Humor por escrito

qui, 29/09/11
por Zeca Camargo |
categoria Todas

Muita gente acha que a principal diferença entre alguns humoristas brasileiros e seus colegas americanos é a capacidade que os primeiros têm de contar piadas supostamente “irreverentes e transgressoras” – digamos, dizendo que uma mulher é tão atraente que o próprio humorista seria capaz de transar com ela e o bebê que está na barriga dela – e continuar trabalhando, enquanto seus colegas do hemisfério norte não têm a mesma “sorte”. Tal proeza, claro, deve-se menos ao talento desses artistas do que à extrema (e curiosa) tolerância do próprio público brasileiro em acatar tais gracinhas (até, claro, que alguém muito próximo de você seja alvo de uma delas – vide a reação de Ronaldo Fenômeno à “piada” que citei acima), ou mesmo à miopia da própria imprensa e de vários anunciantes poderosos que, inebriados pelo afã de relacionar sua reportagem (ou notinha) ou sua campanha (ou produto) a alguém que é “popular” – leia-se “com potencial de trending” -, celebra esses mesmos nomes como “avatares de um novo humor”…

(Quer falar de “humor e transgressão”? Então assista à rotina de piadas que Ricky Gervais fez na última cerimônia de entrega do Golden Globe, e aí a gente discute o que é realmente “irreverente”: fazer piadas com os outros enquanto eles estão na plateia – e sem apelar para um contexto sexual ou pornográfico; ou brincar com alguém apenas quando essa pessoa não está presente para, hum, “rir de si mesma”? Mas acho que eu divago – e logo no início do texto… Vamos retomar.).

De fato, essa, digamos “impunidade humorística” (que no Brasil, por um passado do qual todos nós nos envergonhamos, é cinicamente defendida em nome do fantasma da censura – por falar em hipocrisia…) é uma das coisas que separam “eles” de “nós”. Como vários comediantes americanos já experimentaram pessoalmente, uma piada de mau gosto pode significar o fim (ou pelo menos um grande hiato) na carreira, por mais brilhante que ela seja. Mas há outra diferença que, para mim, chama mais a atenção: os americanos têm a capacidade de escrever livros – e bons! No Brasil – e peço que você me corrija com exemplos se eu estiver generalizando demais -, “livro de humor” é sinônimo de coletâneas de piadas – que, muitas vezes, nem são da autoria de quem assina a capa. A turma do Casseta & Planeta sempre foi prolífera em lançamentos assim – e, para ser justo, Hélio de la Peña, foi a exceção à regra, quando lançou títulos como “O livro do papai” e “Vai na bola, Glanderson”, com material que não é simplesmente reciclado de algo que já existia. Já boa parte dos humoristas americanos que conseguem projeção maior é bem mais versátil, e sabe muito bem expandir seu público e sua imagem em um veículo – o livro – que exige um pouco mais do que alguns segundos de sua atenção, e oferece algo ligeiramente mais sofisticado do que um palavrão em troca do seu riso.

Escolhi falar sobre isso hoje – num hiato entre dois fins-de-semana de Rock in Rio (mais sobre o festival, claro, aqui neste mesmo espaço, na segunda-feira que vem) – porque aproveitei esses dias de descanso (segunda, terça e quarta), para ler dois livros que comprei em viagens recentes aos Estados Unidos, e que me fizeram rir muito. O primeiro é “Bossypants” – uma espécie de autobiografia de uma das comediantes mais bem sucedidas atualmente na TV americana, Tina Fey. O outro é “This is a book”, do novato Demetri Martin – que me fez gargalhar mais ainda do que “Bossypants”. Nenhum desses dois livros, lamentavelmente, ainda foi lançado no Brasil – e, admito, acho que as chances são poucas de vermos uma tradução sair por aqui (mesmo no caso de Fey, que tem pelo menos um bom fã clube entre nós por conta do “sitcom” “30 Rock”). O que é uma pena. Mas se você tiver a coragem de encarar esses livros no original, em inglês – nenhum deles é um intricado trabalho de literatura, e você pode investir neles mesmo com um conhecimento básico de inglês -, posso garantir que não vai se arrepender.

Vou falar primeiro de “Bossypants”, que é exatamente o que quem conhece o trabalho de Tina Fey espera dessa artista. Se você já passou os olhos por “30 Rock”, mesmo de relance, sabe que o principal trunfo do humor de Fey é fazer as pessoas rirem dela mesma – no caso do “sitcom”, de sua personagem Liz Lemon (que, como eu sempre desconfiei, e depois de ler a biografia tive certeza, tem muito da própria atriz). No lugar de optar pelo caminho fácil – e que hoje em dia no Brasil é celebrado como “inovador” – de fazer humor diminuindo os outros, o foco de Tina Fey é a “esculhambação” de si mesma (o que, na minha opinião, é muito mais engraçado – é isso, inclusive, que faz de Sabrina Sato uma das minhas humoristas favoritas no cenário nacional). Para dar o primeiro exemplo, veja a lista de coisas que, como ela escreve, ela descobriu durante sua adolescência que precisam ser corrigidas no corpo de uma mulher (a relação de itens é enorme, selecionei apenas alguns deles aqui):

“A qualquer momento no planeta Terra, uma mulher está comprando um produto para corrigir alguma das seguintes ‘deficiências’:

- poros grandes
- ‘braço que balança no tchauzinho’
- mamilos muito grandes
- mamilos muito pequenos
- um seio maior que o outro
- um seio menor que o outro (Como essas duas coisas são diferentes? Não sei.)
- pneus
- veias aparentes
- cílios pequenos
- joelhos pontudos
- testa curta
- muita batata da perna
- nenhuma batata da perna
- tons de pele esverdeados”

Um pouco mais adiante, no mesmo capítulo, ela lista os improváveis atributos que uma mulher deveria ter hoje em dia para ser considerada bonita (uma missão obviamente impossível):

“- olhos azuis caucasianos
- lábios espanhóis carnudos
- um nariz redondinho clássico
- pele asiática lisa com bronzeado californiano
- bunda de dançarina jamaicana
- pernas longas de sueca
- pezinhos de japonesa
- abdominal de lésbica dona de academia
- quadril de um menino de nove anos
- braços de Michelle Obama
- peitos de boneca”

Precisa dizer que ela mesma não possui nenhum desses quesitos? Marcada no rosto por um acidente quando ainda era criança (de vez em quando é possível ver isso numa cena de “30 Rock”), ela faz graça o tempo todo com sua falta de traços que pudessem chamar a atenção dos meninos quando ela ainda estava crescendo. Hoje ela é uma mulher bonita, mas “padeceu” naquela difícil fase da adolescência – e como todo mundo diz que “comédia é tragédia + tempo” (a frase é geralmente atribuída a outra comediante americana, Carol Burnett), Fey faz da sua biografia uma ótima matéria-prima para o humor.

“Bossypants” – cujo título é difícil de traduzir para o português (seria vagamente algo como “chefinha de calças compridas”) – está há seis meses entre os livros mais vendidos nos Estados Unidos, e pode apostar que isso não é um mero reflexo da popularidade de Fey na TV. As pessoas, assim como eu, mergulham com prazer na experiência de serem levadas pelo talento de uma humorista não apenas nas caras e bocas que ela é capaz de fazer (já viu sua imitação de Sarah Palin?), mas pelo poder das suas palavras.

Do seu pai, Don Fey – assunto exclusivo de um capítulo -, ela espera herdar o dom de passar para sua filha o mesmo que ele a ensinou: o presente da ansiedade – “O medo de se envolver em confusão. A sabedoria de que mesmo sendo amada, você não está acima da lei”. Das suas primeiras experiência fotografando para revistas de moda ela conta: “Existem tipos diferentes de fotógrafos disputados. Alguns têm personalidades grandes e divertidas, como Mario Testino, que uma vez me falou, ‘Levanta essa bochecha, querida, você não têm dezoito anos’. Eu gostei da sua honestidade. Além do que, eu tenho quase certeza de que ele diz isso para modelos que têm dezenove anos”. Sobre as tribulações do seu “sitcom” de sucesso (que mesmo depois do reconhecimento do público e de vários prêmios, ainda sofria resistência da direção da TV), ela comenta: “Acho que esse show surgiu da Terra para me ensinar paciência e compaixão”…

Em cada parágrafo de “Bossypants” Tina esbanja coerência, bom sendo, e bom-humor, numa prova de que a tal arte de fazer rir depende muito menos de surrados clichês preconceituosos do que de inteligência. Mesmo ao tocar em assuntos que poderiam despertar alguns melindres, ela o faz de maneira ultra espirituosa e divertida. Como, por exemplo, ao comentar sobre duas amigas da sua adolescência, que, para o terror da sua mãe, eram um casal de lésbicas: “Acho que devo declarar que Karen e Sharon nunca deram em cima de mim e nunca houve um clima esquisito entre nós. Os gays não ficam tentando converter outras pessoas. Quem faz isso são as testemunhas de Jeová.”… Essa passagem, porém, é um trecho extremo, já que o tom do livro em geral é de uma inocência que não coraria nem as mentes mais pudicas.

Não muito diferente do humor de Demetri Martin, em “This is a book” – um título bem mais fácil de traduzir para o português (“Isto é um livro”). Não se trata de uma biografia, mas de uma coletânea de textos desse humorista que a “New York” colocou na sua capa em 2009 como – sim – o futuro do humor na TV (americana). E é simplesmente hilariante. Já na introdução, ao dar instruções como que para uma plateia que está prestes a assistir a um show de “stand-up” ele pede: “Por favor, desligue todos os seus celulares e pagers. E, se você tiver um pager, por favor devolva-o para os anos 90″. E conclui: “Agora, encoste, relaxe, e aproveite o show. Se não, prepare-se para sofrer as consequências”!

À medida que você lê o livro, porém, percebe que o aviso é quase dispensável, pois é impossível não se divertir com o que Demetri escreve. No capítulo chamado “Papai”, ele descreve a experiência (fictícia, espero) de ter sido criado por um pai que, por sua vez, foi criado por lobos (sim, lobos!) – aqui na minha tradução sempre apressada, como em tudo que citei aqui hoje:

“Suas habilidades paternais eram algo entre mínimas e inexistentes. E quando ele de fato tentava dar alguma educação, eu me sentia mais como se eu estivesse sendo adestrado. Embora, eu tenho que admitir, era quase sempre eficiente. Quando seu pai te morde na nuca, você aprende as coisas rapidinho”.

Em outro trecho, ele conta como é receber as visitas dos pais do seu pai – lobos de verdade: “Meus avós, se é que posso chamá-los assim, são ainda mais difíceis de se relacionar do que meu pai. (…) Quando estou com eles tenho a sensação de que eles me matariam se eu não fosse um parente”. Mais do que inspirado em estereótipos de nível duvidoso, o humor de Martin vai buscar inspiração em situações absurdas, mas que eventualmente poderiam até ser plausíveis. Como nessa conversa que um “comandante alienígena” que acaba de invadir a Terra têm com um general do alto escalão do governo americano:

“COMANDANTE ALIENÍGENA: Eu e meu conselho exigimos falar com seu líder supremo.
GENERAL MARKS: Claro, comandante. Eu já contatei o presidente, e ele -
COMANDANTE ALIENÍGENA: Miss Universo.
GENERAL MARKS: O quê?
COMANDANTE ALIENÍGENA: Miss Universo
GENERAL MARKS: … Hã-
(…)
COMANDANTE ALIENÍGENA: Eu sou o Comandante Supremo de todo o sistema planetário, General. Eu não ou falar com o presidente. Eu quero falar com Miss Universo, e apenas com Miss Universo.”

