Um rápido desafio para os noveleiros de plantão
Noveleiros estes, entre os quais eu me incluo. Para vocês, eu quero propor um desafio. Mas antes… Porque talvez você até seja um noveleiro (ou um inimigo mortal desse tipo de paixão) e esteja entrando aqui pela primeira vez, sinto-me obrigado a explicar mais uma vez que não tenho a menor obrigação de escrever aqui sobre novelas da emissora na qual trabalho. Este é um blog de cultura pop, e ignorar o assunto, seria cair no mesmo “ato falho” que a própria televisão comete: não admitir que a TV é onipresente no nosso mundo contemporâneo (para mais explicações, consulte um texto que escrevi aqui mesmo sobre isso – sobre como a TV está quase sempre ausente dos programas de TV, sobretudo na nossa dramaturgia). Aos militantes da “teoria da conspiração”, alerto ainda que não estou lançando este assunto na tentativa de alavancar a audiência da novela “Passione” – primeiro porque ela foi muito bem de audiência nesses últimos capítulos, e segundo porque, bem… porque ela acabou…
(A você que está acostumado com os temas deste blog, peço desculpas por ter de me justificar novamente. Considere isso apenas um “desencargo de consciência” – e vamos em frente).
Enfim, o que quero propor aqui, rapidamente, é um exercício de percepção. “Passione” acabou – o que significa também que mais um mistério proposto por Silvio de Abreu está impecavelmente concluído. O capítulo que foi ao ar na última sexta-feira tinha, claro, todos os ingredientes de um “gran finale”: beijos a granel, um belo casamento, uma amarração na linha “crime e castigo”, famílias felizes reunidas – e até conquistas no esporte. Ah, e por falar em prêmios, não podemos esquecer a surreal consagração da personagem vivida por Irene Ravache, a Clô, que finalmente foi reconhecida como “celebridade do ano” – uma cena que, desconfio, serviu menos para amarrar uma ponta da história do que para mostrar aquele impagável “modelito” com penas de pavão…
Mas o último capítulo de “Passione” trouxe uma novidade – ainda que de maneira bem sutil. Não estou falando da “escapada perfeita” da personagem de Mariana Ximenes, a Clara – um desfecho, vale lembrar, que certamente foi inspirado no do filme “Corpos ardentes”, um pequeno clássico “noir” do início dos anos 80, com William Hurt e Kathleen Turner, que vale a pena você conferir (mais um ponto para Silvio de Abreu e seu infinito conhecimento enciclopédico da ficção policial!).
O que me chamou a atenção nesse final tem a ver menos com uma “revelação surpreendente” do que com a própria estrutura da novela. Assim que a palavra “Fim” apareceu ao lado do rosto de Clara, num enorme “close-up”, veio um estalo: genial! Eu, mesmo fã do gênero, não posso falar que me lembro de todos os finais de novela desde que comecei a assisti-las há pelo menos quatro décadas… Mas do registro que tenho, nunca havia visto alguém usar um recurso tão brilhante e original como este.
Não vou contar qual foi o “truque” agora que Silvio de Abreu apresentou – e, mesmo sem falar com ele sobre isso, tenho certeza de que Silvio fez isso de propósito, procurando inovar. Pelo menos não vou contar isso hoje. Quero ouvir primeiro o seu palpite – se você percebeu alguma coisa diferente na estrutura dessa conclusão. Até para, de repente, a gente abrir espaço para um debate sobre como as novelas podem se renovar. Como eu também já discuti aqui mesmo, João Emanuel Carneiro mostrou com “A favorita” que é possível subverter uma novela – e ter sucesso! E agora o veterano Silvio de Abreu mostrou (de novo) que tem o mesmo fôlego para surpreender.
Não seria um papo interessante?
Vou dar mais uma pista para você elaborar. Esse aspecto original do final de “Passione” me lembrou um outro desfecho totalmente surpreendente – o da série “Os Sopranos”. Você assistiu? Percebeu onde eu quero chegar? A conversa continua na quinta…
25 janeiro, 2011 as 4:10 pm
A musica é a canção tema de Fred e Clara. Cenas antes Fred recebe de Clara um cartão postal na prisão. Essa virada, esse olhar da personagem, seria para Fred juntando-se novamente a ela?
