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“LÁ EMBAIXO”

qui, 26/10/06
por Redação |
categoria Sem Categoria

Não é novidade que os gaúchos têm suas particularidades. As casas, por exemplo, são diferentes das de São Paulo. São construídas com alvenaria (eles dizem “material”) na fundação e com madeira nas paredes e no teto. O traçado das ruas também é inusitado para o Brasil. Em vez das curvas que se dobram à geografia, retas e paralelas.

Dentro das casas também há diferenças em relação às outras do país. Muitas têm dois fogões: um à lenha, só usado no inverno, e outro à gás.E não é só a paisagem construída que tem suas peculiaridades. “Torrada” é misto-quente. Não dizem “frango”, dizem “galinha”. Não é “sítio”, mas “colônia”. E quando se referem a R$ 5,50 falam “cinco com cinqüenta”.

Eles têm bastante orgulho de suas idiossincrasias. Sempre se referem ao resto do país como “lá em cima” ou “lá no norte”. Quem vai muito “lá para cima” são os caminhoneiros. A região é coalhada de caminhões e seus motoristas. Adilo Alessia é um. Na conversa com ele, sobram críticas à polícia rodoviária. Reclama dos constantes achaques que ele e os três filhos, também caminhoneiros, sofrem. “Teve uma vez que um guarda me pediu um café. Como eu tinha uma garrafa térmica, servi o cafezinho para ele”, relata, entre risadas.

“Às vezes o guarda vem revistar. Antes de ele entrar, já digo que é a minha casa. É como se ele tivesse falando, ‘deixa eu entrar na sua casa’. Já aconteceu de entrarem e darem de cara com as duas nenês deitadas ali e pedirem desculpas!” Quem conta é Vanuza Arendt. Ela é uma das poucas mulheres que se aventura a dirigir, e não apenas a acompanhar. As nenês são as gêmeas Michele e Camila, que agora estão com cinco anos e que passaram a vida quase inteira na boléia com a mãe e o pai (também caminhoneiro).

O caminhão é a casa porque as famílias vão inteiras para dentro da boléia. Normalmente as mulheres acompanham os maridos até a idade escolar das crianças. Depois param. “Quando casei, viajei direto. Engravidei, tive o menino. Criei ele no caminhão. Depois, quando ele foi estudar, veio a menina, daí eu desisti. E nas férias eu vou. Adoro viajar”, diz Sandra, uma gaúcha com forte sotaque que nos recebeu em sua casa.

Hoje ela fica estacionada em casa. Mas monitora o marido caminhoneiro com um rastreador e um rádio. “Acho que a gente tem que confiar desconfiando. Mas é um modo de saber onde está o marido! Parou tantas horas? Diz por que ficou parado tantas horas. Ele dá a explicação, se é verdadeira eu não sei…”, conta Sandra, ao lado do marido Fernando, um tanto encabulado.

*Felipe Gutierrez

“VANUZA”

qua, 25/10/06
por Redação |
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- Até se tu for conversar comigo fica até chato, porque é só caminhão, só sai caminhão!

Vanuza Conceição nasceu em Aliança do Tocantins, uma cidadezinha que só é conhecida entre os caminhoneiros, graças ao posto de gasolina que existe lá. Na única foto de infância ela aparece com cerca de três anos entre dois enormes caminhões. Sua vida girou em torno destes veículos até a morte de seu pai, que era caminhoneiro, aos oito anos de idade.

Os caminhões voltaram à sua vida quando Vanuza tinha 17 anos. Foi quando conheceu Marcos Arendt, filho de agricultores do interior do Rio Grande do Sul, que viajava de carona com um amigo. Juntos, brigaram pela paixão que os unia: a estrada.

- Os pais dele têm uma colônia em Carazinho, no interior do Rio Grande do Sul, e não queriam que o filho fosse para a estrada. A minha mãe e a minha irmã também. Foi difícil, mas acabamos convencendo eles.

Já casado, Marcos conseguiu emprego em uma transportadora e começou a “puxar lavoura” no Mato Grosso, transportando soja das fazendas para os silos de armazenagem. Foi nestas idas-e-vindas que Vanuza aprendeu a dirigir. Em pouco tempo, já dividia a direção do caminhão com o marido.

