Panorâmicas

sex, 31/01/14
por Bruno Medina |

Como diria o famoso provérbio, acabou-se o que era doce. Findados meus 15 dias de férias, é chegado o momento de desatar o emaranhado de roupas sujas (lembra quando eu disse que era um exímio arrumador de malas? Era mentira), de readaptar-se ao rigoroso verão carioca, 30 graus mais quente do que o inverno italiano, e voltar à labuta. Mas, antes disso, permitam-me fazer uma breve atualização de status; na segunda etapa da viagem, estive em Florença, Milão e Veneza, sendo que, nesta última, além de constatar que aparentemente trata-se do único lugar do mundo onde interagir com pombos não remete à ideia de adquirir uma terrível doença transmissível, também tive a oportunidade de testemunhar uma ‘acqua alta’, que é como os locais denominam o fenômeno de elevação do nível dos canais e o consequente alagamento de algumas áreas da cidade.

É bastante curioso encontrar gaivotas flutuando calmamente em plena Praça de São Marcos e perceber como os venezianos lidam de maneira bastante natural com o que, para outros povos, poderia representar um enorme transtorno. Na véspera, quando voltava do jantar, estranhei o fato de que funcionários da prefeitura montavam uma estrutura estreita e bastante comprida, com mais ou menos 1 metro de altura, o que, estupidamente, – pode ter sido por causa do vinho – concluí fazer parte dos preparativos para um desfile ou alguma celebração de proporções colossais.

Pensei com meus botões: “bom, se o carnaval dos caras é encher a cara de Prosecco, se esconder atrás de máscaras feiosas, vestir roupas do século XVII e dançar valsa, tudo é possível, certo? Acontece que a passarela em questão não serve ao propósito de exibir mascarados ou modelos, mas sim possibilitar que os moradores e visitantes de Veneza possam se locomover pelas ruas e praças e ainda assim manter os pés secos. Na prática, quem mais utiliza as trilhas sobre as águas são mesmo os turistas, porque, nitidamente, os habitantes da cidade preferem recorrer às galochas a se submeterem ao trânsito moroso nas passarelas, provocado por hordas de japoneses ansiosos por capturar com suas máquinas ultra-sofisticadas todos os detalhes da inusitada experiência.

Certamente seria exagero comparar meu apreço pela fotografia ao do povo da terra do sol nascente, mas, nesta viagem em específico, resolvi aprimorar um pouco o nível dos registros: toda vez que eu me deparava com um cenário impactante, ou mesmo um monumento de relevância histórica, ao invés de tirar uma foto normal, fazia uma imagem panorâmica. As minhas preferidas reuni nessa abaixo:

Coliseu – anel superior – Roma

Fórum Romano – Roma

Praça de São Pedro – Roma

Anfiteatro Romano – Pompéia

Vila dos Mistérios – Pompéia

Ponte Vecchio – Florença

Vista do Duomo da Catedral de Santa Maria del Fiore – Florença

Praça de São Marcos (acqua alta) – Veneza

Praça do Duomo – Milão

 

Agora deixa eu me inteirar do que se deu por aqui na minha ausência que já já eu volto com novidades…

Meglio Tardi Che Mai

sex, 24/01/14
por Bruno Medina |
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Apesar de nos últimos 10 anos já ter estado ao menos 10 vezes no Velho Continente, sobretudo a trabalho, somente agora tive a oportunidade de conquistar com imperdoável atraso o carimbo que me faltava no passaporte, ao visitar o país que, ironicamente, é um dos destinos mais habituais quando se viaja para a Europa, a Itália. A aparente indiferença a esta terra de incontestáveis encantos se justifica pela convicção de que 5 dias encaixados ao final de uma cansativa turnê não seriam suficientes para absorver a pluralidade do lugar a que se atribui o título de berço da civilização ocidental; e eis que, com quase uma década de atraso, aqui estou.