O diálogo, novamente totalmente absurdo e plausível – afinal, quem seria mais poderoso, um presidente de um país ou alguém cujo título representa todo o universo? – é engraçadíssimo, e um dos pontos altos de “This is a book”. Eu ainda poderia citar aqui o teste que, no futuro, vai diferenciar humanos de robôs (pergunta típica: “O que você acha de sua máquina de lavar louças? a) eficiente b) hilária”). Ou os pensamentos livres de um “cara branco com dreadlocks” (meu favorito: “Meus pais pagam meu aluguel”). Mas seria injusto com quem se animou para conhecer mais do humor de Demetri (existem vários vídeos seus no youtube também, se você se animar!): você merece descobri-lo sozinho (ou sozinha).

(Ainda nessa linha muito fina que divide o absurdo do plausível, eu poderia citar, como bons exemplos nacionais, as rotinas de “stand-up” que agora fazem parte de um quadro do “Fantástico”. Se você viu, por exemplo, Cláudio Torres falando sobre restaurantes e comida – de cabeça, me lembro de coisas como “se salada fosse bom alguém já teria inventado um rodízio”, ou “ei garçom, me vê uma fatia de beterraba, sangrando” – sabe o que eu quero dizer. Mas não quero dar motivo para alguém dizer que estou aqui para fazer um “merchan” do programa que apresento – você sabe de que tipo de leitor eu estou falando… E nem quero divagar pela segunda vez hoje… Vamos retomar – mesmo!).

Os livros de Tina Fey e Demetri Martin são apenas dois dos exemplos mais recentes desse “diferencial” entre comediantes americanos e brasileiros. Antes deles, claro, vários outros humoristas já mostraram sua capacidade de escrever – Jon Stewart, por exemplo, para falar de um que foi extremamente bem sucedido nessa área (além da carreira na própria TV). E. para citar um ídolo de longa data, Steve Martin (que não tem nada a ver com Demetri), conseguiu passar para o papel (ou para a tela do seu tablete, se preferir), não só seu talento para o humor como também o dom de narrativas talvez menos engraçadinhas.

Nem tudo deve estar perdido por essas terras. Recebo notícias de que Cris Nicolotti – aquela moça do refrão clássico aqui já celebrado – está para lançar um livro (“Os cigarros que a gente fuma de madrugada na mesa da cozinha”). Quem sabe isso não é o primeiro passo de uma verdadeira onda nova no humor brasileiro?

Re: Rock in Rio (1º fim de semana) CC: fãs de Justin Bieber

seg, 26/09/11
por Zeca Camargo |
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Na noite de ontem, durante o intervalo da primeira para a segunda apresentação, eu procurava um colega nosso que nos ajuda no suporte de tecnologia e internet. Eu estava com problemas ali de conexão, um pouco preocupado com a rotina pouco usual daquele momento – de ter que ancorar dois programas praticamente ao mesmo tempo: o próprio “Fantástico”, e o especial “Rock in Rio 2011”. Como em qualquer grande transmissão, você tem que driblar um monte de imprevistos – e meu computador resolveu ser um deles logo no início da noite. Esbarrei no tal colega, que, como quase todo mundo ali, estava correndo de um lado para o outro. Mesmo vendo sua cara de quem estava muito focado em alguma coisa, pedi socorro: será que ele poderia dar uma olhada no meu notebook? Quase sem pensar, ele me respondeu, em tom de súplica: “Pode ser depois desse show que vai começar agora? Essa é a banda da minha vida…”.

A banda da vida dele era Coheed and Cambria. Isso mesmo! Coheed and Cambria! Para o público total do Rock in Rio 2011, posso apostar que esses caras eram praticamente (se não totalmente) desconhecidos. Estavam ali, no segundo show da noite – uma colocação relativamente modesta, numa programação que conta com cinco atrações todos os dias, numa ordem crescente de popularidade. Acredito que mesmo entre os metaleiros e afins que lotavam a Cidade do Rock ontem, a banda causava apenas um frisson modesto (o inacreditável visual “camuflado” do vocalista, com uma cabeleira que foi imediatamente apelidada por todos de “samambaia”, chamou atenção inicialmente, mas nada que pudesse ser comparado à reação que ainda viria mais tarde aos shows do Slipknot e Metallica). Mas para aquele cara que faz parte da nossa equipe, o grande show da noite era esse: Coheed and Cambria.

Liberei meu colega, claro, e ele sumiu durante toda essa apresentação. Mas quando eu o reencontrei – já quando o Motörhead tomava conta do grande palco –, a expressão de seu rosto era de pura satisfação. Problemas com o computador? Pane na rede? Podia vir qualquer coisa, que ele estava ali para tirar de letra. Seu momento de “revelação” já havia acontecido – e, pelo visto, tinha sido exatamente como ele imaginava…

Resolvi pegar essa história como exemplo, justamente porque ela é um tanto inesperada. É fácil imaginar que dezenas de milhares de pessoas estavam lá ontem para assistir ao mega (e, de fato, sensacional) show do Metallica – ou ainda do Slipknot. O mesmo para a imensa legião dos fãs do Red Hot Chilli Peppers, na noite de sábado. Idem para os cinquentões (ou até sessentões) que foram lá na sexta para conferir mais uma apresentação impecável de Elton John – ou o público bem mais jovem que no mesmo dia foi conferir o multicolorido (e divertidíssimo) show de Katy Perry (antes que você esperneie, estou com Tony Belloto quando ele argumentou em um artigo recente na “Folha de S.Paulo” , que a reclamação – já quase um clichê – de que “falta rock no Rock in Rio” é irrelevante; mais sobre isso, ao longo do post de hoje).

Todo mundo que foi ao Rock in Rio – pelo menos até agora (e eu não tenho motivos para desconfiar de que será diferente até domingo que vem) – divertiu-se com alguma coisa. Quem não estava particularmente interessado num dos shows ou numa das apresentações que estava acontecendo em determinado momento, estava passeando, rindo com os amigos, conhecendo alguém que também foi lá “só de onda”, ou simplesmente namorando (acredite: de onde eu estava, no estúdio de vidro de onde eu apresentava os shows, a vista era privilegiada – se não exatamente do palco, que estava muito distante, pelo menos de quem circulava pela área, em vários estágios de, digamos, “intimidade corporal”…). Com exceção talvez de Rihanna – que foi quase uma unanimidade no sentido de ter feito um show aquém das expectativas – todo mundo aproveitou alguma coisa do Rock in Rio, de alguma maneira.

Eu sei que o pessoal da “teoria da conspiração” já tem aquele comentário pronto para mandar para cá, dizendo que eu “ganho dinheiro” para falar isso, “meu emprego depende disso”, que “eu tenho que falar bem de um produto que a TV onde eu trabalho está transmitindo”… A esses, eu aconselho: economizem-se. Fique com sua “sabedoria secreta”, com sua “certeza” de que conhece profundamente os meandros do show business (e de uma televisão) e com sua convicção de que eu não passo de uma marionete sem opinião… Do alto dos cinco anos deste blog (aliás, muitíssimo obrigado a todos que “festejaram” o marco e desejaram longa vida a este espaço, em comentários ao último post – oxalá!), agora sou eu que não estou nem aí para seu julgamento, “elaborado” na “solidão filosófica” que só a luz fria de uma tela de computador é capaz de estimular. Esse tipo de observação, distante de qualquer observação empírica, vale bem menos do que a de qualquer pessoa que passou pela própria Cidade do Rock e viu o que eu vi…

Entre outras coisas: enormes ondas de “caranguejo” dançando de um lado para o outro no show de Cláudia Leitte; Dinho emocionando mais de uma geração com seu repertório que atravessa décadas, com uma energia digna de quem venceu todos os obstáculos e quer mostrar que ainda está firme e é relevante; gente de todas as idades cantando “fly away, skyline pigeon fly” junto com Elton John; mais de um nó na garganta (inclusive de gente que faz cara de mau no “half pipe”) quando o Red Hot Chilli Peppers tocou com a camiseta em homenagem ao Rafael Mascarenhas, filho de Cissa Guimarães; uma voz de criança saindo de uma das perturbadoras reproduções das máscaras que o Slipknot usa no palco (na verdade, a voz de um garoto que estava com o pai lá para assistir ao show); ainda nesse show, a incrível apoteose final quando o baterista gira com seu instrumento num ângulo de 90 graus! (atenção Paulo Barros!); o deslumbramento (saudável) do NX Zero, de humildemente reconhecer que nunca poderia imaginar que tocaria num palco daqueles; milhares de boquinhas adolescentes repetindo não apenas os refrões, mas letras inteiras dos sucessos que Katy Perry desfilou no seu show ultradivertido e quase histérico; a coragem e a garra do Gloria – Gloria! – ao encarar uma multidão que estava ali para assistir todo mundo menos eles (independente do que você achou da performance da banda, a gente tem que admirar o sangue frio dos caras!); a tentativa de ensaiar algum movimento de dança durante as músicas de Rihanna – mesmo depois de ela ter “esfriado” a galera com quase uma hora de atraso para começar; o estado de hipnotismo a que cada fã do Metallica sucumbiu desde o momento em que a banda entrou no palco; e muito mais.

Note que só me concentrei aqui em algumas coisas que aconteceram no palco Mundo – o cenário principal do festival. “Confinado” como estava no meu estúdio, aquilo era tudo que eu podia conferir. Mas, ao longo desses três primeiros dias, ouvi relatos emocionados também do que acontecia no palco Sunset – fãs de Mike Patton perplexos com o repertório “italiano” que ele resolveu trazer para tocar com seu Mondo Cane (e a Orquestra de Heliópolis!); ou o Sepultura em mais um momento catártico com os “tambores” do Bronx. E até cenas memoráveis no espaço eletrônico, como uma pista animada por conta de Danny Tenaglia, no último sábado…

Não escrevo aqui para “defender” o evento. O festival é tão poderoso que não precisa (mesmo) da minha “defesa” – quem sou eu? – nem da de ninguém. Fala – e defende-se – por si só. Deixe de bobagem. Além disso, como você talvez se lembre, quando a escalação final saiu, eu escrevi aqui mesmo que esse não era o Rock in Rio dos meus sonhos. Mas o que quero deixar claro é que, assim como o fã de Coheed and Cambria que citei no início deste texto (meu colega aqui da TV), cada pessoa que foi lá tinha um motivo para sair, se não totalmente satisfeito (comida ruim, eu sei… e algumas filas eram de amargar), pelo menos um pouco mais feliz com o registro “histórico” que eles vão levar para sua experiência pessoal. Alguma dúvida de que vamos ver mais disso no fim de semana que vem?

Aliás, essa é sempre a relação de uma banda (ou um artista) com seus fãs – e vamos ver a mesma coisa na passagem de Justin Bieber pelo Brasil, que acontece (num “timing” bem bizarro) logo depois do Rock in Rio. Como já adiantei aqui mesmo, estive com o mais novo “ídolo das multidões” na semana passada, em Los Angeles, para fazer uma entrevista que você deve ver no “Fantástico” deste domingo. Para dar um relato breve – conforme combinei que iria fazer – foi um encontro um pouco estranho. Não por ele – calma fãs, não estou falando nada! Mas pela expectativa que eu mesmo tinha criado para o momento.

A ascensão meteórica de Bieber – uma história que, de tão perfeita, parece fabricada pelos anais do “show business” – é mesmo impressionante. Tanto que eu fui até ele com “duzentos pés atrás”. Como maldiz boa parte das pessoas que não gostam do cantor – acredite, elas existem! –, ele tem toda a pinta de ser um ídolo fabricado, alguém que estourou na música totalmente por acaso e que, sem opinião própria, é um “robozinho” controlado pelas “poderosas forças” da indústria musical. Seria isso mesmo? Bem… Sim e não.

