Estou em Nova York

sex, 31/08/07
por Paulo Coelho |
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Estou em Nova York. Acordei tarde; tenho um encontro e, quando desço, descubro que meu carro foi rebocado pela polícia. Chego depois da hora. O almoço se prolonga mais do que devia; saio correndo para ir até o Departamento de Trânsito pagar uma multa que irá custar uma fortuna.

Me lembro da nota de um dólar que encontrei ontem no chão e estabeleço uma relação aparentemente louca entre aquela nota de dólar e tudo que aconteceu de manhã.

Quem sabe, eu peguei a nota antes da pessoa certa encontrá-la.

Quem sabe tirei aquele dólar do caminho de alguém que estava precisando.

Quem sabe interferi no que está escrito.

Preciso livrar-me dela. Vejo um mendigo sentado no chão, entrego o dólar – parece que consegui reequilibrar de novo as coisas.

“Um momento”, diz o mendigo. “Não estou pedindo esmola; sou um poeta”.

E me estende uma lista de títulos, para que eu escolha uma poesia. “A mais curta, porque estou com pressa”.

O mendigo se vira para mim e recita:
“Existe uma maneira de você saber se já cumpriu sua missão na Terra. Se você continua vivo, é porque ainda não cumpriu”.

Afinal, estes são meus amigos

qui, 30/08/07
por Paulo Coelho |
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- Este rei é poderoso porque “tem pacto com o demônio” – dizia uma beata na rua. O rapaz ficou intrigado.

Tempos depois, enquanto viajava para outra cidade, o rapaz escutou um homem ao seu lado comentar:
- Todas as terras pertencem ao mesmo dono. Isto é coisa do diabo!

No final de uma tarde de verão, uma bela mulher passou ao lado do rapaz.
- Esta moça está a serviço de Satanás! – gritou um pregador, indignado.

A partir daí, o rapaz resolveu procurar o demônio.
- Comenta-se que o senhor faz as pessoas poderosas, ricas e belas – disse o rapaz, assim que o encontrou.
- Não é bem assim – respondeu o demônio. Você só escutou a opinião daqueles que estão querendo me promover.

A criança que comia livros

qua, 29/08/07
por Paulo Coelho |
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Estava assinando livros em Minneapolis, quando um dos leitores me pediu que fizesse uma dedicatória para seu filho de 16 meses de idade.
- Não acha um pouco cedo para ele? – perguntei brincando.
- Não – respondeu o rapaz. -Ele gosta muito de livros: costuma comê-los todos.

Mais tarde, comentando com alguns amigos, fiquei sabendo que o rapaz não estava brincando. Nos Estados Unidos, os pais acostumam desde cedo a criança com a presença de livros. Na hora de dormir, junto com o famoso ursinho, existe sempre um livro por perto. Na hora de tomar banho, um livro de plástico faz companhia aos barquinhos e brinquedos de banheira.

Aos poucos, a criança vai se familiarizando com aquele estranho objeto, e termina aceitando o livro como parte importante de sua vida.

Da meditação

ter, 28/08/07
por Paulo Coelho |
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Diz Krishnamurti:

“A meditação não é o controle do corpo, nem técnica de respiração. Devemos estar numa postura correta quando começamos a meditar – mas as relações com o corpo terminam, aí”.

“A verdadeira meditação começa e acaba na mente. Não procuremos a concentração forçada, que só nos causa ansiedade; quando meditamos direito, a verdadeira concentração aparece. Ela não surge do fato que escolhemos tais pensamentos, ou nos livramos de tais emoções. Ela aparece porque nossa alma não busca respostas”.

“Quando nos livramos da necessidade de orientar as coisas ao nosso modo, permitimos que o fluxo divino nos guie até onde devemos chegar”.

Roma: Isabella volta do Nepal

seg, 27/08/07
por Paulo Coelho |
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Encontro Isabella num restaurante que costumávamos ir porque está sempre vazio, embora a comida seja excelente. Ela me conta que, durante sua viagem ao Nepal, passou algumas semanas em um mosteiro. Certa tarde, passeava nas redondezas com um monge, quando ele abriu a bolsa que carregava, e ficou um longo tempo olhando o seu conteúdo. Logo em seguida, comentou com minha amiga:

- “Sabe que as bananas podem lhe ensinar o significado da existência?”

Tirou uma banana podre de dentro da bolsa, e jogou-a fora.

- “Esta é a vida que passou, não foi aproveitada no momento certo, e agora é tarde demais”.

Em seguida, tirou da bolsa uma banana ainda verde, mostrou-a, e tornou a guardá-la.

- “Esta é a vida que ainda não aconteceu, é preciso esperar o momento certo”.

Finalmente, tirou uma banana madura, descascou-a, e dividiu-a com Isabella.

