Sobre como não enlouquecer durante as compras de Natal
Todo ano é a mesma coisa: basta virar a folhinha do mês de dezembro no calendário e o Natal chega rasgando, trazendo à reboque a adoção compulsória do espírito natalino, as famigeradas ‘caixinhas’, onipresentes em todos os estabelecimentos comerciais, o constrangimento no amigo oculto da firma, os quilos a mais associados à comilança de panetone e rabanada, o trânsito – inexplicavelmente caótico – e por último, mas não menos importante, as temíveis compras de presentes. Se você acha tudo isso muito divertido, pode parar por aqui, esse texto não é pra você. Mas se, como eu, você é uma daquelas pessoas que chegam a ter pesadelos com shoppings centers lotados e listas intermináveis de presentes (que consomem metade do orçamento do ano e na qual figuram parentes que você só encontra mesmo no Natal), nas próximas linhas será possível encontrar algumas dicas que visam atenuar o desgaste provocado por esta inevitável jornada rumo à insanidade e ao consumismo desenfreado.
Quando ir às compras
Ao longo dos anos, a incessante busca por um método mais eficiente me levou a experimentar várias estratégias distintas, tais como deixar para comprar tudo no dia 23 – e me submeter à pressão da última hora como forma de agilizar o processo – e o contrário disso, ou seja, começar ainda em novembro, para ter todo o tempo do mundo e a oportunidade de ir às compras diversas vezes. Do alto da minha experiência, vos digo: nem tanto ao mar, nem tanto à terra: o que realmente funciona é escolher uma data no início de dezembro, chegar assim que as lojas abrem e resolver tudo num dia só.
Por quê? Porque no início de dezembro a primeira parcela do décimo terceiro ainda não evaporou (espero), portanto sua percepção de falência iminente não vai, por exemplo, provocar hesitações desnecessárias. No mais, nesta época, sobretudo pelas manhãs, os vendedores ainda não estão impacientes e obcecados por aumentar suas comissões a qualquer custo, esfregando no seu nariz itens pelos quais você sequer se interessou. A bem da verdade, ir às compras 20 vezes que seja não é garantia de encontrar todos os presentes de sua lista. Convenhamos, se você não conseguiu resolver as pendências num único lugar que reúne dezenas de lojas, aceite, o problema pode estar em você.
Aceite o desafio
Dada nossa natural tendência por procrastinar, é bem provável que, inconscientemente, você deixe para o final os presentes mais complicados. Após uma exaustiva maratona de compras, essa é uma circunstância perigosa, visto que seu discernimento estará afetado pelo cansaço e você vai aceitar pagar o triplo do planejado, apenas para chegar mais cedo em casa. Uma maneira de evitar isso é encarar primeiro as pedreiras; presente da mãe, do namorado novo, do marido da prima, não importa, se parece difícil, comece por este e aproveite enquanto ainda tem disposição e o relógio está a seu favor.
Definindo um plano de ação
Como se sabe, o bem estar físico e mental da imensa maioria dos seres humanos passa a estar gravemente ameaçado a partir de 4 ou 5 horas dentro de um shopping, portanto cada minuto é precioso. Jamais aceite companhia de quem quer que seja para fazer compras, afinal, quase sempre os objetivos são muito diferentes e, ao invés de se ajudar, a dupla só bate cabeça e perde tempo. Melhor do que isso é, antes de sair de casa, escrever num papel o nome de todos os presenteados, o que eles te deram no Natal passado (lei da reciprocidade) e, sem pensar muito, uma sugestão aleatória de possível presente. Guarde essas anotações no bolso, para casos de emergência e, se empacar, não se desespere. Basta dar uma olhada na lista e tentar entender o que motivou sua sugestão inicial; quem sabe você não acabou de se deparar com algo parecido e com preço razoável?
A lebre e a tartaruga
Sem dúvida, um dos maiores erros que se pode cometer durante as compras de Natal é o de deixar-se levar pelo otimismo de um bom começo: “Tô indo muito bem, matei 5 presentes em meia hora! Acho que mereço um descanso”. Daí o sujeito se esquece da razão pela qual está ali e passa a se distrair com as vitrines, senta para tomar um café e se entreter com o movimento ou olhar o Facebook no celular. Ledo engano. Assim como na fábula, quem vence a disputa é a tartaruga, vagarosa e perseverante, e não a lebre, ágil e presunçosa. Indo muito mal ou muito bem, tente se ater a uma meta (ex: 3 presentes por hora) e deixe o lazer para o momento em que estiver de fato precisando de uma pausa.
Bom, espero que as dicas sejam úteis. Se elas apenas o deixaram ainda mais angustiado, lembre-se de que os vales presentes foram concebidos para pessoas como você, ou, de repente, agora é uma boa ocasião para resgatar aquele talento especial deflagrado no jardim de infância, de pintar garrafas de vidro e fazer potes de argila como presentes de Natal para amigos e parentes.