O primeiro mal sinal que recebi foi o atraso na hora marcada para a entrevista – marca típica das celebridades. Bieber chegou mais de uma hora depois do combinado – o que, pelo menos na minha experiência, não é muito grave (já contei quando Courtney Love me fez aguardá-la por oito horas? Bem, divago…). Apesar de ver nossa equipe ali, preparada para recebê-lo, entrou direto para os camarins e foi “se arrumar”. Eu “sobrei” então com seu “personal manager” (uma espécie de “assistente pessoal”), que me fez aquela sabatina de sempre, um ritual com o qual já me acostumei sempre que vou entrevistar um “superstar”: variações sobre o tema “não pode perguntar nada sobre vida pessoal”… Até aí, tudo bem, tudo normal… Mas será que isso tudo queria me indicar que Bieber era apenas “mais um” – apenas o “produto da hora” na parada de sucessos?

Quando ele finalmente apareceu para conversar, fui obrigado a engolir esses meus pré-julgamentos. Apesar de todo o “circo” em torno dele, o cara é bastante tranquilo – no bom sentido: sem pose de estrela. Para alguém que aparenta bem menos do que seus 17 anos, ele conversa como alguém que poderia ser bem mais velho – digamos… 18! E o que poderia ser uma conversa afetada, transcorreu de maneira mais normal do que eu imaginava. Claro que aqui e ali, Bieber vinha com algumas respostas mais “prontas” – aquelas que ele (e tantos artistas) ficam ensaiando com um treinador antes de partir para uma bateria de entrevista. Mas o encontro foi pontuado por momentos de grande espontaneidade – que eu tenho certeza que vai deixar feliz as fãs (e “os” fãs – que, de certa maneira, até surpreendem o próprio cantor, como ele me contou). O veredicto, claro, virá logo depois que a entrevista for exibida. Mas quero deixar aqui o registro de um momento mais agradável do que eu havia suposto, e surpreendentemente relaxado (prova maior disso é a foto ao lado, que seria apenas “protocolar”, mas que Bieber teve a habilidade de convidar a produtora que nos ajudava em Los Angeles para participar também… Bieber é gente boa…).

E que venha o segundo fim de semana de Rock in Rio 2011!

O refrão nosso de cada dia

“Sir Duke”, Stevie Wonder parte homenagem a um grande ídolo, parte preparação ao show que talvez seja aquele que eu mais esteja esperando de toda a programação desse festival (ele se apresenta na quinta-feira no Rock in Rio), o refrão de hoje é de Stevie Wonder! Não é de uma faixa das mais “obscuras”, mas também não é das mais óbvias. É de um dos meus álbuns favoritos de Stevie (“Songs in the key of life” – que título lindo!). Tem não apenas um refrão cantado, mas também um que é só instrumental (e genial!). E tem uma das aberturas mais singelas e verdadeiras que eu conheço: “Música é um mundo em si mesmo, com uma língua que todos nós entendemos”… E depois vem um desavisado reclamar que esse ou aquele artista não deveria tocar no Rock in Rio – que preguiça…

Cinquenta anos em cinco

qui, 22/09/11
por Zeca Camargo |
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Parabéns! E obrigado! Se você é um daqueles, ou uma daquelas, que tiveram a coragem, a paciência – ou até mesmo a pachorra (tente buscar o verdadeiro significado dessa palavra antes de julgar que minhas intenções não são nada além das mais amáveis) -, enfim, se você fez com que eu merecesse sua atenção desde aquele longínquo 25 de setembro de 2006 (sim, o aniversário “oficial” é domingo), eu só tenho que agradecer e fazer o possível para honrar este seu interesse. Algo que, sem falsa modéstia, acho que estou cumprindo à risca, desde aquele primeiro texto que “anunciava” então o que seria “a primeira entrevista de Daniela Cicarelli depois daquele vídeo”…

Leitores e leitoras de 16 anos (ou menos) – um grupo que me dá muito orgulho e alegria de saber que passa por aqui, ainda que de vez em quando – talvez estejam se perguntando quem é essa tal de Daniela Cicarelli. Ou, se alguém dessa faixa etária se lembra do nome, a dificuldade talvez seja para identificar a qual vídeo o título de estreia deste blog se referia. Sim, porque essa é a velocidade das coisas nesse mundo maravilhoso da cultura pop sobre o qual eu decidi me debruçar quando fui convidado a experimentar essas águas. Muitas coisas passaram por aqui nesse tempo – bem mais do que eu poderia achar que caberia em cinco anos (por isso a brincadeira no título de hoje com a famosa frase de Juscelino Kubitscheck sobre o desenvolvimento do Brasil, que incluiu, entre outras coisas, a construção de Brasília). E aquilo que, como eu me referi no texto que celebrava os primeiros seis meses de blog, eu achava que seria uma enorme dor de cabeça foi se tornando cada vez mais um prazer maior. Um prazer, claro, duvidoso. Mas mesmo assim, um prazer. “Welcome to the jungle” (ou, em português, “Bem-vindo à selva”), saudou-me então a colega (blogueira e jornalista, Cora Rónai – num tom semi-irônico que eu só absorveria na sua totalidade ao longo desse processo. Tortuoso, diga-se. Mas nunca doloroso.

Já naquele primeiro texto, então, eu chamava atenção para o “alucinado caldo cultural que vivemos hoje”. “Hoje”, claro, já ficou cinco anos para trás – e o tal “caldo cultural” não dá sintomas de abrandar seu estado de alucinação. Aliás, se não me engano, está cada vez mais rápido e mais alucinado. Ao contrário de me sentir desestimulado por isso, porém, minha reação é de excitação ainda maior cada vez que vejo que temos mais espaço e transparência para falar e discutir sobre tudo por aqui. Aquele post de estreia ainda é, até hoje, o segundo recordista de comentários – 589 até o momento em que escrevo isto. O campeão absoluto, como você deve se lembrar, foi quando elaborei sobre o bocejo que dei no ar, num post de 10 de julho de 2010 (nada menos do que 1.070 comentários – de todo tipo…). Mas não foram poucas as polêmicas e debates apaixonados que vimos desfilar neste blog. No Carnaval de 2009, quando pedi para você decidir se um canal de TV aberta deveria transmitir a cerimônia de entrega do Oscar ou o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, 413 pessoas deram sua opinião – e a impressão que ficou foi a de que elas estavam bem divididas. O próprio texto recente sobre o programa de TV “Pânico” gerou (até agora) 448 comentários – um número que, acredito, ainda deve aumentar. Causei inquietações memoráveis – especialmente quando mexi com “vacas sagradas” como Harry Potter (293 comentários); a escola de samba Beija-flor (215 comentários); o filme “A origem” (182 comentários); Sandy (278 comentários); o “Cavaleiro das trevas” (296 comentários); um certo vídeo de uma humorista chamada Cris Nicolotti (197 comentários); e a lista das melhores músicas brasileiras (214 comentários).

Nem tudo, felizmente, foi confusão. Tive o privilégio de ter participações maravilhosas em assuntos menos belicosos, como o crescente desinteresse pela leitura (179 comentários); Lady Gaga aqui (161 comentários) e aqui (254 comentários); Nirvana (152 comentários); Forró do Miúdo (315 comentários); uma entrevista que você teve a oportunidade de fazer comigo mesmo (249 comentários, somando as duas partes); U2 (264 comentários); Paul McCartney (334 comentários, combinados em três posts entre outubro e novembro do ano passado); ou mesmo uma saudável discussão sobre a suposta liberdade de expressão na internet (142 comentários).

Mas os números, como também aprendi ao longo desses cinco anos, são o de menos. O que me deixou mais encantado esse tempo todo foi o teor dos comentários que você enviava. Acho que posso me gabar de ter – com raras exceções – conduzido as conversas num ótimo nível de argumentação. Quando falo em nível, por favor não me tome como pedante. Não quero apenas dizer que este post é um oásis onde onde os palavrões são banidos – é mesmo, mas isso é o mínimo que eu poderia estipular para tentar manter este espaço interessante. Estou falando da qualidade do que você mesmo escreve – tão estimulante que muitas vezes (e elas não foram poucas), me senti motivado a esticar meus próprios argumentos em posts seguintes, ou mesmo responder diretamente aos comentários.

Participar nesse diálogo virtual sempre foi uma das virtudes da própria internet, e acho que, com insignificantes desvios de percurso (ou seriam “de percalço”?) conseguimos chegar num nível como esse que eu comemoro agora – de confiança, de fidelidade, de troca, de “mente aberta” (essa não é uma das minhas expressões favoritas, mas utilizei-a assim mesmo para você me entender). As tentações da internet são muitas – maiores até do que aquelas que, como expus num dos primeiros posts, estão sempre a atormentar um blogueiro -, mas acho que aqui você encontrou um espaço confortável para se inspirar e refletir, para se colocar e deixar-se sentir provocado. E é esse retorno que vejo sempre nos comentários – sobretudo nos daqueles que escrevem com frequência – que me faz sentir recompensado. É para isso que eu estou aqui – há cinco anos!

Quer uns exemplos? Dois retornos recentes sobre assuntos que eu escrevi aqui – e que eu considerava não muito populares (mas mesmo assim, numa decisão bastante idiossincrática, como tudo que eu faço neste blog, eu resolvi pegar como tema) – me deixaram extremamente feliz. O primeiro foi sobre o filme “A árvore da vida”, de Terrence Malick – uma das obras de arte que mais mexeram comigo nestes últimos cinco anos (vi o filme mais duas vezes, no avião, indo e voltando para Los Angeles esta semana – por conta de uma entrevista com Justin Bieber, sobre a qual devo falar aqui na segunda feira -, e posso garantir que só fico cada vez mais fascinado com o trabalho desse diretor). 125 pessoas se animaram a mandar alguma coisa por escrito sobre este post – o que, para mim, só pode significar que neste mundo tem gente tão sensível a um trabalho como esse em número suficiente para eu querer continuar a acreditar na humanidade. Exemplo número dois: ainda este ano, um post sobre o filósofo francês Michel de Montaigne gerou quase 100 comentários (98!) – e me pegou totalmente de surpresa! Aliás, livros, apesar de não ser o assunto mais popular por aqui – mas que mesmo assim, teimosamente, eu insisto em escrever sobre eles! – sempre dão boas discussões, desde quando, lá em 2007 eu celebrava o poder que as livrarias ainda têm (sem falar que minha modesta incursão pela ficção – um conto que apresentei timidamente aqui em 2010 – foi recebido, na somatória das suas duas partes, com 235 comentários, quase todos estimulantes). Um post sobre documentários, com o gancho daquele sobre Wilson Simonal, resultou em 77 comentários – quase todos pertinentes. E até a “ultra cerebral” artista performática, a sérvia Marina Abramovic, foi agraciada com 98 comentários. Nesses cinco anos, aprendi, com satisfação, que não existe assunto que não possa interessar pelo menos um punhado de pessoas – e que isso abre um canal maravilhoso de interatividade.

E por isso que eu vou em frente, convidando você a conversar sobre coisas e pessoas tão diferentes quanto a “dança do quadrado” e Antony and the Johnsons; Tóquio e Istambul; Cildo Meireles e Magali no Largo da Carioca; “O escafandro e a borboleta” e “Se beber não case 1 & 2″; Roberto Carlos e Juana Molina; “Vale tudo” e “Capitu”; Jimmy Corrigan e Harry Potter; Racionais MC e Michael Jackson; Lisboa e Madri; Miguel Magno e Pina Bausch (para citar apenas duas das pessoas que eu sempre admirei e que aproveitei este o espaço para me despedir); Vanusa e James Franco; noites de Oscar e “No Limite”; Julian Barnes e Zadie Smith; “Up” e “Tropa de elite 1 & 2″; Deus e Radiohead; Hélio Oiticica e Stefhany; Facebook e Robeto Bolaño; ou mesmo dois artistas com quem falei recentemente, Justin Bieber (em Los Angeles) e Lou Reed (em Nova York, onde a foto acima foi tirada). Ou qualquer outra mistura que você quiser sugerir.

Este espaço é de quem me lê – pelos próximos cinco, dez, sei lá quantos anos! Boas vindas – sempre!

