Dos espinhos

dom, 30/11/08
por Paulo Coelho |
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O leitor Álvaro Conegundes envia uma interessante história:

Durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do frio.  Os porcos-espinhos, percebendo a situação, resolveram se juntar em grupo; assim, se agasalhavam e protegiam mutuamente.

Mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos – justamente os que forneciam mais calor. E, por isto, tornaram a se afastar uns dos outros.

Voltaram a morrer congelados. E precisaram fazer uma escolha: ou desapareciam da face da Terra, ou aceitavam os espinhos do semelhante.

Com sabedoria, decidiram voltar a ficar juntos. Aprenderam a conviver com as pequenas feridas que uma relação muito próxima podia causar, – já que o mais importante era o calor do outro. E terminaram sobrevivendo.

Do machado

sáb, 29/11/08
por Paulo Coelho |
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O velho acordou e reparou que seu machado não estava no lugar onde havia colocado. Foi até a janela, e viu o vizinho sentado em sua varanda.

“Ele deve ter roubado minha ferramenta”, pensou o velho. “Veja como tem cara de ladrão, jeito de ladrão, olhar de ladrão”.

Ao meio-dia, enquanto arrumava algumas coisas, o velho reparou que o machado estava atrás de um móvel.

Naquela tarde, ao sair de casa para dar um passeio, cumprimentou o vizinho e seguiu adiante, pensando: “como é bom morar junto de alguém que tem cara honesta, jeito honesto, e olhar honesto”.

(Creio que todos nós, em algum momento de nossas vidas, já nos comportamos como este velho).

Do renascer

sex, 28/11/08
por Paulo Coelho |
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O trecho foi escrito pelo violoncelista Pablo Casals:

“Eu estou sempre renascendo. Cada nova manhã é o momento de recomeçar a viver. Há 80 anos que eu começo meu dia da mesma maneira – e isto não significa uma rotina mecânica, mas algo essencial para minha felicidade”.

“Eu acordo, vou para o piano, toco dois prelúdios e uma fuga de Bach. Estas músicas funcionam como uma benção para minha casa. Mas também é uma maneira de retomar contacto com o mistério da vida, com o milagre de ser parte da raça humana”.

“Mesmo fazendo isto há 80 anos, a música que toco nunca é a mesma – ela sempre me ensina algo novo, fantástico, inacreditável”.

Do amor

qui, 27/11/08
por Paulo Coelho |
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O trecho a seguir foi escrito por Emily Bronte – no seu clássico livro “O morro dos ventos uivantes” -, e descreve o amor da personagem principal por dois homens:

“Doce amor da juventude, me perdoa, porque as correntezas de paixões me carregam de um lado para o outro. Neste momento eu devo me entregar, sem tentar entender o que acontece em meu coração”.

“Mas quando estas correntezas enfraquecerem, este doce amor irá permanecer. E mesmo que tudo acabe, basta que o amor sobreviva – e eu sobreviverei também. Entretanto, se tudo permanecer – menos o amor – o Universo passará a ser um estranho para mim”.

“O amor muda como as folhas das árvores no outono. E se eu for capaz de entender isto, serei capaz de amar”.

Da verdade

qua, 26/11/08
por Paulo Coelho |
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O tirano Rudarigh (Rodrigo), grande senhor de Murcia, decidiu mandar prender o sufi Omar El-Alawi. Com a corte reunida, mandou trazer o sábio.

“Dizem que os sufis conhecem a verdade”, bradou Rudarigh. “Pois eu decreto que me reveles uma verdade, ou pagarás com a vida”.

“A tradição real diz: se um servo obedece, o senhor o liberta”, respondeu El-Alawi. “Quero este compromisso”.

“Só se tal verdade puder ser provada”, disse o senhor feudal. “Chega de ver o povo sendo enganado por sábios”.

“Direi três verdades. A primeira: meu nome é Omar El-Alawi. A segunda: vossa majestade prometeu soltar-me. A terceira: é possível provar qualquer verdade, quando ela interessa ao governante”.

Fiel a sua palavra, Rudarigh libertou o dervixe.

