Abertura, destemidez, otimismo

seg, 31/03/08
por Zeca Camargo |
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Para os interessados numa explicação rápida, foi uma celebração! Sim, este blog acaba de completar um ano e meio de existência e, como eu disse aqui em “aniversários” passados (quando chegamos aos seis primeiros meses), um semestre na internet vale bem mais que 180 dias. Dezoito meses, então, são um lustro! E chegamos – “chegamos”, né, pois foi um esforço coletivo! – a esta marca apesar de todas as intempéries: compromissos e viagens; períodos de grave seca e exuberante abundância cultural; bloqueios e inspirações; elogios e críticas (nunca menos que divertidas, note-se – reparou numa do post anterior, da Ellem, que declara como uma “fatwa” que só voltará a visitar este blog “se” um dia eu voltar a ser normal… Estamos em 2008 e alguém ainda vê a normalidade como algo uma meta a ser atingida? Quer mais divertido que isso?). Por tudo isso, e em nome dos que me acompanham desde o início (mais os sempre bem-vindos neófitos), eu digo “Hell yes!” – uma expressão bem comum em inglês, já brilhantemente cantada por Beck no seu álbum de 2005, “Guero” (e que, para a minha surpresa, só foi lembrada em um comentário, o do Mike) e incrivelmente bem apropriada pelo artista suíço Ugo Rondinone, num trabalho de 2001, escolhido pelo New Museum para figurar na sua fachada recém-inaugurada por “encapsular a filosofia de abertura, destemidez, e otimismo” que cerca o museu na sua reaparição na comunidade de arte contemporânea. Abertura, destemidez (que meu corretor ortográfico insiste em contrariar o Houaiss, recusando-se a aceitar sua grafia – e mesmo sua existência!), e otimismo… Se alguém estava precisando de um “liberdade, igualdade, e fraternidade” para o século 21 – considerando, claro, que os ideais da revolução francesa já estão conquistados –, aí está! E que seja esse também o lema deste blog “per secolum seculorum”…

zeca_hellyes.jpgSim, essa foi a explicação rápida. Passemos à longa…

Eu estive no New Museum esta semana – quando passei 48 horas em Nova York (e antes que você atire a primeira pedra dizendo que estou me exibindo, foi a trabalho). Já sabia que seria muito corrido – teria de “acomodar” as coisas que eu tinha de fazer e mais todas as outras que eu queria fazer. E tinha me programado para mandar de lá um post que era exatamente a foto da obra de Rondinone, mais uma primeira versão do texto que abre o post de hoje. Só que, sem nenhuma explicação filosófica mais profunda, decidi, de repente, provocar você e mandar apenas a foto. Qual seria sua reação? Bem, até a publicação deste texto de hoje, encontrei 96 reações diferentes – que maravilha! Mais que nunca, como bem observou a Íldima, virei espectador e você, protagonista deste post.

E foi isso mesmo: por puro impulso, pedi aos editores do Pop & Arte que postassem apenas a foto. Cheguei até a pensar em suprimir inclusive a linha de título – mas, temendo um prejuízo gráfico, preferi abolir as palavras e preencher a linha com aqueles pontos de interrogação. Uma provocação? Talvez – mas garanto: foi um processo muito mais intuitivo do que meticulosamente calculado. E o resultado? Bem, some a sua própria reação ao se deparar com a foto por aqui na semana passada às dezenas de comentários espertos que foram deixados por aqui com relação à imagem.

De bíblicas interpretações sobre nossa relação com o inferno (e o céu) ao previsível ataque às cores da bandeira do orgulho gay (espertamente apropriada por Rondinone), das propostas de tradução literal da expressão ao puro prazer de descobrir um novo artista (o próprio Rondinone), as contribuições foram todas preciosas – não porque eram especialmente brilhantes (e algumas até o eram), mas simplesmente pelo fato de elas refletirem uma inquietação. E ninguém fica inquieto se, antes, não se sentir provocado. E é uma provocação dessas que, para mim, define uma obra de arte de verdade.

Ponto para Rondinone, claro – talvez até com 10% para mim, já que, ao mencioná-lo no blog, ampliei (ainda que marginalmente) o público afetado pelo seu trabalho (não precisa agradecer, estamos aqui para servir!). Os louros de Rondinone, porém, são os mesmos de inúmeros artistas que estão sempre a nos provocar – boa parte deles, aliás, celebrada aqui nesses dezoito meses. O que faz esses artistas e seus trabalhos instigantes o suficiente para provocar reações/ pensamentos/ respostas é, pelo menos para mim, até hoje um mistério. Não sou capaz de construir teoria nenhuma em cima disso (são tantos os teóricos mais competentes do que eu nessa seara!), mas sei detectar bem quando uma obra de arte é forte o suficiente para mexer comigo.

Aliás, voltando às 48 horas que passei agora em Nova York, não faltaram estímulos nesse sentido. Alguns exemplos? Posso começar pela Bienal do Whitney Museum – o eterno saco de pancadas da crítica norte-americana, mas que, apesar de sempre apresentar problemas (pelo menos desde que eu comecei a acompanhá-la, no final dos anos 80), nunca deixa de intrigar. Este ano, para citar apenas alguns nomes (pretendo falar mais só da exposição num outro dia), fiquei intrigado com os trabalhos do inglês Walead Beshty; com o inacreditável garimpo de imagens do americano William E. Jones (que até já passou por aqui, numa das edições do Mix Brasil); com a cruel ironia da vídeo-instalação do israelente Omer Fast; com o bizarro filme sobre viagens exóticas do suíço Olaf Breuning; com a sempre sutil pintura da americana Karen Kiliminik; com a inesperada poesia do vídeo do venezuelano Javier Téllez.

Tudo muito interessante, mas nada capaz de tirar o fôlego tanto quanto uma certa tela pintada há mais de 140 anos: “A origem do mundo”, de Gustave Courbet, “A origem do mundo”. Um dos pais do realismo francês, ele ganhou uma retrospectiva no Metropolitan Museum – e consegue, sem muito esforço, mas com enorme talento, fazer mais barulho com uma tela “antiga” do que toda a contemporaneidade da bienal do Whitney. (para os fortes do coração, aqui está o link da página do Musée D’Orsay, em Paris, sobre a imagem). Vi isso também.

E vi Nathan Lane na Broadway, com “November”, uma comédia rasgada (quase um “sitcom”) de David Mamet – engraçadíssima, especialmente pelo fato de que o personagem principal é um presidente dos Estados Unidos que está no fim do seu mandato sem chances de reeleição (“seu nível de aprovação está mais baixo que o colesterol de Gandhi!”, diz seu advogado)… qualquer semelhança com George W.Bush não é mera coincidência.

Vi o novo filme de Michel Gondry, o extremamente original (apesar de monocórdio) “Be kind rewind” – só pelo trailer você já pode ter uma idéia da maluquice proposta pelo diretor dessa vez. Fiz a visita de praxe à loja Other Music – onde comprei a “promessa da vez”, o CD de Hercules & Love Affair e mais uma coletânea irrepreensível de “pop hippie” espanhol dos anos 60 – “Papagayo!” (ainda não ouvi nada…). .

