Vivendo e Aprendendo a Jogar

qua, 31/07/13
por Bruno Medina |

Um assunto que tem despertado muito minha atenção ultimamente – e sobre o qual tenho lido artigos bastante interessantes – é a Gamificação. No entanto, apesar deste ser um dos temas mais celebrados do momento, trata-se, também, de um dos menos compreendidos, nas palavras de um amigo, “mais mal interpretado do que livro do Machado de Assis”; é errado, por exemplo, dizer que a Gamificação consiste na ciência de criar jogos, mas sim no método através do qual se aplicam mecanismos de jogos à resolução de problemas ou impasses em outros contextos. Com frequência cada vez maior, estas técnicas têm sido utilizadas como ferramentas alternativas às abordagens tradicionais, sobretudo no que se refere a encorajar pessoas a adotarem determinados comportamentos, a familiarizarem-se com novas tecnologias, a agilizar processos de aprendizado ou tornar mais agradáveis tarefas consideradas tediosas ou demasiadamente repetitivas.

O desenvolvimento dessa verdadeira ciência provém de uma constatação um tanto óbvia: seres humanos se sentem atraídos por jogos. Basta dizer que, ao longo dos séculos, praticamente todos os povos conhecidos estiveram associados a algum tipo de competição de suma importância para a estruturação social da comunidade a qual pertenciam. Muito embora seja um velho conhecido de nossa civilização, o termo “gamificação” só ganhou notoriedade mesmo em 2010, mais precisamente, a partir de uma apresentação realizada no TED por Jane McGonigal, famosa designer norte-americana, autora do livro Reality is Broken – why games make us better and how they can change the world. O argumento que intrigou muita gente boa foi a percepção de que, se fossem somadas todas as horas jogadas apenas pelos frequentadores do World Warcraft (tradicional game online que está em curso há 11 anos ininterruptos) teriam sido gastos 5.93 bilhões de anos na resolução de problemas de um mundo virtual. Agora imaginem, caros leitores, se o mesmo empenho fosse dedicado à resolução de problemas do mundo real, tais como a erradicação da pobreza extrema, a questão da mobilidade nas grandes cidades ou a descoberta da cura para uma importante doença?

Já durante uma pesquisa conduzida pela MTV norte-americana junto ao público da Geração Y, 50% dos entrevistados afirmaram que aspectos dos jogos se aplicam a diversos campos de suas vidas cotidianas, sendo que esse grupo de pessoas representa hoje 25% da população economicamente ativa mundial. Em termos práticos, isso significa dizer que ¼ dos indivíduos que geram a riqueza do planeta cresceram jogando Mario Bros ou algum de seus descendentes. Assim sendo, torna-se natural que a cada dia mais empresas se interessem por compreender como os jogos podem ser empregados na transposição de desafios profissionais, sobretudo devido ao fato de que uma significativa parcela de seus funcionários possui enorme familiaridade com esta linguagem. Tendo em vista que a cada dia as corporações possuem em seus quadros mais e mais representantes desta geração, parece claro que, cedo ou tarde, haverá a necessidade de adequar – ou ao menos considerar – a gamificação na concepção de processos de trabalho. Nem precisa dizer que esta é uma ideia pra lá de paradoxal, uma vez que a fronteira entre trabalho e diversão sempre esteve muito bem delineada. Dentre os aprendizados que os jogos podem emprestar as empresas destacam-se:

Feedback Instantâneo

Nos jogos, toda ação desempenhada recebe feedback. Ao pegar uma maçã, o jogador aumenta sua barra de saúde; ao coletar 100 moedas, ganha uma vida extra, etc. Feedbacks positivos reforçam bons comportamentos, ao passo que os negativos permitem ajustes comportamentais mais eficientes. Nas empresas, o feedback instantâneo poderia auxiliar a reduzir o pânico das temidas avaliações anuais, acelerando o processo de crescimento profissional e de aprendizado.

