Eu (coração) listas

seg, 29/12/08
por Zeca Camargo |
categoria Todas

amadoou_mariam_novo1.jpgE o disco mais bem avaliado de 2008 é… “Welcome to Mali”, de Amadou & Mariam! Você pode achar até que isso é uma propaganda subjetiva, já que a série de reportagens que fiz nessa outra volta ao mundo estréia domingo que vem, no “Fantástico” – e que já começa justamente por esse país africano, o Mali. Mas não… Embora eu queira muito que você acompanhe essa “aventura” (que vai ter – aliás, que já está tendo desdobramentos aqui pelo blog), a notícia do triunfo da dupla de cantores cegos aparece hoje neste blog por outro motivo: é um dos destaques do que estou chamando de “listas das listas” – a compilação de boa parte desses balanços de fim de ano feitas pela imprensa americana. Quem fez este trabalho hercúleo foi um dos meus sites favoritos de todos os tempos: o metacritic.com.

Quer saber a opinião sobre um filme que você viu, um livro ou um álbum? Se ela foi publicada por algum órgão importante – ou mesmo alternativo – da imprensa americana (e às vezes mesmo fora desse universo), você vai encontrar lá, no “metacritic”. Ou melhor, eles te dão um trecho curto de algumas críticas e o link para a íntegra daquela opinião. Mas não pára (uma das últimas vezes em que uso acento para conjugar este verso, será, antes de a reforma ortográfica entrar em vigor?) por aí: a partir dessa resenha, eles atribuem uma pontuação para o que está sendo avaliado; abaixo de 40, leva “nota vermelha”, ou seja, o produto é péssimo; de 41 a 60, “nota amarela”… médio; acima de 61, tudo “verde”. Só para dar um exemplo, veja como foram recebidos os lançamentos recentes do cinema nos Estados Unidos: “Revolutionary road”, do diretor de Sam Mendes, ganhou 70 pontos; “Operação Valquíria”, com Tom Cruise, ganhou só cinco pontos a mais que a adaptação de “Marley & eu”, que cravou 53; e a versão para as telas de “The Spirit”, para a minha tristeza, emplacou meros 31 pontos.

Usando essa mesma metodologia, então, o site fez seu balanço geral de fim de ano – e “Welcome to Mali” recebeu estonteantes 92 pontos! Reforçando, isso não significa que esse tenha sido o melhor disco do ano, mas aquele que recebeu o maior número de críticas positivas. Surpresa? Talvez não para quem conheceu esses artistas há alguns anos, quando foram descobertos na França (que se adiantou até a Damon Albarn, do Blur, no seu resgate dessa que é uma das melhores músicas do mundo). Mas para o grande público, quem é Amadou & Mariam? Será que a pontuação do “metacritic” é representativa?

Olhar o segundo disco mais bem avaliado do ano só aumenta a dúvida: é “London zoo”, de uma entidade (não sei bem se dá para chamar de banda) que atende pelo nome de The Bug. Comprei esse CD no meio do ano, dei uma escutada, e não fiquei muito entusiasmado – será que devo ouvi-lo de novo? O terceiro lugar da lista é uma banda também, hum, alternativa, o Plush (com o álbum “Fed”). Aí, na quarta posição, quando você já está jogando fora sua credencial de alguém bem informado sobre o pop, vem um título conhecido: “Dear science”, do TV on the Radio.

Sim, TV on the Radio – que não é nem das bandas mais “mainstream” (um termo que define, mais ou menos, uma banda que entrou no radar do grande público) do momento. Mas “Dear Science”, de repente, é uma referência conhecida, simplesmente porque acabou sendo incluída na maioria das listas de fim de ano que eu conferi – especialmente aquelas nas quais eu confio… Do “NME”? Está lá, na posição de número 21. Na “Entertainment Weekly”, eles ocupam a décima posição. “New York”? Para essa revista, eles fizeram o segundo melhor álbum do ano… Na lista de Jon Pareles, um dos melhores críticos de música do “The New York Times”, “Dear science” é simplesmente o melhor disco do ano. Bem como para a “Rolling Stone” americana e para a “Spin”.

Minha opinião sobre o último trabalho do TV on the Radio? Bem, a essa altura o que importa? Eu até gosto bem do disco, mas o que vale mesmo – pelo menos para a nossa discussão aqui – é essa curiosa unanimidade, que só é possível perceber quando você coloca todas essas listas de fim de ano juntas. Exatamente o “servicinho” que o metacritic.com faz.

Como qualquer apaixonado por música, eu adoro listas. Mais que isso: como indiquei no título acima, eu (coração) listas – e a substituição do símbolo do coração pela palavra entre parênteses é proposital… Por isso mesmo, essa é uma das minhas épocas favoritas, uma vez que é em dezembro que todas as publicações e blogs interessantes fazem esse exercício bem lúdico – e extremamente narcisista – de compilar uma seleção de “melhores do ano”. Não estranhe o adjetivo “narcisista”. Fazer uma lista dessas requer uma certa empáfia, uma dose de auto-confiança, pitadas de vaidade, e a certeza de que boa parte das pessoas que vai lê-la não vai levá-la tão a sério quanto você…

2008, aliás, foi um ano em que eu testei bem os limites desse jogo – não só na minha segunda lista de bons álbuns do ano que você não ouviu, mas também na ainda mais atrevida relação das mil músicas que me fizeram ouvir a própria música de uma maneira diferente. Mesmo assim, eu não perco o entusiasmo de conferir a opinião dos outros. E não apenas para satisfazer o desejo – nunca confessado por um autor de listas – de saber o quanto ele “acertou”, mas também para ter um painel do que de bom eu “perdi” nesse período.

Assim, olhando rapidamente para essas listas – e neste post vou ficar apenas com as de música (ainda que seja grande a tentação de frisar que uma certa megaprodução de Hollywood com um manjado herói dos quadrinhos não entrou para a seleção de veículos como a própria “New York” ou o “New York Times” – pelo menos na escolha de A.O. Scott e de Stephen Holden) – enfim, olhando para essas listas, mal consigo disfarçar minha satisfação de ver, por exemplo, que minha aposta em El Guincho foi endossada por James Reed, do jornal “Boston Globe” e pela “Spin”. Assim como Lightspeed Champion ganhou um honroso número 21 no “NME”. Ou ainda, que Department of Eagles figurou na seleção do “papa” Jon Pareles, do “New York Times”. E foi bom também ver meu palpite antigo, do início de 2008, ganhar aplausos de um time que vai da “Rolling Stone” ao “NME”: Vampire Weekend!

Ao mesmo tempo, não é difícil fazer um apanhado do que a maioria gostou. Entre as unanimidades – ou algo próximo disso – está, por exemplo, o MGMT (esnobado aqui no Brasil quando estiveram aqui no Tim Festival…) – uma banda que eu gostei muito quando ouvi da primeira vez, mas que não me tirou o fôlego. M.I.A., claro, com seu “Paper planes”. Ou ainda, Santogold – uma artista que eu tenho de reconhecer que merecia uma atenção maior aqui mesmo neste blog (mas que foi esquecida por mim mesmo pela, digamos, “corrente dos acontecimentos”…). “Third”, o genial terceiro álbum do Portishead – a banda inglesa que não dava sinal de vida há anos – também é um consenso entre críticos de vários jornais, revistas e sites, e eu faço mais um “mea culpa” por não ter me dedicado a esses padrinhos do “trip hop” (para usar um rótulo que eles detestam).

Aqui e ali aparecem figuras carimbadas – um Coldplay, ou um Kings of Leon. Nas listas mais longas – com mais de trinta álbuns, ou até mesmo 50, como a do “NME” – algumas inserções que não chegam a surpreender, mas que indicam, pela sua repetição, uma vontade de “empurrar” a carreira de uma banda que é apenas média, mas que talvez mereça uma chance. Como Elbow (posição 28 no “NME”), ou Fleet Foxes (top 10 de várias), ou a novata da vez Lykke Li (36, na “Spin”).

E tem ainda aquela mistura de veteranos que acabam entrando nessas listas como uma concessão elegante. Caso, por exemplo de Beck (que, de fato, fez o melhor disco de sua carrreira desde “Odelay”), e de Erykah Badu, com seu quase perfeito “New Amerykah”.

Mas o bom mesmo, como já sugeri acima, é ser surpreendido por alguma escolha. Não exatamente da maneira como Sasha Free-Jones  fez na sua seleção – que coloca Jessica Simpson ao lado de nomes totalmente obscuros que eu mesmo tive dificuldade para achar na internet… Mas eu gosto mesmo é de ser pego de surpresa por algum nome que apareceu em mais de uma lista, mas que nem passou pelo meu radar. Como esse tal de Bon Iver.

Quem é esse cara que parece estar pegando a rabeira da onda “folk” (ele soa como um genérico de Devendra Banhart) e encantando a todos os críticos? Não faço a menor idéia, mesmo depois de ter procurado alguma coisa dele na internet. Ou o “No Age”, que tem uma capa tão genérica que eu me lembro de ter visto esse CD várias vezes e achado que era apenas uma compilação… E sobretudo, quem é Heartbreak, que está na posição de número 5o no “NME”, mas fazendo barulho como se estivesse na primera?

É por descobertas assim que eu (coração) listas. E é com elas (as listas e suas descobertas) que eu vou passar este fim de ano. É por causa delas – e aí não só as de música, mas também de cinema e livros e exposições e peças e tudo – que eu não vou comparecer aqui com um post na quinta-feira – vou pegar a semana para digerir tudo. E são nelas, nas listas, que eu sugiro que você mergulhe também para me contar aqui – quem sabe, num comentário – o que você encontrou de mais estranho (ou até de mais previsível). Quem sabe até você manda sua própria lista alternativa para surpreender a mim e aos outros tantos que passam por este blog? Tipo… “Cinco títulos de canções que não combinam com o nome da banda”? Ou “Dez bandas de 2008 que cujo vocalista deveria ser do sexo oposto”? Sei lá, invente – ano novo não é para isso?

