Ajude-me

qui, 31/03/11
por Zeca Camargo |
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Preciso de inspiração! Atribulado como estou com um novo projeto de uma reportagem de fôlego, é para você que eu resolvi pedir ajuda.

Explico melhor: como talvez você já saiba, este domingo, no “Fantástico”, estréia uma nova série, na qual eu e minha colega Renata Ceribelli (sob o comando do preparador Márcio Atalla, com a gente, na foto) vamos nos empenhar em mudar nossos hábitos de alimentação e de exercício nos próximos 90 dias. Os detalhes da série, vou deixar para o próprio programa – afinal, este espaço aqui, como você que me acompanha sempre, não é exatamente uma “zona de ‘merchan’ “! Mas o que eu queria sugerir – e é aí que você entra – é um “empurrãozinho” musical, para eu driblar um obstáculo – ou melhor, um dos obstáculos – que já estou encontrando (o primeiro episódio vai ao ar agora, dia 03 de abril, mas as atividades já começaram desde 21 de março!): como não me aborrecer correndo…

Entre tantas atividades física que eu tenho de encarar – sob a tutela de bons profissionais – nenhum, para mim, é mais penoso do que… a corrida! Eu acho chatíssimo! Meu problema não é com exercício aeróbio não (se você é do tempo em que esse tipo de atividade se chamava “aeróbica”, toque aqui – e me ajude a entender o que mudou!). Posso ficar literalmente horas numa piscina, nadando. Bicicleta é um pouco menos penoso, mas suportável. E eu queria erguer uma estátua em homenagem ao criador de um aparelho que se chama “transport”! Mas só correr… é uma tortura!

Logo que soube que teria de incluir isso nos treinos, decretei: esteira, jamais! A perspectiva de ficar minutos a fio correndo no mesmo lugar era das mais nefastas. O acordo que fiz, então, foi abusar das outras atividades aeróbias. Mas, como nem assim fui liberado da corrida, acertei que teria de ser sempre ao ar livre – algo que, para quem passa boa parte da semana no Rio de Janeiro é relativamente fácil.

Porém… nem assim, a corrida se tornou menos incômoda. Como ainda tenho várias semanas pela frente, achei que tinha de encontrar uma saída – e foi aí que pensei em você!

Para me convencer de sair correndo, mesmo ao ar livre, eu tenho de fazer um pequeno “ajuste mental”. Eu digo para mim mesmo: vou ouvir música no meu iPod pelos próximos 30 minutos… e já que eu estou ouvindo música nessa paisagem tão bonita, acho que eu poderia… correr! E é assim que tem sido nas últimas tentativas.

Ocorre que eu não gosto de monotonia – e mesmo as minhas seleções variadas, uma hora chegam ao seu limite. Percebeu onde você entra? Dando uma sugestão de trilhas sonoras para eu correr! Isso mesmo: quero que você me ajude a montar uma trilha inspiradora, que tenha a ver com esse tipo de exercício que eu tanto “adoro”…

Não precisa ser muito longa não. Corro cerca de 25 minutos todo dia. Isso dá mais ou menos cinco, seis, ou sete músicas. Que músicas seriam essas? Note que nem todos os sons combinam com a corrida! O que eu queria era que você pensasse no exercício, na minha dificuldade, e, com o poder da música, me ajudasse a tornar essa atividade um pouco mais agradável. Pode ser?

Como sempre, quanto mais surpreendente a sua lista, melhor – quanto mais variada, mais eu vou me distrair… e logo passo para outra coisa! Então vamos lá – estou esperando a sua sugestão. E também qualquer outro comentário sobre essa empreitada. Só me poupe de piadas na linha “se você quer emagrecer deveria voltar a fazer dança do ventre”… Eu mesmo achei engraçado – da primeira vez que eu ouvi! Não passe esse recibo de falta de originalidade – falo mais para o seu bem…

E agora, com licença, que eu vou para meus “training”, com a seguinte seleção musical:

- “Tour de France”, Kraftwerk

- “Fool’s gold”, Stone Roses

-  “Elements”, Lemonjelly

- “Black math”, The White Stripes

- “Baby said”, Hot Chip

- “Everything you wanted”, Kele

- “Perpetum mobile”, Penguin Café Orchestra

Mais uma vez, ajude-me!

O refrão nosso de cada dia

“Save me”, Aimee Mann  – independente de qualquer trilha que você me sugerir para eu correr, essa é sempre a música que eu quero ouvir para descansar depois… Escute e entenderás…

Você é tudo que eu preciso?

seg, 28/03/11
por Zeca Camargo |
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Será que meu iPod está tentando ler a minha mente – e mandar mensagens subliminares? Essa sensação me persegue: o maldito/bendito aparelhinho – invariavelmente programado para escolher músicas aleatoriamente – sempre parece adivinhar o que eu quero ouvir ou (mais surpreendente ainda) parece saber escolher exatamente o som que eu preciso para me inspirar. Como hoje de manhã, por exemplo.

Saí de casa para vir até a redação do “Fantástico” escrever sobre Elizabeth Taylor, as escolhas de quem passou por aqui para deixar um comentário sobre o que seria um Rock in Rio “dos seus sonhos” (tema do post anterior), e o que significa ser uma celebridade hoje. E eis que, ao apertar o “play”, logo na saída do meu prédio, ele toca “Heroes”, de David Bowie.

De onde eu moro até onde eu trabalho é uma caminhada de cerca de 15 minutos – o que permite que eu ouça uma canção como essa pelo menos três vezes. E foi exatamente isso que eu fiz. Não apenas porque essa é talvez a música de Bowie que mais fala comigo (ou talvez seja “Changes”; ou “Aladdin Sane”; ou “Sound and vision”; ou “Ashes to ashes”; ou “Modern love”; ou “Fame” – eu sei, divago…), mas porque ela tinha tudo a ver com os sonhos de quem quer um dia ser diferente – algo que tinha totalmente a ver com o que eu estava planejando escrever hoje aqui. “Podemos ser heróis, para todo o sempre, o que você me diz?”, canta Bowie, num de seus momentos mais inspirados (guarde este verso – já volto a ele).

Quase chegando no trabalho, decidi deixar o tal “aleatório” do iPod seguir seu curso – e o que ele me oferece? “All I need”, do Radiohed. Aquela música belíssima em que Thom Yorke gorjeia: “Você é tudo que eu preciso, eu estou no meio da sua foto…”. Seria possível? Eu aqui querendo escrever sobre o que nossas celebridades – que um dia já foram consideradas como heróis – significam para nós atualmente, e as músicas certas para me inspirar, de repente, surgem nos meus ouvidos?

Cético que sou, preferi não dar asas a esses pensamentos – se bem que, você há de concordar, essa conexão do iPod com o pensamento é uma coincidência irritantemente frequente. Afinal, tinha um texto trabalhoso pela frente – e o pior que eu poderia fazer agora era perder tempo com especulações esotéricas. Assim, concentrei-me no que havia me proposto: cheguei aqui na minha mesa de trabalho e fui ver os comentários mais recentes que haviam mandado para cá – as últimas listas (até a publicação deste post) com as sugestões de bandas e artistas que você gostaria de ver naquele que é um dos festivais de música mais importantes do mundo.

E lá estavam eles – os “suspeitos de sempre”! Rolling Stones, Paul McCartney, Led Zepellin, Guns, AC/DC, Foo Fighters, Ozzy, Sepultura, Deep Purple, Metallica, U2, Red Hot Chili Peppers – os perenes baluartes do Rock (com letra maiúscula mesmo). Depois, “os suspeitos de sempre – versão alternativa”: Coldplay, Oasis (e a variante Beady Eye), Evanescence, Muse, The Killers, Radiohead, Phoenix, Arcade Fire, Kings of Leon, MGMT, The Strokes, The White Stripes, Queens of the Stone Age, Franz Ferdinand, The Smiths (!), Pearl Jam (curiosamente, pouquíssimas pessoas lembraram de Nirvana – apesar de a lista, por ser justamente “dos sonhos”, tinha espaço até para os que já foram).

Não faltaram também propostas mais pop, na linha de Rihanna, Lady Gaga, Justin Timberlake, Lily Allen, Mika, Katy Perry (!), Daft Punk, Black Eyed Peas, Depeche Mode, Beyoncé, Chemical Brothers, Madonna, Britney Spears (onde está Rebecca Black, pergunto eu sem esperar resposta…). E a reserva nacional também tinha sua cota de “suspeitos de sempre”: NX Zero, Barão Vermelho, Capital Inicial e Raul Seixas, Legião e Mamonas, entre os “pedidos impossíveis” (mas, se não me engano, quase ninguém se lembrou de Cássia Eller…), Skank, Los Hermanos, Ivete e Cláudia (sim!), Ultraje a Rigor, Charlie Brown Jr.

Os destaques acima, claro, não comportam todos os desejos expressados dos que se prontificaram a mandar seus comentários (quase 250, neste momento em que escrevo). Sugestões surpreendentes – Noel Gallagher com Paul Weller, The XX, Marina & the Diamonds – pipocaram aqui e ali com boa frequência (e me deixaram cheio de esperança). Mas o que me fez contente mesmo foi que a pluralidade desses desejos comprovou exatamente o que eu queria dizer na minha postagem anterior: que não há uma escalação “perfeita” para nenhum festival, simplesmente porque os gostos musicais são infinitos!

