qua, 30/04/08
por Paulo Coelho |
Cada um de nós sabe a maneira de realizar melhor seu trabalho. Só quem tem realizado uma tarefa conhece as suas dificuldades.
O escritor G. Bernard Shaw notou um grande bloco de pedra na casa de seu amigo, o escultor J. Epstein.
“O que você vai fazer neste bloco?”, perguntou Shaw.
“Não sei, ainda estou decidindo”, respondeu Epstein.
Shaw ficou surpreso: “quer dizer que você planeja sua inspiração? Não sabe que um artista tem que ser livre para mudar de idéia quando deseja?”
“Isto funciona quando – ao mudar de idéia – tudo que você precisa fazer é amassar uma folha de papel que pesa cinco gramas. Mas quando você lida com um bloco de quatro toneladas, tem que pensar diferente”, foi a resposta de Epstein.
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ter, 29/04/08
por Paulo Coelho |
“Busque primeiro o Reino dos Céus, e tudo o mais será acrescentado”, diz Jesus Cristo.
O que é este Reino?
Com certeza não é um paraíso distante, encravado no meio das estrelas, onde um bando de anjos felizes nos espera com néctar e ambrósia. Tampouco é o apartamento de cobertura em frente ao Central Park, em New York, onde alguém nos serve champanhe e caviar. Muito menos é uma ermida perdida no meio do deserto, onde comemos gafanhotos e nos dedicamos a orar pela salvação do mundo.
Não tenho procuração para dar explicações em nome de Jesus Cristo, mas penso que – entre outras coisas – o Reino dos Céus é o nosso caminho.
Se honrarmos nossa Lenda Pessoal, se escutamos nosso coração, estamos nele.
Depois de superar os momentos difíceis, vamos encontrar tudo que nos falta.
A vida tem o sentido que nós a damos. Não podemos abrir concessões. Não vamos abrir concessões.
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seg, 28/04/08
por Paulo Coelho |
Buscaglia nos conta a história do quarto rei mago, que também viu a estrela brilhar sobre Belém – mas sempre chegava atrasado nos lugares onde Jesus poderia estar, porque pobres e miseráveis pediam sua ajuda.
Depois de 30 anos seguindo os passos de Jesus pelo Egito, Galiléia, Betania, o rei mago chega a Jerusalém. É tarde demais, o menino já se transformou em homem e está sendo crucificado naquele dia.
O rei havia comprado pérolas para Cristo, mas precisou vender quase todas para ajudar as pessoas que encontrou em seu caminho. Sobrou apenas uma pérola – mas o Salvador já está morto.
“Falhei na missão da minha vida”, pensa o rei mago. Neste momento, escuta uma voz:
“Ao contrário do que pensas, tu me encontrastes durante toda a tua vida. Eu estava nú, e me vestistes. Eu tive fome, e me deste de comer. Eu estrava preso, e me visitastes. Eu estava em todos os pobres do teu caminho. Muito obrigado por tantos presentes de amor”.
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dom, 27/04/08
por Paulo Coelho |
Buda caminhou pelo mundo inteiro, buscando um caminho espiritual que pudesse seguir. Tentou várias disciplinas, viveu com os ascetas, buscou na filosofia de sua época uma resposta para suas inquietações pessoais.
E nada encontrou.
Um dia, sentado debaixo de uma árvore, entendeu o Universo.
Mais tarde, procurou ensinar a seus discípulos como tinha chegado a iluminação.
Dentre as várias maneiras com que procurou dividir seu conhecimento, destaca-se uma frase: “quando respirarem profundamente saibam que respiram profundamente. Quando respirarem superficialmente, saiba que respiram superficialmente”.
Basta prestar atenção às pequenas coisas – Buda chamava isto de “Atenção Consciente” – que qualquer homem, por mais adormecido que esteja, é capaz de despertar para a iluminação.
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sáb, 26/04/08
por Paulo Coelho |
Baby Consuelo tinha saído com o dinheiro contado para levar o filho ao cinema. O garoto estava animadíssimo, e a toda hora perguntava quanto tempo demorariam para chegar.
Ao parar no sinal, viu que um mendigo sentado na calçada – sem pedir nada.
“Dê todo o dinheiro que você carrega para ele”, escutou uma voz dizer.
Baby argumentou com a voz – havia prometido levar o filho ao cinema.
“Dê tudo”, insistiu a voz.
“Posso dar metade, meu filho entra sozinho, e eu espero na saída”, disse ela.
Mas a voz não queria conversa: “dê tudo”.
Baby nem teve tempo de explicar para o garoto: parou o carro e estendeu todo o dinheiro que carregava para o mendigo.
