Saudades do futuro
Outro dia vi o trailer de “Jumper”. Pode ser que a memória me falhe, mas tive a impressão de que aqueles poucos minutos de montagem tinham mais ação do que todo “Guerra nas estrelas”. Fãs mais hidrófobos do filme que mudou o jeito de a gente assistir cinema, segurem seus comentários – pelo menos por enquanto -, pois este que vos escreve é também um profundo admirador de todos aqueles que foram tocados pela “Força” – seja pelo lado positivo ou negativo dela.
Já respondendo à pergunta clássica – “onde eu estava quando assisti ao filme pela primeira vez?” -, me lembro de uma tarde bem quente no Rio de Janeiro (morava em São Paulo na época, mas parte das férias eram sempre lá). Verão de 1978. Cine Roxy – que resiste bravamente até hoje. Engraçado como não me lembro de ter uma grande expectativa para ver “Guerra nas estrelas” – fui vê-lo como mais uma atração da temporada. Claro, provavelmente já tinha visto uma bela chamada para o sucesso da produção no “Fantástico”. Ou talvez já tivesse lido alguma coisa em alguma revista sobre ele – se bem que eu ainda não consumia tanta informação como passei a fazer apenas alguns anos depois.
Tinha só 14 anos e, pelo menos que eu me lembre, a idéia de “media blitz” – essa varrida por todos os meios de comunicação possíveis que precede o lançamento de um grande produto cultural e que hoje em dia é tão comum que quase não damos conta de que existe e é cuidadosamente orquestrado para atingir a máxima eficiência (pense em Harry Potter) -, enfim, “media blitz” era um conceito ainda apenas esboçado. Assim, imagino que fui ver “Guerra nas estrelas” como mais uma atividade para preencher o dia – que certamente já havia começado com uma boa manhã pegando jacaré em Copacabana (nunca fui do surfe… mas eu divago).
Fato é que, apenas minutos depois que a projeção havia começado, eu já estava sob um transe tão intenso que não me lembro de mais nada. Quem teria me levado ao cinema naquela tarde? Teve pipoca? Como cheguei em casa naquele dia? Não me lembro. Ou melhor, tudo que me lembro é que eu passei as horas (talvez até os dias) seguintes me imaginando como Han Solo. Como posso ter certeza disso? Porque naquele dia mesmo passei a dividir meu cabelo no meio, tentando reproduzir (inutilmente, diga-se) o visual do – hummm… – “bandoleiro do espaço” – para o desespero da minha família, e para a alegria dos meus colegas de colégio que finalmente tinham alguma coisa para rir de mim na volta às aulas, além dos meus óculos de grau.
Quando usei a palavra “transe”, acima, não estava exagerando. Boa parte do final dos anos 70, passei devorando qualquer informação sobre o filme – era muita, mas nunca o suficiente. Até “O império contra-ataca” estrear, tive de esperar quase três anos e me lembro que foi uma tortura. Como todo convertido ao culto de “Guerra nas estrelas”, fiquei ligeiramente decepcionado com o final dessa segunda parte da (primeira) trilogia – mas tentei disfarçar da melhor maneira: apostando que o episódio final seria muito melhor. Mas até lá, eu teria de esperar outros três anos – um período que mostrou-se extremamente turbulento e fértil na minha formação cultural – e aí Luke, Han, Leia, C3PO, R2D2 – e, claro, Darth Vader – já tinham me perdido para algo que pode ser definido (em diferentes intensidades para cada elemento) pela surrada trilogia “sexo, drogas e rock n’roll”.
Mais sobre esse período num futuro (talvez bem) distante, quando eu achar que mais pessoas do que meu caro círculo de amigos possam se interessar por algo que virou uma praga desde que a palavra “celebridade” passou a ser mais trocada do que uma nota de R$ 2 – uma biografia. Essa ligeira referência pessoal serviu apenas para eu colocar minha admiração por “Guerra nas estrelas” num contexto para o post de hoje.
Queria falar, claro, da exposição sobre o universo do filme, que pode ser vista em São Paulo desde ontem. Exposição essa que ainda não visitei, mas que – no mais fiel espírito ao livro de Pierre Bayard, “Como falar de livros que não lemos?” – sinto-me devidamente habilitado a comentar.
Afinal, já passei pela “media blitz” da própria exposição (que está em cartaz no Porão das Artes do Parque do Ibirapuera). Já vi inúmeros artigos e reportagens de TV sobre a mostra (como esse, por exemplo) – a ponto de querer realmente ir até lá, assim que tiver um tempo. Por enquanto, porém, faço o comentário apenas baseado na minha memória desse filme – e do impacto que ele teve naquele moleque de 14 anos. Aliás, foi por isso que me lembrei do trailer de “Jumper”.