E o que estamos dizendo quando fazemos nossas escolhas musicais? Não apenas que determinadas canções têm tudo a ver com a gente – e com o que a gente acha do mundo –, mas que os caras (e as “minas”) por trás desses sons são nossos modelos, nossas projeções, nossos espelhos. Eles e elas são não apenas o que gostaríamos de ser mas a própria imagem de como todo mundo deveria ser. A vida dele (ou dela) – quase sempre tão pública – contém uma biografia que nós gostaríamos que fosse a nossa. É a essa fantasia personificada (“você é tudo que eu preciso”, certo Thom Yorke?), a essa encarnação de tudo aquilo que não somos, que aprendemos, um dia, a chamar de heróis – e hoje, simplesmente chamamos de “celebridade”. (Retome novamente aquele verso de “Heroes”, de Bowie, que citei acima, e substituía “heróis” por “celebridades” – você vai entender rapidinho do que eu estou falando…).

O termo, de tão surrado, quase não inspira muita reflexão. Usamos essa palavra na nossa conversa como uma nota de R$ 2,00 – para rechear uma frase, dispondo de algo que deveria ser importante, mas, em última análise, mal nos faz falta. Só que a banalização da “celebridade” é um fenômeno triste, que vale a pena perder alguns parágrafos para registrar. Especialmente porque, na semana passada, perdemos uma das figuras mais significativas deste panteão – e estou falando, como você já pode imaginar, de Elizabeth Taylor.

Nasci no ano em que “Cleópatra” – um de seus filmes mais icônicos – foi lançado. Boa parte de suas melhores personagens no cinema já existiam quando eu ainda engatinhava, e, com apenas 3 anos de idade, era pouco provável que eu tivesse cruzado com um dos momentos mais estupendos de sua carreira: Martha, em “Quem tem medo de Virginia Woolf?”. Brinco com essas datas, justamente para explicar que não posso me gabar de ter sido marcado por Liz (um apelido que ela, aparentemente detestava) na minha formação de cinéfilo. Mas, assim como não posso dizer que “cresci ouvindo Beatles e Rolling Stones”, mas fui atrás dessas referências assim que comecei a me interessar por música, afirmo que “descobrir” os filmes da atriz era um dos meus maiores prazeres desde que entendi que seria para sempre um refém de uma arte chamada cinema.

Porém, mais do que seus papéis, o que sempre me chamou mais atenção em Elizabeth Taylor foi o poder que ela tinha de sequestrar nossa emoção muito além das telas. Para uma geração que conheceu Liz como “madrinha” de Michael Jackson (curiosamente ausente em boa parte dos obituários da atriz que li até agora) é até difícil explicar o fascínio que aqueles olhos – e aqueles diamantes! – eram capazes de exercer.

E parte desse fascínio vinha justamente da vida – e suas consequentes atribulações – que a atriz deixava transparecer além do seu trabalho. Elizabeth Taylor nunca foi exatamente um exemplo de comportamento. Das grandes estrelas de Hollywood, já em meados do século 20, a última coisa que o público poderia esperar era uma conduta irrepreensível – uma pequena cota de “pequenos pecados” era quase desejável, como que para contrabalançar aqueles cotidianos tão glamurosos. Mas Taylor levou os limites de escândalos aceitáveis um pouco mais além, quase educando seu devoto público a amá-la apesar de suas falhas, quase implorando que seus dilemas fossem debatidos por todos, quase usando a comoção de seus fãs como bálsamo para as próprias feridas.

Mas estamos falando, certamente, de uma outra época – e hoje sabemos bem que o “jogo das celebridades”, o equilíbrio de forças entre os astros e estrelas e seus fãs, é definitivamente outro. Como colocou brilhantemente o escritor americano (e biógrafo de estrelas de Hollywood) William J. Mann, num debate recente no jornal “The New York Times” sobre a questão “Será que é mais difícil ser uma celebridade hoje em dia?” – atualizado depois da morte da atriz –, “o que as celebridades de hoje em dia não percebem é que Elizabeth Taylor fazia tudo aquilo não porque ela cobiçava os holofotes; os holofotes é que vinham até ela por conta da vida genuinamente fascinante que ela levava”. E Mann continua: “Nada na vida de Taylor era calculado para atingir a máxima exposição pública, como muitas celebridades fazem hoje. Talvez se suas vidas fossem espontâneas, convincentes e autênticas, como a dela, elas não precisariam se esforçar tanto para serem noticiadas”.

Tem alguma celebridade lendo isso aqui? Pergunto, porque não quero constranger ninguém. Mas entre tantas lembranças boas de uma carreira fulgurante, o que Elizabeth Taylor também levou consigo, na hora de sua morte, foi a última esperança de que ainda poderíamos admirar uma vida notável de uma celebridade justamente porque ela era… notável – e não porque ela se esforçava para ter uma vida notável. Nem preciso citar nomes, mas quantas das “celebridades instantâneas” de hoje em dia – tem mais uma quentinha saindo do forno amanhã como vencedor (ou vencedora) do “BBB 11” – não fazem justamente isso: agonizam diante dos nossos olhos mendigando atenção com “casamentos-surpresa” (com fotos propositalmente granuladas, como se tivessem vazado espontaneamente para a imprensa); separações depois de semanas; brigas públicas (ou privadas, mas com consequências públicas, que resultam até em prisões, fartamente documentadas); períodos de “solidão” (fortemente documentados por fotógrafos e repórteres que contradizem o suposto isolamento da figura em questão); tragédias pessoais que clamam por um pouco de privacidade, mas que são sofregamente expostas em tentativas vãs de catarses e comoções coletivas?

Não são poucos os exemplos de histórias assim que eu sei que estão rondando sua cabeça agora – e se lhe faltar inspiração, basta alguns cliques aqui mesmo na internet para que sua memória seja refrescada. Cada vez mais as celebridades precisam fazer mais barulho – contudo, curiosamente, cada vez ouvimos menos os seus apelos. Chegamos a um ponto em que nossa fome de “notícias” sobre celebridades é proporcional à nossa indiferença sobre o conteúdo delas. Numa rapidez que me surpreende – afinal, aqui mesmo neste espaço, há apenas três anos, escrevi que havíamos chegado num ponto em que extraíamos um prazer especial em odiar as celebridades –, percebo que estamos já num outro estágio: uma cultura da “pós-celebridade”, onde o que essas pessoas, hum, famosas fazem não nos afetam nem um pouco. Fingimos ficar escandalizados com uma pequena infidelidade, encantados com uma singela união, tocados com uma perda pessoal – quando, na verdade, não ligamos a mínima para a vida daquela pessoa. Seguimos com a nossa, que se não é das mais sensacionais, agora talvez seja ainda mais vazia por não termos sequer um “herói” – ou a “celebridade à moda antiga” – para nos inspirar.

O que é uma pena. Porque nós precisamos dessa referência para viver. Cultura – mesmo a cultura pop – é feita disso. Pegando emprestado mais uma vez a música do Radiohead, você, celebridade, é tudo que eu preciso. Mesmo. Mas não desse jeito.

Que a verdadeira sucessora de Liz Taylor se apresente com urgência!

O refrão nosso de cada dia
“Pretty pretty pryia”, Anand Prayang & Chorus – talvez você já esteja se acostumando a clicar neste espaço, ouvir uma musiquinha com um refrão bonitinho, e seguir com sua exploração sobre “como matar o tempo em horário de trabalho usando a internet”. Pois prepare-se para algo totalmente diferente – eu diria surreal! Esta é uma música que descobri em uma das inúmeras compilações de pop indiano dos anos 60 – e que guardo há tempos na minha pasta “prazeres inconfessáveis”. Há pouco tempo, porém, descobri (onde mais, senão no youtube) a cena do filme ao qual ela pertence – lembrando que 99% da música pop indiana (até hoje) vêm de trilhas de cinema. As cenas, os cortes, os figurinos, as expressões dos atores, as coreografias – tudo é tão deliciosamente absurdo (e ao mesmo tempo, tão perturbadoramente parecido com “nossos” filmes do tempo da Jovem Guarda), que quase não prestamos atenção à música em si. Mas tente ouvir uma segunda vez, de olhos fechados – e você vai perceber que o refrão “She’s very very very very pretty” é tão perigosamente contagiante quanto um certo… “It’s Friday, Friday, gotta get down on Friday!”…

O Rock in Rio dos seus sonhos

qui, 24/03/11
por Zeca Camargo |
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Assim como eu, você  deve estar bastante entusiasmado com o anúncio de quase toda a escalação do Rock in Rio 2011. E, assim, como eu, você deve estar também um pouco decepcionado… Não exatamente com o elenco de estrelas que já foi divulgado – quem pode “reclamar” da chance de ver (ainda que novamente) Coldplay, Red Hot Chilli Peppers, Guns, Elton John (e Rihanna!), Metallica e (sim!) Shakira? (E isso, para ficar apenas nos nomes principais, que já estão super confirmados – algumas vagas do palco principal, principalmente no segundo fim-de-semana, ainda serão anunciadas, mas “o grosso” das estrelas já está definido).