Passei pelo Museum of Modern Art cheio de expectativas para ver “Color chart” – uma exposição sobre a “reinvenção” da cor das artes, de 1950 até hoje –, apenas para me decepcionar com a preguiça dos curadores (convenhamos, uma coletiva com esse tema, que deixa de fora Hélio Oiticica, não merece meu respeito). Em compensação, no mesmo MoMA, esbarrei na mostra de desenho gráfico e industrial mais excitante da que vi nos últimos tempos: “Design and the elastic mind” (“Design e a mente elástica”).

cover_spitz.jpgNa minha livraria favorita da cidade, McNally Robinson, peguei os novos lançamentos de dois autores interessantíssimos: Nicholson Baker (“Human smoke: the beginnings of world war II, the end of civilization”) e Chip Kidd (“The learners”). E nas bancas de revista encontrei a capa mais inventiva, ousada, inteligente, irônica, engraçada, pertinente, séria, chula e sofisticada (pelo menos no plano das idéias) que já entrou para a minha coleção: a “New York” com o ex-governador Eliot Spitzer e apenas uma palavra como manchete, “Brain” (“Cérebro”) – de onde sai uma seta apontando para sua virilha (alguém consegue imaginar um político brasileiro que pudesse figurar numa capa assim? ou melhor, alguém pode citar uma revista brasileira que teria a coragem de publicar uma capa assim?).

A lista é grande, mas não é (como você, que me acompanha aqui há tanto tempo, já sabe) apenas uma desculpa para me exibir. Tudo isso que vi, experimentei, ouvi, é tão provocante e inspirador, que ainda vai render muita discussão para este blog. Assim como o “Hell yes!” de Rondinone. Assim como o refrão de Beck (“I’m working my legs”!). Assim como esse último ano e meio. Assim como seus comentários.

???

qui, 27/03/08
por Zeca Camargo |
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A Curva da hora (e outras linhas que definem a nossa vida)

seg, 24/03/08
por Zeca Camargo |
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Primeiro, a linha que você já conhece, já espera, admira, picha – e até, eventualmente, palpita: nossa “Curva das expectativas flutuantes”! O ano, mesmo com o Carnaval adiantado, demorou para começar, mas agora, não temos mais do que reclamar… Já estamos sendo bombardeados com inúmeras tentações culturais – e a maneira como reagimos a elas, claro, é o que define essa nossa Curva.

grafico_24_mar-600.jpg

Veja na música pop, por exemplo. Santogold é definitivamente o nome para se apostar (por isso, seu álbum de estréia, também com o nome de “Santogold” e ainda inédito no Brasil, está com um bom bochicho), enquanto Erykah Badu vem consagrada com seu novo trabalho, excentricamente batizado de “New amerykan”. Já Madonna… Como de hábito, mesmo antes do lançamento oficial de seu novo CD, ela está por todo lugar – e, conhecendo seu ciclo normal, de um disco bom seguido de um “meia bomba”, depois do excelente “Confessions on a Dancefloor”, os fãs já esperam pelo pior. Por enquanto, então, “Hard candy” emplaca no “ponto de saturação” (ainda que, minha torcida pessoal seja para que ela quebre essa maldição – aliás, pelo que eu ouvi de “4 minutes”, é isso mesmo que vai acontecer).

No cinema, as expectativas já são altíssimas para o novo filme de Fernando Meirelles, “Ensaio sobre a cegueira” – o que, mesmo sem ninguém ter visto nada, já o coloca na categoria “pré-bochicho”! “Chega de saudade”, de Laís Bodansky é uma unanimidade – mesmo sem ainda tê-lo assistido, já sei que ninguém sai do cinema sem se emocionar. E nas grandes produções “hollywoodianas”, ainda teremos de esperar uns dois meses para revisitar Indiana Jones – quase vinte anos depois de ele ter se “despedido” na sua última cruzada… Mesmo assim, a “blitz de mídia” está um pouco demais, e coloca o filme na “superexposição”.

Um ótimo assunto que ninguém agüenta mais é a comemoração dos 200 anos da chegada da família real ao Brasil. Explica-se: primeiro, aquela avalanche de livros (quantos sobre o mesmo assunto você consegue ler?); depois todas as reportagens e especiais. O que falta agora? Um musical? Um videogame? “Ressaca” para o tema! E, recuperando-se dela, bem na sua última semana de exibição, a minissérie “Queridos amigos”. Ainda acho que ela tem coisas ótimas e coisas lamentáveis (como já comentei aqui, mas, no balanço final, acho que a vitória é da ousadia do tema e da linguagem (para não falar das excelentes atuações) – e, sendo assim, sobreviverá à própria ressaca!

Com essa Curva resolvida, cuidemos então das outras linhas às quais eu me referi no título lá em cima. Importantes – ainda que totalmente arbitrárias, já que foram desenhadas pelo homem para recortar nosso planeta –, elas definem um subuniverso do qual nem sempre nos damos conta. Aliás, poucos são os que se lembram de que nós mesmos vivemos exatamente no espaço definido por elas – e menos pessoas ainda param para pensar em como existir dentro desse espaço afeta a nossa vida. Estou falando dos Trópicos, o tema de uma das exposições mais interessantes que vi recentemente – em cartaz no CCBB, do Rio de Janeiro, até dia 04 de maio.

tropicos-no-rio-23-zeca.jpgO nome oficial da mostra é “Os trópicos – visões a partir do centro do globo”, e ela é composta por mais de duzentas obras entre preciosidades do museu etnológico de Berlim, na Alemanha, e outros trabalhos de artistas contemporâneos – inclusive brasileiros. Já tinha lido algumas reportagens sobre ela, mas me interessei mais ainda quando recebi o caprichadíssimo catálogo da exposição. Fiquei tão entusiasmado que acordei cedo no domingo passado para estar na porta do centro cultural bem na hora que ele abrisse – para que eu pudesse ver tudo com calma… E ainda enfrentar um dia inteiro de trabalho. O esforço – só para registro – foi mais que recompensado!

O principal motivo de eu ter gostado tanto de “Os trópicos” é que ela cumpre exatamente a função que eu acho que uma exposição deve propor hoje em dia: uma reflexão aberta, um conjunto de referências soltas (mas não desencontradas!), que convida o visitante a fazer associações inesperadas – enfim, uma viagem de idéias. Ah! – faltou falar que “Os trópicos” reúne peças lindíssimas, algumas de culturas que raramente visitam o Brasil. Por tudo isso, eu só lamento que a mostra não vá passar por mais cidades do Brasil.

