Depende de nós
Em 2013 chegou a fatura do Código Florestal: depois de sucessivas quedas, a taxa de desmatamento voltou a subir (28%) e tudo leva a crer que as regras complacentes aprovadas no Congresso estejam por trás desse número. Também chegou a fatura da política equivocada do governo em favor do transporte individual (eliminação do IPI para carros 0Km combinada com preço subsidiado da gasolina) que agravou o colapso da mobilidade urbana em praticamente todas as capitais brasileiras (inclusive Brasília, famosa por seu uma cidade “planejada”, e Curitiba, incensada mundo afora como a “capital da sustentabilidade”). As históricas manifestações de rua de junho foram motivadas inicialmente pelo péssima qualidade do transporte público. Em resumo: o nó das cidades nunca foi tão ostensivo.
2013 foi um ano especialmente ruim para as comunidades indígenas, com dezenas de mortes em conflitos abertos com fazendeiros e posseiros. De quebra, o governo se esmera em dificultar ao máximo o processo de regularização de novas reservas, mudando a legislação vigente e esvaziando ainda mais o poder da já combalida FUNAI.
Três anos depois da maior tragédia ambiental do país, quando um dilúvio de proporções bíblicas provocou 900 mortes na região serrana do Rio, milhares de pessoas continuam morando em áreas de risco sem que as obras prometidas (contenção de encostas, desassoreamento de rios,etc) tenham sido feitas. Um vexame. Ou será crime de omissão? O verão promete.
O Brasil abriu caminho para a exploração de gás não convencional (shale gas) sem protocolos de segurança definidos para o fracking (fracionamento hidráulico), método arriscado e polêmico para a obtenção do gás em grandes profundidades, ameaçando o lençol freático. A ANP (Agência Nacional do Petróleo) organizou apenas uma audiência pública para tratar do assunto, agiu de forma açodada e temerária, na contramão da transparência e do interesse público.
Em 2013 cresceu o prestígio das bicicletas como modal de transporte, das construções sustentáveis e da reciclagem do lixo (em cidades como SP e RJ foram anunciadas metas usadas e inéditas de reciclagem até 2016). Há mais empresas preocupadas em reduzir suas respectivas pegadas ecológicas. Há mais governos locais interessados em promover um desenvolvimento mais limpo e ético (é o caso do programa “Municípios Verdes”, em curso no Estado do Pará, com resultados mensuráveis na direção de projetos que geram emprego e renda sem desmatar ou poluir os rios). Entretanto, merece registro o fato de o Brasil ainda permanecer atolado num oceano de matéria orgânica infecto-contagiosa. Os indicadores oficiais de saneamento básico continuam equivalentes aos de países da África subsaariana.
Em 2014 teremos uma copa do mundo que não será lembrada no futuro como uma “copa verde”, tal como foi a da Alemanha em 2006. As autoridades também deverão justificar no ano que vem as razões pelas quais as Olimpíadas de 2016 não chegarão perto dos Jogos de Sidney (2000) ou de Londres (2012) enquanto modelo de evento sustentável. Promessas feitas para o COI, como a de ” despoluir em 80% a Baía de Guanabara” não serão cumpridas no prazo estabelecido.
Teremos eleições para presidente e governador, e salvo alguma surpresa, os candidatos vão se referir apenas “protocolarmente” aos temas ambientais, fazendo juras de amor ao assunto sem que as palavras proferidas correspondam aos atos efetivamente realizados até então. Difícil prever o quanto a presença da ambientalista Marina Silva na chapa de Eduardo Campos poderá determinar ajustes importantes na campanha do atual governador de Pernambuco e de seus colegas candidatos. O tempo dirá.
Fukushima continuará vazando radioatividade no Japão. O sol continuará sendo a fonte limpa e renovável que mais cresce no mundo. E o mais poluente de todos os combustíveis fósseis, o carvão mineral, com o preço muito barato, continuará inspirando investimentos na direção do atraso.
Depois do fracasso da COP-19 na Polônia, a próxima conferência do clima será no Peru em 2014 e se não houver avanço consistente, chegaremos em Paris em 2015 (ano limite para a definição de um acordo global vinculante) como avalistas daquele que talvez seja o maior impasse diplomático da História do multilateralismo com graves consequências para a Humanidade como um todo, especialmente os mais pobres.
Feliz ano novo? Depende de nós.