O que acontece num evento da magnitude e da importância do Rock in Rio, é que nunca todo mundo vai estar contente com toda a lista de convidados. Em bom português, quando se trata de um festival tão popular assim… todo mundo quer dar palpite!  Não adianta! Por mais impecável que sejam os “line ups”, tem gente que vai achar que eles não são, digamos, os “ideais”! As críticas com relação às bandas que desembarcam aqui a partir de 23 de setembro são várias – e não apenas focadas neste ou naquele artista, mas também contra ao agrupamento dessas atrações. Por exemplo, deve ter gente indignada que Lenny Kravitz vai tocar antes de Shakira (no dia 30 de setembro) – ou mesmo que Lenny Kravitz vai tocar antes de Ivete Sangalo, no mesmo dia! Como tiveram o atrevimento – perguntam-se os fãs da banda de Chris Martin – de juntar Coldplay com Skank e Frejat? E o que tem a ver o NX Zero com o Red Hot Chili Peppers – questionam os mais apressados (esquecendo-se, talvez, que a pergunta importante, quando se trata da noite de 24 de setembro, é: Stone Sour quem?).

Esse tipo de reação é inevitável – e, pela minha experiência em eventos passados, o pessoal do próprio Rock in Rio já deveria estar contando com isso (inclusive com o fato de que as críticas tendem a ficar na sombra de um evento tão grandioso – e finalmente serem esquecidas…). O que não impede que cada fã de música pop, a sua maneira, tenha uma opinião forte sobre o assunto. Mesmo os que aprovam quase todo o elenco – 60%, 70%, ou até mesmo 80% dele (como é meu caso) – têm o direto de questionar as escolhas. Ou, no mínimo, divagar sobre as possibilidades perdidas.

Estou convencido, depois de tantos anos de bastidores, que não existe um festival ideal. Não falo, claro, só de Rock in Rio, mas de qualquer festival. Dos cultuados eventos anuais em Reading e Leeds (Inglaterra) ao encontro catártico que mais uma vez está para acontecer agora em abril, na Califórnia – o adorado Coachella -, nenhum deles é perfeito. Mas “implicar” com uma escalação que pretende ser grande e diversificada, que quer dar um panorama da música do nosso tempo, e que quer agradar ao maior número possível de pessoas é quase um “passatempo saudável”!

Ao passar a limpo essas listas de convidados, estamos exercitando não só nosso conhecimento de música pop, como também praticando uma variante – muito conhecida por nós, brasileiros – daquela frase que sempre aparece em época de Copa do Mundo: “No Brasil, todo mundo é técnico de futebol”… Ora, em épocas de Rock in Rio, todo mundo é crítico de música sim – e, longe de considerar essas críticas como um movimento negativo, eu prefiro celebrar a discussão como um inegável indício da vitalidade (e importância) da música para, digamos, jovens de qualquer idade.

Há dias, desde que saíram as primeiras confirmações, eu escuto cá e lá, alguém implicando com um ou outro artista. O que eu acho, insisto, normal – até porque, nenhum desses comentários que ouvi veio junto da (essa sim) preocupante frase “eu acho que eu não vou”… Pelo contrário: mesmo nas discussões mais inflamadas de elenco, a vontade de conferir – ou ainda, de participar, de estar presente, de testemunhar – um evento como o Rock in Rio, sempre está presente. Por isso mesmo, porque o atrativo de um espetáculo único como esse – que já construiu uma reputação imbatível ao longo de quase três décadas – não me parece nem de longe ameaçado, eu queria propor para você, um pequeno devaneio.

Diga-me: qual seria a noite dos seus sonhos num Rock in Rio?

Mais do que desafiar o próprio festival, o que quero com isso é mostrar que as possibilidades são infinitas – e que, mesmo num mundo ideal, esse “Rock in Rio dos sonhos”, talvez fosse impossível de existir (isso, sem contar todas as questões logísticas, de agenda, de cachê, de organização, entre outras, que inevitavelmente colocam obstáculos para a finalização de algo tão ambicioso). Porém… não custa sonhar!

Vou eu mesmo começar a brincadeira – que surgiu, em nome da transparência, quando um colega meu jornalista me mandou um email me provocando sobre uma observação minha sobre essas bandas que estão vindo para o festival. Ao respondê-lo, vi que, de maneira espontânea, acabei dando a minha lista de sugestões para o que seria uma noite em que eu não desgrudaria a atenção nem por um minuto do palco. Boa parte dessas minhas indicações são pura loucura – palpites soltos, de quem não está preocupado com detalhes de produção. Fiz, quase sem querer, uma lista de bandas e artistas que gostaria de ver juntos, mesmo sem saber qual seria o resultado… E fiquei contente com o resultado – a ponto de até dividi-lo com você.

Tenho certeza de que, mesmo que essa minha sugestão fosse aceita, eu iria receber um enxurrada de críticas. Claro! Mexer com rock n’roll, com pop, com música – dá sempre nisso. É essa paixão que faz desse universo algo tão emocionante. Que torna as críticas a um elenco tão poderoso quanto o do Rock in Rio (ou de qualquer outro festival do mesmo porte) irrelevantes. O que importa mesmo, como qualquer pessoa que já tocou nesse assunto numa mesa cercada de amigos e regada de chope, é a discussão – é minha opinião contra a sua, é eu tentar te convencer, e você achar que eu sou maluco (ou imbecil!) por defender esse ou aquele artista. Isso é que é delicioso! E, por isso mesmo, deixo aqui minha “lista dos sonhos” para esse Rock in Rio – com direito a várias propostas impossíveis! Assim, sem medo de dar a cara para bater, aqui vai o que eu gostaria de ver:

- o White Stripes fazendo um “show de despedida”

- Florence and the Machine numa parceria histórica com Annie Lennox

- Beady Eye – na mesma noite em que Noel Gallagher estivesse se apresentando, sozinho, num palco alternativo- Conor Oberst, em qualquer uma de suas encarnações (de preferência como Bright Eyes), convidando Paulo Moska para tocar um par de músicas

- Mika “in concert”…

- The Strokes, num grande retorno

- Phoenix tocando com Karina Bhur!

- Antony (and the Johnsons) em uma meia dúzia de duetos com Ney Matogrosso

- Asa e Izzy (aqui já apresentadas)

- Saint Etienne tocando para Fernanda Takai

- Mumford and Sons abrindo para o Arcade Fire

- Ricardo Villalobos remixando Otto

- Manic Street Prechers – ponto!

- M.I.A. – fechando a noite, claro, porque depois de um show dela, que teria coragem de subir ao palco?

Sei perfeitamente que todos esses artistas não caberiam num mesmo palco, numa mesma noite. Mas, como disse antes, esse é apenas um exercício de imaginação, alimentado por uma forte devoção deste humilde servo do pop, a essas bandas e artistas geniais.

Já está com algumas pedras na mão, para atirar na minha direção? Deixe disso… No lugar de simplesmente me criticar (ou mesmo, quem sabe, elogiar), porque você não me manda a sua “escalação dos sonhos”? Se todo mundo ficar assim, sonhando, tendo idéias, menos pedras serão atiradas por aí… E não é isso que o Rock in Rio quer? Um mundo melhor?

Vamos, estou esperando…

O refrão nosso de cada dia

“Touches you“, Mika.  Mika, que há algum tempo já foi tema de um post aqui, é um dos atores mais sub-apreciados da sua geração. Com apenas dois álbuns, ele provou que esbanja talento (não é à toa que eu queria vê-lo na minha “escalação ideal” para esse Rock in Rio) – como compositor, como cantor, como músico. Mas, por aquelas razões que os caminhos do pop nunca deixam claro, ele ainda não emplacou um grande sucesso. O que, de maneira alguma, significa que ele deve parar de tentar… Eu, do meu lado, estou aqui neste espaço (que, para entendê-lo melhor você deve clica aqui), oferecendo mais uma chance – não a ela, que sabe que é bom; mas a você, que por ventura ainda não tenha esbarrado na sua música totalmente sedutora. Entre tantos refrões impecáveis que Mika já criou, aqui vai o que mais falou com meu coração: “Touches you”.

Rebecca Black quer gravar com Justin Bieber

seg, 21/03/11
por Zeca Camargo |
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Como bem disse a Angélica, no seu comentário ao blog na última quinta-feira, semana passada eu não ofereci bem um post, mas uma charada. Foi, confesso, uma saída elegante. Eu estava – e estou – de fato envolvido com um projeto pessoal/profissional que está tomando bem mais tempo na minha agenda do que eu imaginava, e na última quinta-feira, envolvido com exames e gravações, achei que não poderia me dedicar o suficiente para você, meu leitor. Então propus a tal charada.

Pedi para você desvendar a curiosa conexão entre duas pontas aparentemente soltas. Primeiro, um bando de artistas dos quais quase ninguém nunca havia ouvido falar, mas que de repente viraram fenômenos na internet – o mais notório de todos, claro, Rebecca Black (que, desde a primeira vez em que escrevi sobre ela, viu o número de visitantes do seu icônico clipe “Friday” subir de 2 milhões para pouco mais de 29 milhões – até o momento em que eu escrevo!). E depois, um texto brilhante, publicado pelo editor-chefe do “The New York Times”, Bill Keller, sobre os problemas de se discutir o futuro do jornalismo.

