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Tudo estava lá. Menos ele.

ter, 18/09/12
por Redação |

Thais entrevista Lelia, viúva de Ricardo

O cheiro ainda estava na roupa de cama. A voz ainda a chamava pela secretária eletrônica. A carne de panela e a sopa de mandioquinha que ele havia preparado ainda estavam no freezer. Os recados de amor, as anotações do trabalho, a roupa suja, o perfume. Tudo estava lá. Menos ele.

A imensa dor da ausência confrontava um espaço que ainda tinha rastros de uma vida. Esta, que ainda podia ser vivida, planejada, sonhada.

Ricardo Prudente de Aquino, 39 anos, foi arrancado brutalmente dos braços da esposa e do convívio de toda a família que o amava imensamente. Morreu baleado por policiais militares no dia 18 de julho de 2012, quando voltava pra casa feliz ao saber que assistiria ao jogo do Corinthians no Campeonato Brasileiro.

O que significa essa dor da perda? E pior. A dor da perda que se mistura com a revolta e o absurdo? Era o que eu tinha que mostrar com essa reportagem.

Ricardo era filho, marido, irmão, primo, tio e amigo. Queria ser pai no ano que vem. Tinha o sonho de montar um restaurante e muitos outros planos que hoje são apenas narrados por quem ficou. A experiência de ter acompanhado a rotina da família duas semanas após o crime foi intensa e dolorida.

Relembrei a dor de quando perdi meu pai, em 2008. Foi de repente, por problemas de saúde. Tentei comparar com a dor da família de Ricardo. Mas é impossível. Somente alguns sentimentos são iguais. Até mesmo sensações. Mas difere muito quando pensamos na forma da morte. Essa dor só sente quem já passou por ela.

A esposa se perguntava a todo momento: “Como é que dou o primeiro passo?” E respondia: “Eu não sei!”

A força da mãe do Ricardo me impressionou. Dois dias após a morte do filho, ela começou a organizar uma manifestação. O luto estava ao lado da luta por justiça e segurança. A campanha “Quero Mais, Quero paz” começou com uma passeata no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. E chama a atenção para que tenhamos um país mais seguro.

“Esse é o último projeto do meu filho”, ela me disse. E perguntou: “Quantos Ricardos terão que morrer para haver mudança?”. Eu não consegui responder.

Thais Itaqui

 



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