Por aqui, só posso desejar um bom descanso nesses dias para você – e uma 2009 renovado e cheio de inspirações. Eu sigo fazendo minha parte – e continuamos a conversa dia 05 de janeiro, pode ser? Até lá!

Natal

qui, 25/12/08
por Zeca Camargo |
categoria Todas

Coisas do calendário… Inevitavelmente, um dia de post (para mim – segundas e quintas) mais cedo ou mais tarde cairia no Natal. Confesso que fiquei meio dividido entre escrever alguma coisa hoje ou não. Afinal, é mais fácil cair na armadilha do clichê neste 25 de dezembro do que ao tentar escrever sobre Veneza. Deixei na mão do acaso, como sempre, e eis que, apenas alguns dias atrás, encontrei algo que realmente me inspirou – e que espero que inspire você. Algo que tem a ver com o Natal e tudo a ver com tantas coisas que nós discutimos por aqui – aliás, tem a ver até com aquilo que o Natan Mendes Junior desejou a mim (no seu comentário sobre o post anterior), mas que tenho certeza é o que todos merecem: um Natal instigante.

fraughttimezeca.jpgAssim, para não passar em branco (sem trocadilhos, por favor, como diria meu “colega” Agamenon), aqui vai uma imagem para o nosso Natal – que descobri numa das listas das melhores manifestações artísticas da revista “Artforum” de 2008. Sem muitas explicações – basta o nome do trabalho, que é do argelino Philippe Parreno, e foi exposto na galeria Pilar Corrias, em Londres. Chama-se “Fraught times: for eleven months of the year it’s an artwork and in december it’s Christmas” – ou, em português, na minha tradução sempre apressada, “Tempos abastados: por onze meses do ano é um trabalho de arte e em dezembro é Natal”.

E o que mais? Bem, na segunda ainda temos uma “despedida” do ano, mas por enquanto, fique com essa imagem e tenha um dia feliz.

O melhor filme do ano

seg, 22/12/08
por Zeca Camargo |
categoria Todas

É uma questão simples de matemática: você escreve duas colunas, vai ser recompensado em dobro. Foi assim na semana passada. A primeira recompensa, admito, eu já até esperava: a resposta dos fãs – e não fãs – de Madonna que assistiram – e não assistiram – a algum show de sua recente passagem pelo Brasil. Essa foi minha proposta no último post deste blog antes de sair de folga por uma semana – e perder assim a chance de rever a cantora mais uma vez no meu país… Para contornar essa “ausência”, pedi para você, que teve a chance de ver o show (ou que ouviu algum relato sobre o show), que me mandasse algum registro desse evento – e várias pessoas mandaram. Não foi a mesma coisa que estar lá, mas já agradeço a participação que, entre outras coisas (como alimentar um diálogo entre os próprios fãs de Madonna que passaram por aqui), me ajudou a ter uma idéia do que foi essa experiência. Bravo!

A segunda recompensa… bem, essa foi um tanto inesperada, ainda que ligeiramente previsível. Como em todo final de ano, o G1 pediu para eu escolher alguns filmes que marcaram os últimos 12 meses (pediram para eu fazer a mesma coisa com momentos musicais, mas essa minha folga acabou interferindo e “falhei” neste ano – se bem que sempre tem a minha lista dos melhores discos do ano que você não ouviu). Fiz a seleção com o mesmo espírito lúdico e informativo que sempre impera neste blog, e obtive respostas para lá de histéricas. Respostas essas, como escrevi antes, um pouco previsíveis, já que eu havia cometido (propositalmente) o “crime” de escolher, como o mico cinematográfico do ano, os fãs de “O cavaleiro das trevas”. Mas que mesmo assim me surpreenderam – de uma maneira até bem-humorada.

O que já era previsível era a enxurrada de chiliques daqueles que, como já haviam se manifestado antes – quando escrevi pela primeira vez sobre o filme – não admitem que alguém não tenha apreciado uma “obra de arte” de “tamanha importância” como “Cavaleiro” na sua totalidade (só lembrando, eu gostei do filme, mas encontrei – o horror! – pequenos problemas no seu roteiro). O que me surpreendeu, no entanto, foi um outro tipo de reação: boa parte desses adoradores de Batman que me escreveram ficaram horrorizados – horrorizados! horrorizados! – por eu ter escolhido para o topo da minha lista de melhores produções do ano um filme que eu ainda não havia assistido. Foi aí que eu comecei a me divertir – e de mais de uma maneira.

Tinha de tudo. Desde de gente que nem se deu ao trabalho de saber a que filme eu estava me referindo a um outro grupo (bem maior) dos que  não percebiam que, ao brincar com essa idéia – apostar em um filme antes mesmo de tê-lo visto -, eu estava exatamente reproduzindo o comportamento desses fãs de “Cavaleiro” que semanas – ou mesmo meses – antes de a produção estrear já hiperventilavam a cada menção de Batman, ou a cada vez que assistiam a um dos trailers no YouTube. Isso foi realmente divertido: ver esses “acadêmicos” do cinema indignados com uma atitude que eles mesmos nem se dão conta de que já viveram…

Teve ainda os mais, hum, “espertos”, que atacaram questionando o meu, hum, “profissionalismo”, ou ainda, hum, minha credencial jornalística, por eu ter escrito enfaticamente sobre algo que não vi – provavelmente desconhecendo (ah, se eles fizessem a lição de casa…) a distinção entre uma reportagem e uma coluna de opinião. Se esse pessoal conseguisse absorver um mínimo de ironia eu lhes perguntaria mais uma vez: por que tão sério?

hunger.jpg

Mas deixemos isso de lado. Prefiro me dedicar à outra parte dos leitores que ficou intrigada de uma maneira positiva quanto à minha escolha de “Hunger”, de Steve McQueen, como o melhor filme do ano – até porque, tendo passado por Londres na última semana, agora eu já tive a oportunidade de assistir ao filme, e confirmar que, na minha opinião, este é mesmo o trabalho que mais mexeu comigo no que se refere a essa arte que é o cinema.

“Hunger” deu ao seu diretor – até então mais conhecido no circuito das artes plásticas (ganhou até o prestigioso Turner Prize em 1999) – o prêmio Caméra D’Or, no festival de Cannes deste ano. Digo isso menos para justificar minha escolha do que para explicar que esse filme deve demorar para estrear no Brasil: como esse não é o grande prêmio, seu ganhador tem menos chances ainda de passar numa sala nacional – ainda que no circuito de arte (alguém viu “Meduzot”, vencedor do ano passado?). Suas chances comerciais são realmente pequenas – mesmo em outras partes do mundo (na semana passada, estava passando em apenas uma sala no West End londrino – o centro do entretenimento da capital inglesa). Mesmo assim, se você gosta de cinema, fique de olho: tente vê-lo numa mostra especial, ou espere pelo DVD. Porque você não vai se deparar com algo tão forte nas telas como esse trabalho de Steve McQueen.

O argumento de “Hunger”, baseado em uma história real, pode ser definido em uma frase: o cotidiano da prisão de Maze, na Irlanda do Norte,  no início dos anos 80, onde os prisioneiros políticos (que têm seu status como tal não reconhecido) são humilhados de tal forma que provoca um movimento de greve de fome liderada por um membro do IRA conhecido por Bobby Sands – com conseqüências drásticas (e dramáticas). Você já deve ter visto coisas piores – pelo menos na idéia. Mas a maneira como McQueen filma essa prisão faz toda a diferença: é pelo olhar do diretor (que, desde as primeiras cenas em que um agente penitenciário se prepara para sair de casa para o trabalho, é “de artista” sem ser artístico demais) que você fica totalmente absorvido nessa história de horror.

O filme tem duas partes bem distintas. A primeira acompanha um jovem (interpretado por Liam McMahon) chegando à prisão, que vai dividir a cela com outro “criminoso político” que está lá há mais tempo e vai cumprir uma pena maior. Para passar o tempo na cela que só tem dois colchões de espuma e dois cobertores (os presos têm de andar nus), esse seu companheiro de cela decora as paredes com suas fezes. E, quando há comida podre o suficiente para ser transformada numa massa fedida capaz de ser moldada numa espécie de canaleta na porta da cela, ele – comunicando-se com os outros presos – encharca o corredor da sua ala de urina.

Assim os dias vão passando nessa prisão, com a rotina ligeiramente quebrada no dia do banho – que, apesar de não ficar claro, parece ser semestral… Quer dizer, se é que se pode chamar aquele ritual animalesco de banho: os presos fazendo o possível para humilhar os guardas – com socos, mordidas e cusparadas – e os guardas fazendo o possível para humilhar os presos – só que com, digamos, “instrumentos” mais eficazes.

Aí acontece um crime hediondo (fora da prisão) e a platéia assiste a um diálogo de 17 minutos, com a câmera parada quase durante todo o tempo em que Bobby Sands (vivido de maneira impressionante por Michael Fassbender) conta para um padre porque está decidido a começar uma greve de fome para valer. E então ele pára de comer – e tudo que você viu antes, e que considerou repugnante, passa a ser fichinha…

Difícil descrever como eu saí do cinema. Aliás, é difícil descrever como eu me sinto cada vez que me lembro de “Hunger”, como agora – que estou escrevendo sobre ele. O impacto desse filme é difícil de traduzir – me lembro de sentir alguma coisa parecida (ainda que com outro referencial) quando assisti “Ônibus 174″, de José Padilha, ou ainda (por outras razões) “Dançando no escuro”, de Lars von Trier. Mas eu sei que não é uma sensação muito agradável – e é isso, esse incômodo que ele é capaz de provocar, que faz desse filme uma obra de arte. E o melhor filme que vi este ano – conforme havia previsto.