Alguns poucos que se aventuraram a aceitar o desafio chegaram perto da resposta. Mas para deixar mais claro, vou usar o espaço aqui hoje para desenvolver o tema – que, sem um pingo de ironia, consegui sintetizar com perfeição no título de hoje. Você já vai entender…

Começamos com Bill Keller – para dar um tom mais “sério” à discussão (fãs de Rebecca e/ou Bieber, que querem saber sobre a possível parceria dos dois, hum, artistas, prendam a respiração: só vou falar disso daqui a pouco). O título de seu ensaio pode ser traduzido apressadamente por “Toda a agregação que é possível agregar” – uma brincadeira com o antigo (e improvável) slogan do próprio jornal que dirige (“All the news that’s fit to print”, ou, na minha tradução sempre apressada, “Todas as notícias que cabem ser impressas”). Sua provocação inicial é uma crítica ao tratamento de pessoas na sua posição na mídia como celebridades (em detrimento do valor do próprio veículo onde trabalham – desde quando o “editor” do “New York Times” é mais importante do que o próprio “New York Times?”, ele pergunta). Mas seu argumento mais poderoso está no meio do texto: a preocupação com a clara tendência dessa excêntrica espécie em extinção, os consumidores de notícias, de abandonar as fontes genuínas de informação e ler (ouvir, clicar) apenas “resumos” de notícias, coletados de várias fontes e “agregados” por um, sim, “agregador de notícias”

“Agregar”, escreve Keller, “pode significar pessoas espertas compartilhando suas listas de leitura, conectando-se uns aos outros nas recompensas do universo da informação. De certa maneira, isso descreve o que eu faço como editor. Mas com muita freqüência, isso significa pegar palavras escritas por outras pessoas empacotá-las no seu próprio site e colher receitas que, a princípio, deveriam ir para a fonte dessa material. Na Somália, isso poderia ser chamado de pirataria. Na esfera da mídia, isso é um modelo de negócio respeitável”.

Parte de seu desabafo tem a ver com uma milionária sociedade de mídia recém-anunciada – a compra, pela AOL, do Huffington Post, um dos primeiros e (hoje) mais influentes sites “agregadores”, por 315 milhões de dólares! Ariana Huffington, a idealizadora do projeto foi quase uma pioneira em coletar material de blogueiros (não-remunerados, diga-se) e transformar isso, como que por encanto, em “conteúdo”. A fórmula, claro, tornou-se imensamente popular – e, com pequenas variações, se espalhou pelo mundo todo (preciso citar exemplos no Brasil, ou basta você percorrer a sua barra de “favoritos” para identificar o que estou falando?). Tanto que agora virou um negócio bem lucrativo – ainda que de credibilidade duvidosa…

De maneira elegante, Keller bate numa tecla que já vem sendo martelada há um bom tempo por vários jornalistas. Sua conclusão, inevitável, é a de que alguns dos maiores sites agregadores já estão percebendo que, se todo mundo é agregador, não vai sobrar ninguém para produzir alguma coisa original que possa ser agregada! Mas quem realmente está ligando para isso?

Ora, como já escrevi aqui, também recentemente, tudo que parece interessar hoje em dias aos que ainda “perdem tempo” tentando ler alguma coisa é um título chamativo. A notícia mesmo, apurada, com uma origem declarada e uma justificativa da sua publicação? Precisa mesmo? Ah, respondo com convicção, precisa… (E digo isso de experiência própria, pois, como figura pública, trafego numa posição privilegiada que me permite ser às vezes gerador e outras objeto de notícias, e por isso sei bem o que significa uma vez ou outra ser alvo de um rumor sem fundamento, criado sem nenhuma base jornalística, por alguém que se acha transmissor de informação – mas eu divago… e com isso chateio, não propositalmente, juro, a Ana do comentário 61 do post da última segunda-feira…).

O que estamos vivendo, como eu mesmo já disse, é “a época de ouro da desinformação”. E, como jornalista, nem que seja pelo próprio instinto de sobrevivência, eu tenho que defender a posição de que a origem e a transparência de qualquer notícia é importante. Notinhas agregadas, “colchas de retalhos” de informações soltas, frases fortes “manchetadas” – isso, desculpe, não é notícia! Notícia (para usar uma expressão que um grande amigo emprega com ironia) “é quando” alguém vai lá, descobre alguma coisa diferente, incorpora seu olhar e seu talento para contar essa tal coisa, e ainda se apóia num veículo com credibilidade para bancá-la.

Você conhece esse fenômeno. No mundo todo, não são poucos os veículos que adoram estampar o selo de “exclusivo” em imagens – ou mesmo informações – que são meros cozidos requentados de outras fontes (se precisar de exemplos recentes, é só pegar algumas “coberturas” do terremoto e do tsunami no Japão…). Mas a cacofonia de “furos” e “alertas” e “notícias quentes” está, infelizmente criando uma geração de pessoas que não se importam com a credibilidade dessa corrente de informações. E quem perde com essa transformação? Sua inteligência, claro. Mas, repito a pergunta: quem está ligando para isso?

Hoje, o que parece que conta mais que tudo, é ganhar mais um acesso, um clique, uma visita – e para isso, parece que ninguém precisa ter nas mãos uma informação de verdade. Basta chamar atenção. Se todo mundo é “agregador de conteúdo”, de que serve um jornalista? A coisa mais fácil do mundo é estampar uma frase de efeito e fazer barulho – concorda? Então lá vou eu, mesmo sem ter entrevistado minha atual obsessão, Rebecca Black – e muito mesmo Justin Bieber! –, emplacar neste blog um título como o de hoje, apenas inspirado num vídeo que vi aqui mesmo, na internet (mais sobre ele daqui a pouco). E tudo bem…

Tudo bem, vírgula!

Pegando uma carona (descarada) no texto de Bill Keller, não é bem assim – não é todo mundo que sabe digitar um teclado que pode se achar capaz de dar uma informação com a mesma qualidade da que daria um jornalista. Seria até legal viver nessa utopia do vale-tudo – ou, melhor, do “pode-tudo”. Mas não é assim… É uma pena, mas o que parece evidente, é que vivemos uma era em que todo mundo pode fazer tudo – e ninguém faz nada… Quando eu ainda estava na universidade, estudando (entre outras coisas) marketing, eu aprendi uma brincadeira que tem a ver com um antigo slogan de um produto de limpeza muito popular: tudo que tem mil e uma utilidades, não serve para nada!

O que você faz exatamente? Um pouco de tudo não é mesmo? E o que você não sabe fazer nem num nível amador – que, pelos parâmetros de hoje, já te permite postar ou subir alguma coisa na internet como autor (seja de um texto “jornalístico” ou de uma obra de arte, tipo desenho, “vídeo”, canção) –, basta baixar a app e… Presto! Você nasceu para isso! As infinitas possibilidades da internet – e do admirável mundo novo digital, que eu mesmo sou sempre o primeiro a celebrar – vão acabar por nos transformar a todos em pessoas talentosas. Em tudo! Genial, não é mesmo? Só que se todo mundo tem mil e uma utilidades…

Há pouco tempo li um (outro) artigo interessantíssimo num número recente da “Wired”. Era uma espécie de manifesto escrito por um comediante que eu não conhecia, Patton Oswalt. De maneira inteligente – e hilária – ele começa se lembrando de um tempo onde colecionar alguma coisa rara de um filme obscuro, ou brigar para ter o lado B de uma “single” perdido de uma banda dos anos 80, ou ainda, ver quem tem a lista completa de versões (mesmo as mais obscuras) de um mini-sucesso da época “disco” – enfim, saber dessas coisas pouco previsíveis –, era uma coisa legal, diferente, “cool”, algo que poderia até pleitear o status de “cult”. Mas hoje, com a internet… quem pode se orgulhar de conhecer alguma coisa mais “obscura” – e se gabar disso –, quando o conhecimento, por mais alternativo que seja, está apenas a um clique de qualquer mané!?

As sugestões de Oswalt para reverter essa situação de impasse para a cultura pop – repetindo o raciocínio, se todo mundo é “descolado”, que é “descolado” mesmo? – não são das mais otimistas; mas também não são das mais sérias… Vale a pena você tentar ler o artigo para se divertir! Mas, brincadeiras à parte, porém, a ferida que o humorista cutuca é bem profunda, e afeta todas as áreas da informação contemporânea, do “novo jornalismo” à própria música pop! O que nos traz, novamente, para “o mundo de Rebecca Black”! Ou ainda, Rebecca Black “et caterva”!

Como o comentário de uma semana atrás de Andréia nos elucidou, Rebecca nãos surgiu do nada. Ela é “apenas” mais uma estrela da até então desconhecida produtora Ark Music, dedicada a tirar meninas com muito dinheiro e pouco talento do anonimato. Com a equipe da Ark, elas ganham uma música “original” e um videoclipe “da hora” – e já estão prontas para o estrelato. Mesmo que não queiram… Uma garota chamada CJ Farm, por exemplo, canta desesperada que quer ser apenas uma “por star” comum! E essa ainda é uma faixa tolerável… Experimente ouvir “Butterflies”, de Alana Lee – mas só faça isso se você estiver bem distante de objetos perfurocortantes que possam significar risco de automutilação!

