Oasis, Stefhany, e a prova de que a felicidade até existe
“Eu vendi mais de 50 milhões de discos, por que não estaria feliz?”. Este foi Noel Gallagher, do Oasis, num momento inspirado da entrevista que fiz com ele esta semana, em Caracas, Venezuela. A foto ao lado ilustra o cenário onde tudo aconteceu: uma sala de visitas “estilosa”, improvisada na quadra coberta de esportes da Universidade Simón Bolivar, onde logo em seguida eles fariam um show para três mil pessoas (mais sobre isso, daqui a pouco). Sim, eu também reparei que Noel não está na foto, mas sua assessoria de imprensa não permitiu que a entrevista fosse fotografada – apenas filmada. Assim, tudo que pude registrar para mostrar aqui para você foi esse “momento fantasma”, logo depois que ele havia saído da sala.
Liam, seu irmão, entraria logo em seguida, demonstrando algo que – conhecendo a fama mau-humorada dos irmãos Gallagher -, poderia ser descrito como um rasgo de simpatia. Era a primeira vez que conversava com Liam, e estava naturalmente nervoso com a expectativa – afinal, esse é o irmão que assumidamente não gosta de falar com jornalistas… Mas ele foi surpreendentemente agradável – quase dócil -, e, apesar de ter testado os limites da minha compreensão do inglês (acho que passo em qualquer teste de conversação com louvor depois dessa!), posso dizer que essa também foi uma conversa agradável.
Mas o que mais me chamou a atenção no encontro com os dois grandes astros dessa banda – que, teimosamente, ainda consegue ser relevante -, foi a felicidade de Noel. Com ele, já havia conversado duas vezes: a primeira, em 1998 – ainda no auge da banda -, durante uma escala da sua turnê européia, em Barcelona (nessa oportunidade, como conto no meu livro “De a-ha a U2″, Noel ficou 80% da entrevista olhando para o chão, sem me encarar); e a outra foi quando o Oasis veio tocar no Rock in Rio em 2001 (outro encontro que eu classificaria como… relutante!). Foram duras… “batalhas” – e eu já estava preparado para encontrar o mesmo Noel semi-rabugento, quando, de repente, o cara me desarma dizendo que está feliz da vida!
Está certo que ele tem motivos de sobra para se sentir assim: de fato, vendeu milhões de álbuns no mundo inteiro nesses quinze anos de existência do Oasis; o disco mais recente “Dig out your soul” foi bem recebido pela crítica (e pelos fãs), e fez com que a banda experimentasse novamente o prazer de ser relevante; estão chegando ao Brasil (os shows são na semana que vem) depois de uma longa turnê que foi também extremamente bem-sucedida; os dois irmãos estão notoriamente milionários (algo que até Noel fez questão de assinalar durante a entrevista). Então, por que não estar feliz?
A certa altura perguntei se esse, digamos, “novo” estado de espírito do Oasis tinha a ver com a maturidade – afinal, como o próprio Noel fez questão de frisar, ele já está com 41 anos (a poucas semanas de completar 42). Embora “maturidade” seja um atributo que não combina muito com uma banda de rock como o Oasis, ele não teve problema algum em declarar que sim, que aos quarenta anos você já não faz tanta besteira, já não toma mais tantas drogas – e, o mais importante, não precisa ficar provando para ninguém que você é bom… Isso sim é que é felicidade…
No palco, alguns minutos depois, os irmãos demonstravam exatamente isso: que estavam tocando com prazer. Não era a primeira vez que eu via um show do Oasis, claro, mas acho que foi o primeiro deles que me deu a impressão de que eles estavam felizes no palco? Estaria eu influenciado pelo que acabara de ouvir dos irmãos Gallagher? Talvez. Mas de alguma maneira, o bom clima da apresentação, contagiou a magra (para o Oasis) platéia.
Nos jornais do dia seguinte, ao lado das manchetes sobre a “gripe porcina” – com a mais recente histeria mundial é curiosamente chamada em espanhol -, jornalistas chamavam atenção para o pequeno público que foi ver o Oasis em Caracas. Num país que nem está preocupado em esconder seu dilaceramento – era a primeira vez que eu visitava a Venezuela e, para ser breve, digamos que fiquei meio assustado – fica até difícil imaginar que existe uma comunidade de fãs interessada numa banda como essa. Mas ao olhar os rostos da platéia naquela noite, fui obrigado a – mais uma vez – chacoalhar minhas idéias pré-concebidas e aceitar que ali também existem adoradores do bom rock. Aliás – não podemos esquecer -, como existem também aqui no Brasil.
A felicidade estava estampada na cara dos fãs venezuelanos, que cantavam não só o coro, mas a letra inteira de músicas do novo disco. E ali, no palco improvisado da USB – que fica no topo de uma das montanhas que cercam a caótica capital (uma hora e meia para sair do centro e chegar lá no final da tarde, num trajeto de pouco mais de 30 km!) – eu presenciava mais um daqueles momentos de comunhão entre artistas e fãs, que, claro, só um evento como um show ao vivo pode proporcionar.