Contudo…

Contudo sei que estamos a poucos dias do Natal, e mesmo com toda a força que “Hunger” inspira em mim – e, potencialmente, em cada um que se depara com ele – não é exatamente um filme que eu queira recomendar para a temporada festiva. Quinta-feira que vem, não vou exatamente oferecer um post, mas um presente de Natal para marcar a data (dia 25!). Por isso, até voltarmos a nos encontrar na segunda-feira que vem, queria sugerir um outro filme para preencher a melancolia que muitas vezes vem junto com as festas. É um filme que muita gente acha meio bobo, mas que eu adoro, e que sempre gosto de rever nessa época do ano. Não, não é o clássico “A felicidade não se compra”, para ficar nas escolhas mais fáceis – nem “Fanny & Alexander” para citar uma escolha mais pretensiosa, mas que inegavelmente oferece uma das ceias de Natal mais lindas que o cinema já produziu.

simplesmente-amor.jpgQueria sugerir que você assistisse mais uma vez – se é que você ainda não viu – a “Simplesmente amor”. Todo mundo que eu conheço – mesmo os que não gostaram do filme como um todo – tem uma cena favorita dessa produção (aposto que você também tem uma – e se quiser dividir com a gente aqui será um prazer). A minha é tão simples, que nem faz parte do roteiro. Na verdade, ela só acontece quando o filme acaba e os créditos estão chegando: é uma colagem de imagens de pessoas recebendo as outras no saguão de chegada de um aeroporto. Uma bobagem – como você tem todo direito de achar. Mas algo que me emociona toda vez que eu vejo.

Talvez porque seja um pequeno lembrete de que, no mesmo mundo onde as pessoas destroem as vidas dos outros como em “Hunger”, é possível acreditar que milhões de outras vidas são capazes de recomeçar com um simples abraço.

Bom Natal – e não deixe de passar aqui na quinta!

Então, conta

seg, 15/12/08
por Zeca Camargo |
categoria Todas

madonnazeca.jpg

Como já lamentei aqui naquela malfadada tentativa de um post com textos mais curtos, não vou assistir a nenhum show de Madonna no Brasil. Sim, é triste… Explicando rapidamente, programei uma viagem de fim de ano há meses – antes mesmo de a cantora confirmar sua passagem pelo Brasil. Aí, quando ela finalmente anunciou as datas, não me toquei. Poderia até ter mudado o meu bilhete – e todas as reservas. Mas não me toquei mesmo. Só percebi o “problema” quando vi que sua estréia seria num domingo – a noite da semana em que eu mais trabalho… Ou seja, apesar de estar na mesma cidade que ela, não ia poder assistir… Daí, comecei a calcular as outras datas e… quando vi, nem nos outros dias ia dar! Fazer o quê?

Em 2004 eu já havia passado por uma situação semelhante quando, no finalzinho de uma, digamos, longa viagem, eu tive a chance de ver Madonna cantar em Lisboa e… não fui. Como descrevo na abertura do livro “A fantástica volta ao mundo”, estava em outra – outra freqüência. E “desencanei” do show – até num clima bem zen…

Agora, de novo, vou “desencontrar” de Madonna – mas já dei um toque nela, e ela falou que tudo bem (quem dera…). Não me arrependo (muito) porque vou fazer uma viagem que estou bem a fim – estou de folga (até do vídeo), e só volto na semana que vem. Mas não vou esconder que estou curioso para saber o que vai rolar na passagem da maior estrela do mundo pop pelo Brasil. Assim, quero propor mais uma coisa para você – que felizmente sempre se mostra disposto ou disposta a novas experiências…

É o seguinte: por que você não me conta como foi o show? Isso mesmo! Tenho certeza de que alguns de vocês que passam sempre por este espaço foi também… então me conta você: como foi? Dá alguns detalhes, manda a sua opinião. Não deu para ir? Aposto que você conhece alguém que foi. Ou alguém que conhece alguém que foi. Ou alguém que conhece alguém que conhece alguém que mentiu que foi… E é isso que eu queria saber – e mais: eu queria juntar aqui o maior número de opiniões possíveis, não apenas sobre um, mas todos os shows de Madonna no Brasil! Quem sabe a gente não consegue fazer a maior crítica coletiva que uma artista já ganhou na internet?

Ah, e mande também fotos do show – que você tirou, ou que alguém tirou e mandou para você. Ou que alguém mandou pra alguém e mandou para você. Entendeu né? Já publicamos esta, lá em cima. As outras, dependem de você – assim como os comentários que, claro, eu vou ler direto durante a viagem.

Conta aí, como foi Madonna no Brasil. E na volta, conto eu! Até segunda que vem!

Música normal

qui, 11/12/08
por Zeca Camargo |
categoria Todas

A lista dos melhores discos que você não ouviu em 2008 foi de fato uma via de duas mãos – por isso, tenho de começar agradecendo as várias indicações de músicas que eu nem sonhava que existiam. Claro que algumas sugestões eu já conhecia – como o Fleet Foxes (obrigado, César), ou o retorno de Grace Jones (lembrado pelo Ricardo), ou Sia (“gracias”, Gustavo), ou mesmo “Third” de Portishead (quase entrou, Igor). Elas até estavam na primeira versão da lista – que tinha 26 álbuns –, mas fui cortando… Outras sugestões, porém, eram genuínas novidades para mim: 99 Macacos, Conexion of Monkeys (coincidência?), Gavin Castledon, Viva Voce, Dev Haynes… Ainda não deu tempo de ouvir todas – sequer uma boa parte delas – mas mesmo assim, estou louco para ser surpreendido. De “Charque side of the moon” à banda de “ex-palhaços” romenos (!) que usa (sic) “consolos de borracha como percussão”, o Gay TV Host (indicação da já bizarra lista do John Merrick), fico só imaginando as possibilidades sonoras… E, pelo que vi nos comentários, não sou a exceção. Talvez você ainda esteja experimentando uma certa dificuldade para baixar Lily & Maria… Mas de resto, acho que boa parte dos que passaram por aqui ficou no mínimo curiosa para saber que tipo de sons eram aqueles. Em compensação, uma pequena parte – ah… a pequena parte…

Tanto tempo depois, eu mesmo me surpreendo com a dificuldade que algumas pessoas têm de entender uma frase simples. Foram várias reações negativas à lista – as mais divertidas delas, claro, daquelas pessoas que se armaram para desbancá-la sem sequer ter ouvido uma das indicações. Não faltaram ainda os “corajosos” de plantão que criam e-mails de mentira só para mandar mensagens escatológicas – ah, a adolescência… – simplesmente porque a banda que eles mais gostam de ouvir quando estão no quarto planejando a sua vingança contra o mundo não foi citada… (estes, obviamente não foram aprovados em respeito à imensa maioria que preza uma conversa educada neste espaço – mesmo que discorde das minhas opiniões).

O que mais me encantou, porém, foram os que reclamaram que a lista só tinha bandas que elas não conheciam – não com a embutida gratidão do curioso (caso de muitos, felizmente) que quer conhecer mais, mas com o desdém de quem não tem sequer a inquietação de explorar algo novo. Ora, se uma lista leva o título de “Os 15 (+1) melhores discos que você NÃO ouviu em 2008”, hum, será que não está claro que estou te convidando a descobrir algo que não conheces? Então, por que o protesto? Desse grupo, que reúne comentários com diferentes níveis de indignação (dos simplesmente perplexos aos inexplicavelmente ofendidos), destaco o comentário de William Lima que, apesar de gostar do blog, pergunta: “esse cara naum escuta música normal naum?”.

Bom, aqui a resposta: claro que escuto música normal. Aliás, teria sido imensamente mais fácil fazer uma lista de fim de ano com Coldplay, Elbow, The Killers, TV on the Radio, Black Kids, Lykke Li (mas não com Guns N’ Roses) – e ainda jogar uns dois ou três discos de artistas brasileiros para satisfazer as patrulhas… Ocorre que este que cá escreve gosta de coisas que dão trabalho – ou se preferir numa expressão um pouco mais pretensiosa, eu gosto de coisas mais desafiadoras. Algo que – se ainda não ficou claro –, não seja muito normal.

Que delícia imaginar que, ao ler a frase acima, os “modernos” de plantão já estão a essa altura mandando mais comentários para me acusar de querer ser justamente o que eles acham que são… (eles sabem o que é…). Bem-vindos! Tudo que eu posso fazer é sugerir, mais uma vez, que você conheça um pouco mais as coisas que escrevi neste mais de dois anos antes de sequer tentar conter sua necessidade de se mostrar tão descolado desbancando este blog…

Ou não: continue gostando das mesmas coisas sempre – e criticando quem se arrisca a pensar diferente. O mundo está cheio de coisas para você – especialmente o mundo da cultura. Como cantava a Banda Vexame, siga seu rumo. Você quer normal? É só ligar o rádio, a TV, abrir outra janela aqui na internet – ou mesmo a janela da sua casa – e aproveitar. Mas certamente Lily & Maria não é para você. Nem Women. Nem “O que é o quê”. Nem “Leonera” (em breve, na minha lista de filmes do ano, aqui mesmo no G1). Nem “Capitu”.

casmurro1.jpg

Sim, porque o post de hoje é sobre a grande estréia da TV nesta semana, baseada no livro “Dom Casmurro”, que é talvez a obra maior de Machado de Assis – lembrado em 2008 pelos 100 anos da sua morte. Por que eu demorei tanto para introduzir o assunto de hoje? Bem, quem sabe assim eu tenha conseguido dar uma filtrada em quem passa por aqui, despistando aqueles geralmente sem paciência para ler tudo – o mesmo tipo de leitor que não pensaria duas vezes antes de mandar seu comentário me acusando de ser obrigado a escrever sobre essa minissérie simplesmente porque trabalho na mesma emissora que o produziu (esse tipo que adora uma teoria conspiratória e para quem eu pergunto: tem uma boa – e nova – sobre 11 de setembro?). Fiz de propósito mesmo: não queria que quem chegasse até aqui lesse o que tenho a dizer sobre “Capitu” com o viés de quem acha que eu não posso ter uma opinião independente, ser também um mero espectador aberto (como a grande maioria dos que passam por aqui), capaz de gostar – ou não – de qualquer produto cultural a que está exposto. Enfim, se você acha que Machado de Assis é uma ferramenta que vem do interior de São Paulo, dê um novo google e procure algo mais “interessante”, pois agora vou falar de “Capitu” – algo que certamente não é, para emprestar mais uma vez o comentário do William Lima, algo que possa ser chamado de “música normal”. Pois mesmo tendo visto apenas os dois primeiros capítulos – tudo que já foi ao ar até este momento em que escrevo – estou absolutamente encantado com o que vi. E por várias razões.