Diante desse “elenco”, Rebecca é realmente uma estrela maior – mais que isso, um fenômeno! No meu ritual matutino de ouvir “Friday” pelo menos duas vezes antes de fazer qualquer coisa, por “associação” de links não paro de descobrir ainda mais vídeos de derivados do inesperado sucesso – além das  inúmeras críticas (a maioria negativas, na linha “é o final dos tempos!), mensagens de repúdio, e até uma boa entrevista dela para a rede de TV americana ABC , de onde tirei a informação que está no título de hoje (tudo bem que é só uma “esboço de vontade”, mas pelo menos, eu citei a fonte…). A reportagem perguntava: será que essa é mesmo a pior música que já gravaram? Eu digo que não, Rebecca, e eu estou aqui para te defender, especialmente depois de ouvir sua versão acústica para a música (versão acústica!), parte da mesma entrevista.

Quando escrevi sobre ela há uma semana – e despertei a ira de alguns produtores de som que não entenderam que o título “O Auto-tune e suas contra-indicações” era uma brincadeira e não uma tentativa de desmerecer a nobre profissão –, eu não queria diminuir a menina-cantora, mas plantar a idéia de que, por trás da absurda popularidade de “Friday” (que já deve ter ganho mais uns 7.500 cliques desde que você começou a ler este texto) estava a possibilidade de que qualquer um pudesse estourar na parada pop. Cantores de verdade? Produtores musicais? Compositores e poetas? Quem precisa de vocês? Aqui está Rebecca Black para provar que vocês são totalmente obsoletos!

Assim como os jornalistas. E escritores. E preparadores físicos. E médicos, E chefs. E babás. E mecânicos de automóvel. E historiadores. E cantores! E o que você mais quiser! O texto está longo eu sei – e já vou terminar! Mas não sem admitir que, mesmo que isso pareça um pouco reacionário (e até “coisa de velho”, se você quiser), nessa bandalheira “de todo mundo pode fazer tudo”, eu prefiro confiar em quem realmente entende do que está oferecendo.

Vou sempre ficar com o original. Eu ainda vou procurar um jornal que eu confio. Um autor que escreve frases originais. Um “personal” que olha para o que eu estou fazendo e diga se está certo ou errado. E assim por diante. Inclusive um artista que se virou do avesso (de verdade) para mostrar sua música – desde que ele ou ela não implique, claro, com o fato de vez por outra eu dar uma clicada em “Friday”…

E você, de que lado está?

O refrão nosso de cada dia

“Nada de nada”, El Canto del Loco – quando escrevi aqui pela primeira vez sobre a importância do refrão (e me comprometi a sugerir um genial para você a cada novo post), citei, com louvor, esta banda espanhola – que é mestre em fazer coros perfeitos! A faixa que sugiro aqui não é original deles – está em um disco de tributo a canções populares que eles cresceram ouvindo. Mas mesmo assim vale, pois “Nada de nada” (atribuída a uma cantora chamada simplesmente Cecilia), é uma das mais bonitas de toda a coletânea. E na voz de Dani Martin, ela toma proporções mágicas! Alguma música te faz ter vontade de sair abraçando as pessoas na rua? Pois então…

Eles estão se reproduzindo!!!

qui, 17/03/11
por dolores.ferreira |
categoria Todas

O texto de hoje poderia muito bem se chamar “A época de ouro da desinformação – parte 2”. Mas eu não vou explicar a razão disso agora.

Estou envolvido até a tampa em um projeto que você vai conhecer (na televisão) a partir da semana que vem – e, não, isso não é uma peça de mechandising!

E, por isso, vou ser bem breve hoje – mas não menos profundo…

Na verdade, vou passar para você a tarefa de juntar as coisas – e, na segunda, prometo, dou a minha explicação para o título acima (se é que você já não descobriu até lá…).

Os elementos que eu queria que você juntasse são os seguintes: todos os links recomendados pela Andréia (a quem sou imensamente grato) no seu comentário sobre o último post (o dela é o de número 53); e este artigo que foi publicado no último domingo na revista do “The New York Times”, escrito pelo próprio editor-chefe do jornal (e que você consegue traduzir facilmente aqui mesmo na internet).

Dá uma olhada nessas duas coisas – atenção: não se desespere – e na segunda-feira a gente conversa! Mas olhe rápido, porque, só insistindo… eles estão se reproduzindo…

O Auto-tune e suas contra-indicações

seg, 14/03/11
por Zeca Camargo |
categoria Todas

Eu tenho uma nova obsessão. Chama-se “Friday”, de Rebecca Black. Até o momento em que escrevo, ele já teve pouco mais de 2 milhões de visitantes para seu vídeo “oficial” no youtube – uma fração dos cliques para “Born this way”, de Lady Gaga (mais sobre ele, daqui a pouco), eu sei. Mesmo assim, eu tenho que admitir que já vi/escutei “Friday” mais vezes este fim-de-semana do que o novo hino da artista pop mais relevante dos últimos dois anos… Por que? Como eu vou explicar…?

Entrei em contato com esse, hum, trabalho, na última sexta-feira, quando recebi o “boletim” de um site de trivialidades da internet chamado buzzfeed (eu sei que você considere “trivialidades” e “internet” como sinônimos – eu estou aqui para discordar, mas acho que eu divago…). Seria só mais um vídeo engraçadinho – e talvez eu nem teria dado atenção, se ele não tivesse vindo com o curioso título: “Esta é literalmente a pior coisa que eu já ouvi”. Um pequeno texto aguçou ainda mais minha curiosidade: “É isso, pessoal. O fim da Civilização Ocidental. Está tudo acabado. Mas pelo menos, já é sexta-feira!”. Tive de clicar no link. E o que encontrei? Bem, como vou explicar…?

Pense em Stefhany. Ela mesmo, aquela Stefhany, cantada aqui mesmo, neste espaço, em “verso” e prosa. O clipe de Rebecca é ligeiramente mais bem produzido que os da nossa diva piauiense – porém, eu diria até que, no que diz respeito à atuação do elenco de apoio, as amigas de Stefhany dão de dez na turma de Rebecca (se você duvida, dá uma conferida na cara do mané que convida a cantora pra sentar ao lado dele no banco de trás, aos 38 segundo do vídeo – que, a meu ver, redefine e amplia o sentido do que é ser “canastrão”).  Mas tem mais…

A música é tão fácil quanto qualquer composição original – ou mesmo as versões – de Stefhany. As letras da americana são tão “profundas” quanto às da brasileira – tem até um momento em que Rebecca, celebrando as “possibilidades” de diversão da sexta-feira, nos oferece uma descrição detalhada de um calendário semanal (canta ela: “Ontem foi quinta, hoje é sexta – estamos tão excitados! Amanhã é sábado, e domingo vem logo depois, eu não quero que esse fim de semana termine…”). E o nível de talento apresentado na “produção” é inversamente proporcional às ambições artísticas da artista – em ambos os casos.

Se tudo isso parece oferecer motivos suficientes para você evitar a todo custo essa música, pense de novo. “Friday” é viciante e – assim como boa parte das músicas de Stefhany – capaz de exercer um fascínio perverso na sua atenção e sequestrá-la sem nem ter direito a resgate. E não sou só eu que acho isso não. Pelo que percebi numa rápida pesquisa, a faixa de Rebecca Black já é um fenômeno. Ganhou não apenas uma versão acústica, que não deixa dúvidas sobre o quanto à música é “catchy” (feita para grudar no seu ouvido), mas também uma versão “acelerada”; outra mais lenta; vários remixes; uma adaptação para cena da ótima comédia “Feitiço do tempo” (onde o personagem principal acorda todo dia com a mesma música no rádio); e – o meu favorito entre todos – um vídeo apenas com a reação de dois garotos ouvindo “Friday” (se a sua resposta ao clipe é igual à do garoto da esquerda, não se preocupe – isso é normal).

Mas eu não quero aqui discutir o talento de Rebecca Black – você pode ter duzentas outras razões para amar (ou odiar) “Friday”. O que chamou mais atenção nesse pequeno fenômeno pop foi o uso – ou, seria melhor dizer, abuso – de uma ferramenta agora extremamente popular: o Auto-tune. Se o nome te parece estranho, o efeito que ela produz talvez não seja. Você – especialmente você que circula procurando músicas na internet – já se deparou com o Auto-tune: é aquele truque que faz todo mundo ficar com voz de robô e “transforma” qualquer frase dita por qualquer pessoa numa verso musical – mesmo que essa fonte original não esteja cantando! Um dos primeiros – e mais engraçados – exemplos que o público brasileiro conheceu, foi o “remix” de entrevistas do técnico de futebol Joel Santana, quando ainda comandava a “Bafana Bafana”, a seleção sul-africana antes da última Copa do Mundo.

