Lulu
O post dessa semana seria sobre outro tema, mas eis que, de última hora, se impôs com a urgência de um e-mail enviado pelo chefe uma dessas irresistíveis novidades que nos ajudam a compreender um pouco melhor o tempo em que vivemos: Lulu. As quatro letrinhas, que muito bem poderiam designar a carismática personagem dos quadrinhos, batizam o mais novo instrumento para auxiliar mulheres solteiras a escaparem de furadas, sob outro ponto de vista, um legítimo e sofisticado pesadelo virtual para o gênero masculino.
Para quem ainda não ouviu falar, Lulu é um aplicativo para iOS e Android que, ao vincular-se à conta de uma usuária de Facebook (sim, teoricamente apenas mulheres podem utilizá-lo) permite que a mesma possa atribuir conceitos aos homens que estejam em sua lista de contatos e com quem porventura tenha se relacionado, digamos, de maneira carnal. Quem avalia permanece no anonimato, mas consegue ver as demais avaliações atreladas aquele perfil, estas que são registradas a partir das respostas obtidas para questões relativas a comportamento, educação, senso de humor, atributos físicos e, claro, sexuais. As perguntas variam de acordo com o status declarado da avaliadora em relação ao avaliado (ex-namorada, ficante, pretendente a ficante, etc.) e, ao final, geram uma nota para o rapaz.
A cereja do bolo fica por conta das hashtags que podem ser adicionadas para ratificar a humilhação, quer dizer, análise, tais como #FilhinhoDeMamãe, #ApaixonadoPelaEx e #PrefereoVideogame. Pelo que entendi, a título de evitar que a criatividade e a sinceridade das usuárias firam egos além do previsto, não é possível redigir comentários ou criar hashtags específicas. Desculpem se me faltam mais detalhes, mas, como se pode supor, tudo o que sei sobre o aplicativo aprendi através de relatos de terceiras, uma vez que, como homem, o único lugar a que tenho acesso é o centro da arena, junto aos leões, e não a plateia. Segundo as fontes consultadas, em linhas gerais, as descrições são bem fidedignas, ou seja, além de divertido, o Lulu pode realmente vir a ser útil.
Desde que desembarcou por estas bandas no início da semana, mais de 5 milhões de downloads foram realizados, o que acabou ocasionando instabilidade nos acessos. Não diria que este chega a ser um fato surpreendente – sobretudo se for levado em conta o habitual apetite de nosso povo por ferramentas sociais –, mas a verdade é que, até agora, a cada dia mais de 1 milhão de brasileiras aderiram ao aplicativo, número equivalente ao total de usuárias alcançado ao longo de 9 meses nos Estados Unidos. Afinal, o que justificaria tamanho furor? Uma breve pesquisa no Google me indicou que esta não é uma pergunta fácil de responder.
Há quem diga que o Brasil é um país essencialmente machista, e que o Lulu seria um pequeno triunfo do time rosa na épica batalha entre os sexos, mas há também quem pense que tudo não passa de uma brincadeira que está sendo levada muito a sério. No time azul, uns encaram com bom humor o fato de estarmos na berlinda, empregando argumentos na linha de “quem não deve, não teme”, já outros se ocupam em saber como proteger seus perfis de potenciais vinganças e exigem reparação imediata. A respeito da especulação quanto a um possível equivalente do aplicativo voltado para os homens, uma resposta curiosa: ele já existe e se chama vida.
Bom, visto que o tema ainda vai render um bocado, antes de terminar, eu só queria deixar um recado, direcionado às mulheres com quem me relacionei:
Independente da extensão do relacionamento que tivemos, saibam que conhecer cada uma de vocês me transformou numa pessoa melhor. Se algum dia magoei vocês, tenham certeza de que não era a minha intenção. Ah, e se tiver permanecido algum mal entendido entre nós, podemos conversar! Quem sabe a gente não resolve isso de uma vez, né?