dom, 31/03/13
por Paulo Coelho |
A imaginação é um dos maiores poderes do homem, e eu me permito imaginar. Imagino o momento em que Ele olhou a mesa, pensando no melhor símbolo de sua passagem pela Terra. Tinha diante de si as romãs da Galileia, as especiarias dos desertos do Sul, as frutas secas da Síria, as tâmaras do Egito. Deve ter estendido Sua mão para consagrar uma destas coisas – quando, de repente, lembrou-se que a mensagem que trazia era para todos os homens, em todos os lugares – e talvez romãs e tâmaras não existissem em determinadas partes do mundo. Tornou a olhar a Sua volta, e então outro pensamento Lhe ocorreu: nas romãs, nas tâmaras, nas frutas, o milagre da criação se manifestava por si mesmo – sem qualquer interferência do ser humano.
Então Ele disse aos seus discípulos: “tomai e comei todos vos, porque este é o Meu corpo”.
Porque o pão ao contrário das tâmaras, das romãs e das frutas da Síria, era o melhor símbolo do caminho até Deus. O pão era o fruto da terra e do trabalho do homem.
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sáb, 30/03/13
por Paulo Coelho |
Às vezes, a busca espiritual aparece em nosso caminho pelas mãos da dor.
Existe um momento em que voltamos nossos olhos aos céus e pedimos: “Por favor, meu Deus, não deixa que aconteça isto”. Até então, não percebíamos Sua presença, e achávamos que Ele também nos esquecera.
Nem sempre nosso desejo é atendido. Mas – curiosamente – não nos sentimos enganados. É como se, neste momento, estivéssemos redescobrindo, Seus desígnios, junto com a fé e a esperança adormecidas.
Então a compreensão nos invade. E isto basta para nos reconcil¬iar com o caminho espiritual.
Às vezes é a descida aos infernos que nos leva ao Paraíso.
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sex, 29/03/13
por Paulo Coelho |
Um trecho do “Tao te King”, um livro escrito há 2.500 anos, e que nos fala do caminho perfeito.
“Os raios convergem para o centro da roda, mas é o espaço vazio entre eles que permite o veículo andar”.
“O oleiro modela o barro para fazer um copo, mas é o espaço vazio no centro que faz com que um copo seja útil”.
“Uma casa é construída de madeira sólida e dura, mas é o espaço vazio dentro dela que nos permite habitá-la”.
King Tse comenta este trecho: “Deus não julgará o copo, mas o que colocamos lá dentro. Não julgará as paredes da casa, mas a harmonia que colocamos em seu interior”.
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qui, 28/03/13
por Paulo Coelho |
Criticar é fácil, porque todos nós sabemos muito bem o que significa falhar em momentos importantes. Quando nos sentimos derrotados, nosso primeiro impulso é provar que não fracassamos sozinhos. Nestes momentos, nada mais fácil que apontar os erros dos outros.
Mas isto não muda o amargo sabor da derrota, nem nos ensina como superá-la. Só conseguiremos vencer os momentos difíceis se formos capazes de ver onde foi que nosso semelhante acertou. Por isso, uma palavra de elogio aos acertos alheios é muito mais poderosa que as famosas “críticas sinceras”.
Quando conseguimos admitir que nosso próximo merece um elogio, estamos abrindo em nosso coração uma estrada de mão dupla – e, em breve, receberemos um elogio de volta.
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qua, 27/03/13
por Paulo Coelho |
Contou-me a jornalista Graziela Romero que a famosa escritora chilena Isabel Allende havia acabado de dar uma conferência em São Francisco, nos EUA, quando um homem aproximou-se.
“Quero casar-me com você”, disse ele. “Você é a mulher da minha vida.” E deixou seu cartão de visita.
Isabel Allende partiu no dia seguinte para o Chile. Seus filhos, que a esperavam no aeroporto, notaram que a mãe estava diferente. “O que houve?”, perguntou o mais velho.
“Tudo correu bem, exceto…” e Isabel contou a historia do homem. Nunca o vira, nem sabia direito o que ele fazia, mas não conseguia parar de pensar nele. Enquanto aguardavam a liberação das bagagens, o filho mais velho afastou-se. Voltou 15 minutos depois, com uma passagem na mão.
“Volte no mesmo avião”, disse o filho. “Seus olhos têm um brilho que nunca vimos antes”.