A primeira, claro, pelo respeito à obra original. Quando logo no início, depois de uma abertura desorientadora de tão nova, quando Dom Casmurro começa a contar sua história – ou ainda, a história de como ganhou esse apelido – a partir de um encontro com alguém que conhecia “de vista e de chapéu”, percebei que a adaptação seria fiel. E como poderia ser diferente? Ao escolher esse livro para uma adaptação, por mais ousada que ela fosse (e ela é), quem teria a coragem de se arriscar na heresia de “reescrever” algumas das páginas mais lindas da nossa literatura? Passei então a ouvir – e em certos momentos, a ler também, já que parte do texto aparece manuscrito diluído entre as imagens – os diálogos e a narrativa da minissérie com o alívio de quem sabe que seus heróis estão sendo respeitados. E assim, pude aproveitar sem barreiras as outras delícias que “Capitu” tem a mostrar.

Como a linguagem gráfica, inspirada em cartazes de rua sobrepostos e empastelados. Ou ainda, para ficar ainda no impacto visual da minissérie, posso falar da confusão proposital entre imagens antigas e contemporâneas – ainda mais provocadora porque não há nenhuma tentativa de “modernizar” a história (talvez apenas a de apagar qualquer referência que o leitor/telespectador tenha da história tão conhecida, para assisti-la “do zero”, aceitar envolver-se mais uma vez com Capitu e Bentinho – e, claro, Escobar, que ainda não apareceu na história – , como se fossem personagens que estivesse conhecendo agora).

Nem só de imagens, porém, vive uma boa minissérie – você, tenho certeza, sabe citar alguns “contra-exemplos” de cabeça… “Capitu”, no entanto, é privilegiada ainda com interpretações precisas e que vão de encontro justamente a essa possível tentativa do diretor, Luiz Fernando Carvalho, de reapresentar cada um desses personagens. Bentinho (vivido pelo ator César Cardadeiro) vem com um tom ligeiramente mais infantil do que os quinze anos do personagem sugere – o que causa uma curiosa turbulência. Dom Casmurro – Bentinho mais velho – nos chega com pesada carga teatral (e exuberante) de Michel Melamed – e nos cativa exatamente pela nuance de caricatura e realidade que propõe. Capitu adolescente (Letícia Persiles) tem os próprios olhos de ressaca da personagem, e mais: uma alegria natural de viver esta menina que, mesmo aos 14 anos, era, como diria o próprio Casmurro, “mais mulher do que eu era homem”. Há ainda o “agregado” da casa de Bentinho, José Dias (Antônio Karnewale, perfeito), tio Cosme e prima Justina (Sandro Christopher e Rita Elmôr, respectivamente, também impecáveis) e todo um elenco que parece que se preparou a vida inteira para representar essa adaptação.

Nomes desconhecidos – aposto que você já pensou… Nesses dois primeiros capítulos, o único rosto familiar é o da excelente Eliane Giardini, que faz a mãe de Bentinho, Dona Glória (Maria Fernanda Cândido, que faz Capitu adulta – e adúltera? – ainda não apareceu na minissérie). Essa estranheza, porém, só conta a favor do projeto. É para limpar todas as referências? Então aí está um conjunto de atores que te conecta imediatamente com aquele fantástico leque de personagens.

Falo rapidamente da edição? Claro, pois os cortes de Luiz Fernando Carvalho continuam ousados. Se, em trabalhos anteriores, isso chegou a ser um obstáculo para a conexão com o telespectador, desta vez, em “Capitu”, a montagem de imagens e textos acha um bom equilíbrio entre experimentação e compreensão. Tanto que, à medida que assistimos cada capítulo, começamos a desejar novas estranhezas nessa narrativa – quase a ponto de nos incomodarmos quando ela volta a ser normal… Como a música.

Não a da trilha sonora de “Capitu” – que sonoriza as cenas de Dona Glória se vestindo com “God save the queen”, do Sex Pistols, e dá-se ao luxo de colocar praticamente uma faixa inteira de Beirut (uma banda que você talvez tenha descoberto na lista dos melhores discos que você não ouviu em 2007) logo nos primeiros minutos dos primeiros capítulos. Não, a música da minissérie não é normal – assim como não é normal nada que vi nesses dois primeiros capítulos, que tanto gostei. Eu diria até que gostei tanto porque não vi neles nada de normal.

Porque de normal a gente já está cheio. Eu pelo menos estou. E quem está comigo… 2009 nos espera!

casmurro2.jpg

Os 15 (+ 1) melhores discos que você não ouviu em 2008

seg, 08/12/08
por Zeca Camargo |
categoria Todas

Natal, tempo de tradição… Mas antes que você ache que este é mais um anúncio de panetone, já explico que me refiro a uma tradição bem mais recente do que a desse confeito que consumimos nesta época do ano como se nos fosse proibido degustá-lo, sei lá, em março! Falo de uma tradição mais recente – tão recente que nem sei se posso chamar de tradição. Na verdade, começou no ano passado – algo que eu gostei tanto de fazer (e gostei tanto de ver a resposta das pessoas à proposta) que este ano fiquei me preparando o tempo todo para este momento: a seleção dos melhores disco que você não ouviu em 2008.

Os títulos, claro, são outros, mas as regras são as mesmas. A primeira – que você que me acompanhou na minha lista das mil músicas que me fizeram ouvir música de um jeito diferente  conhece bem – é que essa é uma seleção idiossincrática. Isto é, ela agrada, sobretudo a mim… (aliás, que lista não é assim?). Não tem a pretensão de destacar “grandes discos do ano” – coisa que crítico de música adora… – nem ser uma lista estritamente alternativa, com “o melhor da música independente”. Como no ano passado, ela simplesmente retrata coisas interessantíssimas que eu acabei ouvindo e que, possivelmente, passaram longe da atenção geral.

Nem todos os discos citados aqui foram lançados em 2008 – nem tampouco refletem uma produção recente (duas coletâneas, por exemplo, são de músicas dos anos 60 – e tem uma dos anos 30!). E, é bom reforçar, ela propositalmente deixa de fora discos excelentes deste ano, ou porque eles já foram devidamente exaltados pela mídia (e mesmo neste blog, como o novo CD de Marcelo D2), ou simplesmente porque eles já vão estar nas listas de outras pessoas/críticos (tipo TV on the Radio, com “Dear science” e – tomara – The Killers, com “Day & age”). Ah! E a ordem dos títulos abaixo não é hierárquica.

Quem lembra da lista do ano passado vai reparar ainda que esta está um pouco maior. Será que ouvi mais discos em 2008 do que em 2007? Se já estava preocupado com isso em abril, imagine agora… Assim, para “espremer” tudo aqui, criei uma categoria, digamos, “plus” – a de melhor disco do ano que você não ouviu – e cresci a relação para incluir outros 15 títulos. Tenho certeza de que você não vai se incomodar…

Enfim, melhor do que explicar, é mostrar – e quem sabe inspirar você a descobrir coisas novas. Sem falar que a “proposta” é, como tudo aqui, de duas mãos: você tem uma sugestão para dividir com quem passar por aqui? Fique à vontade. Como diria o Manic Street Preachers (perdão por não traduzir…), “this is my truth, tell me yours”!

Melhor disco de 2008 que você não ouviu

guincho.jpgEl Guincho, “Alegranza!” – não apenas uma preciosidade não descoberta pelas massas, mas simplesmente o melhor disco que eu ouvi este ano (e possivelmente deste século!). Todas – todas! – as faixas são admiráveis: texturas profundas, camadas e mais camadas sonoras, referências musicais imprevisíveis, detalhes escondidos… e ainda por cima dá pra dançar! Desafio você a decupar cada elemento de, por exemplo, “Fata Morgana” – aliás, de qualquer uma das músicas de “Alegranza!”. Tenho enorme antipatia pela expressão “alquimia musical”, mas simplesmente não consigo imaginar outra maneira de descrever o que esse cara faz. Aliás, esse cara é o espanhol Pablo Díaz-Reixa, um dos músicos mais ensandecidos que conheci nos últimos tempos. “Palmitos Park” entrou no topo da minha lista das mil músicas – mas foi quase por sorteio, porque eu não conseguia escolher uma faixa só para representar o disco. No momento estou ouvindo “Cuando maavilla fui” a cada três/quatro horas por dia. Mas isso já aconteceu com “Kalise”, “Costa Paraíso”, “Buenos matrimonios ahí fuera”… Eu quero El Guincho num loop constante no meu iPod. Mais que isso… Eu quero viver – e morrer – no país onde El Guincho canta!