Mas se vocês estiver no Rio, não deixe de visitar – é emocionante (e se você não estiver, use a própria internet para descobrir mais sobre a exposição). Para mim, a experiência foi especialmente reveladora, pois o que via ali, diante de mim, era a ilustração de algumas coisas que eu acredito – que até já defendi aqui várias vezes – e que acho que ajudam a definir quem somos nesse mundo. “Os trópicos” pega o surrado conceito de que “geografia é destino” e joga na cara do visitante a pergunta: “Já parou para pensar que se você tivesse nascido aqui mesmo nos trópicos, mas num meridiano diferente, sua referência cultural seria totalmente outra?”. Ah… o arrepio de pensar nessas possibilidades…

Nós em geral somos muito mal informados (ou seria melhor dizer “mal educados”) com relação à arte étnica – tão bem representada nessa mostra com as peças do museu alemão. Nossa primeira reação é sempre classificar uma escultura africana, um totem da polinésia, um tecido artesanal ou um objeto ritual, na categoria “coisas exóticas” – e deixar por isso mesmo. Olhamos, pensamos: “que esquisito” – e pronto! O grande mérito de “Os trópicos” é justamente inverter esse jogo e deixar claro o seguinte: “isso aqui tem a ver com você!”.

tropicos-no-rio-3-zeca.jpgAquelas bizarras facas da República Democrática do Congo, com suas formas sinuosas? Têm a ver com você. A elegante cabeça de Buda, da Tailândia? Também. A estranhíssima máscara de um espírito da floresta, da Melanésia, Nova Guiné? Tem também, claro. Os bordados coloridos do Panamá? Idem. Assim como a arte plumária Mundurucu (daqui mesmo, do Brasil), o alaúde de Chieng Mai (Tailândia), a figura ancestral de Camarões, a estatueta Uli (Papua Nova Guiné) o prendedor de cabelo da Guatemala – e tantas outras coisas em exibição?

E se você ainda tiver dificuldade de fazer a ponte entre essas culturas e a sua, o time de artistas contemporâneos convocados para “Os trópicos” dá o toque final. As fotos são de peso (tem do alemão Thomas Struth ao brasileiro Caio Reisewitz) e os vídeos, um achado ainda maior. É fácil ser hipnotizado pelo close de um par de seios femininos sacudindo ao som de um ritmo latino numa justa camiseta vermelha como em “Furor”, da espanhola Pilar Albarracín. Mas mais divertido ainda é perceber-se olhando por longos minutos para o curioso jogo entre máscara e expressão facial proposto pelo carioca Marcos Chaves. Ou mergulhar no transe alucinado captado pelo peruano David Zink Yi, em “Abakuã”. Ou inexplicavelmente quase chegar às lágrimas com as imagens sobrepostas de “Em águas calmas, crocodilos aguardam a presa”, na vídeo-instalação do alemão Marcel Odembach.

Tudo isso – e muito mais – é apresentado de uma maneira não-linear, justamente para deixar as conexões por conta do visitante. E o resultado é uma experiência única, da qual eu saí especialmente comovido por tê-la vivido justamente aqui, no meu país.

“Os trópicos” me tocariam em qualquer lugar do mundo, mas o fato de a exposição estar aqui tão próxima da gente, nos faz sentir ao mesmo tempo mais brasileiros, mais tropicais, e mais ainda cidadãos do mundo. Ah, se aquela menina que de vez em quando deixa seu comentário aqui e que adora bater um tamborzinho da cultura nacional pudesse dar uma passada por lá…

(Em tempo: muito obrigado pelas respostas à ajuda que pedi no post anterior. Em breve, aqui, vamos entrar a fundo em Suely & Os Kantikus – e aí você vai entender tudo melhor…)

Procura-se

qui, 20/03/08
por Zeca Camargo |
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zeca_suely.jpgJá adiantei o que vou ler no feriado. Faltou dizer o que vou ouvir. Serei breve – mesmo. Primeiro, porque é feriado. Segundo, porque mais que um post, este texto é um pedido de ajuda – e a gente sempre tem que ser direto quando pede socorro (já viu um “cartoon” clássico da “The New Yorker” em que um pedido assim é mal interpretado?). Enfim, preciso saber mais sobre uma banda que se chama Suely & Os Kantikus, além da única entrada, com alguma “sustança”, que encontrei deles na internet: “Suely & Os Kantikus – Grupo de Suely Chagas, que contava com a participação dos guitarristas Lanny Gordin e Rafael Vilardi. Gravou apenas um compacto (1968), com as músicas ‘Que Bacana’ e ‘Esperanto’. ‘Que Bacana’ ganhou o Festival Universitário realizado pelo Canal 4, de São Paulo.”

Parece também que Suely (Chagas) era amiga de adolescência de Rita Lee… Mas será? E o que mais? Seria demais pedir uma foto? Um paradeiro? Alguém que tenha o compacto (coisa de velho!) para me emprestar? Vender (achei um por 20 euros num site europeu!)?
Enfim, esse interesse repentino tem a ver com a trilha sonora do meu feriado: uma jóia que encomendei – onde mais? – na Other Music, e que se chama “Obsessions” (Bully Records).

Mais não falo, pois se tem alguma coisa que eu ainda respeito é feriado… Até segunda!

Leitura recomendada para o seu feriado

seg, 17/03/08
por Zeca Camargo |
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altostratus300.jpgEscrevo este post sob um céu coberto por uma altostratus. Pode ser que seja também uma nimbostratus, mas a chuva já parou e o conjunto está mais para o branco leitoso do que para o cinza – então tenho quase certeza de que se trata de uma altostratus. Aprendi essas coisas num livro que acaba de sair no Brasil, uma pequena obra-prima da leitura que você pode tranqüilamente ignorar por toda sua vida, mas que, quando você a encontra, pergunta-se como pôde viver até os dias de hoje sem uma preciosidade dessas. Estou falando do “Guia do observador de nuvens”, de Gavin Pretor-Pinney (editora Intrínseca).

Estou recomendando essa leitura para a Semana Santa não por motivos religiosos, claro – se bem que o guia tem uma amostra de momentos… “bíblicos”! Os motivos são meteorológicos: mesmo que você não seja supersticioso e acredite na “maldição da chuva na Páscoa”, uma consulta rápida num bom site de tempo vai te convencer de que vamos ter dias nublados pela frente – especialmente no litoral. E que delícia poder matar esse tempo livre sem poder ir à praia justamente com um livro sobre nuvens!!!

Com efeito, a idéia de escrever sobre isso é, sim, um pouco estranha. Mas se você soubesse mais sobre o autor do guia, talvez encarasse um volume como esse simplesmente como uma conseqüência natural de uma vida dedicada ao ócio. Pretor-Pinney é um pacato – como não poderia deixar de ser – agitador cultural. E – contraditoriamente – um engajado defensor da preguiça.

Ele passou pelo meu radar logo no início dos anos 90, quando ajudou a lançar, na Inglaterra, uma revista chamada “The Idler” – literalmente, “O Preguiçoso”. Por trás dela, surgia todo um movimento pregando que o “não fazer” é algo que o homem moderno deve buscar – não combater! Ainda tenho alguns números do primeiro ano da revista e os artigos são engraçadíssimos: perfis de preguiçosos famosos, instruções de como se desvencilhar de atividades corriqueiras sem culpa, editoriais de moda privilegiando o conforto extremo, e relatos de pessoas que simplesmente não faziam nada pelo mundo – enfim, uma espécie de manual de auto-ajuda para quem nunca se sentiu inspirado a levantar um dedo…

Pelo que me lembro, essas primeiras edições eram bimensais – ou, talvez, levando em conta a disposição com que eles gostavam de exercer alguma função, trimestrais. Mas até isso estava se mostrando muito trabalhoso para aquela equipe editorial. Essa periodicidade não durou muito, e hoje “The Idler” existe como um livro/revista, lançado apenas semestralmente – se bem que tem alguns anos em que, eu acho, só um número foi publicado. Existe ainda um site onde você pode se atualizar, sem pressa, nos últimos lançamentos recomendados pela editora (títulos como “O manifesto da liberdade”, “Como ser preguiçoso” e “Como pescar” – este, escrito pelo correspondente de chás da revista… não pergunte!), consultar os arquivos, conhecer a galeria dos grandes preguiçosos de todos os tempos, e ainda comprar camisetas com o símbolo da revista, um caramujo, ou com slogans do tipo “Work kills” (“Trabalho mata”).