O refrão nosso de cada dia

“Lacrimosa”, Zbigniew Preisner – em clima de celebração, indico hoje um dos refrões menos pop desde que esta série começou. Não importa – este é o espírito hoje. Talvez tenha a ver com o fato de, como contei no texto acima, eu ter assistido à “Árvore da vida” mais duas vezes esta semana. Ou simplesmente com meu júbilo pelos cinco anos do post. Essa belíssima composição de Preisner, que encanta um dos momentos mais lindos do filme de Malick, é exatamente o que eu quero ouvir hoje. E quero que você ouça também – se seus ouvidos puderem tolerar menos de três minutos de música clássica. Se você se der essa chance, posso garantir que não vai se arrepender.

“Me and Mr. Reed”

seg, 19/09/11
por Zeca Camargo |
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Estou a caminho para entrevistar, Justin Bieber. Sim, você que acompanhou este blog nos últimos doze meses tem todo direito de achar que esse foi um dos anos mais “animados” da minha carreira de repórter musical. Afinal, em outubro do ano passado, eu estava indo para Londres fazer uma entrevista com Paul McCartney. Poucas semanas depois, foi a vez de Keith Richards. Em abril deste ano, estive com Lady Gaga. E agora, nas últimas semanas, uma verdadeira avalanche de artistas interessantes ofereceram entrevistas ao “Fantástico” – e, digamos, não tinha como eu dizer não… Já falei aqui da “triplicadinha” recente que me fez encontrar Sade, Tony Bennet e Joss Stone na mesma semana. E agora, vem aí Justin Bieber! Mas isso não é tudo…

Na última sexta-feira eu estive com Lars Ulrich, do Metallica – que vem tocar aqui, no Rock in Rio, no próximo domingo. Lars é um “velho conhecido” – a primeira vez que o entrevistei foi nos tempos da MTV, quando descobri que o baterista da banda (considerado hoje um dos melhores do mundo) é bom de conversa. Sexta-feira passada, por exemplo, quando ele chegou para a entrevista, quase que imediatamente começou a me contar que o filme que ele mais tinha gostado de ver recentemente era “Senna” – e por uma razão inesperada. O documentário, claro, é muito bom, e emocionou milhões de fãs do piloto pelo mundo desde que foi lançado. Mas Lars gostou mesmo porque ficou envolvido emocionalmente com a história por um detalhe bastante curioso: ele não sabia o final do filme!

Eu mesmo não acreditei quando ele me contou isso. Mas tratou logo de explicar que nunca foi um grande fã de corridas de Fórmula 1 – e que quando Senna morreu naquele acidente de 1994, em Ímola (Itália), ele provavelmente estava em turnê com o Metallica, e não prestou atenção na comoção mundial que essa grande perda causou (e olha que para ter escapado de uma notícia como essa, ele deveria estar realmente “imerso” nos seus concertos…). Lars contava esse caso com a espontaneidade de quem reencontra um grande amigo – coisa que não sou, veja bem: não posso, nem de longe me considerar “íntimo” dos artistas que entrevisto (não tenho essa ilusão, mesmo com aqueles que encontro repetidas vezes). Mas quero apenas passar o registro do nível de descontração que abriu esse encontro – pelo menos até o momento em que meu outro entrevistado do dia adentrou a sala…

Estou falando de Lou Reed.

Ele estava lá não porque estivesse vindo também para o Rock in Rio (quem dera!), mas porque ele acabou de lançar, junto com o Metallica, um dos álbuns mais interessantes que você vai ouvir em 2011 – ou melhor, um dos mais interessantes que você “não” vai ouvir, porque “Lulu” (o nome do trabalho conjunto) é algo muito estranho e diferente, e as pessoas geralmente têm um pouco de medo de coisas assim. Só que é genial – e eu só posso lamentar pela infelicidade de quem não quiser dar pelo menos uma chance a “Lulu”. Os fãs do Metallica certamente vão reconhecer o melhor da banda no disco – texturas musicais e evoluções sonoras que em muitos momentos (como na faixa “Dragon”) supera até trabalhos anteriores do próprio Metallica. E os fãs de Reed, sem dúvida nenhuma, vão identificar a voz gasta do artista que vem nos intrigando desde os tempos do Velvet Underground – que, talvez pela parceria inédita, parece se dedicar com novo fôlego ao estilo que ele mesmo criou e que poderíamos chamar de um “proto-rap”. Mas se ouvirem o álbum com atenção, os admiradores tanto de um lado como o do outro – bem como aqueles que não tem intimidade com nenhuma das partes, mas gostam da boa música – vão encontrar uma obra que é no mínimo instigante.

“Lulu” é uma adaptação de uma adaptação – textos do dramaturgo alemão Frank Wedekind, que pelas mãos de Lou Reed (e seu parceiro, o diretor Bob Wilson), virou uma montagem estupenda em Berlim, que agora virou um disco em colaboração com o Metallica. Como eles mesmos contam, o primeiro encontro entre as duas partes aconteceu em 2009, durante a cerimônia anual do Rock and Roll Hall of Fame, quando eles tocaram juntos alguns clássicos do Velvet. Surgiu então a vontade de estender essa ideia – e quem sabe gravar um disco com outras releituras do repertório (injustamente) esquecido de Reed. Mas aí um dia Reed teve um “estalo” e achou que o Metallica seria ideal para das uma nova cara ao seu trabalho antigo em cima de Wedekind – e pronto: nascia então “Lulu”.

A “criatura” que surgiu disso porém, não é exatamente bonita. Encarnado na voz de uma mulher, Reed leva torturas, tragédias, desespero e sofrimento a um novo patamar – que eu ainda não havia visitado, pelo menos não no universo da música pop. “Lulu” é brilhante – visceral. E tendo ouvido as faixas do álbum que me foram liberadas antes do lançamento oficial do CD (seis delas, no total) durante toda a manhã da última sexta-feira, devo dizer que estava ligeiramente transtornado para o resto do dia. E foi nesse estado de espírito que parti para a entrevista.

Aqueles momentos iniciais com Lars até que serviram como uma boa distração. Mas, retomando aquela hora em que Lou Reed entrou na sala, tenho a declarar eu fui tomado de uma “travação”, como se não tivesse me preparado nem um pouco para a entrevista. Eu estava preparadíssimo, diga-se, mas de alguma maneira, a presença dele naquela sala apertada mexeu comigo. Diante de mim estava um homem não muito alto – aliás, mais para o “baixinho”. Seu rosto era extremamente marcado, mais até do que seus quase 70 anos talvez permitissem. Sorrisos não faziam parte da sua expressão corporal, mas nas poucas palavras que expressou naqueles instantes iniciais, era possível ver que pelo menos alguns de seus dentes eram de platina (ou de algum outro material que se parecia com platina). Indiferente a esses detalhes, seu primeiro pedido foi para ver, no monitor do nosso equipamento, como ele estava fotografando – isto é, queria saber se estava “bem na câmera”. Mesmo com toda essa estranheza – ou talvez até por causa dela – eu me senti totalmente intimidado pela figura de Lou Reed.

Diante de mim, bem ali, estava alguém que significava mais que um “ídolo de rock” – Reed nunca se encaixou confortavelmente nessa categoria –, mas um ícone cultural, um cara que é uma referência não só para a história da música contemporânea, mas para a Arte (com maiúscula mesmo) do nosso tempo. O que seria apenas mais uma entrevista para promover um novo disco – e, talvez, a passagem do Metallica pelo Rock in Rio – assumia, para mim, um novo caráter. Eu tinha ali o desafio de “entreter” um artista maior. E devo dizer que quase não me dei bem.

Reed não tem a “manha” de dar esse tipo de entrevista – afinal, ele é de uma geração que não cresceu com o massivo esquema de marketing que hoje faz parte da carreira de qualquer artista. Mesmo depois que esse “sistema” já estava implantado, ele nunca se sentiu na obrigação de “passar por isso”. Entrevista para ele, eu imagino, é a oportunidade de uma conversa onde se discute assuntos sérios, sobre vida e arte, sobre questões mais fundamentais. E, a julgar pela sua atitude inicial, era essa postura que ele assumiria durante todo nosso encontro.

Era até engraçado. Enquanto Lars se esforçava em responder as perguntas com as informações básicas sobre “Lulu”, Reed parecia fazer questão de “divagar”. Na primeira brecha, me perguntou de quem era a cara estampada na minha camiseta (de ninguém especificamente – era só um desenho anônimo), e começou a divagar sobre aquela figura, sem deixar transparecer se ele estava realmente interessado naquilo ou apenas procurando uma distração para uma situação que ele não achava confortável. Logo depois pareceu incomodar-se com uma câmera extra que era usada pelo nosso cinegrafista – e sugeriu que outra pessoa a segurasse. “Você vai me agradecer por isso”, disse ele, em tom de “missão cumprida”. No geral, ele se comportava como um garoto disperso, que estava ali apenas para apresentar suas últimas arrelias…

Eu – ao mesmo tempo nervoso diante do artista, e concentrado a levar a entrevista adiante – tentava buscar em Lars algum apoio. E o baterista do Metallica, experiente como é nesse tipo de situação, tirava de letra. Mas eu queria mesmo era a atenção de Reed – algo que só consegui, finalmente, quando ele me perguntou se eu conhecia seu parceiro de tantos trabalhos, Bob. Ele se referia, claro, a Bob Wilson – que já citei acima –, um artista respeitadíssimo no mundo todo, e cujo trabalho eu conhecia bem, não só por espetáculos fantásticos que eu tive a oportunidade de ver em viagens (especialmente Nova York, onde ele é um nome quase permanente nas programações do Next Wave, o festival de artes da Brooklin Academy of Music), mas também por uma ótima exposição que ele ganhou recentemente aqui mesmo no Brasil, no Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro.

Nunca agradeci tanto meu interesse por “alta” cultura… Reed, talvez julgando que eu fosse um repórter que só me interessava por música pop, não tinha me dado a menor bola até então, mas mudou de atitude assim que eu citei trabalhos de Wilson que eu já havia conferido – passou, de fato, a conversar comigo. E aí então, a entrevista realmente aconteceu… Daquele momento até o final (ainda teríamos uns quinze minutos juntos) o clima era de total descontração – e eu me senti recompensado pelo esforço. E contente de ter conseguido levar uma conversa, não apenas com um, mas com dois grandes artistas ao mesmo tempo. O resultado disso, claro, você vai ver em breve no “Fantástico”.

Agora, com licença – tenho que me concentrar para falar com outro artista que muito provavelmente vai gerar muito mais tráfego na internet quando sua entrevista for exibida do que Metallica e Lou Reed (e escrevo isso sem o menor juízo de valor, acredite). Justin Bieber, aqui vou eu! Acho que não vai ser uma má maneira de comemorar os cinco anos deste blog – pelo contrário…

O refrão nosso de cada dia

“Caroline says”, Marc & The Mambas / “Black heart”, Marc & The Mambas – estou ciente de que deixei de indicar um refrão junto com o último post, e, por isso, hoje você ganha não apenas um, mas dois deles. Que, aliás, têm a ver com o próprio texto de hoje. Sim, porque a primeira indicação é a de uma versão de uma música dele mesmo – Lou Reed. Uma versão, diga-se, que eu ouso dizer que é até mais bonita do que a original… Descobri essa faixa num projeto “solo” do enlouquecido Marc Almond – que você talvez lembre mais pelo trabalho junto com o Soft Cell (“Tainted love”, sabe?). Jamais acomodado, Almond nunca parou de gravar desde os anos 80 – e seu interesse sempre foi muito além do “synthpop” que o lançou. Tanto que com o Marc & The Mambas, seu projeto paralelo da mesma década, ele tomou caminhos imprevisíveis. Em “Untitled”, ele faz um disco tão pessoal que é quase uma autópsia ao vivo para quem escuta – e “Caroline says” é talvez o ponto alto do trabalho, de arrancar lágrimas. Em seguida, os Mambas lançaram “Torment & toreros”, um disco com forte inspiração espanhola (como o título indica), que eu recomendo de todo coração. De lá, eu tiro outra obra-prima do amor dilacerado para te indicar: “Black heart” – aqui apresentada numa versão “remix”, que é, aliás, a que eu mais ouvi nesses anos todos. Sempre que preciso de conforto, me lembro da história cantada por Almond nessa canção – e me sinto melhor… “You killed all my dreams with your black, black heart”… Estamos quites?