Os outros 15 melhores

lavenderbridge300.jpgLightspeed Champion, “Falling off the lavender bridge” – há muito tempo, numa galáxia muito muito distante, as músicas (especialmente as canções pop) eram feitas em cima de uma melodia. A prática, como qualquer pessoa que ouve uma hora de FM hoje pode constatar, foi abandonada há muito tempo no longínquo planeta chamado Terra – mas não por completo. Forças rebeldes eventualmente se manifestam com incríveis composições que não apenas ressuscitam o conceito de melodia como ainda são boas! Como o Lightspeed Champion – a mais recente encarnação de Devonte Haynes (que era do Test Icicles). Seu álbum é um elogio ao artesanato da canção, de tal ousadia nas surrada fórmula “verso/coro/verso” e nas letras, que qualquer mané que rima saudade com felicidade sob um acorde chinfrim deveria ser condenado a ouvir o disco todo até desistir de compor. Haynes fez um daqueles discos tão originais que parece que cada faixa parece ser de um artista diferente. Mas todos esses artistas estão, claro, na sua cabeça. Em tempo, se você, como eu não conseguir segurar o choro em “Galaxy of the lost”, experimente ler a letra: “enquanto beijamos/ vomito na sua boca/e eu sei que você quer mais”. A decadência nunca foi tão doce.

gabo.jpgGabo, “Canciones que um hombre no debería cantar” – este disco é de 2005, mas me foi recomendado este ano por um cara na Boutique del Libro, em Palermo Viejo, Buenos Aires. Impossível não aceitar o convite para ouvir um álbum com esse nome… mas as surpresas desse primeiro trabalho solo de Gabriel “Gabo” Ferro (que era vocalista na banda de “hardcore” argentino chamada Porco – as coisas que a gente aprende na wikipédia…) vão muito além do título. Todo acústico e de uma beleza arrebatadora, as músicas de Gabo são capazes das mais variadas proezas: de fazer você levitar (em “ Felicidad vitamina”) a colocar você para improvisar um flamenco numa surreal canção sobre o caso que um pai tinha com seu melhor amigo (“El amigo de mi padre”). Nem mesmo a gaita de “El amor no se hace” foi capaz de me tirar do sério – pelo contrário: duvido que o refrão dessa música saia da sua cabeça mesmo depois de tê-la ouvido apenas uma vez. Já estou atrás de seus outros três discos, inclusive o mais recente, “Amar, temer, partir”.

hercules.jpgHercules and Love Affair, “Hercules and Love Affair” – tirei esse disco da prateleira dos altamente recomendados pela minha loja favorita no planeta, Other Music (Nova York). Eu ainda não tinha lido nada sobre eles e nada indicava que o álbum contava com uma participação substancial de Antony Hegarty (do Antony and the Johnsons) – o que já tornou a boa surpresa de ouvir o CD ainda mais prazerosa. Ele aparece em mais de uma faixa – e ouvi-lo é sempre tão bom que você quase não percebe que a melhor coisa de Hercules é a maneira como eles reinventaram a “disco”. Não tipo Scissor Sisters, que ironiza brilhantemente os clichês do gênero, nem como Junior Senior, que simplesmente faz uma colagem pós-moderna e dançante. Não, Hercules – na verdade, um projeto mutante do DJ Andy Butler – parece ter jogado todos os conceitos tradicionais da “dance music” fora e começado do zero. O resultado é uma trilha divertida, mas elaborada. Nada como alguém que respeita sua inteligência mesmo na pista de dança. Fora o “single”, “Blind”, que você deve ter dançado este ano sem saber do que se tratava (ainda existem DJs bons!), também são recomendadíssimas “Free will”, “You belong”, “Easy” e “Raise me up”.

lilymaria.jpgLily & Maria, “Lily & Maria” – daqueles discos que faz você perguntar: “de que planeta vocês são”? Este é um relançamento, em CD, do único LP que essa estranha colaboração entre duas adolescentes nova-iorquinas gerou, em 1968. Quarenta anos depois, elas ainda sobrevivem como uma das coisas mais esquisitas nessa categoria que podemos chamar (apenas por aproximação) de “folk”. Elas só gravaram esse disco e depois desapareceram. Ainda bem, porque tenho até medo de imaginar o que elas estariam fazendo hoje… Ou talvez não – talvez elas estivessem apenas cantando com Björk! Enfim, com um álbum só, elas fizeram uma pequena revolução. Aliás, com uma música só, “Aftermath”, eu já consideraria a revolução um sucesso. Mas já que você vai baixar o álbum mesmo, aproveite também a histérica “Everybody knows”, a sussurrada “I was”, e a definitivamente alienígena “Ismene-Jasmine”.

massa.jpg3 na Massa, “Na confraria das sedutoras” – talvez vocês tenham visto esses caras em um monte de lugar – inclusive na TV. Mas, assim como a Orquestra Imperial na lista do ano passado, o 3 na massa entra na lista por eu achar que eles foram vítimas do “hype”. Acontece, é muito triste… Uma boa assessoria de imprensa, uma pletora de blogs e fontes de informação famintas de novidades, um elenco de vocalistas convidadas descoladas, a competência e o currículo do trio original (Pupillo, Dengue – ambos do Nação Zumbi – e Rica Amabis) e pronto: você tem uma receita perfeita para uma banda se tornar queridinha dos alternativos da noite para o dia. Por que estou lamentando esse “sucesso” todo? Porque ninguém realmente parou para ouvir este que é um dos melhores, mais atuais, mais intrigantes e menos previsíveis discos de pop brasileiro do ano. Talvez você já esperasse ótimas participações de Pitty – claro! – e de Céu. Mas quando Thalma de Freitas canta “Enladeirada” você percebe que essa reunião tem um significado maior. Ela simplesmente tinha que acontecer – nem que fosse para sacudir um pouco a mesmice do nosso pop.

hasch.jpgVários, “Hippies, Hasch und Flower Power – 68er-pop aus Deutschland” – sempre é divertido ouvir a versão dos temas do musical “Hair” em outras línguas (minhas favoritas até hoje são as em italiano – e se alguém souber de um registro oficial sonoro da versão brasileira do espetáculo, pode me dar a dica!). Por que não em alemão? Mas “(Aquarius) Der Wassermann” e “Hare Krishna”, apesar de deliciosas, não são nem de longe as melhores faixas dessa coletânea de pop germânico dos anos 60. Nada, na minha modesta opinião, supera “Molotov cocktail party”, de Vivi Bach e Dietmar Schönherr. E ainda tem uma espécie de manifesto cantado – pré-rap! – chamado “Vatis argument”, de Franz Joseph Degenhardt; uma faixa chamada “Vietnam-Song”, que eu (sem falar alemão) imagino que seja de protesto – mas pelo ritmo “honky tonk”, pode ser qualquer outra coisa; já o título da “proto-disco” “Marihuana-Mantra”, de Kuno & The Marihuana Brass, não deixa muita margem à interpretação… A maioria delas – e em especial “Nimm doch einen Joint, mein Freund” (precisa traduzir “joint”?) – te dá vontade de cantar junto, mesmo sem saber uma palavra do idioma.

papagayo.jpgVários, “Papagayo! (The spanish sunshine pop & popsike collection)” – será mera coincidência? Duas coletâneas de pop europeu dos anos 60 lançadas no mesmo ano? Essa, pelo menos, não tem nenhuma versão de música de “Hair”… Em compensação, é uma coleção das mais entusiasmadas que ouvi em 2008. O fato de as músicas serem em espanhol já ajuda – para nossos ouvidos tão resistentes a essa língua maravilhosa, tudo acaba soando ligeiramente engraçado (lembra de Penélope Cruz e Javier Bardem brigando em “Vicky Cristina Barcelona”?). Mas não é só isso, claro. Fazendo de conta que estavam na Califórnia na década da liberação, esses espanhóis cantavam com o entusiasmo de quem estava na expectativa da Era de Aquário! A faixa-título, interpretada por Ellos y Ellas, é uma versão bem malandra de “Summer holiday” (lembra?), e aqui e ali a gente (quer dizer, o pessoal da minha geração, ou mais velho) reconhece um possível “hit” dos anos 60 “reaproveitado”. Mas a maioria é composta de preciosos originais. Como “Sunshine boy”, de Licia – a faixa que o Belle & Sebastian sempre quis gravar e nunca conseguiu… Ou a pastoral “Juventud”, de Tiza, a animada “Hey, hey”, de Nueva Democracia, e a utópica “Mundo de amor”, de Voces Amigas (Vozes amigas! – mais anos 60 que isso, impossível). “Hostia”!

baboa.jpgBaobá Stereo Club, “Baobá Stereo Club” – não sei bem como esse CD veio parar na minha mão. Provavelmente um envelope genérico – da  gravadora Objeto Sonoro, quem sabe? Só sei que ele estava na minha pilha de “coisas que eu ainda quero ouvir este ano” – e quando finalmente consegui dar um “play” nele… foi um prazer. Há quanto tempo eu não fazia isso: ouvir um disco totalmente no “escuro”? Não tinha nenhuma referência do Baobá Stereo Club, mas logo na primeira faixa, já tive vontade de voar na internet para saber mais sobre eles. E descobri que são uma dupla de amigos, Paulo Soares (bateria e percussão) e Henrique Diaz (violão e guitarra) que simplesmente fazem uma música instrumental moderna e surpreendente (reparou que eu não usei o adjetivo “brasileira”?). Você leu direito: música instrumental. E pode esse estilo ser pop? Claro que pode! Para os que gostam de uma referência internacional, pense em Tortoise, Arab Strap, Sparklehorse, e até Mogwai nos momentos mais enlouquecidos. Mas quem precisa de referências assim quando se tem a segurança de estar fazendo algo realmente original?

department.jpgDepartment of Eagles, “In Ear Park” – logo no começo do ano eu apostei numa banda de Nova York chamada Vampire Weekend. Embora ainda ache que eles são bons – muito bons – está claro que apostei na banda errada… Desconte a pretensão do nome (“Departamento de águias”? – fala sério!) e aproveite as propostas sonoras de Department of Eagles! A banda, claro, já saiu com um certo pedigree: um dos seus membros, Daniel Rossen (o outro é Fred Nicolaus), é também responsável por uma das bandas mais queridinhas dos alternativos moderno, Grizzly Bear. Por isso talvez, as faixas têm um curioso toque familar… Mas não fique se apegando em bobagens: as músicas de “In Ear Park” são um pouco mais, hum, digamos que elas têm um pouco mais de pegada do que as propostas mais abstratas do Grizzly Bear. Pegue, por exemplo, a “balada tipo pub” “Teenagers” – com seu coro mais que aderente à memória (só tem o título da canção como refrão, e é genial). Ou os tristes versos de “Classical records”. Ou o banjo (sim, banjo!) melódico de “Balmy night”. Até mesmo o clima Motown de “No one does it” não ficou com cara de pastiche – e caiu bem. Isso é o que eu chamo de alternativo esperto.