22 janeiro, 2011 as 3:08 pm
O final, com a Clara olhando, tb me fez lembrar do final de MAGNÓLIA!
Genial!
21 janeiro, 2011 as 4:31 pm
Silvio, realmente é fantástico.
MAS, o que impressionou, foi este final.
Ficou com ar de retorno.
A volta da vilã. Como se a novela estivesse começando daquele ponto.
Mais alguns indagações ficou:
- em pleno ano de 2011 não existe teste de DNA? Arcada Dentária? Não sentiram falta da Ednéia?
- há muitos testes comprovando que dificilmente um carro explode, como foi na novela.
Penso, que estes questinamentos ficaram devendo.
21 janeiro, 2011 as 8:23 am
Fico surpreso com a capacidade de Silvio de Abreu em fazer novelas.Não gosto muito de assistir(mas as vezes eu me rendo!), mas a última cena foi fenomenal.Silvio usou da originalidade de transmitir uma simples cena repleta de informações.A cena foi algo tão misterioso que levou a própia idenidade do autor, num jogo de “Decifra-me ou devoro-te”.Acho que isso faz com que as pessoas se tronem mais críticas e analíticas sobre nós mesmos, do que nossa mente é capaz de fazer.
20 janeiro, 2011 as 1:30 pm
bom, nao sou bom na escrita(fato!), porém adorei os comentários, com suas várias interpretaçoes!
abraço
20 janeiro, 2011 as 1:20 pm
Hum,seguindo a mesma ideia da Olga me veio a mente o final do filme ‘Guerra ao Terror’
20 janeiro, 2011 as 11:26 am
Então.. eu fiquei pensando sobre os comentários que vi e acho que a linha é bem por aí.
Mas eu fiquei pensando sobre o final dos Sopranos e, na verdade, acaba de forma bem brusca e existem muitas “teorias” – a de que a vida vai ter continuidade ou a idéia de que ele (Tony) foi assassinado e aquela tela escura do final seria tipo a visão dele da morte.
Pensando nessa linha, o close do final seria um ponto de vista, assim como o ponto de vista da morte de Tony, ou seja, ou o close representa “alguém” se aproximando e, no caso, nós somos o ponto de vista dessa pessoa, ou o ponto de vista é nosso mesmo, como se fôssemos os cúmplices da Clara…
Foi a conclusão que consegui tirar.
20 janeiro, 2011 as 12:06 am
Concordo com a amiga Olga aqui, na parte da continuidade mas não dessa forma.
Quando a Clara pergunta ao tal paciente como ele esta da a impressão de que ali começa mais um de seus golpes e o fim na lateral e o olhar fixo dela para os espectadores mesmo sem falas faz a gente entender que ela esta dizendo : – Vocês sabem que este não é o fim .
Bom Zeca esse é meu ponto de vista.
Abraço
19 janeiro, 2011 as 8:23 pm
Na verdade, creio que ele se refere à estrutura do último capítulo e não à cena final do “close-up”. Ele menciona: “se você percebeu alguma coisa diferente na estrutura dessa conclusão”. E como bem disse a usuária Clara, foi o fato da narrativa ser estruturada em flashbacks muito bem posicionados durante o episódio, explicando o assassinato, segurando a revelação para o final.
19 janeiro, 2011 as 8:10 pm
Bem,agora revendo alguns dos meus filmes aqui,acho que o tal close no rosto da personagem,está ligado ao fato(acho eu) de nunca haver o contato entre a obra e o espectador.Com a Clara olhando diretamente para câmera,algo parecido e que já foi usado em outros filmes um deles:”Os Incompreendidos”" de Truffaaut,na última cena em que o menino olha para a câmera como se perguntasse:”E agora”!.Bom,não sei se foi esta a intenção do autor.Quero descobrir logo,porque não pude prestar muita atenção no final da novela,já que enquanto assistia a novela,simultaneamente assistia a um filme.Eu não sou noveleiro,mas cinéfilo!
