O melhor disco de 2009 que você não ouviu
Considerando:
1) Que algumas listas de final de ano já estão saindo (só para dar o exemplo, aqui está a do crítico de cinema da “The New Yorker”, David Denby) – imagino que em 2010 já podemos contar com algumas delas em novembro!;
2) Que 2009 não foi um ano particularmente excitante no que se refere a novas bandas, novos sons (e, por favor, se tiver um bom argumento, pode me contrariar com um comentário);
3) Que boa parte dos leitores que por aqui passam não eram sequer nascidos há 20 anos;
4) Que mesmo que esses leitores (você talvez?) fossem nascidos há 20 anos, só teriam uma certa autonomia para escolher que música gostariam de escutar por volta dos 12 anos de idade – ou seja, que para ter tido o desejo de comprar um CD em 1989, esses leitores hoje estariam, no mínimo com 32 anos (o que amplia mais o universo de pessoas que passam por aqui e que vão encarar essa minha escolha como novidade);
5) Que música boa não tem idade…
Eu queria informar que o melhor álbum lançado em 2009 é este aqui abaixo: “The Stone Roses (Legacy edition)”.
Antes de continuar, deixe-me esclarecer que está não é uma nova versão bastante resumida da já tradicional lista de fim de ano deste blog, com “os melhores discos do ano que você não ouviu”. Esta será publicada, na íntegra na segunda-feira que vem (quando então eu devo decidir sobre quantos títulos vão entrar este ano… está difícil ficar só nos 15 + 1 de 2008…). Este é, então, um post dedicado a um dos melhores discos de todos os tempos, que em 2009 completa 20 anos, foi relançado, e, como os críticos gostam de falar, sobreviveu – com brio! – ao teste do tempo. Resumindo, trata-se de um clássico definitivo, uma unanimidade de público e crítica que a própria banda nunca consegui superar, nem com o único outro álbum que lançaram (cinco anos depois) nem com os trabalhos solos de seus ex-integrantes – nem mesmo os de Ian Brown.
Se você tem mais de 32 anos, e gosta de música pop, tenho certeza de que vai se lembrar do fenômeno Stone Roses – e, se você é mais jovem que isso, aceite o convite para embarcar numa das viagens mais alucinantes que o cenário musical inglês já ofereceu. Sim, porque além de a experiência de escutar o álbum de estréia da banda ser uma atividade delirante, a própria mania – e a mitologia – que se instalou em torno deles, lá em 1989, era vertiginosamente deliciosa.
Além da música, lembro-me sobretudo da capa do semanário musical inglês “NME” com a foto deles todos chapiscados de tinta e com um título genial: “Never mind the Pollocks, here’s The Stone Roses” – uma referência ao mesmo tempo ao título de outro álbum clássico (este, claro, o “Never mind the bollocks, here’s The Sex Pistols”) e à apropriação visual que a banda fez do estilo do pintor americano Jakson Pollock (famoso por seus quadros com tintas respingadas, que marcaram o expressionismo abstrato). Junto dessa manchete principal, a tal capa – que tenho até hoje na minha coleção (quanto será que está valendo no ebay?) – anunciava ainda curiosos nomes do passado: Primitives, Indigo Girls, 10.000 Maniacs, Cindy Lee Berryhill (?), e até o filme “Atração mortal” (“Heathers”, no original em inglês), destacado como o mais perfeito filme para adolescentes…
Bem, voltando a falar daquele teste do tempo, nem Primitives nem Indigo Girls (a não ser por uma marola na campanha da segunda eleição de George Bush) fizeram muita diferença desde então. O 10.000 Maniacs, puxado pela sempre agradavelmente estranha Natalie Merchant (que até hoje goza de certo prestígio na carreira solo – que o diga seu amigo Michael Stipe, do R.E.M.), ainda conservou alguma relevância – o que infelizmente não pode ser dito de Cindy Lee Berryhill (se você é representante do fã clube, me desculpe a franqueza: o que ela estava fazendo numa chamada de capa do “NME” ao lado dos Stone Roses?). E não vamos nem falar do filme que elevou Winona Ryder à categoria de estrela…
Já os Stones Roses… Bem, basta ouvir essa edição remasterizada do disco de 1989 para ter certeza de como eles ainda são importantes até hoje. Quem tem pelo menos um pouco daquele som na memória ou quem se aventurar para presentear seus ouvidos pela primeira vez com a audição de “The Stone Roses” vai entender que o título que dei para o post de hoje não tem nem uma gota de ironia… No caso, porém, de você precisar de algum reforço para acreditar nisso, segue aqui uma descrição do que é o álbum todo – tirando talvez um atraso de 20 anos, da minha vontade de escrever sobre esse trabalho!