inerane.jpgGroup Inerane, “Guitars from Agadez” – talvez tenha sido minha viagem ao Timbuktu (ou Tombouctou, como se diz por lá). Talvez alguma coisa que eu ouvi no jantar que meu amigo tuareg Mohammed preparou para nossa equipe, à beira do deserto do Saara (que você vai poder conferir assim que a série sobre a nova volta ao mundo estrear, em janeiro). Só sei que não fui capaz de resistir ao apelo hipnótico dessa banda de Niger, na África. Não que eles sejam exatamente uma novidade (este disco mesmo, se não me engano, foi gravado ao longo dos últimos quatro ou cinco anos, e lançado em 2007): o guitarrista Bibio Ahmed é, há anos, uma das figuras mais respeitadas da música africana (do norte) – e não só naquele continente! As apresentações da banda são lendárias, com shows que podem durar uma noite inteira – o que é possível compreender, dado o ritmo labiríntico de cada canção. Ouça Group Inerane sem pensar naquelas bobagens de “world music” – até porque, faixas como “Nadan al Kazawnin” ou “Tenetre Etran” tem sacadas tão modernas que seriam capazes de fazer esses jovens nova-iorquinos que estão loucos para serem alternativos oferecerem seus instrumentos a preço de banana no eBay.

highplaces.jpgHigh Places, “03/07 – 09/078” – por falar nesses jovens nova-iorquinos, aqui estão dois que merecem ficar com seus instrumentos. Essa dupla do Brooklyn – Rob Barber, nos instrumentos e Mary Pearson nos vocais – pode ser considerada herdeira legítima dos Talking Heads. Não exatamente nas batidas com inspiração africana imortalizadas pela banda de David Byrne, mas pela exaustiva pesquisa de elementos musicais do mundo inteiro que eles fizeram para agregarem ao som da banda. E tudo isso sem parecerem uns garotos amadores interessados em sons “exóticos” que eles compraram na seção de “world music” de uma loja (de verdade ou virtual) que ainda não percebeu que esse rótulo já está ultrapassado há uns 20 anos… Enfim, ninguém chama uma faixa de “Shared islands” (“Ilhas compartilhadas”) à toa. Sem nunca ser óbvio (fiquei encantando, em particular, com a sutileza de faixas como “Universe” e “Head spins”), o High Places definitivamente levou a música para outro patamar em 2008.

gnarls.jpgGnarls Barkley, “The odd couple” – estudo de caso 1: banda que estourou recentemente com um “hit” megapopular no mundo inteiro não consegue emplacar no seu segundo trabalho. Como assim? Você sabe… Talvez tenha tido a mesma reação de milhões de fãs de Gnarls Barkley pelo planeta tiveram quando se fizeram a mesma pergunta: não tem uma música como “Crazy”? Então nem vou ouvir… Só posso lamentar… “The odd couple” não só é um disco melhor que “St. Elsewhere” (pense em “Paul’s boutique”, do Beastie Boys, infinitamente superior a “Licensed to ill”), como contém aquela que é a balada mais rasgada (e singela) deste século – que gerou, inclusive o melhor videoclipe do ano: “Who’s gonna save my soul”. Tem ainda uma das músicas que mais me fizeram ter vontade de dançar recentemente – e que gerou, talvez, o segundo melhor videoclipe de 2008: “Going on”. Claro que “Crazy” era um clássico difícil de ser reproduzido, mas se você dispensar artistas criativos como Danger Mouse e Cee-lo Green simplesmente por medo de experimentar coisas novas, vai deixar de aproveitar muita coisa nessa vida…

tricky.jpgTricky, “Knowle West boy” – estudo de caso 2: artista que foi considerado o novo messias nos anos 90 retorna com um disco brilhante e ninguém dá atenção. Típico, não é? Tricky foi considerado um dos músicos mais inventivos do final do século passado – e com razão. Com três trabalhos impecáveis lançados numa seqüência (“Maxinquaye”, “Nearly God” e “Pre-millennium tension”, entre 1995 e 1996), ele era a grande promessa da música do futuro. Como todo artista genial, enlouqueceu depois da aclamação inicial e veio com trabalhos mais obscuros e herméticos. O público e a mídia, claro, foram em frente descobrir outras coisas novas. Está certo, esse é mesmo o caminho das coisas. Mas deixar de acompanhar o que um cara como Tricky faz não é nem uma injustiça – é um crime! Especialmente porque “Knowle West boy” traz tudo que ele nos ensinou lá atrás a gostar: atmosferas sonoras sugestivas e acolhedoras, vocais entre o sussurro, o grunhido e a clareza, caminhos musicais não-explorados – e uma estranheza geral. Às vezes, vale a pena pagar respeito aos “mais velhos”…

lydia.jpgLydia Mendonza, “Mal hombre” – “Mal hombre/ Tan ruin de su alma que no tiene nombre”. Com um refrão destes, como resistir? Depois de dizer que o homem é tão mau que nem tem nome, Lydia ainda o chama de ainda o chama de malvado e de canalha. Sucesso! E isso nos anos 30! Essa mexicana-americana “braba” era uma espécie de Carmem Miranda latina que embalava o coração não só de seus compatriotas residentes no México, mas também dos imigrantes (e seus descendentes) que, ainda no início do século passado, atravessavam para os Estados Unidos sem ajuda de “coiotes”… As canções podiam ser de escárnio (como a imperdível “Mal hombre” ou “Mundo engañoso”), de amor (“Amorcito consentido”), de decepção amorosa (“Puñalada”!) ou simplesmente de esculacho involuntário (como a curiosamente “kitsch” “Pajarito herido”). Ressuscitada nessa coletânea (que traz ainda algumas gravações mais antigas, dos anos 20), Lydia Mendonza agora pode ser relembrada como uma das grandes pioneiras do pop latino.

women.jpgWomen, “Women” – o som do agora. Simplesmente. Se alguém ainda se interessar em como se deve fazer barulho em 2008 – e, quiçá, 2009 –, este é o disco para ouvir este fim de ano. Eles vêm do Canadá, mas certamente farão muitas bandas orgulhosas de terem servido de inspiração para eles, dos Beach Boys ao Jesus and Mary Chain, passando pelo Velvet Underground, Kraftwerk, Devo, Clinic, Spiritualized, The Fall, Test Department (!), Marilyn Manson, Nine Inch Nails – a lista é grande. A faixa que abre o disco, “Cameras”, tem um ligeiro toque “retrô”, mas dali para frente você percebe que eles estão mais preocupados em olhar para frente – sem negar as referências do passado. Se você sobreviver ao barulho atordoante de “Lawcare”, vá em frente sem medo. Coisas ainda mais sombrias e esquisitas te aguardam (o que é, por exemplo, o acorde repetido em “January 8th”?, que em menos de dois minutos vai de um lamento à batida furiosa?). Para momentos mais sombrios, sem dúvida. Mas quem sabe não seja a trilha sonora para os possíveis tempos difíceis que 2009 deve nos trazer? (Calma, eu ainda vou desejar um feliz ano novo… mas mais para frente…).

Desafiando o clichê

sex, 05/12/08
por Zeca Camargo |
categoria Todas

zecavirada.jpgSim, Veneza. Era lá que eu estava na semana passada. Fui visitar Veneza pela segunda vez – na primeira, eu ainda com tenros 19 anos, não podia ter me sentido mais feliz de ficar hospedado praticamente fora da cidade (já que o orçamento, na época, era de mochileiro), mas podendo passear numa praça de São Marcos semi-inundada e totalmente abarrotada de gente fantasiada para o seu famoso Carnaval (um espetáculo radicalmente diferente do nosso, claro).

Vinte e cinco anos depois, volto para lá – a passeio, e não a trabalho, para o desgosto talvez do Marcos, que mandou seu comentário, hum, ligeiramente indignado… (que bom que tem gente como você, Marcos, preocupado com os caminhos da nossa cultura, televisão etc.).  E posso assegurar que a viagem foi outra. Entre tantas diferenças, digamos que foi possível desta vez, aproveitar a cidade com um pouco mais de conforto. E, claro, com outros olhos. Se aquele cara de 19 anos se deslumbrava facilmente com a exuberância de cada construção que encontrava – e com a possibilidade de ver de perto obras de arte tão incríveis – e diluía todo aquele deslumbramento em tardes ociosas entre uma ponte e outra (sempre esbarrando em uma máscara de “commedia dell’arte” aqui e outra acolá), ao som distante de um “europop” que reverberava de enormes caixas de som instaladas na São Marcos (nada de samba, como você pode imaginar) – hoje, esse, hum, cara de 45 tinha outras razões para se inquietar em Veneza. Vejamos…

“Nada pode ser dito daqui que não tenha sido dito antes”, escreveu a autora americana Mary McCarthy – como eu destaquei aqui no post anterior. Será mesmo? Ao retornar de lá, senti-me tentado a desafiar essa espécie de maldição que a escritora lançou, talvez não intencionalmente, a qualquer um que visitasse “a cidade mais bonita do mundo” e ousasse acrescentar alguma coisa original sobre ela. Não para superar as palavras já dedicadas a Veneza por autores bem mais ilustres que este blogueiro, mas apenas pela provocação… E ainda, pelo já irrecorrível instinto desenvolvido aqui mesmo neste espaço, ao longo dos nossos mais de dois anos juntos, de dividir algumas experiências com você.

Por falar nisso, depois do breve devaneio “pós-twitter” – desaprovado primeiramente por mim e depois, para minha felicidade, por boa parte dos leitores (ainda que eu tenha me divertido com a ironia de perceber o silêncio daqueles que reclamavam dos posts longos) – volto ao “texto encorpado”, para repetir (com gosto) a expressão que muitos aqui usaram nos seus comentários (aliás, rapidamente, quero agradecer ainda aos que perceberam, ou pelo menos desconfiaram, da fina ironia que foi experimentar aquele outro formato: Fernanda Rabelo, ELLEM, Márcia, Fabiano, e tantos outros). E, para celebrar esse retorno, nada melhor que um passeio pela cidade das múltiplas narrativas que é Veneza.