Muitos outros vídeos já viraram sucesso no youtube com o Auto-tune – de depoimentos de bandidos a bebês balbuciando. Na última cerimônia do Oscar, um dos momentos mais divertido foi aquele em que mostraram um vídeo com cenas de filmes importantes do ano onde os diálogos eram transformados em… canções  (a cena de “Harry Potter e as relíquias da morte – parte 1”, é especialmente engraçada!). As possibilidades são infinitas – e um dos meus Auto-tunes preferidos (porque é dos mais bizarros), é um discurso de Hugo Chávez nas Nações Unidas que virou um tema não de todo mau…

O problema é que o Auto-tune só funciona mesmo para isso – para fazer humor. Por isso é que eu não entendo porque cada vez mais artistas estão usando a ferramenta para fazer… música a sério! Rebecca Black, claro, é uma distorção da realidade – e, para bom entendedor, não preciso explicar que uso essa expressão com duplo sentido… Tantas outras cantoras (e tantos outros cantores) com um pé no amador podem – e, em muitos casos, devem – usar o Auto-tune para esconder a ausência de um verdadeiro talento para o canto. Mas como explicar que artistas estabelecidos como George Michael fazem uso indiscriminado dessa “muleta”?

Há pouco tempo, o cantor – que outro dia mesmo, ironicamente, citei de maniera positiva aqui – decidiu, não se sabe ao certo por que razão, regravar (a título de um “single” beneficente) uma das mais belas músicas do New Order, “True faith”. O resultado foi um desastre – e a culpa não é nem da canção original (que está entre as minhas 5 favoritas do New Order) nem da voz de Michael, mas sim do tal Auto-tune que entrou em ação e alterou aquilo que já era bom: a interpretação do cantor. O recurso – que, imagino, algum produtor deve ter sugerido para dar um “verniz” de modernidade para a “velha” imagem de George Michael – simplesmente destruiu o que poderia ter sido uma ótima versão. E, pior, acabou nivelando o cantor – dono de uma das melhores vozes do pop moderno – à Rebecca Black! Ela poderia estar cantando “True faith”, e Michael, “Friday”! Tanto faz… E a culpa, insisto, é do Auto-tune!

O que está acontecendo? Por que esses exemplos estão se espalhando? Bem, prefiro acreditar que é apenas uma moda passageira – e que daqui a pouco o produto de cordas vocais genuínas vai se vingar e voltar com tudo. Pulmões não faltam para isso – de Florence Welch a Rihanna, passando claro, por Lady Gaga…

Pronto! Cheguei até ela – com um certo atraso, é verdade. Estava devendo – especialmente à seleta intersecção entre os leitores deste blog e os fãs da cantora – um comentário sobre seu novo vídeo, “Born this way”. Não o faço por pressão: seu novo trabalho é tão instigante, que um espaço voltado para a cultura pop (como este) não poderia ignorá-lo! É mais um delírio de Gaga sim, mas ao contrário de meros exercícios estéticos – e lúdicos -, como “Telephone”, dessa vez ela quis ir além.

Se a mensagem que ela tinha para passar não havia ficado clara só com a música – que, como já escrevi aqui, está aquém do que ela ainda pode oferecer -, com as imagens ela é mais contundente: na briga entre o bem e o mal, quem vai ganhar é sempre o bem. Não sem muito esforço, mas quem “nasce desse jeito”, sabe que tem uma missão na Terra – e parte dela é espalhar sabedoria, bondade, e diversão.

Tudo isso tem de sobra no clipe – e eu sou capaz de rever aquelas cenas iniciais (gloriosamente regurgitadas de um vocabulário visual dos anos 70) repetidas vezes. Fora isso, acho que Gaga nunca esteve dançando tão bem – e eu ainda diria que as provocações com relação a “Express yourself” (Madonna), que as más línguas dizem que foi plagiada, são no mínimo ridículas… Ela conseguiu, de novo, fazer aquilo que poucos artistas hoje em dia prometem mas não cumprem: provocar, cutucar, ser assunto – e usando para isso nada mais sofisticado do que sua veia artística.

Embora eu continue esperando uma faixa mais envolvente de Lady Gaga – que certamente virá com o novo álbum -, eu tenho que aplaudir de pé alguém que fala o que pensa em suas músicas. Nada contra Rebecca Black – que provavelmente diz exatamente o que está em sua cabeça quando canta que está “louca para que chegue a sexta-feira”… Mas se você tem o poder de alcançar milhões de pessoas com uma música, é melhor ter alguma coisa mais interessante para transmitir.

Ah, e de preferência, sem Auto-tune… Não me faça perder (de novo) a cabeça!

O refrão nosso de cada dia

“Annie get your gun”, Squeeze – perdi a conta de quantas matérias de música dos anos 80 chamavam (Chris) Difford e (Glenn) Tilbrook de “os novos Lennon & Mc Cartney”. A comparação, claro, provou ser um exagero. Mas que a dupla do Squeeze produziu algumas das músicas (e alguns dos refrões) mais memoráveis do final do século passado – disso, ninguém duvida. Tanto que eu fiquei muito dividido na hora de escolher apenas uma música para representá-los neste espaço (para entender e aproveitar melhor, clique aqui)… “Is that love?”, “Take me I’m yours”, “Tempted”, “Pulling mussels from the shell”, “In quintessence” – qual a melhor? Acabei ficando com a mais estranha (mas talvez a mais irresistível) de todas, “Annie get your gun”. Mas fique à vontade para explorar as outras…

O vencedor

qui, 10/03/11
por Zeca Camargo |
categoria Todas


Você já viu, em algum estande de demonstração, uma TV 3D? Com um pouco de sorte – ou de dinheiro! – você talvez até já tenha uma em casa… Bravo! Pois então, quem já assistiu a imagens em 3D vai entender facilmente meu argumento de hoje. Porque depois que você passa por essa experiência, a TV convencional nunca mais vai ser a mesma – por mais interessante que seja o programa, tudo que ela vai te oferecer é uma sensação menos incrível do que aquela que transmite em 3D. Peguei essa analogia emprestada de um amigo que encontrei no Carnaval, logo depois do desfile da Unidos da Tijuca. Completamente embriagado pelo que havia acabado de ver na Sapucaí, ele comentou: “Ver as outras escolas depois de ver Paulo Barros é como assistir à TV normal depois que você viu uma 3D – não tem a menor graça”…

Eu, claro, me ajoelhei imediatamente aos pés dele e disse que usaria muito as suas palavras pelos próximos dias. Ele foi o primeiro que eu ouvi brincar dessa maneira para descrever o desfile da Tijuca, no último domingo. Mas eu ainda iria me deparar com outras analogias na mesma linha naquela noite (e na seguinte): “depois que você brincou na Disney, não dá mais pra se divertir no parquinho de uma cidade no interior”; “depois que você viajou de primeira classe, não tem como encarar uma econômica”; “depois de um show do U2, que tem paciência para ver uma banda de fundo de quintal?” – e por aí vai. O que todas essas pessoas estavam querendo dizer é que Paulo Barros estabeleceu um outro patamar para o desfile das escolas de samba no Rio de Janeiro – e quem quiser competir com ele vai ter que reinventar de novo o Carnaval na avenida. Porém, pelo que vimos em dois dias de desfile, ninguém, pelo menos por enquanto, está à altura do desafio.

Os jurados deste ano, claro, têm outro ponto de vista. Num coro quase unânime de notas 10 – que inevitavelmente me fez lembrar da frase antológica de Nélson Rodrigues (“Toda unanimidade é burra”) – o nobre corpo de jurados escolheu outra escola como a campeã de 2011. Não quero entrar no mérito de discutir o desfile da Beija-flor. A escolha de um enredo sobre Roberto Carlos, que vem celebrando (com gordo patrocínio) seus incomparáveis e brilhantes 50 anos de carreira, foi não só uma homenagem (das mais bonitas, diga-se) ao grande artista, mas também uma espécie de passe livre para que a escola pudesse apresentar o que quisessse – e mesmo assim já contar com o favoritismo de todos de antemão. Nesse contexto de “barbada”, o mais razoável seria desconsiderar o resultado distorcido e ver quais das outras escolas apresentou o melhor desfile.

E, nesse raciocínio, não tem para ninguém: quem leva o título é Paulo Barros, dono de uma criatividade tão poderosa, que nem a antológica antipatia da comissão julgadora (que parece que acha que a estética dos desfiles deve ser conservada no formol dos anos 80, “protegida” de qualquer inovação), teve coragem para penalizá-lo com notas baixas… E é desse desfile que eu quero falar hoje aqui – desse desfile campeão.

“Tá com medo de quê?”…

Este era o primeiro verso do cativante samba-enredo da Tijuca este ano – que vinha logo depois do refrão de abertura (“Eu sou Tijuca, e estou em cartaz”…). Numa sutil provocação ao pensamento conservador, a escola e seu carnavalesco fizeram um convite irresistível ao público: deixe suas idéias pré-concebidas – e seu medo – em casa e venha se divertir como nunca nesse Carnaval. Essa era mesmo a intenção! Ao entrevistar Paulo Barros para uma reportagem que foi ao ar no “Fantástico” do último domingo, depois que as câmeras foram desligadas, ele comentou quase como um desabafo: “O que eu quero fazer é uma grande festa. Mais do que ganhar o desfile, se eu conseguir levar um espetáculo deslumbrante em que todo mundo se divirta, eu vou ficar feliz”. Como quem estava lá na Sapucaí pode te contar – ou mesmo que só viu pela televisão, Paulo Barros deve ter colocado a cabeça no travesseiro na madrugada de segunda-feira e pensado: “Missão cumprida!”.