Naquela “sessão da tarde” em que fui apresentado pela primeira vez a Luke e sua trupe, eu não tinha noção de como um filme podia ser emocionante – não emocionante na linha “Uma janela para o céu”, sobre o qual eu já havia me debulhado em lágrimas alguns anos antes, mas emocionante tipo “eu não estou conseguindo me segurar na cadeira do cinema”. Não tendo visto, até então, “Tubarão” – tive medo, confesso -, não havia experimentado ainda a excitação de ser provocado por uma produção que me oferecesse um suspense cada vez maior, a cada cena. E acho que mesmo que tivesse assistido ao primeiro sucesso de Spielberg, o impacto de “Guerra nas estrelas” seria o mesmo. Nada poderia preparar você para aquilo que acontecia nas telas. E o que mesmo estava acontecendo nas telas?
Bem, acho melhor deixar isso para segunda-feira – fazendo aqui uma insignificante homenagem a George Lucas, decidi fazer desse assunto uma trilogia (para quem gosta de coincidências, como eu, a última vez que fiz isso foi há quase um ano, para falar justamente de um certo artista que, assim como a exposição de “Guerra nas estrelas” está de passagem pelo Brasil).
Mas antes de concluir por hoje, preciso justificar aquele título acima. Pensei nele justamente porque, mesmo com “Jumper” – ou ainda, apenas o trailer de “Jumper” – prometendo mais ação do que todo o começo da saga de George Lucas, eu ainda não troco um pelo outro. O poder de “Guerra nas estrelas” é tão grande que eu já gosto da exposição mesmo sem ter tido (ainda, insisto) a chance de visitá-la. Por mais que soe juvenil (e eu sempre tenho um pouco de medo desses fanáticos pela história, que encaram aquela “galáxia muito muito distante” como uma espécie de “Terra do Nunca”), eu sei que tipo de excitação as referências aos elementos do filme despertam.
Sei que vou me sentir um pouco incomodado na frente da roupa de Darth Vader. Sei que vou ficar (ainda hoje) admirado com as diminutas maquetes das espaçonaves que eram tão imponentes nas telas. Sei que vou querer ler a letra miúda de todos os painéis explicativos, na expectativa de garimpar alguma informação que eu ainda não saiba. Sei até mesmo que vou hesitar diante da possibilidade (sempre constrangedora) de ser pego brincando com um sabre de luz. Apenas listando mentalmente essas possibilidades, respondi, positivamente, a mim mesmo uma pergunta que fiz logo que soube que a exposição estava chegando ao Brasil: faz sentido visitar uma mostra como essa? Tendo ou não tempo de conferi-la de perto, semana que vem mergulhamos no mistério de “Guerra nas estrelas”.
30 maio, 2009 as 5:51 pm
queria saber se vai ter exposiçao do star wars em brasilia?
seria massa se anunciar essa exposiçao em toda cidade satelite.
valeu tchau
18 setembro, 2008 as 5:30 pm
Sou fã de Sw e estou desenhando um quadro do Yoda pra pendurar na minha sala. Como comecei a gostar? Por causa do meu irmão mais novo (ele é de 80, eu de 75), foi ele que gostou primeiro e passou a mania pra mim. Lembro que ele, bem pequeno, ia nas matinês de carnaval vestido de Luke Skywalker, com aquele macacão laranja, que nossa mãe costurava pra ele, já que naquela época não tinha fantasia importada. Essa paixão do meu irmão é tão grande, que hoje ele está em San Francisco, fazendo um curso de computação gráfica, e um dos professores trabalhou com o George Lucas.Então imagine que ele está no paraíso.
Então eu creio que só fui assistir mesmo lá por 85, 86, depois de meu irmão virar fã. Por causa dele eu e meu outro irmão (de 77), somos apaixonados por SW.
O Jar Jar Binks é a criatura mais boba que já vi, tbém fiquei decepcionada.
O Han Solo, uau, quantos suspiros me arrancou. Tbém virei fã do Indiana por causa do Han.
Beijos, gatcho.
(Zeca, por favor veja a questão da segurança dos comentários, eu ia postar lá no post de hoje 18/09, mas fica gravado o nome de quem postou por último, acho.E eu recebi um monte de emails estranhos depois que comentei aqui)
13 abril, 2008 as 5:20 pm
Zeca,
Linda coincidência seu artigo aparecer como resultado da minha busca.
Para não ficar com saudades do futuro, vou lá conferir a exposição.
Obrigada!
Beijos da Luca
28 março, 2008 as 11:21 pm
Nossa!!! Viajei no tempo agora. Me lembro quando era moleque e ía estrear Tela Quente, o filme era “O retorno de Jedi”. Juntou uma galera da escola e escolhemos a casa de um amigo para assistirmos juntos….Melhor época de minha vida…..Grande abraço Zeca!!!…………Sergio de Maringá-Pr.
17 março, 2008 as 10:51 pm
Zeca, você (ainda) nem falou da estupenda trilha sonora de Star Wars, criada pelo genial John Williams!
Como dito no post anterior, ela faz 50% do trabalho.