Eu costumo dizer que uma das mais perfeitas sequências de faixas num disco é o lado B de “Remain in light”, do Talking Heads – para os mais jovens, é importante ressaltar que “lado B” não é apenas uma “figura de linguagem” indicando algo alternativo, mas a outra “face” de um antigo artefato chamado LP – que obrigava as músicas de um álbum a serem divididas em dois grupos, A e B. No caso de “Remain in light”, a sucessão de músicas do lado B que começa com “Once in a lifetime”, segue com “Houses in motion”, “Seen and not seen”, “Listening wind”, e fecha com “The overload” é uma obra de mestre – mestre Byrne, David Byrne (já devidamente elogiado no post anterior). Comparado a isso, o grande feito de “The Stone Roses” foi ter superado o Talking Heads em número de músicas concatenadas numa evolução perfeita!
Fruto de uma outra época, quando os LPs já começavam a virar história, “The Stone Roses” já pertence à era do CD – e, como tal, permitia que todas as suas 11 faixas originais fossem ouvidas de um fôlego só. Isso, claro, para quem chegasse até a última delas ainda conseguindo respirar…
O disco abre com o maior hino à auto-afirmação jamais composto: “I wanna be adored” – em português, “Eu quero ser adorado”. Depois de uma introdução de guitarras crescentes e a chegada de uma batida que flerta com o dançante, a letra da música não vai muito além da frase do título. Há uma velada (possível) referência ao próprio Demônio no primeiro verso (“Eu não preciso vender minha alma, ele já está dentro de mim”), e só. O resto da faixa é Ian Brown clamando por adoração – variações sobre um tema simplesmente sublime.
Em seguida vem talvez a canção mais pop de todo o álbum, “She bangs the drums” – uma poderosa e dançante declaração de amor que qualquer adolescente com um mínimo de conhecimento de inglês (ou não!) pode sonhar em um dia cantar para a pessoa amada. Daí vem “Waterfall”, que mistura os melhores refrões hippies com um psicodelismo que os maiores mestres modernos do gênero, os Chemical Brothers, ainda levariam alguns anos para reinventar. Aliás, se é para ser psicodélico, então preste atenção na faixa seguinte, “Don’t stop”! Vinte anos depois de tê-la ouvido pela primeira vez, ainda não me recuperei do furacão… Seus efeitos são tão devastadores que nada mais natural do que fingir que as coisas vão ficar mais tranquilas na música que vem na sequência, “Bye bye badman”. Não usei o verbo “fingir” à toa: de bobinha, “Badman” não tem nada, e a prova disso é a sua cabeça (e seus pés!) balançando no inacreditavelmente contagiante embalo dos minutos finais da canção.
Pausa. “Elyzabeth my dear” é um respiro de menos de um minuto – tão adorável quanto curto (e estranhamente familiar…). E o disco se empenha então em retomar o ritmo anterior com uma dupla que é o “brit pop” no seu estado mais puro: “(Song for my) Sugar spun sister” e “Made of stone”. Aí vem “Shoot you down” – e bem quando sua resistência já está lá embaixo! Irresistível, inesperada, brilhante e original (será mesmo uma guitarra havaiana que eu escuto ao fundo?), esse é o “xeque-mate”: a essa altura você já está totalmente entregue aos encantos da banda – a ponto de mal reparar na ambição menor de “This is the one” e embarcar sem resistência no experimentalismo da faixa final, a profética “I am the ressurection” (provando que, mesmo em termos de provocação à imagem de Jesus Cristo, eles estavam bem à frente do Oasis…).
É isso! Essa é a sequência que explodiu a minha cabeça em 1989 – e explodiu de novo em 2009! Some a isso a qualidade (bem melhor) do som, e a inclusão (nesse relançamento) de uma das mais hipnóticas músicas jamais compostas: “Fool’s gold”, na totalidade de seus nove minutos e 53 segundos (também remasterizados)! E mais (já que a tal “Legacy edition” traz várias surpresas extras): um CD bônus com os “demos perdidos”, nos quais é possível ver como a produção (assinada por John Leckie) foi importante para elevar exponencialmente o potencial das composições originais; mais um DVD com um show memorável no Blackpool Ballroom e mais um punhado de clipes (onde “Fool’s gold” é novamente o destaque!).
Eu sei, eu sei… tudo isso, descrito com meu “moderado” entusiasmo, pode parecer perigosamente como uma recaída nostálgica deste que vos escreve. Porém, como você vai poder conferir na lista que vou publicar segunda que vem, meu interesse por novidades – e novidades extremas – não diminuiu nem um pouco. O que eu não podia fazer era deixar 2009 acabar sem que eu registrasse esse “disco do ano”…
13 março, 2010 as 3:47 pm
Tenho 21 anos, e não vivi o momento na época de lançamento do disco. Mas, pelo que conheço, sem dúvida foi o grande álbum do ano, junto, talvez, com o do Sonic Youth.
