Enquanto domingo não vem…

sex, 29/09/06
por Zeca Camargo |
categoria Todas



A única coisa que vale a pena ver na Broadway, em Nova York, é um musical chamado “The drowsy chaperone”. Não vi tudo que está em cartaz, é verdade. Mas o resto deve ser uma bobagem. Ou, colocando melhor, nada pode ser tão inventivo como esse musical. Estamos falando de musicais, veja bem. Da Broadway. Dentro deste universo, nada atualmente é mais original.

Mas você não deve nem ligar para musicais da Broadway. Então vamos falar de cinema. Vi também o novo filme de Michel Gondry, o cara responsável por alguns dos clipes mais geniais da última década. Chama-se, “The science of sleep” – e em português deve receber um nome criativo como “Sonhando e aprendendo” – na linha sempre medíocre que os distribuidores adotam quando se deparam com um título “complicado” (numa tradução literal, o filme seria chamado apenas de ” A ciência do sono”).

Sabe ” Um cão andaluz”, a obra mais bizarra dos já bizarros artistas espanhóis Luis Buñuel e Salvador Dali? Seria quase a mesma coisa, mas com um pouco mais de orçamento e uma vocação (não assumida) para contar uma história. Ah, e com a diferença de que para “The science of sleep” as pessoas pagam ingresso para ver – enquanto o “Cão andaluz” era exibido como arte.

Ainda não sei direito o que achei deste filme – e você talvez ache também, que esta coluna não deveria se preocupar com filmes de arte às vésperas da eleição no Brasil (mais sobre isso em instantes). Então posso falar sobre “The children’s hospital”, o livro de Chris Adrian, que promete ser a sensação literária da temporada americana – que eu ainda não li, mas que já vi e já aprovei.

Ainda muito erudito? Mesmo lembrando que este blog se propõe a falar de alta e de baixa cultura? (um dos comentários postados me devolvia esta proposta em forma de pergunta, como que duvidando dessa divisão – que certamente não foi inventada por mim… bem, respondendo, ela existe; nem que seja para as pessoas organizarem melhor suas preferências…) Então posso falar da esbarrada que dei no U2, quando alguns de seus membros estavam autografando o novo livro da banda na livraria Barnes & Noble da Union Square, na última terça-feira. Ainda não seria popular o suficiente? Quer mais um comentário sobre Daniela Cicarelli? Encontrei alguém que trabalha na Merril Lynch (a mesma empresa onde o outro protagonista daquele vídeo trabalha), que me contou que tem muitos colegas de trabalho tentando ser transferidos para o escritório brasileiro da “firma”? Não… não vale a pena.

A eleição presidencial acontece em uma questão de horas e você provavelmente deve estar me cobrando: por que não falar de uma questão tão urgente sobre o Brasil? Que pergunta mais impertinente. Mas vá lá, para responder rápido: porque eu já falo demais sobre isso. Falo muito, discuto obsessivamente com amigos e conhecidos. Discuti hoje mesmo sobre isso aqui em Nova York. Vou discutir o fim-de-semana inteiro, antes e depois de votar (chego sábado no Brasil para cumprir meu dever no domingo).

Mas de que adianta eu bater agora nesta tecla? Se você, pessoa esclarecida – e reforçando minha tese de que, se você acompanha esse texto até aqui (talvez pela segunda vez na mesma semana), você é certamente alguém ou esclarecido ou bem próximo de o ser – se você ainda não formou sua opinião sobre como agir no domingo, sou eu que vou ajudar? Duvido.

No máximo, no máximo, consigo influenciar (e ser influenciado) por alguns amigos próximos. E olhe lá.

Insignificante como me sinto, prefiro listar aqui as novidades que disse, da última vez que iria conferir aqui em Nova York. Comentários mais aprofundados ficam para discussões vindouras. Posso começar com “The drowsy chaperone”? Ou ” The science of sleep”? Ah… tanta coisa para pensar depois deste domingo…

A Primeira Entrevista de Daniela Cicarelli Depois Daquele Vídeo

seg, 25/09/06
por Zeca Camargo |
categoria Todas


Hoje, segunda-feira, 25 de Setembro de 2006, estréia deste blog – alguém ainda pararia para ler uma texto com esse título? As frenéticas poucas horas de ascensão e queda daquelas imagens (como se descobriu, bem menos excitantes do que a expectativa criada em torno delas) já completa uma semana – o que, no relógio da internet equivale dizer que já é história (quase pré-história). E se você está (como muito provavelmente está) lendo isto numa tela de computador (ou notebook, celular, blueberry e similares), história para você não significa muita coisa.