- “Este é o momento presente. Saiba devorá-lo sem medo ou culpa”.

A dor passa, mas a beleza permanece

dom, 26/08/07
por Paulo Coelho |
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Embora Henri Matisse fosse 28 anos mais jovem que Auguste Renoir, os dois grandes pintores eram muito amigos e saíam sempre juntos. Quando Renoir ficou confinado em casa, na ultima década de sua vida, Matisse o visitava diariamente. Quase paralítico em função da artrite e apesar dos incômodos da doença, Renoir continuou a pintar. Um dia, quando o contemplava pintando em seu ateliê, e gemendo de dor a cada pincelada, Matisse perguntou:

- “Auguste, por que continua a pintar , com tanto sofrimento?”

Renoir respondeu simplesmente:

- “A dor passa, mas a beleza permanece”.

Até os últimos dias, Renoir levou a tinta às telas. Um de seus quadros mais famosos, “As banhistas”, foi terminado dois dias antes de sua morte, 14 anos depois que ele foi atingido pela enfermidade.

A morte anunciada

sáb, 25/08/07
por Paulo Coelho |
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Em meados de 1970, quando estava prestes a completar seu doutorado em física, o cientista Stephen Hawking – já então portador de uma doença que ia paralisando seus movimentos – escutou um médico dizer que tinha apenas dois anos de vida.

“Então posso tentar entender o Universo, porque não vou mais precisar pensar em coisas como aposentadoria e contas a pagar”, resolveu.

Como a doença progredia rapidamente, foi obrigado a criar fórmulas simples para explicar – no menor espaço de tempo possível – tudo aquilo que pensava.

Dois anos e meio se passaram, vinte anos se passaram, e Hawking continua vivo. É capaz de comunicar suas idéias abstratas através de um pequeno computador acoplado a sua cadeira de rodas, e que possui apenas 500 palavras diferentes. Escreveu o clássico “Uma breve história do tempo”(Ed. Rocco), e foi responsável por uma nova visão da Física moderna.

A doença, ao invés de conduzi-lo a invalidez total, forçou-o a descobrir uma nova maneira de raciocínio.

Norma e as coisas boas

sex, 24/08/07
por Paulo Coelho |
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Em Madrid vive Norma, uma brasileira muito especial. Os espanhóis a chamam de “a vovó roqueira”: ela tem mais de sessenta anos, trabalha em diversos lugares ao mesmo tempo, está sempre inventando promoções, festas, concertos de música.

Certa vez, lá pelas quatro da manhã – quando eu já não agüentava mais de cansaço – perguntei a Norma de onde tirava tanta energia.

-”Eu tenho um calendário mágico. Se quiser, posso te mostrar”.

Na tarde seguinte, fui até sua casa. Ela pegou uma antiga folhinha, toda rabiscada.

- “Bem, hoje é a descoberta da vacina contra a pólio” -disse. -”Vamos comemorar, porque a vida é bela”.

Norma havia copiado, em cada um dos dias do ano, alguma coisa boa que havia acontecido naquela data. Para ela, a vida era sempre um motivo de alegria.

Para espantar a solidão

qui, 23/08/07
por Paulo Coelho |
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Deus escolheu hoje uma velhinha para me mostrar que o mundo pode ser salvo.

Ela estava no calçadão da Av. Atlântica, com um violão e uma plaquinha: “Vamos cantar juntos”.

Começou a tocar sozinha. Depois chegou um bêbado, uma outra velhinha e começaram a cantar com ela.

Depois de um tempo uma pequena multidão cantava e outra pequena multidão servia de platéia, batendo palmas no final de cada numero.

“Por que faz isto?” perguntei, entre uma música e outra.

“Para não ficar sozinha”, disse ela. ” Minha vida é, como a vida de quase todos os velhos, muito solitária”.

Oxalá todos resolvessem seus problemas desta maneira.

O amigo e o mendigo

qua, 22/08/07
por Paulo Coelho |
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E por falar em amigos sábios, lembro-me que muitos anos atrás, numa época de profunda negação da fé, eu estava com minha mulher e uma amiga no Baixo Leblon, Rio de Janeiro. Havíamos bebido um pouco – quando chegou um velho companheiro, que viveu conosco os loucos anos de 60 e 70, e depois entrou para um seminário. Ele começou a falar de Jesus, e nós ironizávamos tudo que dizia.

Quando saímos do restaurante, uma das pessoas que estava comigo apontou para uma criança que dormia na calçada.

“Está vendo como Jesus se preocupa com o mundo?”, disse ela.

“Claro que estou vendo”, respondeu ele. “Ele colocou aquela criança ali, e fez questão de que você visse, para que pudesse fazer alguma coisa”.

Aquela frase foi o início do meu retorno à busca espiritual.



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