O lobo e Shiva

sex, 30/11/12
por Paulo Coelho |
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Um lobo caminhava pela floresta, quando se aproximou de um templo dedicado ao Deus Shiva.

“Faz quase um dia inteiro que estou caçando, e não consegui nada. Será que isso é um sinal? Talvez eu deva aproveitar este dia para fazer um jejum em honra de Shiva.”

E sentou-se ao lado do templo, para meditar.

O que o lobo não sabia era que Shiva o estava observando; para testar sua sinceridade, transformou-se em ovelha, e apareceu  diante do templo.

O lobo, sentindo o cheiro da caça com que tanto sonhava, saiu do transe e arremeteu sobre a presa; mas a cada ataque a ovelha era capaz de reagir com uma  agilidade nunca vista. Depois de quase meia hora de esforço, o lobo desistiu, e voltou à sua meditação, consolando a si mesmo:

“Sou um animal fiel; não quebrei o jejum em honra de Shiva.”

 

O leão e os gatos

qui, 29/11/12
por Paulo Coelho |
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Um leão encontrou um grupo de gatos conversando. “Vou devorá-los”, pensou.

Mas começou a sentir-se estranhamente calmo. E resolveu sentar-se com eles, para prestar atenção no que diziam.

“Meu bom Deus”, disse um dos gatos, sem notar a presença do leão.

“Oramos a tarde  inteira! Pedimos que chovessem ratos do céu!”

“E, até agora, nada aconteceu!”, disse outro.

“Será que o Senhor não existe?”

O céu permaneceu mudo. E os gatos perderam a fé.

O leão levantou-se, e seguiu seu caminho, pensando: “veja como são coisas. Eu ia matar estes animais, mas Deus me impediu. Mesmo assim, eles pararam de acreditar nas graças divinas: estavam tão preocupados com o que estava faltando, que nem repararam na proteção que receberam”.

Rezando por todos

qua, 28/11/12
por Paulo Coelho |
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Um lavrador com a esposa doente chamou um sacerdote budista à sua casa. O sacerdote começou a rezar pedindo que Deus curasse todos os enfermos.

- Um momento – interrompeu o lavrador. Eu pedi para que rezasse por minha esposa, e o senhor pede por todos os doentes?

- Estou rezando por ela – contestou o monge.

- Mas pede por todos. Pode terminar beneficiando o meu vizinho, que está doente também. E eu não gosto dele.

- Você não entende nada de curas – disse o monge, afastando-se. - Ao rezar por todos, estou unindo minhas preces para as milhares de pessoas que encontram-se agora pedindo por seus doentes. Somadas, estas vozes chegam até Deus e beneficiam a todos. Divididas, elas perdem sua força, e não chegam a lugar nenhum.

Do caminho

ter, 27/11/12
por Paulo Coelho |
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Quando escrevi “O Diário de Um Mago”, não podia imaginar o sucesso que o livro ia fazer – de modo que coloquei o nome verda­deiro das pessoas que conheci no Caminho de Santiago. Tais nomes foram trocados nas edições internacionais – exceto a holandesa.

Fui até San Jen Pied-de-Port, onde vive Mme. Debrill – uma dos personagens. Sabia que leitores brasilei­ros e holandeses a procuravam – e os detalhes que contei eram muito íntimos.

“Vim pedir desculpas”, eu disse, assim que juntei coragem para bater em sua porta. “Devia ter trocado seu nome”.

“Você me fez escutar o coração de homens e mulheres de fé; e ali eu pude escutar também a Deus”, respondeu ela, abrindo um largo sorriso.

Um encontro e duas visões

sáb, 24/11/12
por Paulo Coelho |
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Um intelectual árabe foi encontrar um mestre sufi. Passaram a noite inteira conversando sobre religião, e assim que o sol começou a mostrar seus primeiros raios, o intelectual comentou:

“Que noite abençoada foi esta! Ficamos aqui sentados, discutindo coisas importantes; muito melhor do que passá-la sozinho com meus livros”.

O mestre sufi comentou:

“Que noite horrível. Foi uma total perda de tempo”.

“Por quê?”, disse o árabe, surpreso.