E mesmo que significasse… Você queria ouvir ela dizer o quê? “Foi mal…”? “Estou indignada”? “Não é nada disso que as pessoas estão pensando”? “Vou processar todo mundo” (como ela já mandou recado)? Quem se importa com “a versão oficial” dos fatos de um evento como esse, tão ordinário (adjetivo usado aqui, note, como antônimo de extraordinário!!)? Na velocidade com que as coisas aconteceram, com que os comentários correram, com que as piadas surgiram, uma explicação, um esclarecimento, uma satisfação – um manifesto, que seja – seria ridiculamente irrelevante.

No tacanho silêncio de Daniela – uma imitação espontânea das já previsíveis reações dos envolvidos em escândalos da política nacional, que insistem em negar qualquer envolvimento em fatos nos quais eles estão envolvidos até a tampa, na esperança de que alguém os esqueça -, o último exemplo da inabilidade da celebridade para driblar a mídia. Musas da hora bem mais espertas, se não inteligentes (você sabe de quem estou falando), já teriam virado o jogo: dado dezenas de entrevistas, colocado um vídeo-paródia youtube (imagine uma consulta espiritual de Cicarelli com Maria Alice Vergueiro, a diva do “Tapa na Pantera”…), ido a todos os eventos sociais com a roupa mais sensual que ela pudesse conseguir para ser fotografada e ter a chance de responder ao inevitável assédio com um breve “não enche!” (acompanhado, claro, de um sorrisinho…).

Quando Bruna Surfistinha sai falando que Cicarelli “passou um pouco dos limites”, quem exatamente está rindo por último?

No alucinado caldo cultural que vivemos hoje, existem inúmeras possibilidades de virar esse jogo. Daniela nem desconfia – e ninguém que ela de fato ouve fez o favor de contar para ela – que diante de um cenário como esse, a melhor arma é a ironia. E quem tem o poder se ser mais irônico do que a própria pessoa no olho de um furacão de mídia. As coisas pesaram para o seu lado? Sai sacudindo tudo! Seja o primeiro a fazer graça com a situação. Quem sabe você não desarma os outros? Num ricochete de “disses” e “não disses” virtuais, quem vai ligar para alguém que quer falar sério? O esculacho, quem diria, é a saída mais honrosa. Responda rápido: ser entrevistado pela dupla Vesgo e Silvio é mico ou prestígio? Demorou para responder? Volte para o início deste parágrafo…

Antes que você comece a desconfiar, vamos contando: eu mesmo tentei falar com Daniela na semana passada. Sem sucesso, claro. Mas, longe de serem um desabafo despeitado, estas linhas querem ser mais um questionamento metafísico (nossa!).

A idéia é usar este espaço para falar de cultura – alta, baixa, não importa. Mas quem precisa de mais um blogueiro para comentar o vídeo da Cicarelli na praia – ainda mais com uma semana de atraso, e sem um “exclusiva” com a moça? E essa é só a primeira pergunta…

Quem precisa de mais alguém para se exibir que viu o novo filme de Almodóvar, “Volver”, antes de todo mundo? (Eu vi) Ou para contar que descobriu os novos Strokes e eles se chamam ¡Forward, Russia!, e são de Leeds, na Inglaterra? (Eu descobri) Ou que já leu, “A Spot of a Brother”, o novo livro de Mark Haddon, autor de “O Estranho Caso do Cachorro Morto”? (Eu li) Ou que já assistiu toda a quinta temporada de “Curb Your Enthusiasm” em DVD? (Eu assisti) Estou indo hoje para Nova York. Quem quer saber das “novidades” que eu encontrar por lá? Quem? Quem?

Bem, se você me acompanhou até aqui, talvez você seja essa pessoa. Não que você precise ler isso para se informar. Novamente, se você está me lendo aqui é porque já é alguém bem informado… Mas quem sabe um dia você clique nesse link e talvez se divirta com algumas idéias jogadas soltas. Ou até, para sua grande (e maior ainda minha) surpresa, encontre, de fato, a primeira entrevista de Daniela Cicarelli depois daquele vídeo… Que vídeo mesmo?



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