“Meu velho dom de ver o mundo com os olhos de um pintor cujos quadros acabei de contemplar conduziu-me a um pensamento singular. É evidente que os olhos se formam em consonância com os objetos que divisaram desde a infância, e, sendo assim, o pintor veneziano há de ver tudo com maior clareza e limpidez do que outros homens”. Quem escreve é Goethe, em “Viagem à Itália 1786-1788” (Companhia das Letras), na sua passagem por Veneza. E completa: “Nós, que vivemos numa terra ora imunda, ora poeirenta, incolor, a obscurecer qualquer reflexo, muitos até, talvez, em cômodos apertados, não podemos, por nós próprios, desenvolver uma visão assim jubilosa”. O que dizer da terra em que vivemos hoje – talvez mais imunda e poeirenta…

Mas será que nós, turistas do século 21 – e especialmente acostumado a ver nem sempre o belo em suas viagens –, poderíamos aproveitar Veneza, mesmo sem os olhos de quem lá foi criado? As palavras de Goethe, que já poderiam ser desencorajadoras, juntaram-se às de um outro escritor, mais contemporâneo, cujo livro é um manifesto contra a adoração à cidade: Régis Debray, e seu “Against Venice” (“Contra Veneza”), que tenho numa edição da Pushkin Press.

“Os palácios ao longo do Grande Canal, que não estão expostos em vitrines, não são cenários obviamente falsos de Hollywood, mas também não são casas para se morar. Não é possível imaginar-se morando nelas, mas essas pseudo-habitações podem ser tocadas: estão na nossa frente, mas na verdade não existem. Elas são sólidos reflexos de seus reflexos na água”.

Numa simples passagem, Debray consegue – com uma construção inspirada de frases (que, mesmo na minha tradução apressada, são naturalmente elegantes) – desarmar qualquer intenção de elogio a uma das fachadas urbanas mais admiradas no planeta. E isso é só o começo da sua argumentação contra “La Serenissima” (um apelido que irrita particularmente o autor francês – e tenho impressão que não só ele). Mais adiante, brincando com a conhecida expressão italiana “ver Nápoles e depois morrer”, ele ataca: “Se você quiser ver Veneza, morra primeiro”…

Para cada vitupério de Debray, porém, há um carinho de um outro francês, Paul Morand – que teve seu “Venices” editado pela mesma Pushkin Press. “Entre a brecha da Ponte dos Suspiros, meus olhos foram ofuscados pelo sol poente, que transformava a entrada da Giudecca, a oeste da San Giorgio Maggiore, numa piscina de essência rosa”, escrevia ele em 1969, décadas depois ter conhecido Veneza pela primeira vez, sinalizando que não perdeu nem uma fração de seu entusiasmo pelo poder de sedução da cidade – que Proust, como o próprio Morand cita, chamava de “Meca da religião da beleza”.

E tinha ainda na memória a Veneza de Thomas Mann, que apesar de sempre  filtrada pela paixão de Gustav Aschenbach por Tazio, impõe-se como o cenário mais delirante para o réquiem exuberante que é “Morte em Veneza” – traduzido e ampliado para as telas de cinema por Luchino Visconti. Da minha edição (que é da Nova Fronteira): “Numa praça silenciosa, um daqueles recantos esquecidos e como que encantados que se encontram no coração de Veneza, descansando à beira da fonte, ele enxugou a testa e reconheceu que tinha de partir”.

zecarialto.jpgPassei por uma dessas praças silenciosas na semana passada. Aliás, passei por várias. E pelo Rialto (várias vezes). E por outras pontes. E ruas estreitas, e pequenas lojas, e igrejas, e cantinas, e canais, e gôndolas, e escadas, e teatros, e cafés, e sacadas, e céus de um incrível azul (dias antes da inundação que você viu no noticiário desta semana). Como traduzir tudo isso?

Certa vez, assistindo a uma palestra de um grande arquiteto brasileiro, quando alguém lhe perguntou qual era a cidade que ele mais gostava no mundo, ele respondeu – meio hesitante – que era Veneza. Divagando um pouco mais sobre o fascínio que essa cidade exercia em quem a visitava ele concluiu: “Turismo é inveja”. Isso foi dito de maneira despretensiosa – e até displicente –, mas eu registrei aquela frase como uma chave fundamental para entender por que a gente viaja tanto. Nós vamos lá, conferimos o que se fala tanto de tal lugar, temos uma experiência geralmente ultra-superficial, e voltamos para casa alguns dias depois idealizando aquela cidade – ou aquele país – como um endereço ideal para se viver.

Nesse sentido, garanto, nenhuma outra viagem é capaz de fazer de você um ser tão invejoso quanto Veneza.

Mas aí você lembra que não é só isso. Que a vida de uma cidade inclui turistas e as pessoas que moram lá – ainda que Régis Debray insista em ver todas aquelas moradias venezianas como “fantasmas”. Gente que vive ali, e que deve ter uma relação com a cidade não muito diferente que a do próprio Debray. E então você começa ficar um pouco perturbado ao perceber que está visitando o que um amigo meu chamou de “Disney para adultos”. O que não é uma coisa ruim, claro.

Especialmente quando se é simplesmente um turista.

Mesmo tendo visitado Veneza há tanto tempo, eu guardei uma memória vívida do seu desenho. Andar pelas suas vias – nunca paralelas! – foi um emocionante exercício de reconhecimento. Está certo que eu não buscava mais os principais pontos turísticos com a mesma ansiedade daquela passagem por lá em 1982 – se bem que subi animado na torre da praça de São Marcos. Mas as pequenas descobertas agora contaram mais que da outra vez.

Num ano em que visitei Tombuctu (ou Timbuktu, se você preferir) e vale do Orkhon – nessa nova volta ao mundo que você vai poder acompanhar a partir do mês que vem na televisão – passear por Veneza adquiriu um significado ainda mais especial. Foi impossível não ver a cidade como um eco precioso (que reverbera infinitamente pelos tempos e pelas fronteiras) da capacidade criativa do homem – do que nós somos capazes de fazer com a nossa cultura.

Longe de ser perfeita – turistas demais (mesmo nessa baixa temporada), lojinhas demais, horrendas máscaras demais – Veneza me ajudou a cultivar uma nostalgia por um tempo em que havia um outro sentido, um outro foco, no desenvolvimento de uma cidade, apesar de as pessoas viverem com os mesmo problemas de hoje – tenho certeza que nos séculos que ela acumula a cidade viu sua cota de, por exemplo, políticos corruptos, mercadores desonestos, traições vis, vícios degradantes, poluição (mesmo quando esse conceito moderno não existia), criminosos notórios e crises financeiras (se é verdade que a palavra “bancarrota” surgiu ali, numa mesa instalada entre o Rialto e o mercado de peixes, devo dizer que hoje a “origem de todo o mal” é um delicioso restaurante chamado Banco Giro). A diferença é que o que separa isso tudo que existia lá e existe também hoje aqui, nas nossas mega cidades caóticas, é que naquela época havia uma preocupação maior de fazer com que as coisas fossem mais belas.

Ilusão de um turista quarentão? Pode ser.

Voltei de Veneza recarregado e ao mesmo tempo sutilmente melancólico. Outro clichê surrado – você tem o direito de apontar. E o que trouxe o incômodo dessa sensação não foi bem a cidade, mas uma obra de arte específica, que encontrei numa exposição no Palazzo Grassi – que hoje pertence ao bilionário francês (e colecionador) François Pinault. “Italics” é uma grande coletânea de arte contemporânea italiana, abrigada nessa maravilhosa construção do século 18 – uma feliz lembrança de que Veneza recebe muito bem também produção artística atual (preciso lembrar que é lá que acontece a mais importante Bienal do mundo?).

(Aliás, não é à toa que a coleção Peggy Guggenheim parece tão naturalmente instalada em Veneza. Lá, nos jardins da mansão da milionária americana – que era apaixonada pela cidade, e que, até morrer, era a última dona de uma gôndola particular –, que eu tirei a primeira foto do post anterior, ao lado de uma obra chamada “Cascata digital”, de Fabrizio Plessi. A outra foto, claro, foi tirada embaixo da coluna que tem no topo o leão alado, símbolo máximo de Veneza.)

zecamarmore.jpgEnfim, foi na mostra do Palácio Grassi que eu vi um trabalho recente – e perturbador – de Maurizio Cattelan. “All” está no hall principal do palácio e é muito simples: apenas noves esculturas de mármore (de Carrara) que representam corpos cobertos por lençóis. A distração mais óbvia é reagir levianamente a mais essa “gracinha” de Cattelan (que já fez uma escultura do Papa João Paulo 2, em tamanho natural, atingido por um meteorito): um material tão nobre e antigo numa cena tão ordinária contemporânea (atentados em Mumbai, enchentes em Itajaí – você pode pensar em qualquer tipo de tragédia diante dos cadáveres de “All”). Mas, de uma maneira que ainda não consigo elaborar, aquilo mexeu comigo de uma maneira mais contundente do que eu podia esperar.

Vi a exposição toda – que é excelente – rapidamente (mais depressa do que eu planejava) e só quando saí do palácio, e reencontrei o céu azul e claro, percebi que estava precisando “reencontrar” Veneza com urgência. Fiquei pouco mais de uma hora no Grassi, mas a presença daqueles mármores me incomodou o tempo todo – e, de certa forma, está comigo até agora. Reverberou em cada passeio que fiz na cidade e hoje mesmo, enquanto escrevo isto aqui, se mistura às minhas lembranças.

É um incômodo sutil, como escrevi lá em cima, mas o suficiente para perturbar o registro dessa viagem – e me fazer achar, de uma maneira impossível de elaborar, que, apesar dos meus esforços, eu dificilmente consegui ser original neste relato sobre Veneza. Maldita Mary McCarthy!