E como não se impressionar com a imponência do Fórum Romano ou do Coliseu, um verdadeiro Maracanã da antiguidade que por quase 400 anos esteve a serviço de entreter as massas com sua programação voltada, digamos, ao melhor do que na época se entendia por esportes radicais? Ou com uma das dezenas de ruínas com que se topa em cada esquina de Roma, estas que constantemente nos lembram de que uma camada abaixo do atual mosaico de sons e cores da caótica metrópole encontra-se adormecida significativa parcela da história da humanidade? Imagino como deve ser difícil o trabalho dos empreiteiros romanos, sob risco iminente de descobrir por acaso um sítio arqueológico não mapeado durante a simples reforma do piso de um banheiro.

Dando sequência à viagem, rumei para esta que considero uma das cidades mais mal compreendidas da Itália, Nápoles. Sim, tem muito lixo nas ruas (por 2 dias um colchão com molas para fora permaneceu inerte na entrada do meu hotel), mafiosos, batedores de carteira, taxistas malandrinhos, cartomantes charlatãs, vespas que circulam pelas calçadas de 30 cm de largura com velocidade superior a praticada pelos motoristas de ônibus no Rio.

Mas como não se apaixonar por um lugar em que a religiosidade e a promiscuidade caminham de mãos dadas, pelo emaranhado de vielas escuras que escondem mini-oásis barrocos, pelas pizzarias que não possuem cardápio porque apenas servem 2 sabores de pizza (marguerita e marinara)? De um lado do beco, o porão de uma casa conduz à entrada do que restou de um teatro romano, do outro, as roupas íntimas penduradas na varanda emolduram um espécie de santuário de fotos dedicado aos membros daquela família. Como bem disse um amigo meu, se você não vai a Nápoles, não esteve na Itália, e estejam certos de que lá também se encontra um pouquinho do Brasil.

Um trajeto de 30 minutos de trem separa Nápoles de Pompéia, e nada do que eu porventura houvesse lido ou assistido num destes programas do Discovery Channel poderia me preparar para o que o local de fato representa. Do alto da minha ignorância turística, intuí que o passeio consistisse na visitação de uma parte dos escombros da cidade que há quase 2 mil anos fora soterrada pela fúria do Vesúvio. E qual não foi minha surpresa ao constatar que na verdade absolutamente tudo o que sobrou do local pode ser explorado livremente?

Nada de loja de conveniência, banquinho para descansar ou banheiros distribuídos estrategicamente pelo espaço, mas sim você navegando pelas ruas ancestrais tendo como bússola, um mapinha vagabundo, e, como norte, a curiosidade e a resistência das pernas. Passadas umas 2 horas, caminhando sem rumo após ter me perdido 3 ou 4 vezes, com fome, sede e vontade de ir ao banheiro, não pude deixar de imaginar o quão bizarro seria se Pompéia fosse transformada num parque temático aos moldes da Disney.

Sem sombra de dúvida haveria o ‘Pompeii 3D’, animação digital concebida com o intuito de re-criar a cidade no apogeu de sua existência, e também o ‘Roman Lunch’, nas ruínas do anfiteatro, onde seria possível assistir a um legítimo duelo de gladiadores comendo leitões com as mãos e se servindo de vinho em cálices de metal. Pelas ruas, atores caracterizados orientariam e convidariam os presentes para visitar suas casas ou comprar suvenirs (vasos de cerâmica rachados, pratos de cobre, saias masculinas, sandálias de couro). O ponto máximo ficaria por conta da cabine de fotos em que os visitantes – ou mesmo suas famílias inteiras – encaixariam os rosto nos corpos dos famosos habitantes de Pompéia que foram mumificados pelas lavas do vulcão. Quem não gostaria de ter uma foto dessas sobre a mesa de jantar? Brincadeiras à parte, que bom que nada disso por enquanto é verdade, e que a Itália permaneça sempre como o país em quem o presente e o passado convivem harmonicamente. Que venha Florença, Veneza e Milão!

 



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