“Durante todas estas horas, você tentou dizer algo que me alegrasse, e eu tentei dar-lhe respostas que o deixasse contente. Ao invés de encarar nossas diferenças e compreender que só assim podemos evoluir, tentamos agradar um ao outro. Teria sido melhor passar esta noite rezando; pelo menos estaríamos agradando a pessoa certa, que é Deus”.

Acreditando sem ver

sex, 23/11/12
por Paulo Coelho |
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Um imperador disse ao rabino Yeoschoua Ben Hanania:

“Eu gostaria muito de ver o vosso Deus”.

“É impossível”, respondeu o rabino.

“Impossível? Então, como posso confiar minha vida a alguém que não posso ver?”

“Mostre-me o bolso onde tem guardado o amor por sua mulher. E deixa-me pesá-lo, para ver se é grande”.

“Não seja tolo; ninguém pode guardar o amor num bolso”.

“O sol é apenas uma das obras que o Senhor colocou no universo e – no entanto – você não pode olhá-lo diretamente. Tampouco pode ver o amor, mas sabe que é capaz de apaixonar-se por uma mulher, e confiar sua vida a ela. Não lhe parece evidente que existem certas coisas em que confiamos sem ver?”

Das laranjas

qui, 22/11/12
por Paulo Coelho |
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Diante dos problemas que afetam o Brasil, é bom lembrar uma história anônima, recolhida por Neuci Diniz:

Um homem vendia laranjas no meio de uma estrada. Era analfabe­to, de modo que nunca lia jornais. Colocava pelo caminho alguns cartazes, e passava o dia apregoando a doçura de suas laranjas.

Todos compravam, e o homem progrediu. Com o dinheiro, colocou mais cartazes, e passou a vender outras frutas. O negócio ia de vento em popa quando, um belo dia, seu filho  – que era culto, e havia estudado numa grande cidade  – procurou-o:

“Papai, você não sabe que os tempos estão difíceis?” disse o filho. “A economia do país anda péssima!”

Preocupado, o homem reduziu o número de cartazes, e diminuiu as encomendas de frutas. As vendas despencaram imediatamente.

“Meu filho tem razão”, pensou ele. “Os tempos estão difíceis”.

 

As questões inúteis

qua, 21/11/12
por Paulo Coelho |
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Um homem se aproximou de Buda:

- Gostaria muito de seguir seus passos-  disse.

- Mas antes tenho uma série de questões filosóficas.

Buda virou-se para ele:

- O que você faria se fosse atingido por uma flecha?

- Iria ao médico.

- E você diria ao médico: eu não permitirei que o senhor remova esta flecha até que eu saiba a casta, a idade, a ocupação, e o motivo pelo qual alguém me feriu.

- Se eu perguntar tudo isso, morro antes.

- Da mesma maneira, se você quer ter todas as respostas antes de dar um passo, irá morrer sem sair do lugar-  foi o comentário de Buda.

Do príncipe feliz

ter, 20/11/12
por Paulo Coelho |
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Um príncipe morava com seu pai no mais belo palácio da Terra. Vivia nos seus jardins, e não sabia o que se passava além dos muros do castelo.

Quando atingiu a idade adulta, o rei pediu que percorresse seu futuro reino.  Alegre, o príncipe saiu pelo mundo. Logo cruzou com um enterro, e ouviu pela primeira vez falar em morte.

Encontrou pobres nas ruas, e tomou conhecimento da miséria. Viu leprosos que pediam comida, e descobriu a doença.

Desesperado, voltou até o castelo.

“Descobri os horrores da vida”, disse para o sábio da corte. “Existe alguma maneira de não ter que enxergar mais isto?”

“Existe”, disso o sábio. “Corrija o que estiver errado. Lute para ser melhor e para melhorar o mundo”.

“Mas isto é difícil”, disse o príncipe.

“Não existe nenhuma solução mais fácil?”

“Existe”, disse o sábio. “Basta furar os olhos”.

Administrando as plantas (anônimo)

seg, 19/11/12
por Paulo Coelho |
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Um homem, que se orgulhava muito do seu jardim, viu – com desconsolo – que ele havia sido afetado por uma praga de dentes-de-leão.

Por mais que tentasse, não conseguia livrar-se deles.

Desesperado, escreveu para o Departamento de Agricultura local.

“O que devo fazer?”

Depois de um longo tempo, recebeu a resposta:

“Sugerimos que aprenda a amá-los.”



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