Pragas

qui, 15/09/11
por Zeca Camargo |
categoria Todas

Na correria da semana passada, em Nova York, tive tempo de ver dois filmes muito interessantes que me pareceram conectados de uma maneira inesperada. Um é um grande “blockbuster” – uma daquelas apostas poderosas de Hollywood, com um elenco impecável e assinatura de um diretor respeitado (no caso, Steven Soderbergh): “Contágio” (que não demora a estrear no Brasil). O outro é bem mais alternativo, de um diretor modesto (Errol Morris), mas não menos conceituado, sobretudo no que diz respeito ao universo dos documentários: chama-se “Tabloid” (como qualquer documentário, sua estreia no Brasil é incerta, mas se vier, é provável que a gente reconheça o trabalho pela simples tradução do seu nome original: “Tabloide”).

Se fosse apenas pelos argumentos, os dois filmes não poderiam ser mais diferentes. O primeiro fala de uma situação fictícia (mas não tão longe assim da nossa realidade) em que um vírus fatal para os seres humanos espalha-se com uma rapidez absurda pelo planeta – e nós, pobre raça frágil, sucumbimos a ele aparentemente sem salvação. Já o segundo revisita uma história real, de um escândalo sexual nos anos 70, na Inglaterra, que envolveu uma americana que abduziu um garoto (também americano) e abusou sexualmente dele por três dias seguidos – e esses não são nem os detalhes mais esquisitos do caso… Se as semelhanças entre as duas histórias não parecem tão óbvias, vou deixá-las mais claras: ambos os filmes falam de pragas que se espalham com uma enorme rapidez, epidemias para as quais nós estamos sempre muito pouco preparados, quase indefesos, e sem barreiras para nos entregarmos a elas – a primeira claro, é biológica; e a segunda… bem, a segunda é ainda mais perigosa e imprevisível. Não depende de vírus algum para se espalhar, apenas do pior inimigo que trazemos dentro de nós mesmos: a curiosidade mórbida sobre a vida alheia…

Vamos começar por “Contágio” – que certamente repetirá no Brasil o sucesso que está tendo nas bilheterias americanas. Mesmo descontando o fato de que eu acho que qualquer filme com Matt Damon já começa com pontos positivos, eu estava desconfiado dessa superprodução. Faz tempo que Hollywood deixou de me seduzir com filmes dessa natureza, e embora eu tenha sentido um sopro de esperança nessa indústria cinematográfica americana com o recente “Planeta dos macacos”, entrei no cinema – uma sessão bem no dia da estreia – meio desconfiado. Tudo era bom demais para funcionar. Fora o “fator Damon”, “Contágio” ainda tinha participações de Gwyneth Paltrow, Laurence Fishburne, e Marion Cotrillard. A “grife” Soderbergh só aumentava as credenciais do filme, e o assunto era próximo demais daqueles dramas de catástrofes previsíveis que, de tanto serem bombardeados nas grandes telas, já nem oferecem mais suspense – acabam funcionando como fórmulas genéricas que mal conseguimos diferenciar. Perigo à vista!

Mas assim que o filme começou eu percebi que o diretor não estava ali para apresentar apenas mais uma história de “catástrofe mundial”. Essa era uma produção que tinha “pedigree” – e sem pesar demais para o lado de “filme de autor”, Soderbergh estava definitivamente deixando vazar sua marca e seu estilo (cujo melhor indicador era, justamente, a capacidade que o diretor tem de contar uma história em múltiplos níveis). O fato de “Contágio” falar de uma epidemia possível – quem não se lembra das histerias recentes por conta das gripes suína e “aviária”? – só “piorava” as coisas. Ali, diante de seus olhos, desenrolava-se um drama que, mesmo que você repetisse mil vezes que era só uma história de ficção, a possibilidade de que algo parecido venha mesmo a acontecer no seu cotidiano é próxima demais do nossa dia-a-dia.

Mais de uma vez, “Contágio” conseguiu me confundir – ou melhor, “dobrar” minha imaginação e me convencer de que aquilo que eu estava vendo estava mais para o documentário do que para a ficção. O mérito por isso também é de Soderbergh, que dirige as cenas de maior pânico sem a pretensão megalômana de outras hecatombes visitadas por Hollywood. Ficando nos dramas pessoais, ele nos dá sequências mais verossímeis do que aquelas grandes tomadas de multidões fugindo de ondas gigantes ou rios de lava (ou mesmo asteróides em rota de colisão com a Terra!). Se sua direção não é exatamente econômica, é no mínimo elegante, e faz que um espectador que já sofreu algumas décadas de bobagens sentado numa cadeira de cinema (como este que vos escreve) sinta-se recompensado – não só pelo preço do ingresso que pagou, mas pela entrega emocional e intelectual ao filme. Novamente, insisto, algo cada vez mais raro de acontecer hoje em dia. Tão raro que eu acho que posso me considerar um sujeito de sorte apenas por ter sentido isso duas vezes na mesma semana, já que antes de assistir a “Contágio” eu também tinha aproveitado uma brecha na minha agenda para conferir “Tabloid”.

Sou fã de Errol Morris há anos – mais precisamente desde que ele adaptou um dos livros mais impossíveis de se adaptar de todos os tempos: “Uma breve história do tempo” (esse mesmo que você está pensando, assinado por Stephen Hawking). Vi esse filme por acaso, em uma viagem a Paris (os filmes de Morris raramente são exibidos no Brasil, a não ser em seletas mostras de cinema), e fiquei completamente transtornado com sua originalidade. Comecei a ir atrás de tudo que ele tinha feito – e o que não consegui assistir em um cinema, procurava em DVD (ou mesmo em VHS!). Foi assim que descobri, por exemplo, uma outra pequena obra-prima chamada “Fast, cheap & out of control” – que é uma colagem de perfis de três personagens bastante inusitados (um deles, só para dar uma ideia, é um “escultor de jardim” – aqueles caras que podam arbustos para deixá-los com forma de bichos, frutas, ou qualquer outro devaneio da imaginação…). Com isso, aprendi a esperar qualquer coisa desse brilhante diretor. Mesmo assim, o impacto de “Tabloid” foi tão grande que era como se eu estivesse entrando em contato com o trabalho desse gênio pela primeira vez.

Como escrevi lá em cima, a história inicial já é bastante bizarra. Mas na recapitulação de Morris ela fica ainda mais estranha – principalmente pelo fato de que, como em todos seus documentários, as coisas não ficam exatamente esclarecidas. Sem o depoimento do então garoto (que não quis dar entrevista e sempre manteve um comportamento discreto com relação ao escândalo), o diretor constrói uma história com fragmentos que são aos mesmo tempo dispersos e instigantes. Somos nós então que temos que ligar os pontos – e é justamente esse exercício que Morris sempre apresenta em seus filme, que os torna tão interessantes.

Os elementos do caso são “saborosos”. Joyce McKenney (a “sequestadora”) nega até hoje que ela tenha feito alguma coisa que não fosse consensual. Kirk Anderson, apesar do silêncio de anos, mantém a versão da época, que o coloca como vítima. Eu já mencionei que ele ficava acorrentado numa cama enquanto era seviciado por McKenney? E que ele era um pastor mormon? Pois então… Se essa história já seria “deliciosa” de ser contada nos dias de hoje, imagine o que a imprensa sensacionalista inglesa fez com isso nos anos 70!

Realmente, como dizem os franceses “plus ça change…”  – uma brincadeira com a ideia de que quanto mais as coisas mudam, mais elas continuam iguais. Do que eu estou falando? Da tal curiosidade mórbida sobre a vida alheia. Esse é um comportamento amplamente discutido – e atacado – em debates contemporâneas, como se fosse um fenômeno recente. Mas Morris prova de que esse fascínio que temos pelo “escândalo alheio” vem de longe – mais de longe ainda do que os anos 70, claro, mas basta “Tabloid” voltar algumas décadas na nossa memória para a gente tirar daí uma conclusão de que sempre fomos assim…

Ao longo de todo o documentário, você, quase sem perceber, vai se entregando a sórdida história – sua resistência diminuindo a cada detalhe novo que é apresentado. Até que no final, longe de você  ter uma atitude moralista – na linha “que absurdo é o ser humano”! –, sua reação é simplesmente a de aceitação: “sim, eu saboreei essa história como qualquer outro mortal, e não me sinto nem um pouco culpado por isso”…

Claro que, quando pensamos assim, esquecemos que nós mesmos, um dia, podemos ser o alvo dessa, digamos, curiosidade das massas. Mas isso faz parte do nosso próprio “prazer” em seguir histórias como essas: achar que isso é só um problema dos outros, que nunca vai acontecer com a gente. Sei… Ironicamente, acontecimentos recentes – que passaram por manipulações não muito diferentes das que a mídia usou no “caso McKinney” – me fizeram sentir de perto como é quando as atenções (justificadas ou não) voltam-se para você. A situação, claro, deixa imediatamente de ser engraçada – e tudo que você passar a desejar é que o bom senso (que apesar de cada vez mais raro, ainda é uma das mais fundamentais características humanas) prevaleça no final. O que no meu caso, felizmente, já está acontecendo.

Afinal, como “Contágio” não nos deixa esquecer, não há praga da qual a gente não consiga se defender…

Trifeta!

seg, 12/09/11
por Zeca Camargo |
categoria Todas

Era para ser só a entrevista com Sade. Mas não sei o que deu nesses artistas: todos eles resolveram dar entrevistas na semana passada. O “Fantástico” tinha recebido ofertas de ninguém menos do que Coldplay, Joss Stone, Sade, Tony Bennet (já explico!), Mick Jagger e Peter Gabriel – todos entre os dias 06 e 09 de setembro, em cidades tão distantes quanto Austin (Texas), Nova York e Londres. Todos os convites, claro, tentadores – mas como resolver essa “logística”? Tive de escolher – ou melhor, tivemos que nos organizar. Claro que o programa quer todos esses nomes de prestígio – é isso, entre outras coisas que justifica o nome “Fantástico”! Mas era humanamente impossível uma pessoa só fazer tudo (para você ter uma ideia, o Coldplay e a Sade eram no mesmo dia, 7 de setembro, a primeira em Londres e a segunda em Austin…). O que fazer?

A primeira medida foi dividir a tarefa. Meu colega, Álvaro Pereira Jr. – daqui do “Fant” também – também ficou interessado em fazer algumas delas. O resto foi decidido no mapa: eu ficaria com a “perna” dos Estados Unidos, e ele com a de Londres. Contando assim, parece que tudo foi muito simples, uma decisão muito racional. Mas foi justamente o contrário: a emoção falou bastante na hora de escolher. Porque eu sabia que queria fazer uma entrevista com Sade – eu estava esperando mais ou menos 25 anos por esse encontro! Teria sido até mais fácil para mim ir a Londres – eu voltaria na sexta-feira, e não no sábado, em cima da hora para os compromissos do “Fantástico”. Mas na hora de “bater o martelo”, eu fui categórico: eu queria ir para Austin conversar com Sade.

Com esse arranjo, Bennett e Joss Stone entraram no “pacote” – e eu fechei a minha “trifeta”! Se você está estranhando o primeiro nome – o que esse “senhor” de 85 anos ainda tem para dizer? – eu já vou adiantando que ele está mais ativo do que nunca, animado com o lançamento de seu novo álbum, mais uma coletânea de duetos, com gente tão interessante quanto Lady Gaga e… Amy Winehouse (essa foi a última gravação dela num estúdio antes de morrer, em julho último). A conversa com ele, que (confesso) eu achava que seria “difícil”, foi deliciosa. Você pode imaginar quantas histórias tem um cara com mais de sessenta anos de uma carreira de sucesso – que já cantou com nomes que vão de Frank Sinatra a, bem, Amy! Falamos por quase meia hora e, tenho certeza, poderíamos ter fechado outros 30 minutos de pura diversão. Um clima ótimo, um cara lúcido, um grande artista – enfim, uma entrevista bem legal como você vai ver em breve.