Qualquer um que já viu a introdução do vídeo de “Eu sou Stefhany (no meu Cross Fox)”sabe disso. A loucura, a expectativa para ver o ídolo, a alegria, a histeria! Tudo isso está no clipe dessa, que já está sendo chamada de “a nova diva do Piauí” – se bem que, num teste rápido de memória, não consigo me lembrar de quem seria a “antiga diva” do estado…
Nesse momento, os fãs de Oasis que se sentiram atraídos a ler este post até aqui devem estar vivendo o dilema: “será que continua a ler essa porcaria?”. Mesmo você, que ainda não tinha ouvido falar desse modesto fenômeno recente do youtube (seu vídeo mais assistido, esse citado acima, por enquanto, tem menos de 500 mil acessos (uma mera fração de “A dança do quadrado”), pode se perguntar por que deve embarcar nessa leitura…
Eu, claro, sugiro que você me acompanhe. Primeiro, para se divertir um pouco com mais uma faceta desse universo maravilhoso que é o pop. E depois, porque mesmo que você a ignore, Stefhany está feliz (para lá de feliz) e vai em frente! – como aliás, ela deixa claríssimo na mensagem de texto enxertada no seu vídeo mais popular: “Stefhany já tem SUCESSO, mais (sic) podem perder seu TEMPO criticando”. Entendeu? É isso mesmo, pode criticar, pode achar o fim, pode se indignar de ela aparecer no mesmo texto que o Oasis! Esta é a hora e a vez de Stefhany!
Uma pequena introdução para você que ainda não a conhece – e não adianta procurar na wikipédia, pois a artista ainda não tem seu verbete! Stefhany (com “fh” mesmo) é uma menina de 17 anos. Piauiense, ela não é da capital, mas de Inhuma (a 240 km de Teresina), uma cidade com uma população de menos de 15 mil habitantes. Que tipo de música faz? Digamos que Stefhany é versátil: vai do brega de Joelma (sim, Calypso) ao “soul” (revisitado) de Beyoncé – jogue um pouco de Gretchen, Maria Rita, Pitty, Cláudia Leitte e… pronto! Aí está a receita do sucesso da menina.
“Eu sou linda! Absoluta! Eu sou Stefhany”, canta ela segura no seu “hit” – que os iniciados chamam apenas de “Cross Fox”. “Eu vou sair, me divertir, não vou ficar mais te esperando, porque agora… eu sou demais!”, segue ela numa batida nada original, mas totalmente irresistível. A música não é mais do que a milionésima “declaração de independência” de uma ex-namorada que cansou de ser passada para trás – e que, em alguns momentos chega a me lembrar da mais poderosa de todas as canções do gênero, o clássico “Unpretty”, do T.L.C. (que toda a menina de 14 a17 anos deveria ser obrigada a decorar e cantar todos os dias). Mas é deliciosa – e, acompanhada por esse vídeo caseiro (que, imagino, foi gravado na própria casa de Stefhany, e nas cercanias de Inhuma), ganha fácil o título de “a coisa mais divertida que apareceu recentemente no pop brasileiro”. E pode guardar sua indignação com este que escreve para o seu baú de preconceitos…
“Cross Fox”não é, porém, minha faixa favorita de “Stefhany – pra se apaixonar!” – como diz aquela impagável voz de locutor que entra sempre inesperadamente em algum momento de sucessos do brega… Gosto de “Anjo” (a segunda melhor música do pop brasileiro com esse título, depois, claro, daquela gravada por Kelly Key). Gosto de “Jurei jamais amar”. Gosto de “Madrugada”. E gosto muito de “Amor meu” – se bem que essa faixa me pegou menos pela, hum, sonoridade, do que pelo seu vídeo…
Se eu puder arriscar uma “teoria” para o segredo do sucesso de Stefhany, eu diria que ele está nesses clipes (são vário no youtube) – todos caseiros, todos incrivelmente toscos, e todos geniais! Começando por “Amor meu”: o que é aquela coreografia que ela faz com suas amigas no meio de uma rua de paralelepípedos (em Inhuma, será? – uma pintura na parede de uma das casas ao fundo traz a enigmática expressão “qualquer lugar”…). Três meninas, num inexplicável figurino que mistura um smoking com um pano branco na cabeça, desencontram-se harmoniosamente num cenário que parece um salão de festas de um prédio – imagens que se revezam com as da própria Stefhany desabafando no ouvido de um “namorado” -, em “Jurei jamais amar”. Logo no inicio de “O que passou passou” (que me lembra, bem de longe, um sucesso antigo, “The only way is up”, de uma mulher chamada Yazz), depois de um balé ainda mais sem sincronia – e não menos adorável -, enquanto as meninas “descansam”, Stefhany vem descendo de uma rampa numa quadra de esporte para fazer uma reinvenção “muito louca” de um maracatu… e cantar! Mas, “super-produções” à parte, talvez os vídeos da cantora que mais me fascinam são os gravados no estilo “paredão”, com ela simplesmente cantando na frente de uma parede branca – seja num traje de gala, como em “Madrugada”, ou numa versão mais para “rainha da bateria na Sapucaí”, em “Diga o que quer de mim”.
Todos esses – e, muito mais – você encontra sem dificuldade na internet. E, qualquer dúvida, é só ir ao site oficial da artista, onde você ainda pode descobrir que Stephany “debutou para o mundo da música ao ser dispensada pelo cantor Tonivan dos Teclados, com quem fazia dupla”.
Parece que, recentemente, entramos finalmente na era de aquário. Mas a verdade é que estamos vivendo sob o signo de Stefhany – e qualquer resistência será inútil! Até quando? Difícil dizer… Você vê: o Oasis está aí feliz da vida comemorando 15 anos de sucesso. E Stefhany, mais feliz ainda, celebrando o que, por enquanto, é pouco mais de 15 minutos de fama… Que eles sejam – com o perdão do poeta – “eternos enquanto durem”. E que venha mais! Mais “Stefhanys”, mais Oasis. Pois o grande circo do pop segue em frente – e viva o respeitável público que sempre aplaude…