O rei e a deusa

sex, 30/11/07
por Paulo Coelho |
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O rei Sivi era um homem bom, e a deusa Raky resolveu testá-lo. Pediu a uma pomba que voasse até o quarto do rei, transformou-se em um falcão, e foi caçar a pomba diante dos olhos de Sivi.

“Não faça isto!”, ele pediu.

“Por que não farei?”, perguntou o falcão. “Meu alimento é carne fresca. O senhor quer subverter a natureza?”

“Você tem razão”, disse Sivi. “Então aceite minha carne fresca”.

Sacou um punhal que trazia na cintura, preparou-se para cortar uma parte de seu braço e oferecê-lo ao falcão, que neste momento voltou a transformar-se em Raky.

“Um homem bom sempre vai a extremos para provar suas qualidades”, disse a deusa. “Quando morreres, habitarás nosso reino”.

Da bondade

qui, 29/11/07
por Paulo Coelho |
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O monge tibetano Chogyam Trunpga diz: “não é preciso uma experiência mística para descobrir que o mundo é bom”.

Basta perceber as coisas belas e simples que existem a nossa volta, ver as gotas de chuva escorrendo na vidraça, acordar de manhã e descobrir que o sol brilha, escutar alguém rindo.

Agindo assim, o mundo deixa de ser uma ameaça. Passamos a nos dar conta que somos capazes de notar o milagre da vida, e aceitamos a sensibilidade e o amor que existe em nossa alma.

Se formos capazes de ver o que é belo é porque somos também belos – já que o mundo é um espelho, e devolve a cada homem o reflexo de seu próprio rosto.

Embora sabendo nossos defeitos e limitações, devemos fazer o possível para conservar a esperança e bom humor. Afinal de contas, o mundo está se esforçando para nos ajudar, mesmo que a gente esteja achando o contrário.

O instante mágico

qua, 28/11/07
por Paulo Coelho |
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É preciso correr riscos. Só entendemos direito o milagre da vida quando deixamos que o inesperado aconteça.

Todos os dias Deus nos dá – junto com o sol – um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. Todos os dias procuramos fingir que não percebemos este momento, que ele não existe, que hoje é igual à ontem – e será igual à amanhã.

Mas, quem presta atenção ao seu dia, descobre o instante mágico.

Ele pode estar escondido na hora em que enfiamos a chave na porta pela manhã, no instante de silêncio logo após o jantar, nas mil e uma coisas que nos parecem iguais. Este momento existe – um momento em que toda a força das estrelas passa por nós, e nos permite fazer milagres.

A felicidade às vezes é uma bênção – mas geralmente é uma conquista.

O instante mágico do dia nos ajuda a mudar, nos faz ir em busca de nossos sonhos.

Vamos sofrer, vamos ter momentos difíceis, vamos enfrentar muitas desilusões – mas tudo é passageiro, e não deixa marcas. E, no futuro, podemos olhar para trás com orgulho e fé.

Pobre de quem teve medo de correr os riscos. Porque este talvez não se decepcione nunca, nem tenha desilusões, nem sofra como aqueles que têm um sonho a seguir. Mas quando olhar para trás – porque sempre olhamos para trás – vai escutar seu coração dizendo: “o que fizeste com os milagres que Deus semeou por teus dias? O que fizeste com os talentos que teu Mestre te confiou? Enterraste fundo em uma cova, porque tinhas medo de perdê-los. Então, esta é a tua herança: a certeza de que desperdiçaste tua vida”.

Pobre de quem escuta estas palavras. Porque então acreditará em milagres, mas os instantes mágicos da vida já terão passado.

Sobre o despertar

ter, 27/11/07
por Paulo Coelho |
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O Rabino Jacob costumava dizer:

“É melhor um único momento de compreensão neste mundo, que toda a eternidade no mundo que virá. E é melhor um único momento de paz interior neste mundo, que toda a eternidade em paz”.

Por quê?

“Um simples momento de compreensão neste mundo traz em si a própria eternidade. E a paz que encontraremos no mundo que virá está presente em cada minuto de paz nesta vida”.

A prece

seg, 26/11/07
por Paulo Coelho |
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O rabino Dov Baer estudava as Escrituras, enquanto seu filho de um ano dormia ao lado de sua mesa de trabalho.

Em dado momento, a criança acordou e começou a chorar. Dov Baer, concentrado no que lia, não prestou a menor atenção.

A criança chorou horas seguidas, até que o rabino Zalman veio correndo do seu quarto e colocou-a no colo.

Quando os gritos do menino cessaram, Zalman virou-se para o Dov Baer e disse:

“Admiro a sua concentração no trabalho; se quisermos entender Deus, é importante o estudo das Escrituras. Mas se quisermos nos aproximar de Deus, temos que primeiro consolar aqueles que choram”.

Da traição

dom, 25/11/07
por Paulo Coelho |
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O profeta caminhava pela rua, perguntando: “não somos todos filhos do mesmo Pai Eterno?”. A multidão concordava. E o profeta continuava: “e se é assim, por que traímos nosso irmão?”.

Um garoto que assistia, perguntou ao pai: “o que é trair?”