Esse então é o universo por onde Pretor-Pinney gravita – e agora você já pode entender o que está por trás, em termos de inspiração, de um homem que escreve um “Guia do observador de nuvens”, e mais: é dele também um site totalmente dedicado ao seu hobby, a Sociedade dos Admiradores de Nuvens. Você ainda não está levando o cara a sério? Não tem problema: ele mesmo se leva a sério – pelo menos o suficiente para rir da própria obsessão. No site você pode encontrar uma exuberante galeria de fotos de nuvens (que está aberta, inclusive para a contribuição), um blog com “novidades nebulosas” (a última entrada trazia um vídeo incrível sobre um tipo raro de “cumulus radiatus” – que me soou ligeiramente como um feitiço inédito de Harry Potter!), e até duvidosas poesias dedicadas a… adivinhe o quê? Mas isso tudo é para iniciados. Você e eu somos apenas princiantes nesse assunto tão… rico. Por isso, temos começar de algum lugar – e esse lugar é o “Guia do observador de nuvens”.

guia.jpgComprei o livro há pouco mais de um ano, no original em inglês, e, dentro do verdadeiro espírito preguiçoso, estou lendo-o aos poucos – até hoje. Sim, porque não é o caso de devorá-lo numa tacada só… São muitas informações – e informações… bem… não tem como dizer de outra maneira… são informações desnecessárias! Mas que futilidades maravilhosas!!

Foi graças ao guia, por exemplo, que eu descobri como surgem aqueles cenários que eu costumo chamar de “voz de Deus”, quando raios fúlgidos (!) saem de brechas de nuvens pesadas: “Eles nada mais são do que flechas de luz, tornadas visíveis pelos efeitos de dispersão provocados por minúsculas gotas d’água (e outras partículas) no ar”. Lá também que eu soube que pingos de chuva não caem na Terra naquela forma bonitinha, arredondada em baixo, terminando em bico em cima, mas como disformes amebas que, segundo o autor, estariam mais bem representadas por pequenos pães de hambúrguer! Nessas páginas descobri ainda os pileus – uma subnuvem que parece um franjão liso de uma cumulus –, as nuvens nacaradas e as mammas – que são quase isso que você está pensando mesmo…

Um dos prazeres de ler o guia é acompanhar o jogo que Pretor-Pinney faz constantemente entre o tom sério – quase técnico, em frases como “No caso de uma montanha de nuvens como essa, o teto invisível da inversão de temperatura costuma ser a ‘tropopausa’, que é a parte de cima da troposfera, na qual as temperaturas começam a parar de cair com a altitude” – e o tom de brincadeira – como quando ele cita Frankie Lymon, ídolo adolescente do pop dos anos 50 (já ouviu “Why do fools fall in love?”), que morreu tragicamente aos 26 anos, apenas para introduzir a sua explicação para a questão “por que a chuva cai?”. E, com um talento que raros autores de livros especializados têm, ele oferece ainda momentos que, ainda que truncados, são fascinantes – por exemplo, quando ele explica como o arco-íris nunca chega do mesmo jeito aos olhos de quem o observa.

É por passagens assim que eu já vou separar essa tradução para minha bagagem no feriado – se bem que, como você pode imaginar, em plena Páscoa, eu vou certamente trabalhar mais do mais que qualquer coelhinho de porta de supermercado… Mas nem por isso eu vou deixar de me pautar com atividades culturais. Quero ouvir e degustar uma encomenda que acabou de chegar pelo correio (e que se chama “Victrola favorites” – sobre a qual pretendo dedicar um post em breve). Quero ler o recém-lançado segundo volume de “O fotógrafo”, a sensacional história que mistura fotografia e quadrinhos (que já foi comentada aqui). Quero visitar a exposição “Os trópicos”, em cartaz no CCBB, no Rio de Janeiro. E quero, claro, ler mais alguns trechos do “Guia do observador de nuvens”.

E insisto: leia você também! Não se deixe intimidar simplesmente porque esse é um assunto que você não gosta… Deixe-se seduzir por algo que, apenas superficialmente, te repele. Olha o exemplo desses meus “admiradores” que deixam seus comentários indignados com o tempo que perderam entregando-se a essas “mal traçadas”… mas mesmo assim lêem tudo até o fim, e ainda se dedicam a registrar o fato. O amor realmente se manifesta de estranhas formas…

Bom feriado! Na segunda que vem, retomamos com uma nova Curva das Expectativas Flutuantes (para matar as saudades de gente como a Luisa, a Brenda, o Dantas, a Andréia – e, espero, de tantos outros!), e algo mais…

Jar Jar Binks – ou “O rabo abanando o cachorro”

qui, 13/03/08
por Zeca Camargo |
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Poucos personagens foram tão odiados no universo pop quanto Jar Jar Binks. Fãs ou não fãs de “Guerra nas estrelas” são unânimes: a criatura é insuportável. Imbecil. Sem sentido. E – pecado maior – sem graça. No entanto, Jar Jar Binks foi apresentado, em 1999, como a grande atração do retorno da saga naquela galáxia muito muito distante. Imagine só: você esperando mais de vinte anos para repetir algo tão memorável quanto a experiência do primeiro filme e tudo que você encontra é… Jar Jar Binks!

Já retomo o assunto “Guerra nas estrelas”, encerrando minha trilogia de post sobre a saga. Mas, por enquanto, só quero usar essa criatura como um clássico exemplo de “o rabo abanando o cachorro”. Você certamente já ouviu essa expressão – uma de minhas favoritas, não apenas pelo absurdo que ela contém, mas pela curiosa freqüência com que ela pode ser aplicada a várias situações no dia-a-dia. E em produtos culturais…

Você não imagina com que alegria celebrei ter encontrado, recentemente, as imagens reproduzidas acima em uma das capas de um livro chamado “Fabrica 10: from order to chaos and back” (“Fabrica 10: da ordem ao caos e de volta”, numa tradução apressada). Explico: o volume tem dez capas diferentes, uma sobre a outra – e, ao folheá-las, quase chorei ao ver finalmente ilustrada essa situação do nosso cotidiano que é tão absurda quanto comum – comum o suficiente para você mal se dar conta de que passa por ela. Mas tente prestar atenção: quantas vezes alguém à sua volta (ou mesmo você…) não tenta justificar uma atitude, uma idéia, uma coisa que você tenha feito, usando o simples argumento de que ela (a atitude, a idéia, a coisa) deveria existir?