19 janeiro, 2011 as 3:47 pm
Olá Zeca, voltei pq num dos comentários, a moça critica minha posição. Ela pode ser uma exceção, mas o fato é q trabalho com pessoas de menor escolaridade do que eu(e ai nao estou embutindo nenhum preconceito, inclusive, são ótimos colegas), mas…Acharam Kill Bill um filme horrivel, jamais teriam paciência para assistir Dogville, só curtem comédia água com acucar ou filme com efeito especial, enfim…isso só pra começo de conversa, sem falar q qdo vc pergunta sobre o ultimo livro q andaram lendo, eles sequer lembram…INfelizmente, a politica do pão e circo é real, acho ilusão tapar os olhos pra isso. Claro que toda regra tem sua excecao, mas duvido mto q as novelas sejam produzidas pra um publico intelectual, pelo contrário…experimente exibir “Veludo Azul” no horário nobre e a audiência despenca na certa. Pq será q programas como Panico na TV e “Rodrigo Faro” são campeões de audiência? O pessoal não quer cultura, quer coisa q encha os olhos: mulher pelada (ou semi), fofoca, sensacionalismo, baixaria, histórias fáceis e mastigadas, efeitos especiais. Qto a mim, continuo sem saber a que recurso o Zeca se referiu…
19 janeiro, 2011 as 12:06 pm
Zeca,
Li todos os comentários anteriores e acho que concordo, em partes, com a usuária clara (!).
O olhar fixo na câmera é algo difícil na teledramaturgia. O telespectador funciona como um observador presente em todas as cenas, inclusive nas do pensamento. Mas, se bem me lembro (e o Vídeo Show me ajudou) em Brega e Chique, a Marília Pêra olha pra câmera, mas fez as vezes de espelho.
O que eu penso sobre esse final (que foi realmente muito interessante – sobretudo a revelação depois do tradicional casamento feliz) é que Clara não mudou, o que ficou bem provado no decorrer da trama.
Mas, fazendo o casamento com a fotografia do rosto (belíssimo) da Mariana Ximenes, o sorriso enviesado e a música do Lenine (“Aquilo bate, ilumina / Invade a retina / Retém no olhar / O lance que laça na hora / Aqui e agora / Futuro não há) me dá entender que ela quis dizer “Você já sabe o que vai acontecer”. Ou seja, que seremos seus cúmplices no que, com certeza acontecerá ao Mr. Forbes
E outro ponto é que a novela falou de paixão. Pela família, uns pelos outros, inclusive na rocambolesca estrutura familiar, a paixão da Clara seria pelo perigo, pelo crime, pela oportunidade de passar por cima dos outros, por dar seus golpes. Tal como uma psicopata mesmo, sem sentimentos, movida por um desejo animal. Passional.
É isso. Parabéns (sempre) pelo blog.
Jorge
19 janeiro, 2011 as 11:56 am
O CLOSE nesse caso serviu para mostrar que, a partir desse momento, haverá um recomeço.
A novela não é boa, definitivamente. Aliás, a TV está cheia de ‘historinhas’. Acaba cumprindo um único papel: entreter.
19 janeiro, 2011 as 11:27 am
Oi Zeca,
Assisti a novela e acho que pulei essa parte do close. Vi o close e a única impressão que tive foi que Clara foi desmascarada, matou, roubou, ficou sem nada, mas tem a carinha de anjo que comove qualquer um. Começar de novo, roubar de novo, matar se preciso. Ela tem o poder de enganar qualquer um e este é o grande trunfo dela.
Quanto ao segredo de Gerson, todos esperavam um pouco mais, mas quem criou todo esse burburinho foi o povo, a mídia que ficou o tempo todo especulando. Gostei da novela, não tanto, mas gostei. Silvio de Abreu é um gênio mesmo!
18 janeiro, 2011 as 10:07 pm
A charada seria o fato da Clara olhar diretamente para a câmera no final? Assim, seria como se ela estivesse olhando diretamente para o público que a acompanhou por todo o decorrer da novela e que agora são os “guardiões” do seu segredo. De alguma maneira ela estava tentando se comunicar conosco…
Nunca vi um personagem de novela olhando diretamente pra câmera e acho que a novidade do Sílvio de Abreu foi essa. Ele tentou romper esse barreira da “telinha” e buscou colocar o espectador ali dentro da história.
