Um ano pra chamar de seu
“Repara o jeitinho dele, que graça… toda pinta que vai ser da política!” .
“Como assim? Não existe nenhuma possibilidade dele não ser do futebol!”.
Esse breve diálogo – e suas inúmeras variáveis – consiste na gênese e na síntese da minha história, na lembrança mais antiga que trago comigo: futebol ou política, política ou futebol? Eis o dilema que me acompanha desde o instante em que nasci, ou melhor, desde muito antes de eu nascer. Sempre que me perguntam se acho isso ruim, quero dizer, de ter o destino tão fortemente atrelado a duas paixões, a dois destes três temas que a boa educação sugere evitar-se em público, respondo que já me acostumei.
Pois se alguns vêm ao mundo para, como seus pais, se tornarem médicos, advogados ou engenheiros, comigo não é muito diferente, talvez à exceção de que a mim nem foi dada a chance de identificar-se com o ofício de um ente querido, apenas acatar uma dentre as duas únicas possibilidades que se impõem no horizonte. Pensando bem, acho que na infância isso já me incomodou mais. Devo admitir que houve tempos em que cheguei a sentir inveja de alguns dos meus irmãos, sobretudo por eles terem desfrutado de todas as condições para ser quem realmente quisessem. Sob eles não recaía peso que excedesse expectativas pontuais, e, assim, desenvolveram-se às custas das próprias vivências, aventurando-se por uma trilha que surgia enquanto caminhavam. Eu, no entanto, não tive a mesma sorte.
Tentando enxergar pelo lado positivo, ao menos posso me gabar da certeza de que, para o bem ou para o mal, serei memorável. Independente do que se der do dia de hoje em diante, fato é que seguir um script pré-definido tem lá suas vantagens. Mesmo que, por exemplo, nos gramados ou nas urnas tudo aconteça de maneira inversa ao que se espera de mim, ainda assim terei assegurado meu lugar entre os grandes da história, e, sem dúvida, prefiro isso ao risco de sucumbir ao ostracismo ou, pior, ao completo esquecimento.
Mas, cá entre nós, se eu pudesse realmente escolher, acho que gostaria mesmo de me dedicar a dar continuidade ao legado desse meu irmão mais velho; de maneira muito inesperada, ele acabou tornando-se o ícone de uma nova maneira de pensar, um pouco confusa ainda, eu diria, mas bastante promissora. Ironicamente, a mudança de paradigma que eclodiu desse movimento, vejam só, tem muito a ver com política e futebol.
Agora me ocorreu aqui uma ideia maluca: e se esta espécie de sina, que me sentencia a optar entre duas faces de uma velha moeda, fosse, na verdade, a tão aguardada oportunidade de transformar em definitivo a maneira como sempre se fizeram as coisas nesse país? E se estes tais grandes eventos, sobre os quais tanto se especula, se revelassem na prática como pano de fundo para um espetáculo ainda maior?
Nem da política, nem do futebol. Eu sou 2014, o ano da consciência…