Já a entrevista de Joss Stone foi ao ar ontem – se você não conseguiu ver, é só conferir aqui. Foi feita na última sexta-feira, depois de uma maratona de viagens – São Paulo, Dallas, Austin, Nova York… Eu acumulava pouquíssimas horas de sono e estava um pouco com medo de que isso transparecesse na nossa conversa (se tem uma coisa que eu aprendi, em tantos anos de entrevista, é que o artista, para render bem, sempre quer ter 100% da atenção do repórter). Mas quando Stone entrou na sala, eu logo vi que era meu dia de sorte. Sua simples presença era mais que iluminada – Joss Stone é radiante e me “contaminou” com sua energia. Se ela mesma – que estava de passagem por Nova York por conta de outros compromissos – estava cansada, não deixava transparecer nem um pouco. E sua beleza… Bem, sempre a achei uma cantora bonita, mas ao vivo era ainda mais impressionante. E, como se não bastasse, ela estava totalmente à vontade. Tanto que nosso “tempo regulamentar” – aqueles 15 minutos básicos de qualquer entrevista com uma estrela do rock – estendeu-se por quase meia hora. E acho até que poderia ter ido um pouco mais adiante (para você que é fã, no site do “Fantástico”, procure o espaço do “Canal F”, nosso programa diário na internet: lá estão outros trechos dessa entrevista). Foi tudo de bom.

Mas nada, nem a simpatia de Stone nem a vitalidade de Bennett, superou a primeira entrevista da semana passada – meu encontro com Sade, em Austin.

Por uma enorme coincidência, a pessoa que me acompanhou nesse encontro era a mesma que foi comigo na entrevista de Paul McCartney no ano passado – e desde então tornou-se uma grande amiga e companheira de viagem. Minutos antes de Sade finalmente entrar na sala onde as câmeras e a iluminação tinham sido meticulosamente preparadas, essa amiga, provavelmente sentindo um certo nervosismo de minha parte, perguntou se estava tudo bem. Sem hesitar eu respondi que não – que eu estava mais nervoso do que antes do encontro com o próprio Paul McCartney (uma situação que, como eu já contei aqui mesmo, foi bastante tensa). Ela não acreditou, mas era a pura verdade…

Eu tinha, com já contei, bons motivos para estar nervoso com a chance de falar com Paul McCartney – para resumir em uma frase só, o que pesava mais nos meus ombros era a expectativa dos milhões de fãs que iam assistir àquela entrevista e que se sentiriam ali representados por mim. Eu não podia decepcionar – e isso me deixava bastante inquieto. Mas com Sade, a ansiedade tinha outra explicação: era uma questão pessoal.

Quando convidei você – leitor, leitora – a adivinhar quem era o meu ídolo que eu estava prestes a entrevistar, entre as pistas que dei, falei que a artista em questão tinha protagonizado um período importante da minha juventude, e isso tinha a ver com o meu nervosismo. Tem ídolos que transcendem a mera arte que oferecem, por ligações pessoais às vezes inexplicáveis – são conexões que você faz, por sinapses que não conseguem controlar, e que ficam com você para sempre. Com Sade foi assim. Eu era um “moleque” de 21 anos em temporada de mochila em Londres, fascinado (como sou até hoje) por música pop. Em algum lugar deste blog acho que já contei sobre o delírio de andar por uma cidade coberta de pôsteres de um soldado com as palavras “Meat is murder” pintadas no capacete – uma campanha massiva de lançamento do segundo álbum dos Smiths (àquela altura – e talvez até hoje também – a coisa mais perto da perfeição pop que eu já conheci).

Se essa era a visão que me acompanhava de dia, a música de Sade era minha trilha sonora para a noite. Em todos os clubes que eu ia (e foi essa a primeira chance que eu tive de explorar de verdade essa cultura da cidade – a “club culture”), sempre tinha um momento em que o DJ soltava “Smooth operator”, para o delírio de todos os presentes. Não tenho um registro muito preciso dessas festas – bebia-se muito nessa época, você entende… Mas o que ficou na memória foi uma atmosfera única de aventuras, de descobertas, de paixões instantâneas, de possibilidades… E tudo isso “regado” a muita Sade. A foto icônica da capa do seu álbum de estreia (umas das “top 10” na minha lista até hoje) já fazia parte do meu imaginário – bem como a outra imagem, absurdamente linda, na capa da (hoje extinta) revista “The Face” (ainda quero fazer um dia um post só sobre ela!). E tudo isso contribuiu para eu colocar Sade num pedestal dos mais altos no meu ranking de ídolos. Um ídolo, aliás, que eu nunca tinha a chance de encontrar…

Nos anos 80, quando eu ainda nem trabalhava como jornalista, meu sonho modesto era assistir a um show dela. Porém, eu ainda não viajava tanto como hoje… E as poucas vezes em que eu estava num país por onde ela iria se apresentar numa turnê, as datas nunca coincidiam – ou eu iria embora antes de ela chegar, ou eu chegava no lugar dias depois de ela já ter tocado por lá… Quando comecei a escrever em jornal, fiz várias resenhas idolatrando seus trabalhos seguintes (lembro-me em especial de um sobre “Stronger than pride”), sempre na tentativa de causar uma boa impressão, caso pintasse uma entrevista. Que, claro, nunca pintava.

Desde o final dos anos 80, Sade fechou-se para o mundo – pelo menos para o mundo do show business. Casou-se, foi morar na Espanha, e decidiu que seu contato com a imprensa (e com os fãs) seria apenas pelos seus discos, e por raros shows. E minhas esperanças de um dia entrevistá-la só iam diminuindo. Enquanto eu estava na MTV, no começo dos anos 90, ela lançou “Love deluxe” – e eu achei que teria alguma chance, afinal… era a MTV! Não foi dessa vez. Em 2000, quando eu já trabalhava no “Fantástico” (um programa por onde passam estrelas da categoria de Sade), ela veio com “Lovers rock”. Mas não abriu a boca… Quando “Soldier of love” foi lançado no ano passado, eu já nem me preocupei em correr atrás – sabia que o esforço seria inútil. Mas então, há pouco mais de um mês, com as notícias de que Sade viria pela primeira vez ao Brasil , surgiu enfim uma oportunidade: ela concederia a graça de uma entrevista – e uma só – antes de chegar ao Brasil. E o programa escolhido para isso era justamente esse em que eu trabalho! A sorte, finalmente, sorriu para mim!

Todos esses dias de antecipação foram extremamente excitantes. Eu tinha que tentar não “hiperventilar” toda vez que pensava que isso iria acontecer. E você pode imaginar o efeito que essa expectativa acumulada teve em mim quando finalmente faltavam apenas alguns minutos para eu encontrá-la. Para piorar um pouco o clima, nada menos do que quatro pessoas vieram falar comigo antes do momento decisivo, sempre com um recadinho na linha: “você sabe que Sade não gosta de dar entrevistas, então procure não aborrecê-la com suas perguntas”… Isso é meio normal nesse ambiente de bastidores – faz parte de um certo terrorismo que todo mundo adora fazer, mas que no caso de Sade, tem um fundo de verdade. Só que eu estava firme: não estava lá para aborrecer meu ídolo, tudo que eu queria era fazer uma boa entrevista!

E, sem muito aviso, de repente, lá estava Sade na sala! Vestida como uma garota prestes para sair para uma noite de balada, com roupas bem esportivas e coloridas, ela foi imediatamente simpática. Perguntou meu nome e quis saber como era a pronúncia correta – algo raro nesses encontros (geralmente o artista ouve algo como “zác”, parecido com o apelido de Zacharias, e nem se incomoda em pronunciá-lo novamente). Sade repetiu “Zeca” quase sem sotaque, e eu vi nisso uma boa oportunidade de começar uma conversa informal, enquanto os microfones eram instalados e seu maquiador dava os últimos retoques naquele rosto lindo que nem de longe entregava seus 51 anos…

Eu falei que ela deveria ter sentido na pele o que era ter seu nome (que corretamente soa algo como “chadey”) pronunciado de inúmeras maneiras erradas. Ela achou graça e contou que era mesmo um problema – mas que por outro lado ela detestava seu nome “oficial”, Helen… Rimos disso, e quase não percebemos quando o cinegrafista disse que já estava gravando tudo. Começar a entrevista para valer, depois disso, foi fácil… Esse bate-papo ajudou não só a deixar Sade relaxada, certa de que a conversa seria boa, como fez com que eu também desencanasse da carga emocional que eu tinha trazido comigo. E, por conta disso, lá estávamos nós falando por bem mais do que o “tempo regulamentar” (insisto nisso, porque é um motivo de orgulho para mim quando consigo, com simpatia e boas perguntas, convencer o artista a ser mais generoso do que seus agentes permitem…).

Falamos de amor – que é, claro, um de seus assuntos favoritos. Falamos de decepção – sobretudo com pessoas que você sempre contou como amigas. Falamos de isolamento e dos caminhos que a levaram a isso. E falamos de música, de novas vozes, do prazer de compor e cantar. Mas se eu contar demais, vou talvez tirar a graça da própria entrevista que você vai ver, mês que vem, no “Fantástico”. O que eu quis fazer hoje era apenas dividir com você – leitor, leitora, fiel de já quase 5 anos (o aniversário está chegando!) – um dos momentos mais especiais de toda minha carreira de jornalismo. Você é sempre tão generoso (generosa) com sua atenção, que o mínimo que eu posso fazer é retribuir com essa passagem de extrema felicidade para mim.

(Também fiquei feliz com boa parte dos comentários que foram enviados sobre o vídeo que eu postei sobre o “bullying” do “Pânico”, na quinta-feira passada. Foi bom ver que não estou sozinho na busca de um bom senso – e quem sabe um pouco de graça – na tentativa de definir o que é humor nesses desconcertantes dias de “vale tudo” que vivemos. Achei graça até mesmo dos comentários que me classificavam como “arrogante” – como se o próprio ato de perseguir alguém oferecendo uma coisa que esse alguém não quer, como se todo mundo tivesse obrigação de abaixar a cabeça para um programa que acha que é engraçado não fosse uma forma explícita de arrogância… Mas o mais divertido mesmo foi ver eles “descontando a raiva” do que eu escrevi aqui no programa de ontem… Nada como rir por último… “Noves fora”, acho que ficou claro que o grande embate nessa questão não é bem de audiência, mas sim de inteligência… Mas eu, claro, divago – esse assunto já deu…).

O refrão nosso de cada dia

“Funny face”, The Sparks – sim, sim, outra homenagem aos anos 80. Quer dizer, tecnicamente aos anos 70. Essa dupla enlouquecida surgiu em 1970, nos Estados Unidos, mas literalmente atravessou décadas oferecendo jóias pop – em letras e ritmos enlouquecidos. Mas “Funny face”, uma de minhas favoritas do Sparks, é de 1981. O refrão, como tudo que eles fazem (até hoje!) é muito bom. Mas tente prestar atenção também na letra para ter o que eu poderia chamar de “um prazer prolongado”… Quantas músicas teriam a coragem de falar sobre um rosto que não aguenta mais ser tão bonito? O primeiro verso é: “I looked a lot like a ‘Vogue’ magazine” (“Eu parecia muito com uma revista ‘Vogue’ ”) – e por aí vai…

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Algumas imagens que você não vai ver no ‘Pânico’ neste domingo

qui, 08/09/11
por Zeca Camargo |
categoria Todas

Eu reconheço que o titulo do post de hoje dá margem a interpretações duvidosas. Por exemplo, você pode achar que eu vou falar do vídeo que mostra um garoto dançando como Beyoncé no clipe de “Single Ladies”, com direito a colã preto, salto alto, e até um certo jogo de cintura – imagens que seriam um prato cheio para um programa cujo cardápio de piadas inclui exibir repetidas vezes um homem (este que vos escreve) fazendo a dança do ventre, mas que você não vai ver no programa justamente porque elas dizem respeito a alguém muito próximo ao próprio “Pânico”. Seria até engraçado a gente falar sobre isso, mas o assunto não é para hoje. Primeiro, porque este vídeo (que você encontra sem dificuldades na internet) é meio antigo – se não me engano, de 2009. Segundo, porque para discorrer sobre esse “conflito editorial” que dificulta essa exibição eu precisaria de tempo. E este, esta semana, está curto (o motivo disso, explico mais adiante), pois o que eu queria mesmo era só mostrar uma outra coisa rápida para você.