Isabel voltou para os Estados Unidos no mesmo avião. Telefonou para o número do cartão, e está até hoje casada com aquele homem.
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ter, 26/03/13
por Paulo Coelho |
Conta a lenda que, logo após sua Iluminação, Buda resolveu passear pelos campos.
No caminho, encontrou um lavrador; este ficou impressionado com a luz que emanava do mestre.
“Meu amigo, quem é você?”, perguntou o lavrador. “Pois tenho a sensação que estou diante de um anjo, ou de um deus”.
“Não sou nada disto”, respondeu Buda.
“Quem sabe, então, você é um mago?”, insistiu o outro.
“Tampouco”.
“Então, o que faz você ser tão diferente dos outros, a ponto de um simples camponês como eu ser capaz de notar isto?”
“Sou apenas alguém que acordou para a vida”, disse Buda. “Nada, além disso. Mas falo isto para todo mundo, e ninguém acredita”.
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seg, 25/03/13
por Paulo Coelho |
Conheci Regina Sylvia na época hippie, quando nossas mentes viviam povoadas de deuses astronautas, purple haze, e discos voadores. Regina caminhou por muitas estradas esotéricas e místicas. Hoje está em Pirenópolis (Goiás), dirigindo uma comunidade cristã, voltada para a devoção de Maria.
“A conversão não é um momento apenas, mas um trabalho para toda a vida”, diz ela. “Porque é preciso estar sempre compreendendo o que o coração quer manifestar. Se paramos de escutar nosso coração, a conversão também para”.
“A palavra conversão vem de metanóia, que em grego quer dizer, mudança de mentalidade. Deus nos dá a conversão pela graça, e nós retribuímos com a ação. Não é um caminho fácil: o trabalho é semelhante ao de transformar um deserto em pomar; mas, se a gente permite, o Espírito Santo se encarrega disto”.
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dom, 24/03/13
por Paulo Coelho |
Lembro-me de uma velha história do Charlie Brown. O cachorro Snoopy está pronto para fazer uma besteira, quando Charlie se aproxima e ameaça: “se você fizer isto, terá que sofrer as consequências!”.
Snoopy ameaça, finge que não liga, mas termina desistindo. Então, enfia-se em sua casinha de cachorro e pensa com o ar mais triste do mundo: “minha vida é uma série de conseqüências não sofridas…”.
Certas decisões que tomamos nos ensinam uma nova e deliciosa maneira de viver nossas vidas. Outras nos ensinam lições duríssimas. Mas todos os poetas, e todos os sábios, e todos os místicos já disseram: “Tente. Arrisque”.
Faça. E agüente as conseqüências.
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sáb, 23/03/13
por Paulo Coelho |
Continuo publicando, uma vez por mês, a lista de livros importantes sobre a busca espiritual.
“I Ching” (várias editoras): ao contrário de certos filósofos que consideram o “I Ching” um livro de estudo, recomendo que seja usado como conselheiro.
Existem péssimas edições do livro; use o da Editora Pensamento, baseado na tradução de Richard Wihelm. E fuja das outras.
“Os santos que abalaram o mundo”, de Renee Fulop-Miller (Ed. José Olímpio): da solidão de Santo Antonio à comunhão de Santa Tereza D’Avila; da disciplina de Santo Inácio à doçura de São Francisco de Assis, este livro nos dá uma visão dos obstáculos e bênçãos, do caminho espiritual. E nos faz ver, acima de tudo, que os santos eram pessoas com as mesmas dúvidas e alegrias que nós temos.
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sex, 22/03/13
por Paulo Coelho |
Texto tirado do livro “Timeshifting – reorientando o tempo” – Ed. Rocco, de Stephan Rechtschaffen, médico que fundou o Omega Institute em Nova York.
Lidar com as experiências usando mais profundidade: um estudo sobre os frequentadores do Zoológico Nacional de Washington revelou que o tempo médio que as pessoas passam olhando qualquer exposição de animais não ultrapassa dez segundos. Por que ir ao zoológico, então? Melhor folhear um livro ilustrado, não é verdade?
Um guia me explicou que as pessoas reclamam que os hipopótamos sempre estão submersos; na verdade, a média de submersão vai de 90 segundos a um máximo de cinco minutos. Entretanto, a pressa de se ir adiante não deixa o visitante aproveitar o motivo da visita.
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