Jobs – O filme
Ao assistir a Jobs, filme que narra a trajetória do criador e mentor intelectual da Apple, uma certeza que se pode ter é a de estar diante da biografia de um legítimo crápula. Afinal, como designar um sujeito que passou quase 20 anos ignorando uma filha legítima, não se furtava em humilhar funcionários publicamente – ou utilizar vagas de estacionamento destinada a paraplégicos – e virava as costas para amigos leais sem pudor sempre que estes se opunham à sua desmedida ambição? Ressalva feita, como não admirar Steve Jobs, criador obstinado, empreendedor brilhante, homem de cuja visão deriva a maneira como atualmente, e talvez por muitos anos ainda, lidamos com a tecnologia em nossos cotidianos? Esta aparente dicotomia, que sem dúvida faz deste um dos personagens mais intrigantes do século XX, é a mola propulsora da narrativa majoritariamente ambientada no final dos anos 70 e início dos 80, época em que Steve era não muito mais do que um cara que gostava de andar descalço pelas ruas e que não conseguia decidir-se por qual curso universitário optar.
Esbarrando em um ou outro clichê, por vezes assumindo ares de telefilme (produções cinematográficas simplórias, concebidas para exibição em formato televisivo), o longa consegue de maneira relativamente satisfatória dar conta de mostrar como o impressionante tino para negócios, a constante inquietação e a notória inadequação social de Jobs lhe serviram como ferramentas para transformar um empreendimento de fundo de quintal tocado por um punhado de nerds na empresa com maior valor de mercado do mundo. Aos que, como eu, entrarem na sala de exibição pré-dispostos a desqualificar a atuação de Ashton Kutcher como protagonista, um aviso: vocês podem se frustrar. A bem da verdade, por mais absurdo que soe, é impossível não pensar a respeito de que opinião teria o próprio Jobs – perfeccionista obsessivo –, caso ainda estivesse vivo, sobre a escolha de um galã mais conhecido por suas fanfarronices fora das telas do que pelos feitos no campo da dramaturgia para interpretá-lo. Entretanto, a despeito da inquestionável similaridade física entre intérprete e interpretado, fator que pode ter sido determinante para sua escalação, é preciso admitir que, salvo a risível insistência em reproduzir o jeito de andar de Jobs (algo que caberia bem no célebre Ministry of Silly Walk do Monty Python), se Kutcher não habilita-se como candidato ao próximo Oscar, também não compromete o trabalho dos roteiristas.
Aliás, cabe registrar que a sequência inicial pode ser bastante assustadora para os fãs mais sensíveis do idealizador dos computadores pessoais; carequinha, ostentando pés-de-galinha cenográficos e vestindo o tradicional traje para apresentações de produtos (blusa de gola rulê preta, jeans claros e tênis brancos de corrida), o ex-marido de Demi Moore apresenta ao mundo pela primeira vez o iPod, sugerindo, já de cara, que a próxima hora e meia será recheada por embaraçosas tentativas de reproduzir passagens emblemáticas recentes da vida de Jobs, as mesmas que lhe asseguraram um lugar entre os grandes homens de seu tempo, mas que estão ainda muito frescas em nossas memórias para serem retratadas. Felizmente o prognóstico não se cumpre, mas, de certa forma, não deixa de dar margem à uma reflexão: será que este filme não veio cedo demais?
Confesso que este foi um pensamento que me acompanhou durante toda a sessão, visto que agora mesmo escrevo este texto a partir de uma máquina concebida por Jobs, e que, enquanto você lê esta frase, milhões de pessoas estreitam suas relações com o universo ao redor a partir de dispositivos concebidos por ele. Ainda ontem, na ocasião de lançamento do iPhone 5C, menos de dois anos após sua morte, especulava-se se o smartphone – que conta com acabamento em plástico para reduzir custos e se equiparar à concorrência – desvirtua ou não a primazia por qualidade que estabeleceu-se ao longo das últimas décadas como marca registrada da Apple. O que quero dizer é que, talvez, um pouco mais de distanciamento faria bem a esta história. Mesmo que não faltem indícios para atestar o quão inspiradora foi a passagem de Jobs por este planeta, fato é que seu legado ainda evidencia-se de forma muito intensa. Por uma determinada perspectiva, qualquer obra artística consiste numa iniciativa voltada a eternizar, num momento específico, a impressão que se tenha sobre o objeto em questão. Pensando bem, um filme realizado agora, ou mesmo daqui a 20 anos, simplesmente não seria suficiente para abranger toda a complexidade de alguém como Steve Jobs, um homem que tinha como principal virtude seu maior defeito: ser o melhor, a qualquer preço.
Concordo com vc Bruno, tive a mesma sensação de que o filme veio cedo demais. Mas entendo que por ser tão grandiosa e arrebatadora a história de Steve Jobs e seus amigos Nerds, fundadores da APPLE, que foi bom ver este filme e não condeno a a Interpretação do Ator Ashton Kutcher, que a meu ver foi ótimo e nos faz lembrar muito o jeitão do Steve. Acho que mais na frente daqui a 10 anos, certamente teremos outra versão filmada deste gênio Steve Jobs, a quem agradecemos por tudo que seu gênio criativo nos ofertou em tecnologia da comunicação. abç.
Bruno, já viu Piratas do Vale do Silício? Da pra comparar com esse ai?
Abraço.
Falso moralismo! Isso não leva a nada! Se ele fosse igual a todo mundo, a Apple não existiria!
Fizeram um filme sobre um sujeito arrogante e prepotente e tentaram passar que o cara era quase um super herói… não presta pra nada um filme desses.
Excesso de idolatrismo com esse cara. Jobs como a Apple, tem um histórico na maioria de fracassos e derrotas do que sucesso. Que só conseguiu já no fim da vida.
no filme não tentaram passar que Steve era um super herói… Muito pelo contrário… ele foi o anti-herói crápula, anti-ético, arrogante e prepotente… uma cara que ganha 5000,00 nas costas do seu melhor amigo no início da carreira? Ainda tem peito para processar o Gates pela cópia fraquinha do seu MAC…. Este filme é um retrato bem feito de um cara que fez genialidades para a nossa vida moderna, mas não deixa de ser o cretino repugnante na sua vida pessoal… Alias os caras geniais da humanidade, variavelmente tem esta façanha de serem pessoas intragáveis.
Não concordo com o que Bruno medina disse sobre Ashton Kutcher: “A bem da verdade, por mais absurdo que soe, é impossível não pensar a respeito de que opinião teria o próprio Jobs – perfeccionista obsessivo –, caso ainda estivesse vivo, sobre a escolha de um galã mais conhecido por suas fanfarronices fora das telas do que pelos feitos no campo da dramaturgia para interpretá-lo”. Provavelmente não viu Efeito Borboleta, por exemplo. Apesar de muitas comédias românticas, é um excelente ator!
O filme pode ate ser feito muito cedo mesmo !
Mas é um ótimo filme pra quem sonha com o empreendedorismo!
Algumas pessoas não veem a esta vida ao acaso! E Jobs foi um deles !
“Pensando bem, um filme realizado agora, ou mesmo daqui a 20 anos, simplesmente não seria suficiente para abranger toda a complexidade de alguém como Steve Jobs, um homem que tinha como principal virtude seu maior defeito: ser o melhor, a qualquer preço.”
Pouco fanboy?
Ashton Kutcher?
se eu não visse a caracterização, que realmente ficou muito boa!
Eu não iria ver, nunca!
Vou assistir! Mas não consigo tirar meu preconceito de que esse filme deva ser bem… ruim!