“É enganar o seu companheiro de luta, para conseguir determinada vantagem”, explicou o pai.

“E por que traímos nosso companheiro?”, insistiu o garoto.

“Porque, no passado, alguém começou isto. Desde então, ninguém soube como parar a roda. Estamos sempre traindo ou sendo traídos”.

“Então não trairei ninguém”, disse o garoto.

E assim fez. Cresceu, apanhou muito da vida, mas manteve sua promessa. Morreu velho. Seus filhos sofreram menos e apanharam menos. Seus netos nada sofreram.

No caminho de cada um

sáb, 24/11/07
por Paulo Coelho |
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O pastor Olivier era considerado o mais inspirado pregador das redondezas. Falava como se tivesse contato com Deus.

“Nada pior do que tentar repetir o comportamento dos grandes, se você não tiver a mesma disposição para agir que eles tiveram”, dizia Olivier.

Quando morreu, seu filho Andrew ocupou o lugar. Os paroquianos ficaram preocupados; seria difícil suceder um homem tão conectado com Deus.

E, querendo dar um pouco de apoio moral ao jovem, uma mulher tentou consolá-lo.

“Lembre-se que você deve seguir seu próprio caminho”, disse ela. “Jamais tente ser igual ao seu pai”.

“Ao contrário; eu sou exatamente como meu pai”, respondeu Andrew. “Ele nunca tentou me imitar; por causa disso, eu jamais tentarei imitá-lo”.

E os paroquianos tiveram certeza de que estavam diante de um grande pregador.

A reflexão

sex, 23/11/07
por Paulo Coelho |
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O piloto Antoine Saint-Exupery (1900-1944), um dos maiores escritores franceses deste século, tornou-se mundial-mente conhecido com seu “O pequeno príncipe”. Aqui, um trecho de “Vento, areia, estrelas”:“É difícil descrever o que se passa em minha alma. Olho para o céu vejo milhares de estrelas soltas pelo universo, enquanto eu permaneço preso a estas areias.

Mas, embora meu corpo esteja aqui, um pouco de mim é capaz de viajar por este céu, e levar-me a mundos desconhecidos. Então, vejo que meus sonhos são tão reais e concretos como estas dunas, esta lua, estas coisas que me cercam.

Meus sonhos permitem que eu crie e habite num reino mais poderoso que este império francês. Eles vão me ajudar a construir o futuro, uma casa – porque a beleza das casas não reside no fato de que são feitas para abrigarem homens, mas na maneira em que são concebidas.

No dia em que eu construir minha casa, quero que ela consiga dizer algo. Que ela seja um sinal, um símbolo. Deixarei que a casa de meus sonhos surja do meu interior, como a água surge da fonte, ou a lua do horizonte”.

Sant-Éxupery jamais realizou este sonho; o avião que pilotava desapareceu, cruzando o Mediterrâneo, durante a II Guerra Mundial.

Riqueza no outro mundo

qui, 22/11/07
por Paulo Coelho |
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O pastor gostava de pregar, em sua congregação, sobre a importância da pobreza. Segundo ele, o Evangelho dizia que as pessoas ricas neste mundo seriam condenadas à miséria depois da morte, e baseado neste argumento, pedia cada vez mais dinheiro aos fiéis.

Certo dia, um membro de sua congregação pediu para encontrá-lo depois do ofício religioso. Assim que estavam a sós, disse o homem:

“É verdade que aquele que é pobre neste mundo, será rico no Paraíso?”

“Claro que sim”.

“Como a igreja é rica, e eu sou pobre, estou precisando de 10 moedas de ouro. Quando for rico nos céus, eu pagarei minha dívida”.

Sem hesitar, o pastor tirou 10 moedas de ouro do cofre da sacristia. Entretanto, antes entregá-las, perguntou:

“O que pretende fazer com este dinheiro?”

“Vou dar início a uma empresa”.

O pastor tornou a colocar as moedas no cofre, dizendo: “como você é um homem capaz, trabalhará muito, terá lucro em sua empresa, vai terminar ficando rico. Conseqüentemente, será pobre depois de sua morte, e não terá como pagar seu débito; desta maneira, é melhor deixar as coisas como estão”.

Do impulso

qua, 21/11/07
por Paulo Coelho |
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Um padre da Renovação Carismática conta que estava num ônibus, e, de repente, escutou uma voz dizendo que ele devia levantar-se e pregar a palavra de Cristo ali mesmo.

O padre começou a conversar com a voz: “vão me achar ridículo, isto não é lugar para sermão”, disse.

Mas algo dentro dele insistia, era preciso falar. “Sou tímido. Por favor, não me peça isto”, implorou. O impulso interior persistia.

Então ele lembrou-se de sua promessa: abandonar-se a todos os desígnios de Cristo. Levantou – morrendo de vergonha – e começou a falar do Evangelho. Todos escutaram em silencio. Ele olhava cada passageiro, e eram raros os que desviavam os olhos. Disse tudo que sentia, terminou seu sermão, e sentou-se de novo.

Ate hoje não sabe que tarefa cumpriu naquele momento. Mas tem absoluta certeza de que cumpriu uma tarefa.



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