Essa inversão da ordem natural das coisas é tão irracional quanto um rabo abanando o cachorro – já que o que se espera é que o cachorro abane o rabo. Não obstante, nós, humanos, somos capazes de inverter (subverter?) a lógica para emplacar um ponto de vista, um argumento, um produto cultural, a qualquer preço – com inevitáveis prejuízos ao bom senso comum…

Há mais ou menos dez anos, se você se interessou por um filme chamado “Mera coincidência”, viu um excelente exemplo de como uma sucessão de fatos improváveis, seguidos de justificativas absurdas, pode levar a um desastre de enormes proporções. O filme (cujo título original em inglês é justamente a expressão que significa “abane o cachorro”, “wag the dog”) foi dirigido por Barry Levinson (“Rain man”) e traz no elenco Robert de Niro e Dustin Hoffman – entre outros. É uma ótima comédia política na qual, para despistar um escândalo sexual do presidente americano, seus assessores começam a inventar um factóide atrás do outro até que… bem, como eu gostaria muito que você visse o filme, vou parar por aqui. Mas a moral é que, quando você tem um problema – uma má notícia, uma criação infame, uma situação constrangedora – nas mãos, não tente justificá-la infinitamente…

Jar Jar Binks… Mas ainda não!

Antes, algumas palavras sobre o livro “Fabrica 10″. Eu sabia da sua existência há alguns anos (foi lançado em 2004), mas nunca tinha topado com ele. Trata-se de uma coletânea visual de artistas e criadores que passaram pela Fabrica – uma espécie de usina de idéias em Catena de Villorna, na Itália, patrocinada pela família Benetton (essa mesmo, a da marca de roupas). Tem boas idéias? Então passe por lá (no site você descobre como é possível se inscrever para passar um tempo nessa “instituição”). O que move essa Fabrica é a criatividade de seus residentes. E a palavra de ordem, a julgar pelos trabalhos que já vi sair de lá (várias campanhas da própria Benetton, as revistas “Colors”, as edições de CDs e DVDs com imagens e sons do mundo) e pelo livro que acabo de comprar, é “quando você tem uma boa idéia, expresse-a – e depois vá em frente!

“Vá em frente!”, claro, não significa “continue repetindo a mesma fórmula… Mas reinvente, faça diferente, surpreenda…

Jar Jar Binks… daqui a pouco!

Quero só citar ainda um artigo de Jeff Gordinier na última revista “Spin” (juro que tentei achar on-line, mas não consegui… você vai ter que ir até a banca, se quiser passar os olhos; está na última página do número de março). Sob o título “Once only, with feeling” (“Uma vez só, com emoção”), ele defende a idéia de que certos artistas – a maioria deles (eu diria “quase todos”) – nunca deveriam ter ido além do seu disco de estréia… Ah, a tentação de discutir isso agora… Mas vamos deixar para um futuro próximo, assim que eu ler o livro de Gordinier, que acabou de sair: “X saves the world: how generation X got the shaft but can still keep everything from sucking”.

Resumindo bem sua “tese”, ele só tem aplausos para artistas que sabem a hora de parar. Como Lauryn Hill, The La’s, Young Marble Giants, e como (para minha surpresa!) Vashti Bunyan – citada aqui mesmo neste blog como autora de um dos melhores discos que você não ouviu no ano passado. E Gordinier só lamenta artistas que, depois de um grande sucesso inicial, arrastam suas carreiras com ecos de um talento que eles jamais vão conseguir resgatar. Nessa crítica, sobra para todo mundo, de Elvis Costello a The Strokes – inclusive (sacrilégio!) Radiohead -, e eu tenho certeza de que você tem nomes a acrescentar à lista (alguém falou “The White Stripes”?).

Mas enfim, só posso concordar com Jeff Gordinier – ou melhor, quero até ampliar seu argumento para outras áreas da cultura. “Esticar” um ciclo criativo é fazer… “o rabo abanar o cachorro”! Num mundo ideal, eu agora daria exemplos de gente que soube – e que não soube – parar nas artes plásticas, na literatura, no cinema, na televisão, na música. O problema é que já estou escrevendo muito e ainda nem explorei a idéia central dessa parte final da trilogia de posts sobre “Guerra nas estrelas”… Por isso, vamos a ele: Jar Jar Binks!

jarjar.jpgEle é o rabo que abana o cachorro – no caso, a própria saga. Ele é o detalhe engraçadinho, que serviu como distração para costurar uma história inteira que, convenhamos, não se sustenta. Não disfarce: se você também atravessou as quase sete horas que leva para assistir toda a primeira trilogia – que, lembrando, veio depois da segunda -, há de confessar que ela é insuportável. E olha que nesse julgamento estou tentando deixar de fora a nostalgia do verão de 78, a que me referi na semana passada

Ok, tem a luta final do terceiro episódio – que “desvenda” todo o mistério proposto no filme original. Não tem como negar que ela é empolgante e importante. Mas ela não poderia ter sido contada como um “flashback” em algum momento da primeira (segunda) trilogia? Fora essa seqüência, o que mais você citaria de memória como algo imprescindível, inesquecível, da segunda (primeira) trilogia? Hummm, aquelas imagens do planeta que vive em tempestade em “Ataque dos clones”? De fato, são belíssimas – mas também chatíssimas… Então, o que mais? Jar Jar Binks?

Não quero provocar nenhum Jedi, mas depois de passar os últimos dez dias revisitando tudo dessa história tão icônica que é “Guerra nas estrelas”, a conclusão mais lúcida a que eu cheguei foi a de que tudo que você precisava para se divertir com a história já existia no filme original. Porém, mesmo sabendo que o que viria depois seria inferior, eu e mais milhões de fãs no mundo todo, ansiavam por mais. George Lucas atendeu – e o resto da história você conhece. Para ele, claro, foi fácil: ninguém duvidava de que a partir dali, daquele primeiro trabalho tão transformador, era possível contar qualquer história… até mesmo essa, logo abaixo, que eu deixo para você se divertir no fim de semana…

De quantas maneiras diferentes é possível cantar “Blowin’ in the wind”?

seg, 10/03/08
por Zeca Camargo |
categoria Todas

dylanzeca10.jpgDe quantas Bob Dylan quiser. Sim, eu vou falar de “Guerra das estrelas” – não estou fugindo do que combinei na semana passada. Mas é que fui ao show de Dylan neste último sábado, no Rio, e não tinha como não registrar isso aqui. Especialmente porque encontrei (para variar) uma curiosa conexão entre as duas coisas. Primeiro Dylan.

Cheguei dez minutos atrasado – parece que o homem é pontual. Assim, sem nenhum preparo, fui deparar com um dos artistas mais icônicos da música do século 20 já no palco, elegantíssimo nos seu blazer que parecia (da distância em que eu estava) de um xadrez bem miúdo, em branco e preto – sem falar no estiloso chapéu de aba larga –, cantando uma música irreconhecível para mim – e, pelo visto também para a legião de fãs que estavam naquele estádio convertido em casa de shows, pois nenhum deles demonstrava qualquer atitude diante daquele som. Apatia ou reverência?

A cena me fez lembrar de um concerto do Sex Pistols a que assisti há mais de dez anos em Tóquio. Como uma boa platéia japonesa, os fãs locais assistiam, impávidos, Johnny Rotten/Lydon trucidar “Anarchy in the UK” – e aplaudiam polidamente no final, tornando todo o espetáculo mais surreal do que já era a intenção. Intenção essa, claro, que não havia no show de Dylan. A platéia estava mais para a transfixada do que para a comportada. Nem poderia ser diferente: aquele sessentão sinistro grunhindo torrentes de letras incompreensíveis estava fazendo o que sabe melhor… hipnotizando seus fãs.

