Da velha

qua, 29/02/12
por Paulo Coelho |
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Deus escolheu hoje uma velhinha para me mostrar que o mundo pode ser salvo. Ela estava no calçadão da Av. Atlântica, com um violão, e uma plaquinha: “Vamos cantar juntos”. Começou a tocar sozinha. Depois chegou um bêbado,  uma outra velhinha, e  começaram a cantar com ela. Daqui a pouco uma pequena multidão cantava, e outra pequena multidão servia de plateia, batendo palmas no final de cada número.
“Por que faz isto?” perguntei, entre uma música e outra.
“Para não ficar sozinha”, disse ela. ” Minha vida é, como a vida de quase todos os velhos, muito solitária”.
Oxalá todos resolvessem seus problemas desta maneira.

Em silêncio

ter, 28/02/12
por Paulo Coelho |
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A árvore estava tão cheia de maçãs, que seus galhos não conseguiam se mexer com o vento.

“Por que não fazes barulho? Afinal, todos nós temos alguma vaidade, e  precisamos chamar a atenção dos outros”, comentou o bambu.

“Não preciso. Meus frutos são minha melhor propaganda”, respondeu a árvore.

O amigo e o mendigo

seg, 27/02/12
por Paulo Coelho |
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Lembro-me que muitos anos atrás, numa época de profunda negação da fé, eu estava com minha mulher e uma amiga no Baixo Leblon, Rio de Janeiro. Havíamos bebido um pouco – quando chegou um velho companheiro,     que viveu conosco os loucos anos de 60 e 70, e depois entrou para um seminário. Ele começou a falar de Jesus, e nós ironizávamos tudo que dizia.

Quando saímos do restaurante, uma das pessoas que estava comigo apontou para uma criança que dormia na calçada.

“Está vendo como Jesus se preocupa com o mundo?”, disse ela.

“Claro que estou vendo”, respondeu ele. “Ele colocou aquela criança ali, e  fez questão de que você visse, para que pudesse fazer alguma coisa”.

Aquela frase foi o início do meu retorno à busca espiritual.

Um santo no lugar errado

dom, 26/02/12
por Paulo Coelho |
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Reescrevo uma história, atribuída a autor desconhecido, que me foi enviada logo após a publicação de “Lenin desce aos infernos”.

“Certa vez, perguntei para o Ramesh, um de meus mestres na Índia:

- Por que existem pessoas que saem facilmente dos problemas mais complicados, enquanto outras sofrem por problemas muito pequenos, morrem afogadas num copo de água?
Ele simplesmente sorriu e me contou uma história.
… “Era um sujeito que viveu amorosamente toda a sua vida. Quando morreu, todo mundo lhe falou para ir ao céu, um homem tão bondoso quanto ele somente poderia ir para o Paraíso. Ir para o céu não era tão importante para  aquele homem, mas mesmo assim ele foi até lá.

Naquela época, o céu não havia ainda passado por um programa de qualidade total. A recepção não funcionava muito bem, a moça que o recebeu deu uma olhada rápida nas fichas em cima do balcão e, como não viu o nome dele na lista, lhe orientou para ir ao Inferno.

E, no Inferno, ninguém exige crachá nem convite, qualquer um que chega é convidado a entrar. O sujeito entrou e foi ficando…
Alguns dias depois, Lúcifer chega furioso às portas do Paraíso para tomar satisfações com São Pedro:
- Isso que você está fazendo é puro terrorismo!

Sem saber o motivo de tanta raiva, Pedro pergunta do que se trata. Um transtornado Lúcifer responde:
- Você mandou aquele sujeito para o Inferno e ele está me desmoralizando! Chegou escutando as pessoas, olhando-as nos olhos, conversando com elas. Agora, está todo mundo dialogando, se abraçando, se beijando. O inferno não é lugar para isso! Por favor, traga este sujeito para cá!”

Quando Ramesh terminou de contar esta história olhou-me carinhosamente e disse:
- Viva com tanto amor no coração que se, por engano, você for parar no Inferno, o próprio demônio lhe trará de volta ao Paraíso. “

Quando nos educamos para ganhar

sáb, 25/02/12
por Paulo Coelho |
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É justamente no momento em que tudo começa a dar certo que é preciso prestar mais atenção.