Em nome da transparência, devo dizer que desfilei na própria Unidos da Tijuca. Sou um admirador de Paulo Barros há anos – e seu trabalho foi tema de um post aqui mesmo, no Carnaval de 2007. Quando chega o Carnaval, sou o primeiro a sair perguntando o que ele vai “aprontar este ano”… E, sempre que possível, tento fazer uma reportagem sobre o assunto – não apenas para satisfazer um capricho  pessoal (não, não é assim que a gente faz televisão, sabia?), mas para saciar a curiosidade de todo o público. Mas nem mesmo essa afinidade com o trabalho de um dos maiores gênios do Carnaval me preparou para o que eu vi na avenida no último domingo.

Chorar mesmo, eu só chorei duas vezes: quando conferi de perto aquela comissão de frente (aquela mesmo, com os “fantasmas” que “soltavam” suas cabeças e outras partes do corpo pedindo passagem!), que a cada momento fazia a platéia explodir de alegria em aplausos – e amigos que estavam com crianças no desfile me contaram que elas ficavam metade hipnotizadas, metade eufóricas quando viam aquele grupo passar; e chorei também quando vi uma das cenas mais singelas e ao mesmo tempo mais emocionantes de todas no desfile – os gorilas balançando inocentemente num carro gigantesco, ousando brincar perto do público, como se o Carnaval fosse só um passatempo sem consequência…

Por que chorei? Vai explicar… O que deve ter acontecido é que, uma vez que todas as emoções ficam meio afloradas no Carnaval, no desfile da Tijuca a minha euforia deve ter se misturado com lembranças alegres (de infância, talvez) e tudo virou uma grande catarse… E o bom é que no meio desse choro vinha muita alegria – alegria de ver as pessoas deslumbradas com o que viam na avenida, alegria de cantar um samba animado, alegria de ver a criatividade ser celebrada mais uma vez (geralmente, a mediocridade sempre leva vantagem, então é bom ver que vale a pena, de vez em quando, “brigar” para ser diferente…), alegria de perceber que a gente pode brincar com tudo na vida, e transformar isso em beleza…

Você tinha que ser a pessoa mais carrancuda do universo para não esboçar sequer um sorriso, por exemplo, no carro do Harry Potter – para quem não viu (o youtube está aí para isso mesmo turma!), uma mesa que fazia referência à sala de jantar de Hogwarts “flutuava” em todas as direções enquanto clones de Harry seguiam cantando… Ou ainda, quem teria a insensibilidade de passar batido pelo carro do “Avatar”, com sua simples e eficiente coreografia em cima de uma gigantesca planta “do planeta Pandora”… Você conseguiu ver o que acontecia no carro do “Tubarão”, onde uma das cenas do icônico filme de Steven Spielberg, era reproduzida de maneira quase fiel – encantando as pessoas que custavam a entender para onde a vítima das mandíbulas da fera teria ido? (Para dentro da piscina do carro, onde, claro, ela saía por uma passagem – mas eu não quero estragar a ilusão de ninguém…).

E vou usar essa ala mesmo do tubarão para lembrar que as fantasias também desafiavam o convencional: ao lado desse carro, um grupo estava vestido com uma roupa como se cada pessoa estivesse sendo engolida por um tubarão – é até meio difícil de explicar para quem não viu, mas é como se o folião estivesse “saindo” da boca de um tubarão, que dominava todo o lado da fantasia, até o ombro (onde ficava a bocarra aberta do bicho). Bastava a pessoa se inclinar um pouco e a ilusão de ótica estava completa – uma cena de terror no meio da folia! E aí tinha as “Pricilas”, em torno da ala que evocava o filme sobre “A rainha do deserto”… Composta só de homens (claro!) vestidos de mulheres, Paulo Barros veio com uma recriação colorida e melhorada dos figurinos absurdamente cafonas do filme – e arrancou mais aplausos por isso. E o que dizer da ousadia de ter feito uma ala inteira de gente literalmente saindo do caixão? Uma proposta tão “pesada” assim só poderia sobreviver se depois dela viesse um carro genial, de uma leveza única, onde “almas” vestidas de branco giravam na frente de uma tela de cinema onde o melhor da nossa produção cinematográfica era projetada.

Eu não estava em nenhuma dessas alas especificamente. Saí – excepcionalmente este ano – com uma camisa de “produção”. Por um lado, eu – que sempre saio de fantasia, e gosto do “sacrifício” de ter de me vestir com as criações mais malucas e lúdicas que os carnavalescos criam – lamentei não estar “paramentado”… Mas por outro, o que eu estava usando permitia que eu andasse livremente entre as alas, ficasse o tempo que eu quisesse acompanhando uma delas, e até – como foi o caso – tivesse a liberdade de acompanhar a bateria durante um bom tempo. Foi nessa hora que, se você conferiu o desfile pela TV, uma câmera pegou o feliz flagrante em que eu sambava com uma energia que, depois de ter trabalhado como um louco e ter saído em um ou dois – ou três blocos – desde sexta-feira, eu mesmo não acreditava que tinha.

A única explicação que eu consigo dar é que eu deveria estar totalmente contagiado pela alegria do momento, encantando com a – perdão se eu me repito – celebração da criatividade, e a certeza de que só um trabalho original é capaz de emocionar.

No nosso dia-a-dia, somos cercados de “mais do mesmo”. Olhe aí, em volta de você agora, enquanto está lendo este texto. Tudo igual, todo mundo fazendo o que é mais confortável, seguindo o caminho mais fácil, tentando não chamar atenção… Não, assim não gosto – assim eu não acredito que a gente muda nada, que o mundo anda… Pelo contrário, é o próprio mundo que me provoca a pensar em tudo de um jeito diferente. E quem pensa assim comigo, já é meu herói. Como esse tal de Paulo Barros – o vencedor!

O refrão nosso de cada dia

“Sonhar não custa nada ou quase nada”, Samba-enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel – mesmo já tendo passado a quarta-feira de cinzas, quero continuar no ritmo de Carnaval, celebrando este que talvez é um dos melhores refrões de todos os tempos na categoria samba-enredo. Não é daqueles mais óbvios (“É hoje”, “O amanhã”), nem dos mais fáceis de lembrar. Mas foram esses versos que, em 1992, eu fiz valer como uma história pessoal… E no último sábado mesmo, depois de “sobreviver” ao bloco Céu na Terra, em Santa Tereza, e encerrar a tarde num restaurante que tem o melhor cabrito do Rio de Janeiro (na Lapa), ao ser convidado a puxar um samba para todo mundo ali cantar, não tive dúvidas e mandei: “Delírio sensual, arco-íris de prazer, amor eu vou te anoitecer”…

O melhor filme sem novidades que você já viu nos últimos tempos

qui, 03/03/11
por Zeca Camargo |
categoria Todas

Uma figura proeminente da família real britânica está diante de um impasse: vê-se obrigada a se expressar diante de seus súditos, num momento de comoção (e aflição) nacional. Mas as barreiras que impedem essa figura de cumprir tal ato são enormes – e têm a ver com fatores que vão desde a educação rígida que ela teve a problemas quase intransponíveis de relacionamento com outros familiares nobres. Conduzida por instinto – e por extrema força de vontade (para não falar da necessidade de se impor como uma autoridade aos olhos de toda uma nação), essa pessoa finalmente abre a boca – e o coração – e encanta não só seus servos fiéis, mas plateias do mundo inteiro, que pagam para ver um filme que conta essa história – e, com um pouco de sorte, os membros de uma certa Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que decidem então distribuir uma (ou quem sabe mais) estatuetas como recompensa pela sensibilidade de contar essa história no cinema.

Você assistiu a esse filme? Não? Você não sabe o que está perdendo, pois ele é ótimo. Procure-o, mas não nos cinemas. Ele é facílimo de encontrar em DVD: chama-se “A rainha”, e deu um Oscar de melhor atriz à Helen Mirren… Talvez você tenha confundido a história do filme que acabei de descrever com a do grande vencedor do Oscar 2011 – “O discurso do rei”. Não se preocupe: a culpa, claro, não é sua…

Quando escrevi no último post que a Academia havia me decepcionado, a brigada dos perenemente contrariados previsivelmente reagiu. Como eu ousava criticar a escolha, sendo “Discurso” um filme tão, hum, “perfeito”? (Preciso explicar as aspas?). Minha reação, claro, não tem a ver com a qualidade do filme em questão – que vou discutir logo mais –, mas, como esbocei naquele texto, com a minha expectativa de que o eleitorado da instituição mais importante de Hollywood estava definitivamente apontando para outros caminhos – quem sabe até uma renovação do cinema americano. Pelo visto, este não é o caso…

Porém, eu tinha cá meus motivos para pensar assim. Afinal, em 2009, vimos um filme com visual bastante inesperado – pelo menos para os parâmetros da Academia – levar a estatueta. Falo, claro, de “Quem quer ser um milionário?” – que gostei de início, mas cujos defeitos (que vários amigos me apontaram na época da sua premiação, mas que eu recusara admitir que eles existiam) ficam cada vez mais evidentes a cada vez que o vejo, mesmo que em partes. O filme tem seus problemas sim, mas nem por isso eu mudo minha opinião de que essa escolha foi um rasgo de ousadia.