Ou o que seria de Darth Vader sem a Marcha Imperial?
11 março, 2008 as 10:59 pm
Zeca, sou um grande fã de Star Wars! Tive a oportunidade de ir na exposição e, mesmo não sendo tão boa quanto eu esperava, valeu a pena! Que a força esteja com você!!!!!!!
10 março, 2008 as 11:11 pm
Engraçado ler o título desse post agora. Certa vez, ainda criança, na vã tentativa de escrever alguns traçados aos quais chamava de versos, intitulei (um deles) exatamente assim: “Saudades do Futuro”. Bem, o contexto desse meu (digamos) verso não foi o mesmo que vc empregou no seu post, obviamente. Eu passava por um momento muito difícil e o que eu mais queria era que o futuro chegasse logo para que aquela fase fosse definitivamente superada.
Um abraço
9 março, 2008 as 5:33 pm
Eu ja sonhei com Darth Vader dizendo que era meu Pai…Santo Deus preciso ir na exposição ! heheh
9 março, 2008 as 8:00 am
pois é…eu tbm tinha 14 quando assisti “guerra nas estrelas” eu tbm assisti no clássico cinema Roxy ( alíás, oq fizeram com as salas de cinema antigas do Rio pelo amor de Deus?) e tbm fiquei embasbacada do início ao fim … era tudo tão envolvente q havia momentos em que me sentia pilotando a nave junto com Luke … “guerra nas estrelas” é sem dúvida um dos filmes da minha vida. um clássico. ever. que a força esteja com você!
9 março, 2008 as 12:01 am
Se não morasse tão longe iria sem pestanejar.
8 março, 2008 as 10:50 pm
Olá Zeca! venho aqui pela primeira vez, dei um passeio pelo seu blog, gostei muito! li por alto este seu ultimo post…amei um que voce postou(não lembro o mês) falando sobre a grande escritora Agatha Christie (que eu amo)…
Esta é a primeira das varias visitas que pretendo fazer aqui no seu cantinho, gostei muito…
Abraços
8 março, 2008 as 10:01 pm
Lógico que vale a pena. Embora eu não seja profundo conhecedor de Guerra nas Estrelas, acho que ainda não foi feito outro filme (e talvez nunca seja feito) que forme uma legião fãs alucinados como este filme conseguiu. Senhor dos Anéis esta ai para provar isso: ganhou uma dúzia de oscar e não formou uma entidade nem um pouco próxima de Guerra nas Estrelas. Entidade, isso mesmo, Guerra nas Estrelas é uma religião como qualquer outra.
8 março, 2008 as 8:43 pm
Bem, infelizmente moro em Natal, e nada chega aqui. Nem a exposição, nem o zeca, nem nada! Ainda bem que existe internet. Assim eu mato aos poucos essa saudade do que não existiu.
De tudo adorei o título, novo no seu blog, mas bem presente na minha vida. Tenho muitas saudades do futuro também, por inumeros motivos, que não daria pra descrever aqui.
Um bejão zeca e vê se visita minha terra, agente tem muita coisa boa pra oferecer também!!!
8 março, 2008 as 6:13 pm
Parabéns pelo Blog Zeca. Te vi no teatro leblon mas fiquei sem graça de falar pessoalmente. =P
Gosto muito dos seus comentários.
Bjs
8 março, 2008 as 3:23 pm
Olá Zeca mensagem exclusiva essa sua ,viu….acho que realmente foi pra mim!!
7 março, 2008 as 11:53 pm
Ei Zeca, “Guerra nas Estrelas” me traz boas recordações de infância, qdo eu morava no interior e meu pai trazia eu e meus irmãos à BH só para ir ao cinema. Aquilo que era pai!
Eu adorava mesmo era o Han Solo – ficava caidinha po ele;-))
Mas não a ponto de ir numa exposição sobre a trilogia. Meu sonho é um dia ser tiete de alguma coisa a ponto de ficar doida pra ir num trem desses…mas acho que tô ficando meio velhinha pra essas coisas…
Bjos
7 março, 2008 as 2:05 pm
melhor deixar essa história de biografia pra lá
7 março, 2008 as 12:59 pm
Zeca, este ano tem outro hype no cinema:
A quarta aventura do Indiana Jones que é do mesmo criador, George Lucas. Assim, espero um post legal sobre isto em…MAIO 2008.
7 março, 2008 as 10:03 am
Olá!!!
Não sou velha ………. vi o filme em uma das repeticoes “inéditas na tv”……… me senti nas nuvens, quando eu puder irei assistir a nova versão……. abracos bjs tri
7 março, 2008 as 8:33 am
Zeca, bom dia!
Faço o 6° período de Jornalismo em Minas Gerais. Gostaria de convidá-lo para dar uma palestra para os alunos de Comunicação da Universidade em que estudo, em Uberlândia – MG.
Quais são as suas condições?
Aguardo uma resposta,
Beijos!