Da unidade

ter, 25/11/08
por Paulo Coelho |
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O texto sagrado indiano “Upanishads” usa uma bela imagem para se referir à unidade do homem com a Criação; ele diz que somos fagulhas de uma grande fogueira cósmica, e cada fagulha contem em si a intensidade da luz divina.

O filósofo Martin James (1803-1882) completa: “não existe um reino de Deus e um reino da Natureza; o que chamamos de matéria é apenas a porção visível do Espírito. Estamos o tempo todo no Paraíso, e o Paraíso está em nós”.

“Por que não nos damos conta?”.

A resposta é fácil: temos medo de nossa coragem. Achamos que, se arriscarmos e perdermos, toda a nossa fé irá embora. Mas a coisa não funciona assim; quem arrisca, sabe que não há derrota possível”.

Do controle

seg, 24/11/08
por Paulo Coelho |
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O texto é do filósofo Epicteto:

“De todas as coisas que existem, algumas estão ao nosso alcance, e outras não. Estão ao nosso alcance: o pensamento, os impulsos, o querer e o não querer – em uma palavra, tudo aquilo  cujo  resultado são nossas próprias ações”.

“Mas existem coisas que surgem sem que possamos interferir. Neste caso, é preciso saber olhar – com sabedoria – o que se passa. O que perturba o espírito do homem não são os fatos, mas o julgamento que fazem a respeito dos mesmos”.

“Não peça que tudo na sua vida siga o caminho de sua vontade”.

“Reze para que as coisas aconteçam como elas precisam acontecer – e verá que tudo é muito melhor do que você estava esperando”.

Da mística

dom, 23/11/08
por Paulo Coelho |
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O texto é de Leonardo Boff:

“Captar Deus é tê-lo em todas as dimensões da vida, não apenas em situações privilegiadas, como quando se comunga ou se reza. Ter a experiência de Deus sempre – andando na rua, respirando o ar poluído, alegrando-se, tomando cerveja, procurando entender um texto que se esteja estudando. Deus vem misturado com tudo isto; e qualquer situação é suficientemente boa para captá-lo e dizer:” Ele anda conosco”.

“A chave do místico é procurar ver o que está por trás de cada coisa, o que a constitui e sustenta. Não ficar preso ao superficial, – mas fazer de tudo um símbolo, um sinal, um sacramento, uma imagem”.

“Para quem tem a experiência de Deus, o mundo é uma grande mensagem”.

De Gibran

sáb, 22/11/08
por Paulo Coelho |
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O texto é de Khalil Gibran:

“Sete vezes desprezei a minha alma.

Quando a vi disfarçar-se de humilde para alcançar a grandeza.

Quando a vi coxear na presença de coxos.

Quando lhe deram a escolher entre o fácil e o difícil, e ela escolheu o fácil.

Quando ela cometeu um mal e consolou-se com a idéia de que outros também cometem o mesmo mal.

Quando aceitou a humilhação por covardia e atribuiu isso a sua virtude e tolerância.

Quando desprezou um rosto por julgá-lo feio e não notou a beleza de um espírito.

Quando considerou algum elogio como o reconhecimento de sua capacidade”.

Do milagre

sex, 21/11/08
por Paulo Coelho |
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O texto do professor Luiz Antonio Aguiar (PUC-RJ) fala dos medos interiores quando nos defrontamos com o Extraordinário:

“É mais difícil acreditar na possibilidade de milagres que na existência de Deus. Mal ou bem, todos podemos driblar a pergunta – você acredita em Deus? – alegando uma presença interior, íntima, tão protegida que se dispensa demonstrá-la… até para nós mesmos. Dá pra ir levando”.

“Já o milagre, não. Crer no milagre significa, por um instante, colocar nosso destino em suspensão, confiar com todas as forças que se irá realizar uma transformação em nossas vidas, ao vivo e a cores, aqui e agora. Significa apostar que seremos, das alturas, escutados – e isto põe a prova nosso temor da solidão mais irremediável, de sermos abandonados, rejeitados. Quanto mais intensa a entrega, mais arriscada”.



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