É só um palpite, mas, se estiver certo, o que que eu ganho???
Hehehe, grande abraço.
18 janeiro, 2011 as 5:33 pm
Olha, ja que a vida imita a arte; então, porque é que na arte os maus tem que serem presos e os mocinhos serem felizes para sempre? Ué, achei genial a Clara ter se safado e o Fred ter pago pelo único crime que não cometeu. Nossa justiça está defazada e tem milhares de inocentes na cadeia e milhares de culpados soltos; porque é que só na ficção eles tem de serem presos. Será que algum juiz percebeu este joguete do Silvio? Não, tenho certeza que não; e o povo ficou indgnado mas daqui a pouco esquece,aliás, a nova novela ja começou com trapaças, né. Viu a personagem da Debora Seco fazendo a safadesa para entregar o prêmio. No próxomo post nem você vai se lembrar que existiu uma novela chamada passione, quanto mais os outros.
18 janeiro, 2011 as 4:44 pm
O final de “Passione” foi incrível. A ética flexível da quatrocentona Brígida (para o jardineiro, o discurso de que a idade proporciona liberdade e é hipocrisia deixar de feliz para atender a padrões sociais; para o motorista, “o que a sociedade paulistana vai pensar ?” e “casar com o motorista ?!” então, vamos inventar que trata-se de um comendador português), a bigamia oficializada-naturalizada-e-sacramentada de Berillo e suas duas mulheres e o cinismo da Família Gouveia (ninguém ali era flor que se cheirasse mas todos comemoraram o aniversário da matriarca como se fossem monarcas perfeitos e divinos) são casos para se pensar. Quanto aos finais de Fred e Clara, só em novela mesmo. Ninguém sentiu falta da garçonete ? Desde quando cadáveres carbonizados são sepultados sem um exame de DNA ou o necropapiloscóspico ? Desde quando inquéritos mal feitos dão origem a julgamentos ? É coisa de gente chata, eu sei, jornalista acostumada a cobrir segurança pública e violência (são coisas bem diferentes. As pessoas entendem muito de violência e quase nada de segurança, mas isso é outra história). O fato é que novela é entretenimento e “Passione” foi das melhores. Hilário mesmo foi ver o quanto o Totó é sem sorte: se livrou da Clara e casou com a Flora (Patrícia Pillar em “A Favorita”). Aliás… Clara (Mariana Ximenes) é filha biológica da Flora ! Só podia dar nisso mesmo hahahaha
18 janeiro, 2011 as 3:39 pm
Olá,
Confesso que não gostei muito de Passione, Na verdade nem acompanhei direito a novela. Mas o desfecho foi melhor do que eu esperava. Acho que o truque a que você se refere pode ser tanto um “falso final” (já que depois do casamento você acha que a novela vai acabar sem revelar quem é o assassino, mas ai ela continua), quanto a cena de Clara como enfermeira de um americano rico, dando a entender que ela voltou ao início da história e vai fazer tudo de novo.
No mais, queria comentar o que Rô disse alguns comentários acima: acho horrível quando ela/ele diz que o público das novelas é limitado e que não entenderia um final elaborado. Isso não é verdade, não se pode pensar assim. Acho que é por isso que as novelas estão perdendo público para os seriados, pq elas, muitas vezes, subestimam os espectadores. Quanto mais complexa, mais interessante fica a trama. A fórmula pronta da novela já está ultrapassada e não agrada mais. O público quer uma coisa que divirta sim, mas também que prenda e faça pensar.
18 janeiro, 2011 as 1:49 pm
Zeca,
essa seu texto ficou com cara de novela, pior de tudo que é samanal. Comecei a ler e ja estava na espectativa de ler o final quando você “corta” o texto.
Não tem como adiantar o dia do próximo texto?
Denis – Santo André
18 janeiro, 2011 as 1:04 pm
serie a música?
bom, na verdade, a música como uma coadjuvante perfeita?