De que lado você está?
Como você reagiu às informações divulgadas hoje pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU?
Aliás, teve algum interesse em ler? Porque isso já diz muito da nossa postura diante do maior desafio do milênio: o que fazer diante da maior crise climática da História da Humanidade que, segundo a corrente majoritária dos cientistas, é agravada por nossos hábitos, comportamentos, estilos de vida e padrões de consumo?
Este é um momento que será lembrado no futuro.
Tal como se dá hoje em alguns lares alemães, onde jovens estudantes que aprendem na escola sobre o nazismo indagam os mais velhos em casa sobre o que fizeram quando eclodiu o holocausto contra os judeus e a perseguição sistemática também a homossexuais, ciganos e deficientes físicos.
“De que lado o senhor estava vovô(ó)? Qual foi a sua escolha”?
Voltando para o relatório do IPCC. De que lado você está hoje? Em que acredita? Quais os valores que regem a sua conduta como cidadão, consumidor e eleitor?
Existem diferentes respostas ao alerta climático. Talvez valha a pena reconhecer a sua.
Há os que torcem intimamente para que tudo isso seja um grande engano e não haja necessidade de preocupar com o futuro por conta dos eventuais excessos do presente. É a tribo do “business as usual”, dos que se refugiam na “zona de conforto”.
Há os que pegam carona nas teses – todas desclassificadas pelo IPCC – dos autodenominados “céticos”, que tentam desconstruir a ideia de que o planeta está aquecendo e de que é preciso agir rápido. O assunto já foi tratado nesta coluna em um post anterior.
Há ainda os egoístas que só pensam em si mesmos e não se sensibilizam por qualquer causa coletiva, de qualquer natureza. “Se eu vou morrer mesmo, que diferença faz? Quero aproveitar ao máximo”. Do ponto de vista moral é um desastre. Uma das grandes conquistas da nossa espécie é a noção de que devemos sim nos preocupar com nossos rastros, as nossas pegadas, o nosso legado para as gerações futuras. Sem essa bússola ética, não há salvação para a Humanidade.
Há também os massacrados pelas manchetes apocalípticas que não encontram forças para reagir, e sucumbem diante de algo que consideram inevitável. “De que adianta agora fazer alguma coisa? A situação tá braba”. Estes são vítimas da mídia sensacionalista, que informa sem o devido cuidado de reportar as saídas da crise, o que podemos fazer para atenuá-la no curto prazo e resolvê-la num futuro mais distante.
Há ainda os que procuram fazer algo, por menor que seja, em resposta à consciência que reclama atitude. “Eu procuro fazer a minha parte”. Ou ainda os que transcendem o perímetro das miudezas do dia-a-dia e se lançam na direção de um movimento mais amplo, normalmente em redes, acionando canais de comunicação que se articulam globalmente em favor de campanhas, boicotes, abaixo-assinados virtuais, cobranças contra governos e empresas, etc.
É evidente que as grandes decisões precisam vir dos governos (políticas públicas que reduzam as emissões de gases estufa e promovam os investimentos necessários para nossa adaptação a um planeta mais quente, com mais eventos extremos, mudança do ciclo da chuva, elevação do nível dos mares etc) e das grandes empresas (inovação tecnológica e eficiência energética reduzindo drasticamente as emissões de CO2) num cenário onde a economia de baixo carbono parece ser o cenário mais óbvio.
Mas somos nós que escolhemos os governantes e temos a opção de pressioná-los ao longo dos mandatos. Somos nós que consumimos produtos e serviços e temos a opção de exigir dos empresários o que nos pareça mais justo e ético.
E aí? Qual a sua escolha?