Pobres livros
Não é uma reclamação. É uma constatação. Vou repetir de outra maneira para que você não ache que é pessoal: quero começar este texto com uma constatação, não uma reclamação. E a constatação é esta: de todos os comentários que li até concluir este blog, apenas um mencionava o livro que citei ao longo da argumentação sobre “Cobras e Lagartos”. Apenas um. Ainda estou tentando entender.
Fiquei feliz com as várias pessoas que se mostraram entusiastas do cinema indiano de Bollywood. Que maravilha saber que ainda é possível despertar o interesse por um gênero cinematográfico praticamente desconhecido (surpresa ainda mais prazerosa foi o número de pessoas que já conheciam Bollywood – e ainda me deram dicas!). Mas o que eu queria mesmo, além de declarar minha admiração pela novela, era chamar atenção para o livro de Uzodinma Iweala, “Feras de Lugar Nenhum”. Obviamente, não funcionou.
Injusto, claro, comparar um produto tão bem sucedido, como essa novela, que mal precisa de divulgação para chegar ao público, com um livro que mal consegue achar seu nicho de leitores. Mas eu juro que tinha esperanças. Sim, porque aqui eu também vou falar de livros. Não com o intuito de aumentar suas vendas – quem me dera eu tivesse esse poder. Mas, no mínimo para fazer com que eles se tornem mais excitantes aos olhos (e mentes) de quem não os conhecem. Missão inglória? Talvez. Só que eu acho que eu tenho que tentar – vencer meu próprio “desentusiasmo” (isso existe? meu corretor ortográfico sublinha a palavra de vermelho e diz que não…). Mas por onde?
. Se “Feras de Lugar Nenhum”, com suas curtas (e delirantes) 191 páginas já foi um “caso difícil” – a julgar por essa minha observação recente – que chances teriam “O Paraíso É Bem Bacana”, de André Sant’Anna, com suas 452? Nada que eu li este ano (nem mesmo “Feras”) me pareceu tão original – ou “pertinente”, ou “interessante”, ou “instigador”, ou qualquer outro adjetivo daqueles fáceis de tirar da manga quando se escreve uma resenha, inclusive “engraçado”.
Se, no mesmo raciocínio, as chances de “Paraíso” chegar ao grande público, o que dizer do “monumental” (outro adjetivo fácil de resenha, mas que nesse caso vem muito a calhar) “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves que só conclui sua narrativa na nonocentésima quadragésima sétima página? (apenas para registro, meu corretor ortográfico também sublinhou em vermelho a primeira palavra do ordinal para 947 – será defeito?). Eu mesmo tive de respirar fundo antes de encará-lo – e encontrar todas as recompensas que Millôr Fernandes anunciou no texto da orelha do livro.
E estou apenas nos lançamentos de ficção. Quais as chances, repito, de a reedição de um clássico como “Sagarana”, de Guimarães Rosa, numa lindíssima edição que beira o fetiche, entrar para a lista dos mais vendidos? Estou lendo um excelente livro de não-ficção, “Murder in Amsterdam”, de Ian Buruma (“só” 262 páginas, ainda sem tradução no Brasil), sobre a morte do diretor de filmes Theo van Gogh (holandês) e os limites da tolerância (como resume o subtítulo) e, mesmo antes de acabá-lo, lamento que ele nunca vai atingir seu potencial de leitores no Brasil.
Esta semana fiz uma reportagem sobre os dez anos da morte de Renato Russo e descobri, com um fã, uma carta onde o cantor, líder da banda Legião Urbana, indica uma lista de livros que foram importantes para ele – na esperança de inspirar seu exército de seguidores. De Fernando Pessoa a JD Salinger (“O Apanhador no Campo de Centeio”), todos os “suspeitos de sempre” estão lá. Jorge Amado (com “Capitães de Areia”), Aldous Huxley , Orcar Wilde, Thomas Maan, George Orwell – daí em diante (a lista completa está no site www.globo.com/fantastico). Será que o carisma de Renato Russo será capaz de fazer seus fãs entrarem em hordas pelas livrarias do Brasil atrás desse seu cânone literário? Duvido…
Reclamo aqui em vão, eu sei. E chego quase a cometer a injustiça de achar que o melhor que poderia acontecer seria esses meus autores favoritos da hora (não vamos nem falar de Jonathan Safran Foer…) virarem “bestsellers”… O melhor que poderia acontecer, na verdade era que alguém, pelo menos um, uma, pegasse um livro desses e ficasse totalmente tomado por ele. E que depois contasse para os outros. E que isso fosse adiante…
Porque cada um desses livros me inspiram a escrever uma entrada para este blog exclusivamente para ele. Talvez eu devesse fazer isso mesmo, mas como sou novo no pedaço, ainda não quebrei a equação de tempo e espaço da internet – e acabo falando de coisas demais. Tomara que eu não mude.