Quando digo que as letras eram incompreensíveis, isso não tem a ver com meu nível de entendimento do inglês – que, digamos, é bastante razoável. Não entender o que um artista canta – especialmente no nosso país – jamais é motivo de vergonha para quem gosta de música e sabe que o significado daquilo tudo é maior que a soma das partes. Quero apenas registrar uma ligeira frustração de não ter o quadro completo. Em vários momentos, me senti envolvidíssimo com o sofisticado som da banda, porém privado da força das letras de Dylan.

A falha, claro, era minha (quem mandou não aperfeiçoar ainda mais os ouvidos?) – nunca do artista, que tem direito de mostrar a sua arte do jeito que ele bem entender. Direito esse, aliás, que Dylan usou bem (abusou?) ao tocar dois clássicos seus já no final da apresentação de sábado: a incomparável “Like a rolling stone”, e a universal “Blowin’ in the wind”. Se a primeira mostrou-se, mais uma vez, impossível de ser camuflada (sou capaz de reconhecer o primeiro verso – “Once upon a time you dressed so fine” – em qualquer língua, arranjo, compasso, ou estado de embriaguez), a segunda, nos seus acordes iniciais, despistou até os fãs que sabiam que ele encerraria com essa música. Tanto que assim que ele começou sua versão de “Blowin’ ”, os gritinhos histéricos não vieram. Em compensação, quando o público reconheceu o refrão…

Não era a “velha canção”. Dylan a interpretou totalmente repaginada – como, já assinalado, lhe é de direito. Para alguém que já a executou milhares de vezes, o interessante é justamente “re-cantar” – inventar uma nova maneira de contar uma história manjada. E ser brilhante nessa tentativa. E, como já poderíamos prever, Dylan, anteontem, o foi.

George Lucas também – com a diferença de que a história recontada, em “Guerra nas estrelas”, não foi exatamente inventada por ele… Aliás, alguém sabe quem contou pela primeira vez a luta do bem contra o mal?

Acha que eu estou simplificando demais a história? Muito bem, então, vamos elaborar! Lembra-se de Harry Potter? Na busca da verdade sobre seu passado – para preencher um vazio na relação pai/filho, que foi interrompida há tempos e de maneira traumática – e ainda procurando agregar sabedoria para construir um mundo mais justo, nosso herói passa por uma série de aprendizados para chegar cada vez mais perto de uma força universal capaz de comandar as grandes e poderosas correntes que regem o mundo num constante jogo de desequilíbrio – justamente, o bem e o mal –, caminho esse pelo qual ele enfrenta terríveis criaturas inimagináveis na vida do nosso planeta como o conhecemos, e mais toda a malevolência de vilões que possuem algo muito próximo da força que ele busca, porém o lado obscuro dela – obstáculos que ele atravessa com emoção e suspense, sempre guiado por um sábio (e ancião) mestre, que não apenas oferece pensamentos iluminados aqui em momentos-chave da aventura, mas também é o detentor de segredos que vão ajudar nosso herói na sua conquista final.

Pois essa história serve também, perfeitamente, como uma sinopse para “Guerra nas estrelas” – ou a saga do Rei Arthur; ou “O senhor dos anéis”; ou “O rei leão”, ou…

O que não faz da saga de George Lucas um trabalho menos original. Pelo contrário: o brilho de “Guerra nas estrelas” é justamente acrescentar a uma narrativa arquetípica, um cenário futurista, uma roupagem totalmente moderna, e uma linguagem cinematográfica que estava há anos-luz de qualquer coisa que se via nas telas.

E quando vi o filme naquele verão de 1978, era só isso que me interessava: o visual, a aventura, as cenas de ação, e sensação de pura – para usar uma palavra tão batida que fica até difícil imaginar que ela já foi a mais adequada para definir o que passava pela minha corrente sanguínea durante aquela experiência – adrenalina! Tenho uma vaga lembrança de ler alguns artigos sobre as inúmeras possíveis interpretações e desdobramentos da história de “Guerra nas estrelas”. Intelectuais insatisfeitos em se contentarem apenas com o lado divertido das coisas, evocavam Freud, a semiótica de Barthes, Maquiavel, o mito da caverna de Platão, Buda, o pecado de Santo Agostinho, Kierkegaard – para ficar apenas na filosofia (mas vinham também referências literárias e históricas). Mas eu – e provavelmente como todos os garotos da minha idade pelo mundo – só queriam rever a cena da perseguição final…

(Não estou esnobando todas essas elucubrações – algumas delas pertinentes, outras ensandecidas, outras simplesmente desnecessárias. Muitas delas, fui encontrar tempos depois, já quando a saga entrava na segunda trilogia – e elas até me divertiram. Chamo a atenção para elas apenas para reforçar a riqueza do trabalho de Lucas. Além de tudo aquilo que nos encantava na tela, aquela trama ainda estava agindo no nosso subconsciente? Bom demais…)

Na verdade eu queria rever bem mais do que apenas aquela perseguição final: queria experimentar tudo de novo. Ter novamente a vertigem abissal quando Luke Skywalker ficava pendurado naquela ponte de um túnel sem fundo. Torcer mais uma vez na luta de sabres de luz. Acreditar, como se não tivesse visto, que nossos heróis não seriam prensados por aquelas paredes do compartimento de sucata. Reentrar naquele bar intergalático e me surpreender com aquelas criaturas que tomavam os mais exóticos drinques. E rir das turras entre C3PO e R2D2 como se nunca os tivesse ouvido antes.

Pelo frescor com que todas essas lembranças ainda me atingem, eu celebro aqui mais uma vez aqui “Guerra nas estrelas”. Talvez você, como a Pollyana – que mandou um comentário sobre o último post –, não tenha assistido o filme. Não se precisa se martirizar – não é difícil esbarrar nesse filme (bem como em todos os outros cinco títulos que vieram depois, “O império contra-ataca”, “O retorno de Jedi”, “A ameaça fantasma”, “O ataque dos clones”, e “A vingança dos Sith”), e você pode ainda, se estiver por São Paulo, visitar a exposição sobre esse universo. Mas, até para eu me orientar na última parte da minha modesta trilogia (quinta-feira o assunto continua), seria interessante saber sua opinião sobre a saga.

No próximo post vou expor a minha… mas, só para adiantar, digamos que eu concordo que George Lucas, assim como Bob Dylan, tem todo o direito de reinterpretar uma criação sua. Mas nunca de reciclá-la até ela sumir no ar. Bob nunca fez isso…

Saudades do futuro

qui, 06/03/08
por Zeca Camargo |
categoria Todas

Outro dia vi o trailer de “Jumper”. Pode ser que a memória me falhe, mas tive a impressão de que aqueles poucos minutos de montagem tinham mais ação do que todo “Guerra nas estrelas”. Fãs mais hidrófobos do filme que mudou o jeito de a gente assistir cinema, segurem seus comentários – pelo menos por enquanto -, pois este que vos escreve é também um profundo admirador de todos aqueles que foram tocados pela “Força” – seja pelo lado positivo ou negativo dela.

star-wars-filme.jpgJá respondendo à pergunta clássica – “onde eu estava quando assisti ao filme pela primeira vez?” -, me lembro de uma tarde bem quente no Rio de Janeiro (morava em São Paulo na época, mas parte das férias eram sempre lá). Verão de 1978. Cine Roxy – que resiste bravamente até hoje. Engraçado como não me lembro de ter uma grande expectativa para ver “Guerra nas estrelas” – fui vê-lo como mais uma atração da temporada. Claro, provavelmente já tinha visto uma bela chamada para o sucesso da produção no “Fantástico”. Ou talvez já tivesse lido alguma coisa em alguma revista sobre ele – se bem que eu ainda não consumia tanta informação como passei a fazer apenas alguns anos depois.

