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Olá, o endereço da coluna do Paulo Coelho mudou. As novas postagens estarão em https://g1.globo.com/pop-arte/blog/paulo-coelho/
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Alguém perguntou ao sufi Halgavi:
- “Como um mestre escolhe seus discípulos?”
- “Todo aquele que deseja realmente aprender, precisa ter consciência de que já tem a Verdade dentro de si. Basta apenas despertá-la”.
- “Mas como o senhor pode distinguir as verdadeiras intenções das pessoas ao se aproximarem?”
Halgavi respondeu:
- “Sempre procurei manter uma atitude humilde e submissa. Alguns procuravam se aproveitar disto, eu então me afastava deles. Outros me olhavam como se eu fosse um verdadeiro santo, e eu me afastava deles ainda mais rápido. Assim, ficaram ao meu lado apenas os que me viam como uma pessoa igual a eles”.
Outro dia publiquei aqui uma conversa que escutei de passagem, sobre alguém dizendo que “já havia planejado sua vida”.
Na coluna eu dizia que era impossível – e empobrecedor – tentar controlar o destino desta maneira.
Uma leitora escreveu uma carta bem humorada. Disse que, outro dia, comentava com uma amiga sua que havia cuidadosamente organizado sua vida, e terminara dando tudo errado.
“Não se preocupe”, disse a amiga. “Eu jamais fiz qualquer plano para o futuro – e também terminou dando tudo errado”.
Quando era pequeno, Cosroes, na antiga Pérsia, tinha um mestre que conseguiu fazê-lo se destacar em todas as matérias que aprendia.
Certa tarde, o mestre, aparentemente sem motivo, castigou-o com toda a severidade.
Anos depois, Cosroes subiu ao trono. Uma das suas primeiras providências foi mandar trazer o mestre de sua infância, e exigir uma explicação para a injustiça que cometera.
“Por que me castigaste sem que eu merecesse?”, perguntou.
“Quando vi tua inteligência, soube logo que irias herdar o trono de teu pai”, respondeu o mestre. “E resolvi mostrar-lhe como a injustiça é capaz de marcar um homem para o resto da vida. Espero que você jamais castigue alguém sem motivo”.
Cosroes admirou sua sabedoria e deu-lhe um cargo elevado.
Midrach Rabba, sobre o Eclesiastes:
“Quando o homem vem ao mundo, suas mãos estão sempre fechadas, como se quisesse dizer: ‘o mundo inteiro é meu e conseguirei dominá-lo’”
“Quando o homem parte do mundo, suas mãos estão sempre abertas, como se quisesse dizer: ‘não tenho nada em meu poder. Tudo o que posso levar são minhas lembranças, tudo o que posso deixar são meus exemplos’”.
Um guerreiro da luz nunca se acovarda – mesmo estando diante de forças superiores.
A fuga pode ser uma excelente arte de defesa, mas nunca pode ser usada quando o medo é muito grande.
Na dúvida, o guerreiro prefere enfrentar a derrota e depois curar suas feridas – porque sabe que, se fugir, estará dando ao seu agressor um poder maior do que ele merece.
Ele sabe que pode curar o sofrimento físico, mas será eternamente perseguido por sua fraqueza espiritual. Então, mesmo diante de alguns momentos difíceis e dolorosos, o guerreiro encara a situação desvantajosa com heroísmo e coragem.
Diz Gandhi: “se eu fosse forçado a escolher entre o enfrentamento e a covardia, não hesitaria em decidir pelo enfrentamento”. Um guerreiro da luz também.
Um guerreiro da luz não olha a injustiça com indiferença. Ele é o primeiro a se levantar e a denunciar o abuso de poder e jamais se acovarda diante dos que pensam ter domínio sobre os outros.
Ele sabe que tudo é uma coisa só e que cada ação individual afeta todos os homens do planeta.
Então, quando está diante do sofrimento alheio, usa a sua espada para colocar as coisas em ordem.
Mas embora ele evite a opressão, em momento algum procura julgar o opressor.
Cada um de nós terá que responder por seus atos diante de Deus. Por isso, uma vez cumprida a sua tarefa, o guerreiro não emite qualquer comentário: segue adiante em busca de uma nova causa.
Um guerreiro da luz usa sua força com sagacidade e a usa também para vencer os combates que trava consigo mesmo. Está no mundo para ajudar seus irmãos, e não para condenar o seu próximo.
Adaptação do excelente livro de “Bahá’-U’-lláh”, líder espiritual da antiga Pérsia (1817-1892):
“Oh, meu amigo, ouve com teu coração e tua alma as canções do espírito, e tem com elas o mesmo cuidado que tens pelos teus olhos. Pois a sabedoria do céu, assim como as nuvens da primavera, não descerão sobre ti todos os dias”.
“Mesmo que a graça do Todo Poderoso continue sempre a fluir, há momentos em que uma parte dela é colocada de lado, para que tu possas compreender a suprema misericórdia. Por isso, entende que a nuvem que hoje despeja as bênçãos de primavera não ficará ali para sempre, e procura aproveitar cada gota que cai”.
“Nem todo oceano tem pérolas. Nem todo ramo floresce. Nem todo rouxinol canta com suavidade. Então, faz um esforço para ouvir com teu coração e tua alma as canções do espírito, porque elas chegam e partem”.
Um texto do Deuteronômio:
“Quando fizeres a colheita em teu campo e nele esqueceres um feixe de espigas, não voltes para recolhê-lo. Ele é do órfão, da viúva, e do estrangeiro. Assim, o Senhor teu Deus abençoará as obras de tuas mãos.
“Quando sacudires a oliveira, aquilo que ainda ficar preso aos galhos deve permanecer lá. Ele será então para o órfão, para a viúva, e para o estrangeiro.
“Quando recolheres as uvas da tua vinha, não retornes para ver se esquecestes algumas no chão. O que sobrar é para o órfão, para a viúva, e para o estrangeiro.
“Lembra-te de que foste escravo na terra do Egito. E obedece ao que te ordeno”.
Okakura Kazuko, escritor japonês (1863-1913), um dia reuniu seus discípulos:
“Vou ensinar-lhes uma nova maneira de entrar em contato com o Universo”, disse. Em seguida, preparou um chá e serviu a todos. Fazia os movimentos com tanta formalidade, que fez com que seus alunos percebessem a importância dos detalhes na vida quotidiana.
Um dos rapazes, porém, reclamou da ausência de preces e meditações. Kazuko expulsou-o da aula, comentando:
“Aqueles que são incapazes de compreender o que há de grande nas pequenas coisas, terminarão sem enxergar o que há de pequeno nas grandes coisas, e serão confundidos pelo resto da vida”.