As imagens em questão – essas, que eu sugeri no título que você não vai ver no “Pânico” deste domingo (pelo menos não da maneira como eu vou colocar aqui) – constituem a íntegra da gravação de mais uma “intervenção” que um dos “repórteres” do programa fez comigo (onde mais?) no aeroporto, que é um lugar por onde eu sempre circulo muito, e que eles, previsivelmente, vão me abordar “de surpresa”. O motivo, como você talvez deva saber, é a “hilária” campanha do programa para que eu coma um doce, ou uma guloseima qualquer – uma proposta ligeiramente anacrônica, uma vez que a provocação, imagino, tem a ver com o sucesso do quadro que participei, o “Medida Certa”. Que, diga-se, terminou há mais de dois meses… (alguém precisa dar um toque para eles que hoje em dia já eu posso comer literalmente o que eu quiser – só não faço questão nenhuma de o fazer num programa cuja noção de humor inclui invadir uma cerimônia tão privada quanto o velório de uma artista tão querida quanto Amy Winehouse…). Lembra quando as ideias do programa era boas justamente porque elas iam em cima do que estava acontecendo? Pois é, a proposta agora deve ser trabalhar com um “delay”…

Já é senso comum que o “Pânico” anda meio sem inspiração desde que tomou aquela bola nas costas com a história das loiras estrangeiras que eles lançaram no programa para sair explorando o Brasil (as meninas vinham de um país cujo nome permitia um trocadilho chulo bem na linha do que eles acreditam ser um jogo original de palavras). Para refrescar sua memória – já que no próprio “Pânico” tanto as meninas como as menções à nacionalidade delas foram banidas: elas eram, na verdade, contratadas de uma marca de cerveja que, na “ mão grande”, usou o “Pânico” (e seus apresentadores) para a maior ação de merchandising gratuito da história do programa. Isso certamente deve ter desorientado as “cabeças criativas” de lá. E a “sacada” de me oferecer um doce (só lembrando, depois que o quadro da dieta já havia saído do ar – alguém disse que em humor, “timing” é tudo, mas não me lembro que foi…), enfim, a sacada que eles tiveram de me oferecer um doce não é nem deles, mas de um pessoal que fez isso de maneira independente e só depois mandou para o programa. Quer argumento melhor do que esse para acreditar que eles estão tentando de tudo para reverter a notícia que saiu esta semana , de que eles já perdem na audiência para o, de fato criativo, “Legendários”? Como eu geralmente disse nas vezes em que fui abordado ultimamente pelo programa, dá até um pouco de pena perceber que eles topam tudo para chamar atenção, inclusive pegar carona na popularidade de um quadro muito bem sucedido como o “Medida Certa”.

Você, claro, não me ouviu falando isso nas “reportagens” que o “Pânico” exibiu até agora. Em nome do, hum, “humor”, a edição da “saga da guloseima” corta o que eu falo, tira o áudio, manipula o que eu disse para a câmera deles, tudo para dar a quem assiste a ilusão de que a única versão dos fatos é a que eles exibem, e que só serve para desacreditar o entrevistado em questão. Se, porém, você parou, para pensar que talvez existisse outra coisa por trás do que eles mostravam – e tenho certeza de que você, leitor assíduo aqui, acostumado a questionar tudo (no melhor dos sentidos), já passou por isso –, eu agora lhe ofereço uma visão alternativa dessas “abordagens”. Basta clicar aqui.

O que você vai ver nesse link é a versão completa de um de nossos últimos encontros – meu e de um “jornalista” do “Pânico”. Foi na última terça-feira (ao contrário do programa, que faz questão de omitir, ou mesmo confundir, as datas de suas gravações, acho melhor dar uma informação precisa), quando então eu tive a presença de espírito de gravar no meu telefone tudo que acontecia, justamente para as pessoas poderem ter uma outra leituras dessas “entrevistas” – que alguém aqui mesmo neste espaço um dia desses chamou muito inspiradamente de humor de “bullying”. Entre as coisas que você não vai ver no “Pânico” estão, mas estão incluídas nesse material bruto (como a gente costuma se referir em TV a uma gravação sem cortes) estão: minha sugestão de um novo quadro de loiras estrangeiras pelo Brasil – essas, vindas da Chechênia (outro lugar que permite aqueles trocadilhos “espertos”); o “repórter” deles dizendo que ele vai comprar o livro do “Medida Certa”; uma fã do quadro dando os parabéns para mim e para minha colega que reprogramou o corpo em 90 dias; e outros comentários que o “Pânico” talvez não ache que vale a pena editar para ir ao ar… aqui você pode conferir tudo na íntegra (sã pouco mais de três minutos) – ainda que eu tenha que pedir desculpas pela qualidades das imagens (não sou, nem de longe, um bom cinegrafista), o áudio está todo lá, original. A tecnologia é mesmo uma maravilha…

Quem sabe até, quando eles souberem que existem essa versão dos fatos, eles exibam tudo, para mostrar como são espertos… Ou talvez não, de pirraça, também para mostrar como são espertos… Ai, ai… Como é mesmo aquela frase de Lincoln? Você pode enganar algumas pessoas todo o tempo ou você pode enganar todas as pessoas algum tempo, mas você não pode enganar todas as pessoas todo o tempo. É isso mesmo? Bem, acho que eu divago – e isso não é saudável quando se tem muita coisa a fazer. Vou ficar por aqui neste comentário sobre mais essa faceta da nossa tão rica cultura pop – que é, como você sabe, o DNA deste blog.

Eu por aqui sigo na minha viagem pelos Estados Unidos, onde estou fazendo uma série de entrevistas – aliás, quero dar os parabéns para quem arriscou um palpite de que eu iria conversar com Sade, em Austin, no Texas, nesta quarta-feira. Foi sensacional! Mais sobre essas entrevistas, sobre as outras da semana, e sobre os meus outros ídolos com quem eu ainda não conversei (obrigado também a quem achou que era Morrissey ou Bowie – quero falar também sobre eles!), na próxima segunda-feira.

Em tempo, se você quiser aproveitar esse feriado de uma boa maneira, leia a reportagem especial que a “New York” fez sobre os dez anos do ataque às torres gêmeas em Nova York. Tenho passados longas horas em aviões – e este número especial da revista tem sido ótima companhia. Uma lição de jornalismo genuinamente criativo, e de como olhar para um evento que todo mundo vai lembrar de uma maneira diferente, brilhante, emocionante (sem pieguice), e competente. Aliás, meu próximo vôo já está embarcando – e bom fim-de-semana.

O refrão nosso de cada dia

“Tar baby”, Sade – em homenagem à cantora que acabei de entrevistar (e sobre quem vou escrever no próximo post), ofereço agora uma pérola esquecida de Sade. Umas das minhas cinco favoritas de todo seu repertório – não só porque tem um refrão pouco usual (quando ela entra com “like a brand new day”, apenas uma vez, é como se a música tomasse outro rumo), mas porque tem também uma assinatura linda: “it’s with me you belong”…

Onde eu vou estar?

seg, 05/09/11
por Zeca Camargo |
categoria Todas

Vamos mudar um pouco as regras dessa brincadeira que já faço aqui desde o início deste blog. Este é o seu “mês de aniversário” – o fim do mês já está chegando! – e, como você que sempre vem aqui conhece, eu não gosto muito de fazer as coisas sempre do mesmo jeito. Assim, no lugar de simplesmente perguntar “onde estou” depois de voltar de um lugar, vou fazer diferente. Parto amanhã para mais uma rápida viagem e quero ver se você descobre para onde vou – e, talvez, mais importante, quem eu vou encontrar por lá.

Será uma viagem de trabalho, para entrevistar um artista (ou uma artista) que nunca encontrei pessoalmente, mas com quem sempre sonhei conversar. Se você já viu alguma reportagem comigo, especialmente da época em que eu lançava meu livro “De a-ha a U2”, talvez se lembre das respostas que dava quando vinha a sempre criativa pergunta: “Quem você gostaria de entrevistar, mas não rolou até agora?”. Depois de um tempo, desiludido, eu até parei de citar seu nome – eu já havia perdido as esperanças de um dia conversar com ele (ou com ela).

O que posso dizer é que é uma pessoa que admiro há muito tempo – e, como vou explicar quando finalmente eu revelar com quem estive, foi protagonista de um dos momentos mais especiais da minha juventude, quando eu estava numa casa noturna em Londres (o que não significa, claro, que esse artista, ou essa artista seja originalmente de lá) e ouvi seu primeiro sucesso, pela primeira vez. Eu experimentava um período de extrema liberdade, de muitas descobertas, de muita afirmação – e aquela canção me marcou muito.

A cada novo disco seu, minha vontade de estar em contato com ele (ou com ela), de conhecê-lo (ou conhecê-la) só aumentava – praticamente na mesma proporção em que o canal para isso acontecer se tornava mais difícil. A admiração, porém, não diminuía. O desencontro era tão grande que, até bem pouco tempo, eu não havia conseguido sequer assistir a um show seu – digamos que até um concerto seu que finalmente vi eu nunca estive ao mesmo tempo na mesma cidade que ele, ou ela (eu de vez em quando passava por um lugar onde ele, ou ela, iria se apresentar, mas “nossas” datas nunca coincidiam). Isso foi corrigido há pouco, em meados dessa primeira década do século 21, em Miami (o que não significa que ele, ou ela, seja americano, ou americana). Mas tê-lo visto (ou tê-la visto) no palco só me deixou ainda com mais vontade!

E, de repente, surgiu uma oportunidade. O “Fantástico”, foi procurado com uma oferta de entrevista com ele (ou ela) – e de uma maneira tão inesperada que a sensação que eu tive foi que ele (ou ela) queria falar com o programa há tempos, só não sabia como. Uma sensação que, claro, está longe de ser verdade. A entrevista – que deve acontecer neste dia 07 – foi cuidadosamente planejada. E, ironicamente, apareceu em uma semana em que várias outras foram oferecidas (sempre em função das gordas programações dos festivais que estão “assolando” o Brasil neste segundo semestre), e eu tive de escolher entre falar com ele (ou ela) e outros nomes poderosos do mundo da música pop.

Decidi, claro, por ele (ou ela). E não me arrependo! Vou fazer uma viagem que me obriga a pegar pelo menos uma conexão (não existe um vôo direto de São Paulo para o lugar onde o encontro vai acontecer – ele, ou ela, está lá, numa escala de sua atual turnê). Mas se longos vôos já não me incomodam normalmente, que dirá esse, que vai me levar junto de alguém que eu admiro tanto?