O homem sobe na motocicleta de 900 cilindradas. Escuta o rugir do motor, sente o movimento inicial da máquina, viva, palpitante. Dirige-se para a estrada; a velocidade aumenta aos poucos, a paisagem passa rápido, o vento sopra cada vez com mais intensidade.

Ele tem uma longa viagem pela frente. Se esquecer a manutenção da motocicleta, dificilmente chegará muito longe. Irá parar por falta de gasolina, por um problema mecânico, ou – o que é pior – porque seu entusiasmo fez com que perdesse o controle da máquina, e caísse.

O bom motociclista desfruta a alegria do vento em seu rosto, mas não esquece os cuidados com a máquina. O verdadeiro sábio encanta-se com seu caminho, mas não descuida das armadilhas que estão adiante.

Os erros do passado

sex, 24/02/12
por Paulo Coelho |
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Durante uma viagem, Buda encontrou um yogue apoiado numa perna só. “Queimo os erros do meu passado”, explicou o homem.
“E quantos erros já queimou?”
“Não tenho a menor idéia”.
“E quanto falta queimar?” insistiu Buda.
“Não tenho a menor idéia.”
“Então é hora de acabar com isto. Pare de pedir perdão a Deus, e vá pedir  perdão a quem você feriu.”

O caminho da intolerância

qui, 23/02/12
por Paulo Coelho |
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Durante uma temporada teatral em Chicago, a atriz Sara Bernhardt foi violentamente atacada por um bispo da Igreja Episcopal, que a chamava no púlpito e “prostituta da Babilônia”.
Quando a temporada terminou, sempre com casas lotadas, Bernhardt enviou  um cheque para o bispo, junto com um bilhete:
“Estou acostumada a gastar 400 dólares de publicidade sempre que chego numa cidade. Como o senhor se encarregou de metade da promoção, segue um cheque de 200 dólares para a paróquia”.

 

Do caminhante

qua, 22/02/12
por Paulo Coelho |
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O guerreiro dificilmente sabe o resultado de uma batalha quando esta acaba.

O movimento da luta gerou muita energia a sua volta, e existe um momento onde tanto a vitória como a derrota ainda são possíveis.  Só o tempo irá dizer se ele venceu ou perdeu: o destino daquela luta – e de todas as que travou – está sempre nas mãos de Deus.

Nestes momentos, o guerreiro da luz não fica preocupado com os resultados. Examina seu coração e pergunta: “combati o bom combate?” Se a resposta é positiva, ele descansa.  Se a resposta é negativa, ele pega a sua espada e começa a treinar de novo.

Uma outra batalha o espera.  Se continuar lutando, sempre pode modificar um resultado negativo.

O aluno que furtava

ter, 21/02/12
por Paulo Coelho |
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Durante uma das aulas do mestre zen Bankei, um aluno foi pego roubando.  Todos os discípulos pediram a expulsão do aluno.

Bankei não fez nada.

Na semana seguinte, o aluno roubou de novo, mas Bankei o manteve em sua classe.

Irritados, os outros escreveram uma petição exigindo que o ladrão fosse punido.

“Como vocês são sábios”, disse Bankei, ao ler o pedido. “Conhecem a diferença entre o que é certo e o que está errado. Podem estudar em qualquer outro lugar. Mas este pobre irmão – que não sabe o que é certo ou errado – só tem a mim para ensiná-lo, e continuarei fazendo isto”.

Uma torrente de lágrimas purificou o rosto do ladrão: o desejo de roubar havia desaparecido.

Enchendo o copo alheio

seg, 20/02/12
por Paulo Coelho |
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Durante um jantar no mosteiro de Sceta, o padre mais idoso levantou-se  para servir água aos outros. Foi de mesa em mesa com muito esforço, mas nenhum dos padres aceitou.

“Somos indignos do sacrifício deste santo”, pensavam.

Quando o velho chegou na mesa do abade João Pequeno, este pediu que  enchesse seu copo até a borda. Os outros monges olharam horrorizados. No final do jantar, repreenderam João:

“Como pode julgar-se digno de permitir-se ser servido por um homem santo? Não percebeu o quanto lhe custou levantar a garrafa? Não notou como suas  mãos tremiam?”

“Como posso impedir que o bem se manifeste?”, respondeu João. “Vocês, que se acham perfeitos, não tiveram humildade de receber, e o pobre homem não teve a alegria de dar”.



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