. Eu poderia aqui forçar a barra e dizer que ele tem a melhor capa de todos. E talvez o melhor single de toda a competição: “How deep is your love” (e que não é a do Bee Gees!). Mas não quero influenciar sua opinião…
- “Forever dolphin love”, Connan Mockasin – com um pé no psicodélico e outro no romance, esse neo-zelandês (baseado há anos na Inglaterra), Connan também não é um novato. Mas, de alguma maneira, em “Forever dolphin love” ele conseguiu o equilíbrio perfeito para conquistar seus ouvidos – e quem sabe seu coração. Por que ele não faz mais sucesso? Ah, os mistérios do pop. Quem sabe você não conserta isso com seu voto?
- “You are all I see”, Active Child – esse eu adquiri em outra loja favorita (esta, em Nova York, a Other Music). E me pegou totalmente de surpresa. Achei que ia ouvir mais uma “variação sobre o tema” daquele rock básico, mas “You are all I see” não combina com nada disso – aliás, não combina nem com a capa do disco. Tenho certeza de que você também vai se surpreender.
- “Megafaun”, Megafaun – conhece Bom Iver? Gosta dele? Mas não gostou do álbum que ele lançou este ano – que, diga-se, era um dos mais esperados de 2011? Então aqui vai à “forra”: Iver já colaborou várias vezes com o Megafaun, que nesse quarto álbum “acertou” a mão. Longas faixas estão longe de ser sinônimo de aborrecidas – pelo contrário, são hipnóticas. E, ironicamente, têm um sotaque de “country” alternativo.
E então? Qual desses álbuns deve entrar na lista deste ano?
(Para não misturar muito as coisas, decidi não oferecer hoje mais uma música para você na seção “O refrão nosso de cada dia”. Se você quiser muito ouvir uma coisa nova, posso até indicar a já citada “How deep is your love”. Mas você vai achar que eu estou sendo tendencioso…).