Um experimento

seg, 01/12/08
por Zeca Camargo |
categoria Todas

Ninguém pode dizer que eu não sou aberto a novas propostas. Inspirado menos pelas monótonas reclamações de quem acha longos os textos deste blog e mais por uma (espero) curiosa e (tenho certeza) imprevisível experiência para os leitores que admiram post mais “encorpados” (e para mim, claro, que gosto de escrevê-los), aqui vai uma tentativa de fazer algo diferente: uma coisa, digamos, “pós-twitter”.As vantagens? Bom, não vai dar trabalho nenhum para quem está acostumado a ler as manchetes digeríveis da internet, muito menos para quem se habitou a acompanhar as coisas – coberturas jornalísticas, eventos culturais, e até a vida das pessoas (famosas ou não) – alimentando-se de breves “nuggets” de informação. Ah, e pode ser divertido. Desvantagens? Bem, não sei se será fácil me encaixar nesse formato (acho que “encaixar” é o verbo que as patrulhas da internet que insistem que a leitura nessa mídia só é possível em um formato – será que elas sabem que um dos planos mais interessantes da Google é tornar disponível na net tudo que já foi publicado, e que isso inclui, hum, livros inteiros?).Entre outras “adaptações” vou ter que quebrar meus dias para escrever sempre que der vontade – o que pode ser complicado, especialmente para mim, que trabalho intensamente no fim-de-semana. Porém, no final, acho que será interessante.Assim, convido especialmente você que sempre me lê na íntegra, a aceitar o convite para essa leitura alternativa e me acompanhar nessa “petite folie”! E a você que tem “pouco tempo para ler textos mais longos” (para citar minha desculpa favorita entre aquelas dos que reclamam), sugiro que venha também – quem sabe… Eis, então, um registro do que  me senti inspirado a escrever ao longo do último fim-de-semana – nada com mais de 160 toques! _________________________________________________________________________Dei sorte de acertar na primeira música que ouvi ao acordar: tirei de uma pilha de CDs novos, o de Depedro, que já começa com a linda “Como el viento” . (06:02 am 29 nov) _________________________________________________________________________ zeca-cascata.jpgVoltei de uma viagem ontem. O fuso horário me fez acordar cedo. Falando nisso, aqui ao lado, a foto que tirei num pequeno museu. Onde eu estou? (06:04 am 29 nov) _________________________________________________________________________O novo DVD de Marisa Monte me encara da estante perguntando: não vai me assistir? Li que tem uma colagem de entrevistas que ela deu. Lembrei-me de Radiohead. (07:00 am 29 nov) _________________________________________________________________________”Rede de mentiras” estreou no Brasil. Acho que vou escrever no próximo post sobre ele, junto com “Standart operating procedure” (que vi em DVD). (09:46 am 29 nov) _________________________________________________________________________Li em algum lugar que o “twitter” foi usado como fonte de informação para quem queria saber o que estava acontecendo durantes os ataques recentes a Mumbai. (10:11 am 29 nov) _________________________________________________________________________O mesmo artigo dizia que os próprios terroristas usavam o “twitter” para se informar – e desinformar. (10:12 am 29 nov) _________________________________________________________________________Fiquei pensando se deveria ouvir “Chinese democracy” com atenção. Mas cheguei à conclusão de que não estamos mais em 1994. (11:05 am 29 nov) _________________________________________________________________________Descobri um site curioso onde as famílias podem encontrar refugiados: refunite.org. Como ninguém pensou nisso antes? (11:33 am 29 nov) _________________________________________________________________________Li um curioso obituário no inglês “The Independent”: do guitarrista do Manic Street Preacher, Richey Edwards, desaparecido em 95, finalmente declarado morto. (01:09 pm 29 nov) _________________________________________________________________________Será que eu ainda tenho a capa daquele “NME” com a foto do braço de Edwards sangrando porque ele havia escrito “4 REAL” com uma gilete na pele? (01:10 pm 29 nov) _________________________________________________________________________Meu foco agora: editar os episódios da nova volta ao mundo, que começa a ser exibida a partir de janeiro. Preocupado? Só com a quantidade de trabalho. (02:04 pm 29 nov) _________________________________________________________________________Agora parece que é oficial: vizinhanças com muros pichados são um convite a mais ao vandalismo – e talvez à criminalidade. (02:12 pm 29 nov) _________________________________________________________________________Já imaginou um amigo secreto onde todo mundo tinha de presentear com uma música que o nome sorteado não conhecesse, mas que havia grandes chances de gostar? (04:17 pm 29 nov) _________________________________________________________________________Se for para escolher um filme só para assistir neste Natal: “Un conte de Noel” – isto é, se for lançado no Brasil ainda neste ano… (22:12 pm 29 nov) _________________________________________________________________________Se for para escolher mais quatro: “Revolutionary road”, “Milk”, “Australia”, “The Spirit”. Se saírem neste ano por aqui… (22:13 pm 29 nov) _________________________________________________________________________Tenho a sensação de que o que estou fazendo neste post é uma grande bobagem. Você também deve ter pensado nisso. Então, por que fazer? (22:24 pm 29 nov) _________________________________________________________________________Já que acertei na trilha para acordar, não posso errar na música para dormir: Giulia & Los Tellarini. Não conhece? Então não viu “Vicky Cristina Barcelona”… (23:12 pm 29 nov) _________________________________________________________________________Para dormir de bom humor, assisto (mais uma vez) a paródia de Justin Timberlake, no “Saturday Night Live”, para “Single ladies”, de Beyoncé. Impagável. (23:26 pm 29 nov) _________________________________________________________________________Finalmente consigo caminhar por Ipanema num domingo de manhã. Faz semanas que isso não acontecia. (07:15 am 30 nov) _________________________________________________________________________No “shuffle” do meu iPod, durante a caminhada: “If you tolerate this your children will be next”, Manic Street Preachers. Coincidência? (08:03 am 30 nov) _________________________________________________________________________Ainda no iPod, o novo EP de Antony and the Johnsons, que chegou pelo correio (viva Other Music!) e deu tempo de carregar. Só 5 faixas – todas excelentes. (09:03 am 30 nov) _________________________________________________________________________O ano vai terminando e eu não consegui ler um livro que tinha me proposto a encarar desde janeiro: “The rest is noise”, de Alex Ross. Ó culpa… (09:43 am 30 nov) _________________________________________________________________________Falando em livros, saiu “O que é o quê”, de Dave Eggers no Brasil (Companhia das Letras). Para ser breve: compre e leia. (10:01 am 30 nov) _________________________________________________________________________Anthony Lane, na”New Yorker”, sobre “High school musical 3”: “(Eles) cantam como pessoas normais vão ao banheiro – regularmente, polidamente, e porque, se não o fizessem, eles poderiam explodir”. (11:35 am 30 nov) _________________________________________________________________________A entrada anterior tem mais de 160 toques – eu sei. Mas não resisti. (11:36 am 30 nov) _________________________________________________________________________ zeca-pilar.jpgOnde eu estou (bônus)? Se você achou a foto anterior enigmática demais, aqui vai um reforço. Mais óbvio talvez – se bem que desse ângulo… (01:00 pm 30 nov) _________________________________________________________________________ Este lugar é o mesmo da foto anterior? O que um tem a ver com o outro? Perguntas, perguntas… (01:01 pm 30 nov) _________________________________________________________________________Mais uma dica? Da escritora Mary McCarthy sobre esse lugar que visitei semana passada: “Nada pode ser dito daqui que não tenha sido dito antes”. (01:02 pm 30 nov) _________________________________________________________________________É possível que alguns pensem que, mesmo neste formato, eu já estou escrevendo demais para um post. Pena. Ainda é domingo à tarde, acho que vou escrever mais. (01:11 pm 30 nov) _________________________________________________________________________Já desabafei que não vou estar no Brasil para os shows de Madonna? Vou ter que entrar no clima zen que descrevi na introdução de “A fantástica volta ao mundo”. (01:23 pm 30 nov) _________________________________________________________________________Será que vou ganhar a caixa de DVDs do “Monthy Python’s Flying Circus” (21 discos!) de alguém este Natal? Começo aqui a campanha… (02:04 pm 30 nov) _________________________________________________________________________Mas se alguém quiser dar só o CD novo do Killers, “Day & age”, já vou ficar bastante feliz. (02:06 pm 30 nov) _________________________________________________________________________Achei que não ia mais cruzar com Batman este ano, mas já encomendei “Bat-Manga!”, de Chipp Kidd – só para lembrar que o herói não tão sério é mais divertido. (03:20 pm 30 nov) _________________________________________________________________________Incrível! Na hora do almoço, encontrei – e comprei na hora – um DVD de um filme perdido na minha memória: “Liquid sky”. Ah os anos 80… (03:55 pm 30 nov) _________________________________________________________________________Só para reforçar: “O que é o quê”. Compre e leia. (04:05 pm 30 nov) _________________________________________________________________________Esbarro numa informação perturbadora: faz mais de dez anos que o último episódio de “Seinfeld” foi ao ar. Dez anos! (06:22 pm 30 nov) _________________________________________________________________________O fim-de-semana ainda não acabou, mas, numa avaliação talvez prematura, acho que o experimento está somando muita coisa. (06:52 pm 30 nov) _________________________________________________________________________Vou comer uma pizza e dormir. O fuso horário já está cedendo. Falando nisso, já descobriu onde eu estava semana passada? (23:22 pm 30 nov) _________________________________________________________________________Separo para ler (atrasado) antes de dormir o obituário de Miriam Makeba na “Economist” – para fechar bem a semana agitada. (23:30 pm 30 nov) _________________________________________________________________________No fim, o que rendeu tudo isso? Um punhado de idéias soltas. Mas um post? Você acha? Tenho minhas dúvidas (e você?). Assim, na quinta, voltamos à velha forma. (23:59 pm 30 nov)



Formulário de Busca


2000-2015 globo.com Todos os direitos reservados. Política de privacidade