Tinha só 14 anos e, pelo menos que eu me lembre, a idéia de “media blitz” – essa varrida por todos os meios de comunicação possíveis que precede o lançamento de um grande produto cultural e que hoje em dia é tão comum que quase não damos conta de que existe e é cuidadosamente orquestrado para atingir a máxima eficiência (pense em Harry Potter) -, enfim, “media blitz” era um conceito ainda apenas esboçado. Assim, imagino que fui ver “Guerra nas estrelas” como mais uma atividade para preencher o dia – que certamente já havia começado com uma boa manhã pegando jacaré em Copacabana (nunca fui do surfe… mas eu divago).

Fato é que, apenas minutos depois que a projeção havia começado, eu já estava sob um transe tão intenso que não me lembro de mais nada. Quem teria me levado ao cinema naquela tarde? Teve pipoca? Como cheguei em casa naquele dia? Não me lembro. Ou melhor, tudo que me lembro é que eu passei as horas (talvez até os dias) seguintes me imaginando como Han Solo. Como posso ter certeza disso? Porque naquele dia mesmo passei a dividir meu cabelo no meio, tentando reproduzir (inutilmente, diga-se) o visual do – hummm… – “bandoleiro do espaço” – para o desespero da minha família, e para a alegria dos meus colegas de colégio que finalmente tinham alguma coisa para rir de mim na volta às aulas, além dos meus óculos de grau.

Quando usei a palavra “transe”, acima, não estava exagerando. Boa parte do final dos anos 70, passei devorando qualquer informação sobre o filme – era muita, mas nunca o suficiente. Até “O império contra-ataca” estrear, tive de esperar quase três anos e me lembro que foi uma tortura. Como todo convertido ao culto de “Guerra nas estrelas”, fiquei ligeiramente decepcionado com o final dessa segunda parte da (primeira) trilogia – mas tentei disfarçar da melhor maneira: apostando que o episódio final seria muito melhor. Mas até lá, eu teria de esperar outros três anos – um período que mostrou-se extremamente turbulento e fértil na minha formação cultural – e aí Luke, Han, Leia, C3PO, R2D2 – e, claro, Darth Vader – já tinham me perdido para algo que pode ser definido (em diferentes intensidades para cada elemento) pela surrada trilogia “sexo, drogas e rock n’roll”.

Mais sobre esse período num futuro (talvez bem) distante, quando eu achar que mais pessoas do que meu caro círculo de amigos possam se interessar por algo que virou uma praga desde que a palavra “celebridade” passou a ser mais trocada do que uma nota de R$ 2 – uma biografia. Essa ligeira referência pessoal serviu apenas para eu colocar minha admiração por “Guerra nas estrelas” num contexto para o post de hoje.

star-wars-exposicao.jpgQueria falar, claro, da exposição sobre o universo do filme, que pode ser vista em São Paulo desde ontem. Exposição essa que ainda não visitei, mas que – no mais fiel espírito ao livro de Pierre Bayard, “Como falar de livros que não lemos?” – sinto-me devidamente habilitado a comentar.

Afinal, já passei pela “media blitz” da própria exposição (que está em cartaz no Porão das Artes do Parque do Ibirapuera). Já vi inúmeros artigos e reportagens de TV sobre a mostra (como esse, por exemplo) – a ponto de querer realmente ir até lá, assim que tiver um tempo. Por enquanto, porém, faço o comentário apenas baseado na minha memória desse filme – e do impacto que ele teve naquele moleque de 14 anos. Aliás, foi por isso que me lembrei do trailer de “Jumper”.

Naquela “sessão da tarde” em que fui apresentado pela primeira vez a Luke e sua trupe, eu não tinha noção de como um filme podia ser emocionante – não emocionante na linha “Uma janela para o céu”, sobre o qual eu já havia me debulhado em lágrimas alguns anos antes, mas emocionante tipo “eu não estou conseguindo me segurar na cadeira do cinema”. Não tendo visto, até então, “Tubarão” – tive medo, confesso -, não havia experimentado ainda a excitação de ser provocado por uma produção que me oferecesse um suspense cada vez maior, a cada cena. E acho que mesmo que tivesse assistido ao primeiro sucesso de Spielberg, o impacto de “Guerra nas estrelas” seria o mesmo. Nada poderia preparar você para aquilo que acontecia nas telas. E o que mesmo estava acontecendo nas telas?

Bem, acho melhor deixar isso para segunda-feira – fazendo aqui uma insignificante homenagem a George Lucas, decidi fazer desse assunto uma trilogia (para quem gosta de coincidências, como eu, a última vez que fiz isso foi há quase um ano, para falar justamente de um certo artista que, assim como a exposição de “Guerra nas estrelas” está de passagem pelo Brasil).

Mas antes de concluir por hoje, preciso justificar aquele título acima. Pensei nele justamente porque, mesmo com “Jumper” – ou ainda, apenas o trailer de “Jumper” – prometendo mais ação do que todo o começo da saga de George Lucas, eu ainda não troco um pelo outro. O poder de “Guerra nas estrelas” é tão grande que eu já gosto da exposição mesmo sem ter tido (ainda, insisto) a chance de visitá-la. Por mais que soe juvenil (e eu sempre tenho um pouco de medo desses fanáticos pela história, que encaram aquela “galáxia muito muito distante” como uma espécie de “Terra do Nunca”), eu sei que tipo de excitação as referências aos elementos do filme despertam.

star-wars-exposicao-2.jpgSei que vou me sentir um pouco incomodado na frente da roupa de Darth Vader. Sei que vou ficar (ainda hoje) admirado com as diminutas maquetes das espaçonaves que eram tão imponentes nas telas. Sei que vou querer ler a letra miúda de todos os painéis explicativos, na expectativa de garimpar alguma informação que eu ainda não saiba. Sei até mesmo que vou hesitar diante da possibilidade (sempre constrangedora) de ser pego brincando com um sabre de luz. Apenas listando mentalmente essas possibilidades, respondi, positivamente, a mim mesmo uma pergunta que fiz logo que soube que a exposição estava chegando ao Brasil: faz sentido visitar uma mostra como essa? Tendo ou não tempo de conferi-la de perto, semana que vem mergulhamos no mistério de “Guerra nas estrelas”.

A música faz 50% do trabalho

seg, 03/03/08
por Zeca Camargo |
categoria Todas

jonnygreenwood03032008.jpgOrson Welles. Chique, não? – começar um post citando o diretor do maior filme de todos os tempos. Mas, em nome da transparência, devo admitir que essa é uma citação de uma citação. Foi tirada de um artigo de Alex Ross numa “The New Yorker” recente.