Depois, no ano seguinte, veio uma surpresa ainda melhor: a escolha de “Guerra ao terror” como filme do ano – quando “Avatar” era a vitória mais provável. Vibrei com o Oscar para “Guerra” – mesmo imaginando que a Academia queria fazer uma média premiando pela primeira vez o trabalho de uma mulher na direção (Kathryn Bigelow), o recado mais forte que parecia ser dado então era o de que o espaço estava aberto para novas ousadias.

Que nada…

Na festa do último domingo, o Oscar de melhor filme para “ O discurso do rei” representou um retrocesso. O filme – que, reforçando, é impecável (já falo dele!) – não é original nem no arco de seu argumento. Como quis demonstrar no primeiro parágrafo de hoje, as semelhanças com “A rainha” são mais que gritantes – são incômodas. Nos dois temos a tal proeminente figura da família real britânica – em “Discurso”, o rei George VI, e em “A rainha”, sua própria filha, Elizabeth. Os dois retratam seus monarcas em momentos emocionalmente difíceis para seu país – a eminência da Segunda Guerra Mundial, no primeiro filme, e o choque da morte de uma princesa adorada, no segundo. Ambos personagens (da vida real, diga-se) foram criados dentro da extrema rigidez de regras de uma casa real – e se George VI viveu com a sombra opressora da sua figura paterna, que o ajudou a desenvolver (ou, no mínimo, acentuar) sua gagueira (sem contar o “bullying” fraternal que sofreu desde a infância), Elizabeth é fruto dessa mesma família claustrofóbica e reprimida, que a tornou uma pessoa – conforme retratada no filme (não que eu a conheça pessoalmente…) – extremamente isolada em seus sentimentos, dona de uma frieza emocional tão grande que beirava o patológico. (O fato de que ambos os filmes deram um Oscar a seus protagonistas não deixa de ser também uma estranha coincidência…).

O que temos então, é um caso típico (e elegante) de “mais do mesmo”. Aliás, era isso mesmo que eu esperava antes de assistir a “O discurso do rei”. Quando o filme começou a fazer barulho nos Estados Unidos, chamou-me a atenção a crítica de Anthony Lane (“The New Yorker”) – que gostou do filme (sem excessos), mas não deixou de usar seu bom humor ao comentar que o mesmo elenco dessa produção, com ligeira mudança de roupa e maquiagem estava também em “Harry Potter e as relíquias da morte – parte 1”… Seguiram-se outras boas críticas, mas na época – final do ano passado – todas as atenções (inclusive a minha) estavam voltadas para “A rede social”. Moderno no tema, no elenco, e até em sua montagem, ele despontava como o “anti-Discurso do rei” – que parecia ser mais uma daquelas produções bonitinhas, com um elenco correto (fortemente escorado no verniz de sofisticação que atores e atrizes inglesas sempre emprestam a esse tipo de projeto), e que conta uma história de superação irresistível, sobretudo porque tem a ver com a “alta nobreza”…

Quando finalmente vi o filme, na semana passada, percebi que não estava errado. A não ser pela extraordinária fotografia e criativa direção de arte – os únicos aspectos, se não inovadores, certamente surpreendentes do filme (o que são aqueles enquadramentos muitas vezes só das cabeças dos atores, com papéis de paredes geométricos definindo o fundo?), “O discurso do rei” não me pareceu nada além de decente. Oferece exatamente o que propõe: um entretenimento leve, vagamente emocionante, num pano de fundo sofisticado, e com performances adequadas.

(Sei que estou provocando – descaradamente de propósito – quando chamo as atuações do filme apenas de “adequadas”… Geoffrey Rush, na minha opinião, o grande injustiçado da noite, está melhor em “Discurso” do que no filme que deu a ele o próprio Oscar de melhor ator, “Shine – Brilhante”… – os poucos momentos de emoção genuína que o filme me ofereceu, foram graças a ele. E Colin Firth, claro, também está muito bem, mas não consigo deixar de pensar que o prêmio deste ano é uma espécie de reparação ao reconhecimento que ele não teve na festa de 2010, por seu trabalho – esse sim, impecável – em “Direito de amar”. O papel de George VI é tão previsivelmente desafiador – fazer um gago sem cair no clichê é tão difícil (e ao mesmo tempo tão fácil para um ator do seu nível) quanto fazer bem o papel de bêbado – que era óbvio que esse esforço seria muito bem recebido pelos membros da Academia. Mas é que por mais que essas duas atuações sejam especiais, entre os outros indicados em ambas as categorias – ator e ator coadjuvante –, eu vi trabalhos bem mais petulantes do que o desses dois grandes atores. Sou capaz de defender até James Franco, em “127 horas”, mas eu divago…).

Fora isso, o que “O discurso do rei” tem para ganhar um prêmio importante como o Oscar – ou melhor, para assinalar, com a premiação, que ele está apontando caminhos diferentes para o cinema? Nada…

Sou um fã relutante de “Cisne negro” (cujo parecer pessoal já publiquei aqui), mas não tenho dúvidas de que ele é bem mais atrevido – na escolha do tema, da maneira de contar a história, na direção (a até na loucura!) – do que “Discurso”. “Minhas mães e meu pai” é bem mais provocante – e não preciso nem explicar porquê… Se é para apostar num filme comportado, “Toy Story 3” é mais inteligente, mais emocionante – e até mais inesperado – do que o vencedor deste ano. E, para falar daquele que era minha aposta para o grande prêmio, “A rede social” é dos raros filmes que conseguem discutir um assunto do seu tempo, sem parecer datado, com um roteiro inteligente, abordagem original, interpretações mais que competentes – e uma qualidade tão escassa hoje em dia, que só por isso ele já deveria ser campeão: a capacidade de nos fazer refletir sobre o que ele discute horas, dias, semanas, e até meses (e anos, aposto) depois de tê-lo visto.

Mas o que estou eu fazendo aqui, reclamando de uma decisão da Academia? – uma instituição que jogou sua última carta de credibilidade quando, em 2006, escolheu “Crash – no limite” como um filme melhor do que “O segredo de Brokeback Mountain”… Eu deveria me conformar com esse tipo de decepção – ouvir o que os mais sábios ensinam. Por exemplo, A.O. Scott, um dos críticos de cinema do “The New York Times”, mandou muito bem quando escreveu num texto de domingo passado (ou seja, publicado antes de a premiação acontecer) que ele não mais espera que o Oscar corresponda a seus anseios e desejos. Melhor eu confiar na minha opinião, não entrar em polêmicas, e achar graça dos devaneios da Academia…

No mesmo artigo, Scott, de maneira bem-humorada, explica a fórmula que “O discurso do rei” usou para agradar seus eleitores: “Hitler + deficiência + Shakespeare + 100 milhões (bilheteria) = melhor filme”! Não é brilhante? Ele ainda dá outros indícios da “barbada” que “Discurso” representava: atores ingleses, filme de época, boas críticas… Com tantas evidências assim, sou eu que tenho de me sentir um bobo de ter torcido por outros filmes que não tinham “a menor chance”…

O melhor mesmo é eu ficar quieto – e ir assistir aos “meus” filmes do mesmo jeito, quieto. E de vez em quando, dividir alguma descoberta realmente original aqui com você. E para quem quer um bom filme convencional, não sou eu que vou tentar dissuadir ninguém de desfrutar de um dos melhores dos últimos tempos. Toquem as trombetas! Que venha o “Discurso do rei”…

(Bom Carnaval a todos! Espero que a folia invada seu feriado! Nos vemos aqui novamente, claro, na próxima quinta-feira!)

O refrão nosso de cada dia

“Air guitar”, Ben & Jason – nem sei como fui conhecer essa banda, que é tudo de bom, só não é famosa – injustamente! A dupla começou a gravar no final dos anos 90, e tem só um punhado de álbuns e EPs. Essa é minha música favorita deles, com um refrão tão delicioso, que mesmo antes de entender a letra eu já estava cantando no dialeto “embromation”… E o melhor é que a canção, que está mais para o folk do que para o metal, não tem nada a ver com aqueles campeonatos de “air guitar” que a gente vê tanto no youtube. Há também uma versão (ainda mais) acústica – além de outras coisas lindas – no myspace de Ben & Jason.

E como eu fiquei devendo um refrão no último post (foi a correria do Oscar, desculpe), aqui vai mais um para compensar (para entender e aproveitar este espaço, clique aqui). E como!

“Tip toe thru’ the tulips with me”, Tiny Tim – hesitei muito ao escolher essa música agora para nossa sessão. Eu estava pensando em guardá-la para um “gran finale”, quando eu encerrasse essa iniciativa. Mas como eu não quero acabar com essa lista tão cedo, decidi liberar para já! É uma versão – o original é do começo do século 20, provavelmente de um artista chamado Eddie Peabody. Mas Tiny Tim deu uma interpretação definitiva à música, e ofereceu ao mundo um dos momentos mais bizarros do pop. O link acima oferece apenas o áudio – e recomendo fortemente que você feche os olhos: você não vai acreditar nos seus ouvidos!! Depois, como um “upgrade”, eu te convido a assistir ao próprio Tiny Tim cantando “Tip toe” numa curiosa aparição na TV americana. Agora, você não vai acreditar é em seus olhos!!



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