“Deus existe, e a senhora me mostrou isto”, disse o mendigo. “Hoje é meu aniversário. Eu estava triste, envergonhado de estar sempre esmolando. Então resolvi não pedir nada: se Deus existisse, ele me daria um presente”.
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sex, 25/04/08
por Paulo Coelho |
Avicena foi um famoso médico persa. Certa noite fria de inverno, um de seus discípulos perguntou: “por que não te proclamas profeta? Tens mais erudição que Maomé, que cuidava de camelos”.
Avicena pediu ao discípulo: “vá até o poço buscar água”.
“Faz muito frio lá fora”, respondeu o discípulo.
Várias vezes Avicena insistiu, e o aluno sempre tinha uma desculpa para escapar da tarefa desagradável.
De manhã cedo, o relógio avisou a hora da oração. O discípulo pulou da cama, foi lá fora, quebrou o gelo formado no poço, lavou-se e rezou.
Na volta, Avicena lhe disse: “pedi várias vezes um pouco de água, e você evitou a tarefa. De manhã, as práticas de um homem que já morreu há 300 anos te fizeram enfrentar o frio. Não é a cultura, mas a força das palavras que faz um profeta”.
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qui, 24/04/08
por Paulo Coelho |
Assim que morreu, Juan encontrou-se num belíssimo lugar, rodeado pelo conforto e beleza que sonhava.
Um sujeito vestido de branco aproximou-se: “você tem direito ao que quiser: qualquer alimento, prazer, diversão”, disse.
Encantado, Juan fez tudo que sonhou fazer durante a vida.
Depois de muitos anos de prazeres, procurou o sujeito de branco: “já experimentei o que tinha vontade”, disse. “Preciso agora de um trabalho, para me sentir útil”.
“Sinto muito”, disse o sujeito de branco. “Mas esta é a única coisa que não posso conseguir. Aqui não há trabalho”.
“Que terrível”, disse Juan. “Passar a eternidade morrendo de tédio. Preferia mil vezes estar no inferno”.
O homem de branco aproximou-se, e disse em voz baixa: “e onde o senhor pensa que está?”
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qua, 23/04/08
por Paulo Coelho |
Às vezes somos possuídos por uma sensação de tristeza que não conseguimos controlar. Não importa o lugar onde estamos – no trabalho, junto da pessoa a quem amamos, numa festa – mas, sem qualquer explicação, o mundo perde seu colorido, e a vida esconde sua magia.
Nestes momentos – nos fala Karen Casey - nada melhor que olhar para dentro de nós mesmos. Ali está uma criança com medo, que não sabe bem o que está fazendo aqui, porque quase não é ouvida e consultada. Vamos ser tolerantes com esta criança. Vamos deixar que ela tome as rédeas por quanto tempo for necessário, até que sentir-se de novo amada.
Em breve, nossos olhos voltam a brilhar. E, a partir daí, se não perdemos mais o contacto com esta criança, não perderemos mais o sentido da vida.
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ter, 22/04/08
por Paulo Coelho |
Às vezes o Guerreiro da Luz tem a impressão de estar vivendo duas vidas ao mesmo tempo. Em uma destas vidas, ele é obrigado a fazer tudo que não quer, lutar por idéias nas quais não acredita, gastar seu tempo com coisas que não tocam seu coração. Mas existe uma outra vida, e ele procura vivê-la através de seus sonhos, de suas leituras, de encontros com gente que pensa como ele, de sua esperança.
Lentamente, o Guerreiro vai permitindo que suas duas vidas se aproximem. “Há uma ponte que liga o que eu faço com o que eu gostaria de fazer”, pensa o Guerreiro. Aos poucos, os seus sonhos vão tomando conta da sua rotina, até que o Guerreiro percebe que está pronto para fazer o que sempre quis.
Então, basta um pouco de ousadia – e as duas vidas se transformam numa só.
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seg, 21/04/08
por Paulo Coelho |
Às vezes, nosso idealismo nos leva a confundir humildade com submissão, e terminamos humilhados. Às vezes, somos infantis quando precisamos tomar uma decisão madura. E, nos momentos em que o Universo nos pede um pouco de ousadia, terminamos por ser conservadores demais.
Não é fácil se guerreiro o tempo todo. Mais difícil ainda é aceitar o fato de que nem sempre estamos à altura do desafio apresentado. Mas isso faz parte da natureza humana; todo mundo tem o direito e o dever de sentir-se fraco de vez em quando.
Mas é preciso superar os próprios limites. Tudo é arriscado nesta vida. Às vezes pegamos uma tarefa que está além de nossa capacidade, e ela nos derruba no solo – junto com outras pessoas estavam ali só para nos ajudar.
O resultado, porém, é sempre positivo. As cicatrizes da experiência são mais belas que a operação plástica da acomodação.
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