Vou terminar de ter “Murder in Amsterdam” ao som de “Coco on the Corner”, de uma banda chamada Takka Takka (ah… aquele assobio…) e quem sabe um dia escrevo só sobre ele… Mas, para a próxima entrada, quinta que vem, acho que vou me afundar mais ainda nessa “crise existencial”: vou dar um pulo na 27ª Bienal de São Paulo e ver o que a reação das pessoas quando eu cometer o atrevimento de falar de algo ainda mais rarefeito que os livros: as artes plásticas.
6 maio, 2009 as 12:10 pm
Estive no lançamento de seu livro ontem em Belo Horizonte.
Meus Parabéns, vc é incrível e de uma visão extraordinária com relação ao ser humano, fantástico.
Excelente focar pessoas como personagens em suas viagens.
Estava em uma fileira em que filmei vc com CELULAR, fiquei sabendo de última hora e queria regristar, sou estudante de jornalismo e agradeço sua contribuição para minha monografia onde foco as culturas em integração na teledramaturgia.
Sucesso.
27 janeiro, 2009 as 6:07 am
ola zeca vc poderia faser uma materia
nas ruas de sp e rj
para saber quais dessas bandas do livro sao as mais populares
e como eu sou um grande fan do a-ha
nesse ano de 2009 a banda estara de volta com um novo cd
e vc poderia ir ate a noruega para faser uma materia sobre eles
com essa materia e com a divulgaçao do novo cd
eles poderiao voltar ao brasil,por q nao?
vc iria realisar o sonho meu e todos fans do a-ha no brasil
bigadu ..zeca o livro foi bem escrito
e eu adorei t+
25 outubro, 2006 as 1:21 pm
Paz e Bem Zeca estive ontem na noite de autógrafos em Curitiba, quero desde já parabeniza-lo pelo trablaho, confesso que fui lá mas não tinha idéia que o assunto do livro era música, sei que é dificil vc se lembrar de mim pois eram tantas pessoas, mas eu estava lá sem querer com meu violão, te perguntei sobre ANA CAROLINA e vc disse que conhecia um PH rsrs Paulo Humberto lembra?? rsrsrs enfim adorei o livro, sua ética profissional e simpatia com o público parabéns mais uma vez e espero absorver muito do seu livro e suas matérias, vc ganhou um fã, fique com Deus e na paz do amigo PH
20 outubro, 2006 as 11:11 pm
Zeca, não encontro esse Takka Takka em lugar nenhum….de uma dica ok?
20 outubro, 2006 as 11:27 am
Ao escrever sobre livros você melhorou em muito a qualidade do seu blog, que, em geral, tem explorado temas fracos. Sugiro que você siga mais vezes por esse caminho. Concordo com o comentário que diz que não tem sentido citar o número de páginas dos livros. Aproveito para sugerir que você ignore a recomendação para leitura de “O Monge e o Executivo”, é mais uma obviedade na linha de auto-ajuda.
Abraço,
Lyra
15 outubro, 2006 as 9:10 pm
OI, Zeca, Que legal seus livros! O novo DE A-HA A U2, está incrível. Quanta coisa legal você já fez, hein?
O seu outro livro, A Fantástica Volta ao Mundo nem preciso falar, porque é um super-best-seller. Eu lí uma matéria que dizia que era um dos livros mais vendidos do país! Legal. Já reparou a quantidade de gente que responde que ele é o livro preferido no Orkut?
Abraço,
Vicente
14 outubro, 2006 as 10:54 am
OI, TENHU 17 ANOS, COMECEI A GOSTA DE LER FAZ POUCO TEMPO E NAUM SOU UM BOM “COMENTADOR” MAS VOU TENTAR. HJ COMO A INTERNET ESTA ESTÁ EM TODO MUNDO E MUITA GENTE TEM ACESSO, PERCEBO Q AS PESSOAS ESTAO PERDENDO O GOSTO PELA LEITURA E E DESVIANDO SUAS ATENCOES PARA MUITAS “BABOSEIRAS” Q TEM NA INTERNET.
A INTERNET TBM PODE SER UMA COISA BOA SE AS PESSOAS Q CRIAM BLOGS ETC, INCENTIVAR A CULTURA E A INFORMAÇÃO COMO EÉ O CASO DESSE BLOG E DESSE SITE. PENA Q NÓS BRASILEIROS SO NOS INTERESSAMOS POR FUTEBOL. EU TBM GOSTO DE FUTEBOL, MAS ESTOU MUDANDO E ME INTERESSANDO POR CULTURA E INFORMAÇÃO Q É MAIS ÚTIL Q FUTEBOL. QRIA DAR PARABÉNS AO ZECA POR ESSE BLOG E DESCULPEM PELOS ERRO DE SE TIVER ALGUM.
