De que lado você está?

sex, 27/09/13
por andre trigueiro |

 

Como você reagiu às informações divulgadas hoje pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU?

Aliás, teve algum interesse em ler? Porque isso já diz muito da nossa postura diante do maior desafio do milênio: o que fazer diante da maior crise climática da História da Humanidade que, segundo a corrente majoritária dos cientistas, é agravada por nossos hábitos, comportamentos, estilos de vida e padrões de consumo?

Este é um momento que será lembrado no futuro.

Tal como se dá hoje em alguns lares alemães, onde jovens estudantes que aprendem na escola sobre o nazismo indagam os mais velhos em casa sobre o que fizeram quando eclodiu o holocausto contra os judeus e a perseguição sistemática também a homossexuais, ciganos e deficientes físicos.

“De que lado o senhor estava vovô(ó)? Qual foi a sua escolha”?

Voltando para o relatório do IPCC. De que lado você está hoje? Em que acredita? Quais os valores que regem a sua conduta como cidadão, consumidor e eleitor?

Existem diferentes respostas ao alerta climático. Talvez valha a pena reconhecer a sua.

Há os que torcem intimamente para que tudo isso seja um grande engano e não haja necessidade de preocupar com o futuro por conta dos eventuais excessos do presente. É a tribo do “business as usual”, dos que se refugiam na “zona de conforto”.

Há os que pegam carona nas teses – todas desclassificadas pelo IPCC – dos autodenominados “céticos”, que tentam desconstruir a ideia de que o planeta está aquecendo e de que é preciso agir rápido. O assunto já foi tratado nesta coluna em um post anterior.

Há ainda os egoístas que só pensam em si mesmos e não se sensibilizam por qualquer causa coletiva, de qualquer natureza. “Se eu vou morrer mesmo, que diferença faz? Quero aproveitar ao máximo”. Do ponto de vista moral é um desastre. Uma das grandes conquistas da nossa espécie é a noção de que devemos sim nos preocupar com nossos rastros, as nossas pegadas, o nosso legado para as gerações futuras. Sem essa bússola ética, não há salvação para a Humanidade.

Há também os massacrados pelas manchetes apocalípticas que não encontram forças para reagir, e sucumbem diante de algo que consideram inevitável. “De que adianta agora fazer alguma coisa? A situação tá braba”. Estes são vítimas da mídia sensacionalista, que informa sem o devido cuidado de reportar as saídas da crise, o que podemos fazer para atenuá-la no curto prazo e resolvê-la num futuro mais distante.

Há ainda os que procuram fazer algo, por menor que seja, em resposta à consciência que reclama atitude. “Eu procuro fazer a minha parte”. Ou ainda os que transcendem o perímetro das miudezas do dia-a-dia e se lançam na direção de um movimento mais amplo, normalmente em redes, acionando canais de comunicação que se articulam globalmente em favor de campanhas, boicotes, abaixo-assinados virtuais, cobranças contra governos e empresas, etc.

É evidente que as grandes decisões precisam vir dos governos (políticas públicas que reduzam as emissões de gases estufa e promovam os investimentos necessários para nossa adaptação a um planeta mais quente, com mais eventos extremos, mudança do ciclo da chuva, elevação do nível dos mares etc) e das grandes empresas (inovação tecnológica e eficiência energética reduzindo drasticamente as emissões de CO2) num cenário onde a economia de baixo carbono parece ser o cenário mais óbvio.

Mas somos nós que escolhemos os governantes e temos a opção de pressioná-los ao longo dos mandatos. Somos nós que consumimos produtos e serviços e temos a opção de exigir dos empresários o que nos pareça mais justo e ético.

E aí? Qual a sua escolha?

Um ministro “verde” comanda o Itamaraty

seg, 26/08/13
por andre trigueiro |
categoria Sem categoria

 

Luiz Alberto Figueiredo estreou na “ala verde” do Itamaraty assessorando o então Ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, durante a Conferência Internacional da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92). De lá para cá, assumiu funções cada vez mais importantes na condução dos trabalhos que nortearam a posição oficial do governo brasileiro em diferentes conferências internacionais das Nações Unidas.

Como negociador-chefe do Brasil na COP-15 (a maior e mais importante de todas as Conferências do Clima realizadas até hoje, em Copenhagen, na Dinamarca) Figueiredo teve de interromper reuniões de trabalho com os colegas diplomatas para assessorar diretamente a então pré-candidata à Presidência da República Dilma Rousseff, que apareceu por lá para marcar pontos na corrida eleitoral juntamente com os demais pré-candidatos Marina Silva e José Serra. Dilma ficou marcada pela gafe cometida durante uma entrevista coletiva quando disse que “o meio ambiente é um obstáculo ao desenvolvimento sustentável”. Pano rápido. E cara de paisagem para Figueiredo demais autoridades presentes.

A mais importante atribuição conferida a Luiz Alberto Figueiredo até ser nomeado hoje Ministro das Relações Exteriores foi a de coordenador-geral dos preparativos da Rio+20, o maior encontro da História da ONU em número de países. Ele organizou uma reunião com jornalistas semanas antes do evento para explicar os objetivos da Conferência, esclarecer dúvidas e manifestar com clareza as posições dele – e não apenas do país – em relação a várias questões.

Era comum ouvi-lo dizer que os negociadores dos países ricos “não eram ambientalistas”, e que as questões puramente econômicas preponderavam nos círculos diplomáticos. Defendia o direito de o país crescer de forma sustentável, desde que as nações mais ricas também assumissem compromissos nessa direção. 

Com o tempo, Figueiredo aprendeu o “ecologês” e tomou gosto pelos assuntos ambientais. Em momentos de descontração, compartilhava suas expectativas mais sinceras de acordos multilaterais amplamente favoráveis à sustentabilidade, mesmo sabendo que isso seria impossível.

Agora Ministro, no comando do Itamaraty, Figueiredo terá a chance de qualificar melhor a posição do Brasil em duas agendas internacionais que convergirão em 2015. No calendário das negociações do clima, 2015 será o ano em que os países deverão apresentar prazos e metas para a mitigação e a adaptação das mudanças do clima. Também daqui a dois anos, as nações do planeta deverão apresentar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que substituirão as Metas do Milênio da ONU, resultado direto da Rio +20, organizada por ele.

Pode-se dizer que ele é hoje o diplomata mais preparado para assumir a condução dessas negociações estratégicas. Como ministro, é apenas um servidor direto da Presidência da República, mas que pode influenciar as canetadas da exigente chefe.



Formulário de Busca


2000-2015 globo.com Todos os direitos reservados. Política de privacidade