- Eu ensinei ela a dirigir. Eu confio mais nela dirigindo do que ela em mim – , diz Marcos.

Os olhos de Vanuza brilham quando ela fala do marido. Ela mostra, orgulhosa, a foto dos dois em frente ao caminhão, tirada após uma longa viagem.

- Este é o meu caminhoneiro! O Marcos, mas aqui na cidade é o “Amendoim”. Ele agora está no Mato Grosso.

A vida de Vanuza acaba de mudar. Depois de nove anos morando no caminhão com o marido, ela acabou engravidando. Continuou viajando até o oitavo mês.

- Eu tinha um médico aqui em São Marcos e outro em Tocantins. Eles disseram que eu tinha que parar de viajar no sexto mês… Nessa época a gente transportava madeira no Pará e às vezes eu subia na carreta para ajudar a arrumar a carga. Os carregadores ficavam impressionados comigo, com aquele barrigão, ali em cima.

As gêmeas Camila e Milena já estavam na estrada aos dois meses de idade. E cresceram na boléia. Mas Vanuza sempre soube que teria que mudar de vida.

- Eu sabia que este momento ia chegar, mas não está fácil. Agora eu tive que montar casa.

Com cinco anos as gêmeas chegaram à idade escolar e exigiram sacrifício por parte da mãe. Agora Marcos viaja sozinho, enquanto ela tenta organizar uma casa pela primeira vez. Sua cabeça continua na boléia.

- Eu só durmo depois que ele pára num posto e me liga. O rastreador do caminhão sou eu!

Hoje Vanuza procura um emprego que não a afaste nem das filhas nem do caminhão. Está tentando uma vaga para transportar caçambas de areia em uma cidade próxima, mas ainda não é certo. Viagens longas, agora, só nas férias.

*Juliana Maciel

No próximo domingo

sex, 20/10/06
por Redação |
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“CAMINHONEIROS”

No Profissão Repórter do próximo domingo, a vida na boléia do caminhão. Paixão e risco nas estradas do país. Os repórteres Juliana Maciel e Felipe Gutierrez contam a história de Vanuza, uma caminhoneira de São Marcos, a cidade dos caminhões. William Santos e Caue Angeli entram na fila do frete em São Paulo para ver quanto custa viver do transporte de carga no Brasil.

“Respeitável Circo”

qua, 18/10/06
por Redação |
categoria Sem Categoria

A missão não era das mais fáceis: encontrar um circo baiano que representasse o melhor da tradição circense nordestina. Como os circos têm que notificar as autoridades para se instalar, comecei fazendo contato com as prefeituras e delegacias de dezenas de cidades no interior da Bahia. Consegui conversar apenas com representantes de circos de médio e de grande porte. Percebi que não era por telefone que conseguiria essa história. A solução foi viajar e produzir a reportagem pessoalmente.

Do avião, eu comecei minha busca: vi um circo lá de cima! Em terra, o encontrei, mas o circo não servia, era grande, muito comercial. Eu queria a rusticidade, a arte pela arte e pela sobrevivência. Viajei para o interior do estado, encontrei circos picaretas, circos que ainda mantêm animais enjaulados em péssimas condições. Num fim de tarde, na periferia da cidade de Eunápolis, no sul da Bahia avistei um palhaço. Ele caminhava sobre pernas de pau e, cercado por crianças, anunciava um espetáculo. Acompanhei o grupo. Instantes depois vi um circo pequeno, armado num campinho de areia, a lona remendada e um tapume como bilheteria.

Fui recebida com hospitalidade. Os artistas que viviam ali eram ainda mais simples que o lugar. Em poucos minutos acabei encantada com as histórias da trupe. Seduzida pela humildade daquela vida que eu só conhecia dos livros e da imaginação: amores, sonhos, precariedade, dor, alegria. Não tive dúvidas, minha busca havia terminado.

No dia seguinte, gravamos.

*Nádia Bochi

Assista aqui a versão completa da reportagem sobre o circo da Bahia.



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