13 outubro, 2006 as 12:27 pm
E por falar em livros estou adorando o de A-ha a U2! Adorei a parte da Alanis “é difícil driblar entrevistados zen”…
12 outubro, 2006 as 3:17 pm
ah, as srtes plásticas. quero ler isso.
mas e a música? só citações? fui atrás de froward, russia e achei bacana. dançante. o pitchfork disse algo sobre soar como bloc party. concordo.
vou procurar essa takka takka. e os livros.. meu problema é que eu sempre tenho listas infinitas de livros para procurar e ler. é terrível.
quero saber sobre bollywood. alguma recomendação para uma não-iniciada?
até.
12 outubro, 2006 as 7:30 am
Zeca, o que me diz sobre morar no Japão e só encontrar na loja de produtos brasileiros os livros mais vendidos para a grande massa. Paulo Coelho, e Zíbia Gasparetto não me convencem. Acredito que isso aconteça em pequenas e médias cidades brasileiras também. Porém, há bons livros clássicos e gratuitos para download. Isso me salva!
11 outubro, 2006 as 2:28 pm
DICA…………………
Oi Zeca;
Pq vc não lê o Blog do Prof. Sergio Nogueira (aqui do G1) e aprende a escrever melhor?!
ah! Aprende tb com o do Willian Waack que está simplesmente D+!
11 outubro, 2006 as 1:40 pm
Zeca
Não sei se é o seu estilo literário, mas recomento “O monge e o Executivo”, James Hunter, um livro maravilhoso que nos dá vontade de ser alguém melhor.
11 outubro, 2006 as 1:34 pm
ufa, achei… visitinha rápida brou, depois passo com calma !
vitri-abs,
RR
11 outubro, 2006 as 12:40 pm
Eu de novo Zeca… li teu texto agora e percebi uma coisa… Mtos dos livros q vc fala ainda nao ouvimos e nem mto menos ouvimos falar, e nem sabemos se algum dia esses livros vao chegar às nossas livrarias… Talvez fosse melhor mudar um pouco o foco para livros q nao se ouve falar… sei q vc ta aqui escrevendo exatamente por isso, pra de certa forma divulgar, mas e se de vez em qdo vc falasse tb de autores conhecidos, seria uma boa ideia… quem sabe assim vc nao receba tantas criticas.
Adoro o teu trabalho, e sinceramente nao sei nada da tua vida, ou quase nada, somente algumas coisas q ja fez como profissional, espero q possa compreender q nem todos pensam como vc, e q o importante é expressar realmente o q vc pensa sem tentar agradar a ninguem.
Beijo
11 outubro, 2006 as 8:21 am
Olá, Zeca! Estou escrevendo pra te parabenizar pelo blog que tá bem interessante e principalmente pelo “Sempre um papo” ontem em Brasília. Comprei seus dois livros e já comecei a ler o da sua viagem. Muito legal mesmo!!!! Um abraço!
10 outubro, 2006 as 7:09 pm
Muito interessante suas dicas, (infelismente estou fechada para o meu TCC), fica para depois, pretendo visitar a 27ª Bienal para relaxar e depois meter a cara nos livros.
Sei que não se considera artista mas continuo sendo sua fã de carteirinha.
Parabéns a mim por ter acesso às informações de pessoas gabaritadas como você.
10 outubro, 2006 as 5:39 pm
acabei esquecendo… Estou louca pra ir na Bienal, não sei se vc já foi, mas uma boa dica pra fãs de artes é a Galeria Choque Cultural ali em Pinheiros, em Sampa.
10 outubro, 2006 as 5:36 pm
Das duas uma, ou meu comentário no seu post passado não entrou ou existe alguma outra possibilidade… Enfim, eu havia falado que pela sua descrição do livro, o livro daria uma boa HQ…
Quanto a livros, ando numa fase de ler HQs… Mas esse Murder in Amsterdam já me interessou pelo nome.
Aliás Takka Takka, vou procurar, não conheço… será que tem no myspace?
Bjs!
10 outubro, 2006 as 5:16 pm
Muito interessante a linguagem utilizada no seu blog, fácil compreensão e consegue segurar o leitor a consequentemente continuar a leitura…rs
mas … passei só pra dizer que admiro muito o seu trabalho e a sua pessoa…
Trofeu joinha…rs pro Zéca…huahua
olha a intimidade…
PS: Vc é muito gato!
10 outubro, 2006 as 4:32 pm
Que bom que seu Blog não é um diário. Nada mais constrangedor do que gente contando o que fez ontem , o que fez hoje, o que deixou de fazer.
Mas concordo que os comentários dos leitores são muito chatinhos. Vou ficar só com o texto seu, Zeca.
Obrigada.