Porém, reeleger os Stone Roses em 2009 me parece saudosismo e conservadorismo demais. Visto o estrago que Animal Collective fez neste último álbum. Sem dúvidas, o melhor do ano.
27 fevereiro, 2010 as 1:33 pm
Olá Zeca,
Estava eu procurando algo sobre Stone Roses e encontrei sua coluna…Verifiquei a data da publicação e consequentemente a dos comentários e pensei…não vou deixar nenhum comentário pois o texto que além de datado (referindo-se a uma lista de final do ano 2009) trazia comentários de Dez/09.
Mas mudei de opinão, pois conclui que falar de Stone Roses é atemporal…e mesmo que ninguém a leia depois de tanto tempo, vamos tecer comentários…
Posso dizer que eu também estava no olho do furação em 1989, quando adquiri o vinil, cuja a capa e a música Made of Stone eram até então os meus referenciais. Não cabe comentar sobre as músicas, pois você já o fez com muita propriedade de quem também foi contagiado pela febre Stone Roses.
O que tenho a dizer é que este é o album mais ouvido em toda minha vida, que a música (Song for My) Sugar Spun Sister é a minha preferida, que tento com minha humilde contribuição divulgar Stone Roses (tenho uma banda amadora que toca Elephant Stone) e o principal…para mim Stone Roses não é nem de longe a melhor banda do mundo (na minha opinão que detem este título ainda são os Beatles) mas no meu entendimento foi a banda que fez indiscutivelmente o melhor album de todos os tempos, realmente insuperável….
Zeca, parabéns pelo bom gosto musical (sei que você também aprecia Radiohead e Jesus and Mary Chain) e continuemos a divulgar Stone Roses para as gerações vindouras..
Abraços
Charles
Jaraguá do Sul/SC
31 dezembro, 2009 as 3:16 am
e, dentro do ChaChaCha, a perola das perolas, colaboração da Orkestra Rumpilezz com o Retrofoguetes: MALDITO MAMBO.
se voce nao ouviu, voce nao faz ideia do idilico momento cultural pelo qual a Bahia passa desde a morte-e-a-morte de ACM…
18 dezembro, 2009 as 2:25 pm
Achei interessante a lista, diferente do convencional mesmo. Vou dar uma escutada nos albuns.
E sobre idade pra se comprar um disco, em 1989 já tinha idade suficiente pra comprar o “Xou da Xuxa 4″ hahaha!
E ainda passar o dia escutando “Like A Prayer” com meu irmão.
17 dezembro, 2009 as 2:37 pm
bem tenho 36 ,e me lembro com frescor ao comprar em vinil e depois de tambem em cd ,The Stone Roses, e tudo que o Zeca disse é verdade ,esse album está ente os meus Top ten.
14 dezembro, 2009 as 2:09 pm
Do jeito que você corre atras de novidades, e se delicia com todas elas Zeca, fazer uma lista, pequena(?) deve ser uma tarefa gigantesca!!!!
Bjs
14 dezembro, 2009 as 5:01 am
Zeca, espero que na sua lista de discos de 2009 haja mais espaço para o trabalho feito aqui no Brasil! Grupos novos como Móveis Coloniais de Acaju, Pública, ou os novos trabalhos geniais do Erasmo Carlos e do Arnaldo Antunes… Tenho certeza que mesmo muita gente do Brasil não teve conhecimento desses álbuns…
Deixo aqui minha sugestão: Musictopia, duo de música pop gaúcho, gravação e produção TOTALMENTE independente, e eles ainda disponibilizam o álbum pra baixar! Dê uma googlada, os discos estão no servidor 4shared.com, garanto que não se arrependerá =]
Abraços e bom final de ano!
12 dezembro, 2009 as 10:43 pm
mesmo tendo menos de 20 anos (na verdade não entendi o que você quis dizer com isso) achei o álbum do pearl jam (backspace) um arraso de bom.
11 dezembro, 2009 as 1:00 am
Boa noite…..
Não resistir em deixa um comentário sobre o Stone Roses.
Sendo filha de um apaixonado pelo Stone.
Agora entendo a empolgação do meu pai e tios pelo Stone Roses eles são tão fanáticos pelos Roses que todos fim de semana se reunir para o baba das ( piriguete ) ao som do Stone Rose elas fica muito assanhadas como roupas feminina loucura, loucura e o baba do domingo se torna uma diversão família.
