Um clichê chamado Brasil
“O Brasil não é um país para principiantes”, assim sentenciou Tom Jobim, num de seus não raros lampejos de genialidade. A máxima – possivelmente uma das mais brilhantes definições que já se fez sobre este imenso e complexo território ao sul do Equador – resiste ao tempo sem maiores esforços, uma vez que, por razões que me parecem um tanto óbvias, continua bastante atual. A bem da verdade, entender a essência de um país, seja este país qual for, na prática significa navegar num sem fim de clichês e preconceitos; afinal, por definição, qualquer definição (inclua-se aí a do Tom) consiste numa tentativa de se tomar a parte pelo todo, de sintetizar a diversidade – no caso, a de um povo – sob a ótica parcial de um único ponto de vista.
Seguindo a linha de pensamento sugerida, como é de notório conhecimento, todo inglês é irônico e bebe até cair, todo americano acha que Buenos Aires é a capital do Brasil e se alimenta apenas de junk food, todo francês gosta de queijo e é antipático, e todo japonês é apaixonado por tecnologia e Bossa Nova. Mas e quanto aos brasileiros? Quais das características habitualmente a nós atribuídas nos fazem realmente justiça?
Bom, se a intenção aqui é evitar generalismos, arrisco o palpite de que a resposta mais adequada para esta capciosa pergunta passaria ao largo da tradicional dobradinha samba e futebol, certo? Porque, se é inegável que sabemos festejar como ninguém, convenhamos, também não seria incorreto dizer que eis aqui um povo que sabe contornar desafios com muita criatividade e arregaçar as mangas para fazer acontecer, contanto, claro, que não seja durante o período do carnaval, que é sagrado e começou como festa religiosa, embora hoje em dia seja um pouco mais “liberal”. Mas ai de quem disser que não somos sérios, a menos que a crítica tenha partido de um dos nossos, porque aí, de repente, a gente até concorda.
Pois, como bem disse o Tom, compreender esse controverso país e sua gente não é tarefa fácil mesmo para quem nasceu aqui, até porque, visto que nossa cultura é ainda relativamente jovem se comparada a outras nações, encontra-se em pleno processo de conformação e, portanto, em constante mutação. Assim sendo, qualquer possível conclusão sobre o tema equivale a descrição do que enxerga quem olha para uma fotografia, ou seja, um instantâneo que captura o momento, mas que não serve ao propósito de elucidar o que veio antes ou o que virá logo em seguida.
E foi justamente uma fotografia de quem somos atualmente o que nos ofereceu esta semana o Facebook, ao divulgar uma lista com os 10 assuntos mais comentados pelos brasileiros na rede em 2013. Antes que se atire a primeira pedra, cabe observar que de fato não se trata de um estudo científico, apenas uma estatística com fins meramente ilustrativos: “mas então por que eu deveria pensar que é possível concluir algo sobre o povo brasileiro a partir do que se fala numa rede social?”.
Digamos que se a referida lista fosse realmente uma foto, ela seria bastante fidedigna, uma vez que, segundo uma pesquisa divulgada pela Reuters em junho deste ano, à época, nada menos do que 76 milhões de brasileiros possuíam perfil nesta comunidade virtual, o que corresponde a cerca de 90% de quem acessa a internet, ou 1/3 da população total do país. Posto que não se questiona a representatividade da amostra, chega de suspense, vamos à lista. Em 2013, os temas que mais interessaram aos brasileiros foram:
Carnaval, Futebol, Papa e Mensalão. Somos ou não somos um perfeito clichê?