Não sei se quem lê o que eu escrevo sobre documentários aqui sente uma certa raiva, ou frustração, por não ter acesso imediato aos documentários a que me refiro. Sei disso, mas o objetivo é justamente compartilhar essas histórias que às vezes ficam restritas aos festivais e sessões esporádicas na tv.  Assistir a um bom documentário, acredito, é uma experiência tão enriquecedora que precisa ser compartilhada.

Dessa vez, vou compartilhar a história de um vídeo que tem até link para ser visto na íntegra na internet, o que é bem incomum. Chama-se Hair Índia. O filme conta a história de indianos pobres que doam seus longos cabelos para os deuses em um templo.

O  começo do filme parece ser bem despretensioso: alguns personagens soltos, registrados em cenas cotidianas. Mas logo aí já estaremos diante de uma opção narrativa pouco usual e muito simples – construir um documentário como se fosse uma ficção. Ninguém fala para a câmera, ninguém dá entrevista. Somente vemos as ações se desenrolarem.

Claro que estou simplificando bastante a discussão entre os limites de ficção e documentário e todas as margens intercambiantes que existem entre os dois gêneros. Mas encarando de uma forma mais prática, existe um costume de se ver no documentário um espaço de depoimentos, ainda que misturados com outros recursos. E principalmente na tv, existe quase que um chamado – ei, você, preste atenção nisso aqui.

Com a ficção, geralmente existe um processo de sedução mais sutil, e Hair Índia é um documentário que te seduz aos poucos. As histórias vão se desenrolando e, ainda que cotidianas, quando percebemos como elas se conectam, já estamos totalmente absorvidos.

Somos bombardeados por informes, relatórios, opiniões e análises da economia internacional, da globalização, aquele papo de sempre. Mas mostrar o capitalismo alcançando as mais remotas culturas locais e  fazendo disso consumo, o seu combustível, é um desafio e uma ousadia tremendamente mais difíceis de concretizar. E não é que Hair Índia mostra, e concretiza?

Para quem quer conhecer uma história que é ao mesmo tempo tão distante e, de certa forma, tão amarrada com esse momento da economia global – que infelizmente a cobertura jornalística de pequenas notas que se repetem por onde a gente navega e por onde a gente zapeia é insuficiente para captar – Hair Índia é um ótimo programa!

PS: quem quiser ver mais documentários na internet, o festival de Amsterdã, o IDFA, o maior do gênero no mundo, também disponibiliza algumas boas produções na sua IDFA TV . Tudo em inglês, infelizmente, mas já é um canal.

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