Enquanto domingo não vem…
A única coisa que vale a pena ver na Broadway, em Nova York, é um musical chamado “The drowsy chaperone”. Não vi tudo que está em cartaz, é verdade. Mas o resto deve ser uma bobagem. Ou, colocando melhor, nada pode ser tão inventivo como esse musical. Estamos falando de musicais, veja bem. Da Broadway. Dentro deste universo, nada atualmente é mais original.
Mas você não deve nem ligar para musicais da Broadway. Então vamos falar de cinema. Vi também o novo filme de Michel Gondry, o cara responsável por alguns dos clipes mais geniais da última década. Chama-se, “The science of sleep” – e em português deve receber um nome criativo como “Sonhando e aprendendo” – na linha sempre medíocre que os distribuidores adotam quando se deparam com um título “complicado” (numa tradução literal, o filme seria chamado apenas de ” A ciência do sono”).
Sabe ” Um cão andaluz”, a obra mais bizarra dos já bizarros artistas espanhóis Luis Buñuel e Salvador Dali? Seria quase a mesma coisa, mas com um pouco mais de orçamento e uma vocação (não assumida) para contar uma história. Ah, e com a diferença de que para “The science of sleep” as pessoas pagam ingresso para ver – enquanto o “Cão andaluz” era exibido como arte.
Ainda não sei direito o que achei deste filme – e você talvez ache também, que esta coluna não deveria se preocupar com filmes de arte às vésperas da eleição no Brasil (mais sobre isso em instantes). Então posso falar sobre “The children’s hospital”, o livro de Chris Adrian, que promete ser a sensação literária da temporada americana – que eu ainda não li, mas que já vi e já aprovei.
Ainda muito erudito? Mesmo lembrando que este blog se propõe a falar de alta e de baixa cultura? (um dos comentários postados me devolvia esta proposta em forma de pergunta, como que duvidando dessa divisão – que certamente não foi inventada por mim… bem, respondendo, ela existe; nem que seja para as pessoas organizarem melhor suas preferências…) Então posso falar da esbarrada que dei no U2, quando alguns de seus membros estavam autografando o novo livro da banda na livraria Barnes & Noble da Union Square, na última terça-feira. Ainda não seria popular o suficiente? Quer mais um comentário sobre Daniela Cicarelli? Encontrei alguém que trabalha na Merril Lynch (a mesma empresa onde o outro protagonista daquele vídeo trabalha), que me contou que tem muitos colegas de trabalho tentando ser transferidos para o escritório brasileiro da “firma”? Não… não vale a pena.
A eleição presidencial acontece em uma questão de horas e você provavelmente deve estar me cobrando: por que não falar de uma questão tão urgente sobre o Brasil? Que pergunta mais impertinente. Mas vá lá, para responder rápido: porque eu já falo demais sobre isso. Falo muito, discuto obsessivamente com amigos e conhecidos. Discuti hoje mesmo sobre isso aqui em Nova York. Vou discutir o fim-de-semana inteiro, antes e depois de votar (chego sábado no Brasil para cumprir meu dever no domingo).
Mas de que adianta eu bater agora nesta tecla? Se você, pessoa esclarecida – e reforçando minha tese de que, se você acompanha esse texto até aqui (talvez pela segunda vez na mesma semana), você é certamente alguém ou esclarecido ou bem próximo de o ser – se você ainda não formou sua opinião sobre como agir no domingo, sou eu que vou ajudar? Duvido.
No máximo, no máximo, consigo influenciar (e ser influenciado) por alguns amigos próximos. E olhe lá.
Insignificante como me sinto, prefiro listar aqui as novidades que disse, da última vez que iria conferir aqui em Nova York. Comentários mais aprofundados ficam para discussões vindouras. Posso começar com “The drowsy chaperone”? Ou ” The science of sleep”? Ah… tanta coisa para pensar depois deste domingo…