qua, 31/10/12
por Paulo Coelho |
Um guerreiro da luz jamais trapaceia; mas sabe distrair seu adversário. Por mais ansioso que esteja, joga com os recursos da estratégia para atingir seu objetivo. Quando percebe que está no final de suas forças, faz com que o inimigo pense que não tem pressa.
Quando precisa atacar o lado direito, move as suas tropas para o lado esquerdo. Se pretender iniciar a luta imediatamente, finge que está com sono e prepara-se para dormir.
Os amigos comentam: “vejam como perdeu seu entusiasmo”.
Mas ele não dá importância aos comentários, porque os amigos não conhecem suas táticas de combate.
Um guerreiro da luz sabe o que quer. E não precisa ficar explicando.
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ter, 30/10/12
por Paulo Coelho |
Um guerreiro da luz estuda com muito cuidado a posição que pretende conquistar.
Por mais difícil que seja o seu objetivo, sempre existe uma maneira de superar os obstáculos. Ele verifica os caminhos alternativos, afia sua espada, e procura encher seu coração da perseverança necessária para enfrentar o desafio.
Mas, à medida que avança, o guerreiro se dá conta que existem dificuldades com as quais não contava.
Se ficar esperando o momento ideal, nunca sairá do lugar; porque muita gente vive lhe dizendo que é uma loucura fazer o que pretende.
O guerreiro então usa um pouco de loucura. Porque – na guerra e no amor – não é possível prever tudo.
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seg, 29/10/12
por Paulo Coelho |
Um guerreiro da luz é confiável. Comete alguns erros, quando exagera um pouco suas histórias, e termina se julgando mais importante do que realmente é. Mas por ser um guerreiro da luz, está terminantemente proibido de mentir.
Quando se reúne ao redor da fogueira e conversa com seus companheiros, sabe que suas palavras ficam guardadas na memória do universo, e são testemunhas do que pensa.
O guerreiro reflete: “por que falo tanto, se muitas vezes não sou capaz de fazer tudo que digo?”
Esta é uma reflexão importante.
O coração responde: “se você defende publicamente suas ideias, terá que se esforçar para viver de acordo com elas”.
E porque pensa que é o que fala, que o guerreiro acaba se transformando no que diz ser.
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dom, 28/10/12
por Paulo Coelho |
Um guerreiro da luz divide seu mundo com as pessoas que ama e procura estimulá-las a fazer o que gostariam.
Nestes momentos, o adversário aparece com duas tábuas na mão.
Numa das tábuas está escrito: “pense mais em você. Conserve as bênçãos para si mesmo, ou vai terminar perdendo tudo”.
Na outra tábua, lê-se: “quem é você para ajudar os outros? Será que não consegue ver os próprios defeitos?”
Um guerreiro sabe que tem defeitos. Mas sabe também que não pode crescer sozinho, e distanciar-se de seus companheiros. Então, mesmo achando que o adversário tem alguma razão, ele esquece as duas tábuas e continua espalhando entusiasmo ao seu redor.
Senta-se com seus companheiros em torno de uma fogueira, todos comentam suas conquistas – e os estranhos que se juntam ao grupo são bem-vindos, porque todos têm orgulho de sua vida e do bom combate.
O guerreiro sabe como é importante dividir sua experiência com os outros; fala com entusiasmo do caminho, conta como resistiu a certo desafio, que solução encontrou para um momento difícil. Quando narra suas aventuras, reveste suas palavras de paixão e romantismo.
Às vezes ele se permite exagerar um pouco, pois sabe que seus antepassados também exageravam de vez em quando; mas quando age desta maneira, ele jamais confunde orgulho com vaidade, e evita acreditar em seus próprios exageros.
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sáb, 27/10/12
por Paulo Coelho |
Um guerreiro da luz assume por inteiro sua lenda pessoal – a razão de sua vida. Seus companheiros comentam: “sua fé é admirável!”
O guerreiro fica orgulhoso por alguns momentos, e logo se envergonha do que escutou, porque não tem a fé que demonstra.
Neste momento seu anjo sussurra: “você é apenas um instrumento da luz. Não há motivos para vangloriar-se, nem para sentir-se culpado; há motivo apenas para cumprir seu destino”.