Para mim uma boa música e aquela que proporciona prazer em escutar
Como a maioria do povo brasileiro não tem memória
Só gosta de músicas atuais e muitas delas sem letras, aquelas bandas que fazem sucesso no momento e depois são esquecidas.
Esse tipo de música da prazer em escuta, lógico que sim só que não dura muito tempo
E essas bandas não conseguem deixa sua marca para as gerações futura.
Eu aos seis anos escutava e escuto todo dia e acho lindo quanto ele canta para mim com o seu Inglês ruim rsrssrs.
Eu sou humana tem dia que não dá, tenho pena das visitas e dos meus colegas quanto meu pai começa a conversa e canta sobre o Stone Roses um fica olhado para cara do outro sem entende nada ai não tem jeito.
Sou obrigada a trapacear com o coroa.
Gosto não se discutir… E música não tem idade nem sexo
É ótimo pode se proporciona coisas diferentes, mesmo que seja há vinte anos.
Uma boa noite…..
Beijos!!! Cuida-se….
10 dezembro, 2009 as 11:50 pm
Ah! você também já comentou sobre os Mutantes aqui, inclusive em várias listas! e o novo cd(!) bom, ruim? outro assunto interessante.
10 dezembro, 2009 as 11:48 pm
Zeca(!) até quando vai ignorar a menina prodigio Mallu Magalhães? acho que dai sai um bom post… ou pelo menos esse espaço pra comentários vai bombar de criticas!
10 dezembro, 2009 as 4:46 pm
Zeca, lista de livros do ano, da década, da vida!!
Você tá devendo essa, hein??
10 dezembro, 2009 as 4:14 pm
ronaldo!
10 dezembro, 2009 as 2:55 pm
Melhor disco de 2009?
Ouça Jonny Lang – Live at the Ryman.
O primeiro e único disco ao vivo do garoto…
Vai mudar sensívelmente sua opinião…
10 dezembro, 2009 as 2:19 pm
o cd do Bon JOvi foi lançado no mês de novembro, me confundi ba hora de escrever. ok?
10 dezembro, 2009 as 2:17 pm
eu também queria dar uma dica… digamos que seria “o cd que o Zeca Camargo não ouviu” . rs
Foi Lançado no mês de maio, o mais novo cd da banda americana, Bon Jovi. O Cd, que ganhou o no The Circle, marca a carreira da banda, que completa este ano 1/4 de década. Bon Jovi deixa o passado contry pra trás, e traz um cd mais original, com hard rock; com letras mais marcantes e refrões não grudes, a banda trouxe novos ares ao som.
Bon Jovi, depois de dois anos da turnê Lost highway, considerada a turnê que mais arrecadou dinheiro em todo mundo, a banda passou por alguns perrengues e quase chegou ao fim. Segundo uma matéria que saiu no jornal O Globo, Jon Bon Jovi, Ritche Sambora e companhia, decidiram gravar o ultimo cd da carreira como forma de comemorar os 25 anos da banda. Mas com o trabalho fluindo tão bem no estudio, eles conseguiram dar a volta por cima e fizeram um dos melhores cds do Bon Jovi: entre eles (que eu considero) estão Keep The Faith(1992) e These Days(1995). O Cd Keep The Faith também veio depois de uma crise da banda, e o These Days são as músicas que foram escritas mais ou menos na mesma época que o Keep the Faith.
A turnê tem previsão de passar pelo Brasil, no mês de novembro de 2010.
Como todo fã, eu também acabei falando demais sobre a banda, que eu tanto admiro!
Tenha um Bon Jovi Dia, Zeca. rs
bjo
10 dezembro, 2009 as 2:13 pm
Ola Zeca!
Estou ouvindo Fool’s gold, eu não conhecia, só vc mesmo pra me trazer estes tipos de novidades, aguardo anciosa as de segunda.
beijão lindo!!
10 dezembro, 2009 as 10:02 am
Zeca,
Você conhece os caras do “NETWORTHY”???? Hilários…kkkk
Aqui uma versão deles de “Poker Face”…..rsrsrsrs
https://www.youtube.com/watch?v=bW5czKqT05A
9 dezembro, 2009 as 11:26 pm
Oi Zeca!!!!!!!!!!!!!!!!
Convite feito, convite aceito!!!!!!!!!
Bem, já me familiarizei um pouco com a banda e,
ouvindo algumas músicas, acho que cheguei bem perto
de entender como foi há 20 anos.
Ah! A propósito, não encontrei no eBay este exemplar da NME. Logo, tal raridade pode valer bastante por lá. Isso, claro, se estivesse à venda!
Valeu pelo registro, viu?
E que venha mais novidades!!!!!!!!!!!
Beijão!!
9 dezembro, 2009 as 10:44 pm
Ah, 1989!
Doolittle Disintegration Technique Stone Roses