Confesso ainda que, por toda essa expectativa, estou um pouco nervoso com a própria entrevista. Por onde eu deveria começar? Como parecer natural diante de um ídolo? De que maneira posso tornar essa conversa a mais agradável possível? E fazer justiça ao talento de quem estará na minha frente – e ao mesmo tempo honrar os fãs dele (ou dela), que eu sei que vão querer assistir à reportagem? Tantas perguntas…

O que mais eu posso dizer sobre ele (ou ela)? Que é um (uma) artista que agrada a mais de uma geração. Que tem um estilo único, que ninguém ainda conseguiu imitar. Que sua reclusão não parece nunca calculada, mas consciente. Que além de uma voz maravilhosa, do carisma nos palcos (e em seus vídeos), ele (ou ela) ainda é dono (dona) de uma imagem pessoal exclusiva, que só o (a) jogou mais longe no time de estrelas universais. Ele (ou ela) é o máximo – e eu mal consigo esconder a minha satisfação em ver que, finalmente, chegou o dia de a gente se encontrar!

Alguma ideia de quem é essa pessoa que eu vou entrevistar – e onde ele (ou ela) vai estar no dia 07 de setembro para isso acontecer? A resposta, na quinta-feira.

 

O refrão nosso de cada dia

“Tu peor”, Alvy Singer Big Band – tive que tomar cuidado para o refrão de hoje não dar nenhuma pista de quem é a pessoa que eu vou entrevistar esta semana. Para disfarçar, tive que ir buscar outros campos musicais – ou mesmo outros “campos magnéticos”. E fui parar assim nessa canção adorável do Alvy Singer Big Bang – já que o Alvy é um dos caras do trio Alvy, Nacho y Rubin, que fazem parte da banda Los Campos Magnéticos (que, como já comentei aqui, regravaram o clássico “69 love songs”, do Magnetic Fields). Mas não é só porque eles não têm nada ver com o grande (ou a grande) artista que eu vou encontrar, que essa música é menos encantadora – e sensacional. Aposto que você vai sair cantando logo depois de ouvir…

Este post contém pelo menos um ‘spoiler’

qui, 01/09/11
por Zeca Camargo |
categoria Todas

É de um filme de 1968, mas eu achei melhor avisar porque os mais histéricos da “brigada do spoiler” estão sempre a postos querendo te crucificar por eles terem lido uma coisa que eles foram avisados que não deveriam ler… Mas eu divago mesmo antes de entrar no assunto de hoje – o que não é um bom sinal. Talvez eu esteja assim porque ainda guardo os efeitos que “Planeta dos macacos: a origem” provocou em mim. Fui vê-lo na última segunda-feira e posso garantir: não é uma experiência prazerosa – e se você teve a chance de conferir esse lançamento no cinema esta semana sabe do que eu estou falando. Mas por favor, não me entenda mal: eu adorei o filme. Só não posso dizer que ele é uma delícia de assistir. Na verdade, se eu tivesse de escolher um só adjetivo para descrevê-lo, eu diria que “esse Planeta” é perturbador.

Quando digo “esse Planeta”, faço questão de frisar que estou falando de um “Planeta dos macacos” específico. Quero deixar claro que sou de uma geração que já viu uma boa cota de símios ameaçando a raça humana nas telas de cinema. Aliás, para ser preciso, a primeiríssima vez que embarquei nessa aventura, foi por uma tela de TV. O “Planeta dos macacos” original é o tal filme de 1968 cujo final eu vou comentar daqui a pouco. Na época do seu lançamento, eu tinha apenas cinco anos – e minhas experiências cinematográficas se resumiam a desenhos do “Tom e Jerry” que minha avó me levava para ver em memoráveis matinês, eventualmente enriquecidas com comédias de longa-metragem, do tempo em que elas eram engraçadas, como “Um convidado bem trapalhão” (ou mesmo “Se meu Fusca falasse”). Filmes mais, hum, “adultos” de ficção científica, estavam fora do meu alcance.

Por isso, tenho certeza de que vi na telinha, e não na telona, o primeiro filme desse que seria talvez o segundo “franchise” de maior sucesso da história do cinema até então (os títulos com 007, claro, ocupavam o primeiro posto). O que não diminuiu nem um pouco o impacto que aquela história tinha. Desavisado, eu devo ter assistido ao filme bem tarde da noite em casa, numa daquelas madrugadas em que os pais ainda podiam sair e confiar a guarda dos filhos apenas aos bons filmes da TV aberta – até porque, era a única programação que existia. Provavelmente achei que era mais um filme de aventura, talvez até com uns “bichinhos” legais. O que me lembro, porém, foi de ver algo muito além disso: uma assustadora fábula sobre um planeta onde os seres humanos eram escravizados por uma espécie de inteligência ainda superior – os macacos! Como se isso não fosse suficientemente apavorante, o choque do final deixava qualquer um estarrecido, quando Charlton Heston (no papel de um astronauta cuja nave, depois de um acidente de vôo caiu naquele lugar), cavalgando por uma praia deserta, depois de ter escapado da tirania nos macacos, depara-se com nada menos do que (atenção para quem não vai ao cinema desde 1968 – aí vem um “spoiler”)… a Estátua da Liberdade semi-soterrada. E vem a revelação: eles não estão em um planeta distante de outra galáxia, mas na própria Terra, alguns anos no futuro!

Para platéias tão “blasé” como essas de hoje, que acham que só de ver um carro se transformar em um robô mutante já conhecem tudo que o cinema pode oferecer, um final como esse do primeiro “Planeta dos macacos” parece uma bobagem. Porém, você não faz ideia do que era levar esse “susto” na época – era uma conclusão tipo “tapa na cara”, muito mais transgressora do que hoje seria o encerramento (ou talvez o “não encerramento”) de “A origem”, o sucesso do ano passado dirigido por Christopher Nolan. Ver aquela ponta da estátua era o equivalente a usar sua mente como um estilingue – e te obrigava a repensar todo o filme desde o início (algo que eu só faria com prazer anos depois, quando assisti a um clássico mais moderno chamado “Os suspeitos”).

O sucesso de “Planeta” na época foi tão grande que logo vieram várias sequências: “De volta ao planeta dos macacos” (1970); “Fuga do planeta dos macacos” (1971, provavelmente o primeiro que eu vi mesmo no cinema); “A conquista do planeta dos macacos” (1972); e “Batalha pelo planeta dos macacos” (1973). A ideia de que nossa espécie teria sua liderança ameaçada – ainda por cima por uns símios – havia entrado definitivamente para o imaginário popular, ajudada ainda por um seriado de TV inspirado na saga do cinema (que eu acompanhava religiosamente toda semana, é claro).

Mesmo depois dessa febre, de vez em quando ainda pipocava alguma produção que pegava carona no nome “Planeta dos macacos” – sobretudo no que diz respeito a filmes para a TV. E mais ou menos na virada do século, o assunto voltou a tornar-se interessante por dois motivos. Primeiro, em 1997, o escritor britânico Will Self (um ídolo pessoal, que já citei várias vezes aqui neste espaço) lançou um livro sensacional chamado “Os grandes símios” (que levou quase uma década para ganhar uma ótima tradução para o português pela Alfaguara). Em, um pouco depois, em 2001, Tim Burton emprestou o seu talento bizarro para uma nova versão para o cinema do “cult” de 1968.

Infelizmente, porém, o “Planeta dos macacos” de Burton era um pastiche tolo. Com seu imaginário visual único, o diretor quase conseguiu ressuscitar o interesse na história. Graças a uma maquiagem surpreendente, Helen Bonham Carter quase roubava todas as cenas com seu jeitinho “miquinha malandra”. E as sequências de batalha eram quase dignas e impressionantes. Mas o conjunto não convenceu. O resultado final acabou sendo uma bagunça – sem falar que a conclusão do filme é tão sem pé nem cabeça que eu acho que até hoje ninguém chegou a entender o que Tim Burton queria realmente dizer. Acho que nem o próprio Tim Burton sabia…

Esse “Planeta dos macacos” acabou deixando um gosto ruim na boca de quem o viu, e talvez por isso eu estava um pouco receoso de encarar esse filme de agora – que vou passar a me referir como “A origem” (por favor, não confunda com o filme de Nolan, que não será mais citado daqui em diante). Dirigido pelo relativamente desconhecido Rupert Wyatt, essa explicação de como o próprio homem abriu uma brecha para ser dominado pelos macacos é irresistível. Está longe de ser um filme de arte (como muitos que passam por aqui acham que determina o meu gosto cinematográfico) – muitos detalhes do roteiro são tão forçados que faz “Super 8” parecer um elogio à razão; ótimos atores como James Franco e a belíssima Freida Pinto são praticamente humilhados pela performance de um símio (ou, pelo menos, de um humano interpretando um símio – Andy Serkis, com a ajuda de efeitos especiais espetaculares); e o final – que não é bem um final, mas uma promessa de que vai haver continuação (mais descarada do que em “Harry Potter e as relíquias da morte – parte 1”) – não chega nem aos pés do filme original no quesito surpresa. Mas eu fiquei grudado no filme o tempo todo – senti medo, repulsa, fiquei encantado com bebê macaco, com raiva de alguns humanos, passei por tudo que eu acho que o filme queria que eu experimentasse. E saí mais que satisfeito do cinema.

Parte do mérito de “A origem” tem a ver com a computação gráfica. Qualquer cena com macacos é um show de tecnologia – não só nas pirotecnias das câmeras, mas também nas criativas escolhas de pontos de vista (a ideia de mostrar as hordas dos símios em fuga pelo alto, como se vistos sempre de um satélite, não só amplia o terror de uma cidade invadida por inimigos incontroláveis, como também fornece a dose perfeita de adrenalina para uma geração que cresceu acostumada a se deslocar com a ajuda de um GPS). O filme trabalha o tempo todo com o suspense do que César – o personagem (símio) principal – pode ou não fazer, e nos remete a um novo plano do desconhecido: se já é difícil prever o que se passa pelos corações (e mentes) dos humanos, o que dirá pelos dos macacos. E nós ficamos constantemente a tentar adivinhar como ele vai reagir às situações do mundo dos humanos. O perigo é iminente. A violência, latente. E o medo é real.

Numa temporada de tantas bobagens lançadas nas telas grandes – um super-herói mais genérico do que o outro (e incluo nessa até aqueles que não usam um disfarce colorido, como o personagem do novo filme de Taylor Lautner, “Sem saída”, cujo trailer eu vi essa semana antes de “A origem”) – esse “Planeta dos macacos” me trouxe de volta aquele puro prazer inconsequente de me entregar a um filme com uma história improvável como se fosse o mais feliz dos reféns. E melhor: vou ficar ainda mais feliz de só pagar o resgate quando a sua continuação chegar aos cinemas, provavelmente em 2013.

O refrão nosso de cada dia

“Picasso visita el planeta de los simios”, Adam and the Ants – lembro-me bem do estranhamento que causei quando coloquei essa música no todo da minha lista das mil músicas favoritas, publicada aqui mesmo há quase três anos. Mesmo os (raros) fãs de Adam Ant, como eu, se surpreenderam com a escolha da faixa. Na época, nem tive tempo de me justificar – aliás, nem era essa a proposta: eu estava apenas listando músicas que eu admiro. Mas aqui, aproveitando o gancho que escrevi sobre “Planeta dos macacos”, não resisti – evoquei de novo essa pequena jóia, não simplesmente porque eu a venero, mas porque seu refrão é sensacional, e a letra da música é surreal (tão surreal quanto o fato de o título dela ser em espanhol, enquanto a própria canção é cantada inteiramente em inglês). Uma viola espanhola – e alguns gritos tribais (junto com alguns sons que podem ser de araras, ou até de macacos) – dão o tom na introdução. E o que se segue é uma comédia do absurdo! Uma ode à criatividade espanhola? Uma rapsódia latina? Um interlúdio tribal? Uma composição cubista? Um “proto rap”? Um “medley” universal? Um diálogo com Deus? “Picasso” é tudo isso – e eu ainda acho que não decifrei totalmente essa canção… Também, como penetrar numa letra que descreve algo assim: “Enquanto os mestres apodrecem na parede e os anjos comem suas uvas, eu vejo Picasso em visita ao planeta dos macacos”? Como? Como? César, me ajude!



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