E o guerreiro da luz, consciente que é um instrumento, fica mais tranquilo e seguro.
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sex, 26/10/12
por Paulo Coelho |
Um guerreiro apaixonou-se pela filha do seu general. No intervalo das batalhas, escrevia cartas apaixonadas – mas ficava com medo de enviá-las, pois os agentes do general podiam descobrir seu conteúdo.
Finalmente achou um mensageiro de confiança – e mandou um bilhete à sua amada, implorando um encontro.
Logo recebeu a resposta: a moça conseguiria escapar da vigilância de seu pai por duas horas.
Entusiasmado, o guerreiro levou consigo todas as cartas de amor que havia escrito. Assim que a viu, tirou-as do bolso, e começou a ler suas declarações de amor em voz alta. Quando terminou, duas horas já haviam passado, e a moça teve que voltar para casa.
Preocupado em mostrar o quanto a amava, o guerreiro não conseguiu amá-la de verdade.
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qui, 25/10/12
por Paulo Coelho |
Um grupo de sábios reuniu-se num castelo em Akbar, para discutir a obra de Deus; queriam saber por que havia deixado para criar o homem no sexto dia.
“Ele pensava em organizar bem o universo, de modo que pudéssemos ter todas as maravilhas a nossa disposição”, disse um.
“Ele quis primeiro fazer alguns testes com animais, de modo a não cometer os mesmos erros conosco”, argumentou outro.
Um sábio judeu apareceu para o encontro. O tema da discussão lhe foi comunicado: “na sua opinião, por que Deus deixou para criar o homem no último dia?”
“Muito simples”, comentou o sábio. “Para que, quando fossemos tocados pelo orgulho, pudéssemos refletir: até mesmo um simples mosquito teve prioridade no trabalho Divino”.
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qua, 24/10/12
por Paulo Coelho |
Um grupo de sábios judeus reuniu-se para tentar criar a menor Constituição do mundo.
Se alguém fosse capaz de definir – no espaço de tempo que um homem leva para equilibrar-se em um só pé – as leis que deviam reger o comportamento humano, este seria considerado o maior de todos os sábios.
“Deus pune os criminosos”, disse um.
Os outros argumentaram que isto não era uma lei, mas uma ameaça; a frase não foi aceita.
“Deus é amor”, comentou outro.
De novo, os sábios não aceitaram a frase, dizendo que ela não explicava direito os deveres da humanidade.
Neste momento, aproximou-se o rabino Hillel. E, colocando-se num só pé, disse:
“Não faça com seu próximo aquilo que você detestaria que fizessem com você; esta é a Lei. Todo o resto é comentário jurídico”.
E o rabino Hillel foi considerado o maior sábio de seu tempo.
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ter, 23/10/12
por Paulo Coelho |
Um grupo de monges – entre eles o grande abade Nicerius – passeava pelo deserto egípcio quando um leão surgiu diante deles.
Apavorados, todos se puseram a correr.
Anos depois, quando Nicerius estava em seu leito de morte, um dos monges resolveu perguntar:
“Abade, lembra-se do dia que encontramos o leão?”
Nicerius fez um sinal afirmativo com a cabeça.
“Foi a única vez que o vi ter medo”, continuou o monge.
“Mas eu não tive medo do leão”.
“Então por que correu junto com a gente?”
“Achei melhor fugir uma tarde de um animal, que passar o resto da vida fugindo da vaidade”.
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seg, 22/10/12
por Paulo Coelho |
Um grupo de estudantes uruguaios estava reunido numa casa de campo, quando o caseiro chegou – contando uma tragédia nas redondezas: uma casa incendiou-se, deixando mãe e filha desabrigadas. Imediatamente, uma das estudantes iniciou uma coleta, para ajudar a família a reconstruir sua casa.
Entre os presentes estava um escritor pobre, e a moça resolveu não lhe pedir nada.
“Um momento”, disse o escritor, quando ela ia passando adiante. “Também quero contribuir”.
No minuto seguinte, escreveu em um papel o que havia acontecido, e colocou-o dentro do pote que estava sendo usado para arrecadar o dinheiro.
“Quero dar a todos esta tragédia. Que ela seja sempre lembrada quando pensarmos nos pequenos incidentes de nossas vidas”.
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