Nele, o crítico de música clássica da revista – autor de um dos livros que prometi para mim mesmo encarar em 2008, “The rest is noise: listening to the twentieth century” – faz exatamente o que eu queria ter feito desde que assisti a “Sangue negro”: um elogio rasgado à trilha sonora do filme. Que é, claro, um elogio rasgado ao talento de Jonny Greenwood, o guitarrista principal do Radiohead.

Não foi sem uma certa indignação que me deparei – tardiamente – com esse artigo. Quem conhece o prazer de escrever pode imaginar o que eu senti ao ver alguém descrever exatamente o que eu queria ter escrito aqui, se eu não tivesse adiado tanto esse assunto – são tantas coisas pra falar… Não pense que a escolha é simples! Porém, no lugar de reclamar indefinidamente sobre isso, posso tentar acrescentar alguma coisa ao que já foi dito por Ross – e se você também já viu “Sangue negro”, acho que vai concordar com algumas dessas idéias (se não viu… bem, não posso imaginar prioridade maior para você na hora de escolher um bom filme para se divertir – mas não demore, pois já que ele foi injustamente esnobado pelo Oscar, não deve durar muito tempo em cartaz nas nossas sempre imprevisíveis salas de cinema).

Retomando o título do post de hoje, Welles, como conta Ross, disse essa frase referindo-se ao trabalho de Bernard Herrmann em “Cidadão Kane”. E nada poderia ser mais apropriado para descrever a colaboração entre Greenwood e o diretor Paul Thomas Anderson (tão injustiçado na premiação da Academia deste ano quanto seu filme). Talvez, em nome da precisão, eu poderia acrescentar que, em alguns momentos, a participação da música no sucesso de uma determinada cena de “Sangue negro” cresce para 80% – como na seqüência em que uma torre de petróleo se incendeia e o filho do personagem principal (este, interpretado, claro, pelo merecidamente premiado Daniel-Day Lewis) sofre um acidente que vai marcá-lo para o resto da vida.

daniel-day-lewis03032008.jpgRecapitulando, para quem viu – e contando, sem tirar o impacto, para quem ainda não – a música, nessa cena, começa como uma intrusão: um estranho ruído alienígena numa ação que pede drama. À medida que o drama evolui, esse incômodo vai se encaixando perfeitamente no caos descrito pelas imagens, a ponto de, no auge da tragédia, a trilha se transformar – para usar (não sem propósito) o título de uma canção do último disco do Radiohead – numa “peça se encaixando num quebra-cabeças”.

Mas não é esse o papel que uma trilha sonora deve cumprir num filme? Claro que é – só que isso é o mínimo que ela pode fazer. Se, além de envolver uma cena, uma seqüência, um clímax, numa embalagem adequada, ela ainda acrescentar alguma coisa ao conjunto, melhor! A música de Jonny Greenwood faz exatamente isso: te desnorteia, geralmente – e a princípio – brigando com o que você está vendo, mas sempre com um efeito final que coloca todo o filme num plano ainda mais superior.

Quando vi “Sangue negro”, registrei de cara que a trilha estava obviamente acima de tudo que se vê hoje nos cinemas. Não foi à toa que, no meu comentário sobre o Oscar deste ano, fiz questão de mostrar minha indignação pelo fato de ela não ter sido indicada para a premiação. Mas, novamente citando o artigo de Alex Ross, foi só há pouco que tive uma explicação decente para essa decepção: a Academia considerou que a maior parte da música usada já existia antes do filme – e assim, não poderia concorrer com as outras composições originais. De fato, boa parte do que se ouve ao longo da produção já tinha sido composta por Greenwood – especialmente sua pequena suíte “Popcorn superhet receiver” (para a qual Ross não poupa elogios). Não vamos aqui questionar os critérios da Academia (já tentou entender como são selecionados os títulos para o prêmio de filme de língua estrangeira?), mas basta dizer que por meras tecnicidades, essa categoria saiu perdendo.

Ainda mais quando a gente lembra que o filme que venceu com a melhor trilha foi “Desejo e reparação”… “Desejo e reparação”! Tudo bem que a gente já se acostumou com a previsibilidade da maioria das escolhas da Academia, mas “Desejo e reparação”? Tão sem inventividade quanto o filme (lembrando que eu até hoje não digeri bem essa adaptação do livro de Ian McEwan…).

Aliás, falando em baixa inventividade, será que você me ajuda a lembrar de trilhas sonoras marcantes – não precisam ser revolucionárias não, apenas marcantes – que acompanharam filmes recentes?

(Geralmente, quando peço ajuda a você, surgem boas lembranças… Aliás, tenho de agradecer aqui as lembranças de aparições de um aparelho de TV, na própria TV, enviados por várias pessoas – apesar de eu ainda achar a amostra bem pouco significativa. E vai também um agradecimento especial à Raquel, que lembrou, nos comentários sobre o post do Oscar, que Angelina Jolie já tinha mostrado uma tatuagem nos palcos da premiação, quando ganhou como atriz coadjuvante em 2000, por “Garota interrompida” – o que não tira, absolutamente, o mérito de Diablo Cody na cerimônia de domingo retrasado).

Enquanto você puxa pela memória, preciso esclarecer que meu plano inicial hoje era escrever não só sobre a trilha de “Sangue negro”, mas também sobre o filme. Porém, só para variar, vejo que já estou com alguns parágrafos acumulados… E eu admito que para mostrar toda minha admiração pela produção – para não falar da minha incontrolável tietagem por Paul Thomas Anderson – eu precisaria de outros tantos parágrafos!

Sim, eu sou daqueles que gostaram até de “Embriagado de amor”! Para mim, “Magnólia” ocupa um lugar permanente na minha sempre mutante lista dos 20 melhores filmes de todos os tempos (às vezes eu até penso em trocá-lo por um outro título, mas aí eu me lembro daquela chuva de sapos – e a vontade passa logo). E “Boogie nights”, então? – um caso raro em um daqueles ridículos apostos que são acrescentados, na versão brasileira, aos títulos originais, funcionou perfeitamente (sem deixar de ser ridículo!): “Prazer sem limites”!

Minha expectativa estava nas alturas – mais até do que a que eu tinha me permitido para “Onde os fracos não têm vez”. Algo me dizia que eu ia adorar – e não me enganei. Raras são as superproduções que não deixam aquela impressão de que alguma coisa poderia ter sido cortada – ou, no caso do recente engodo dos irmãos Coen, acrescentado –, mas “Sangue negro” é perfeito nesse quesito. Gostei até do final, que é o ponto de discórdia entre outros admiradores de Anderson com quem conversei. A teimosia do diretor, que permeia cada cena, chega a ser comovente – e, nem que seja só por isso… Bravo!

Como eu disse, porém, eu precisaria me alongar demais para entrar fundo em “Sangue negro”. Também precisaria entrar em detalhes que talvez estragariam seu prazer ao assistir o filme. Assim, termino apenas elogiando mais uma vez o trabalho de Jonny Greenwood – os 50% que, como diria Welles, ele contribuiu para a grandiosidade da obra mais recente de Anderson. E, falando nesses 50%…

Viagens, festas, namoros (inclusive o sexo!), brigas, lembranças – afinal o que, na sua história pessoal não funcionou melhor (mesmo um momento de tristeza) com uma música para acompanhar?



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