Metas Tangíveis

Em qualquer jogo sempre há um objetivo principal, como salvar a princesa, e outros secundários, como passar para a próxima fase ou coletar itens escondidos. Nas empresas, a definição de metas tangíveis criaria uma sensação de constante progresso, diminuindo a percepção de dificuldade em tarefas que se estendam por muito tempo. Ao invés de considerar um projeto com 6 meses de duração, cujos benefícios só seriam percebidos muito a frente, por que não desmembrá-lo em 3 objetivos menores, a cada 2 meses?

Aprender Fazendo

Uma diferença crucial entre os jogos e a vida real é que os primeiros nos ensinam o caminho das pedras, não através de um manual, mas sim a partir da prática. Como exemplo, pode-se citar o Farmville. Trata-se de um jogo considerado simples, inclusive popular entre as crianças, mas, ainda assim, existem os diversos tipos de plantanção possíveis, os animais de estimação, o dinheirinho, os presentes que podem ser oferecidos aos amigos. Talvez, se fossem atirados nesse contexto com uma pá na mão sem receber qualquer explicação, muitos jogadores sentiriam-se desestimulados devido a dificuldade inicial em compreender o funcionamento e o sentido de cada elemento. O sucesso do jogo está relacionado ao fato de que seus criadores se preocuparam em ensinar, fase após fase, aos potenciais jogadores terem maestria sobre aquele universo, possibilitando que dessa forma tirassem o melhor dele. Sejamos sinceros, quem hoje em dia tem paciência para ler um manual até o fim? As pessoas podem passar horas jogando, mas não dedicam 20 minutos sequer de sua atenção a algo que soe como um treinamento.

Em suma, não é difícil perceber que a Gamificação ainda vai dar muito o que falar. As experiências de sucesso decorrentes da utilização do método para resolver problemas de natureza diversas só reforçam a impressão de que participar de jogos e competições é uma atividade intrínseca ao comportamento humano, inserida de maneira mais ou menos evidente em nosso cotidiano. Ao que tudo indica, nós jogamos não porque desejamos, mas sim porque precisamos.

 

Você Sabia Que…

qua, 24/07/13
por Bruno Medina |

Provavelmente, poucos são os que sabem disso, mas além do característico atributo de realçar o sabor dos alimentos, a pimenta possui uma série de aplicações, inclusive medicinais, dentre as quais se destaca o combate à enxaqueca. Isto só é possível porque a piperina – responsável pelo paladar ardido – é um poderoso liberador de endorfina, substância química que atua no cérebro como uma espécie de analgésico natural. O mecanismo é simples: quando ingerimos um alimento apimentado, receptores localizados na língua transmitem ao cérebro a informação de que nossa boca está ‘em chamas’. O risco iminente faz nosso organismo secretar endorfina, com o intuito de provocar uma sensação de alívio e bem estar imediato. Já a pimenta-caiena popularizou-se pela fama de auxiliar a perda de peso e incrementar as funções cardiovasculares e respiratórias, mas, como resultado de seu uso indiscriminado, graves efeitos colaterais.

O site Gizmodo realizou um revelador teste comparativo, com o intuito de determinar qual dentre os principais smartphones disponíveis no mercado possui a melhor câmera para filmagem. Para que os resultados fossem mais fidedignos, os aparelhos foram avaliados em condições extremas, na tentativa de simular situações de uso real. Sob baixa luminosidade, o melhor desempenho foi alcançado pelo Lumia 920; quando o flash é acionado, destaca-se o BlackBerry Z10. Sob luz intensa do dia, registrou-se mais uma vez discreta vantagem do Lumia, seguido pelo iPhone5. Já em ambientes fechados, o Galaxy SIII foi o que garantiu os melhores registros.

Ninja ou Shinobi eram os termos que designavam agentes secretos especializados em artes de guerra não ortodoxas no Japão feudal (séc XIV). Os ninjas são proeminentes figuras folclóricas, cujas habilidades lendárias incluem invisibilidade, andar sobre a água e o controle de elementos naturais.

Ninja Tune Records é um selo inglês, criado em 1991 pela dupla de DJ’s Matt Black, programador, e Jonathan More, ex-professor de arte. Para comemorar seu 20º aniversário lançou uma caixa com faixas inéditas e novas versões de Mr Scruff, Cut Chemist, Matthew Herbert, The Orb, Tom Middleton, Gold Panda e Joe Goddard, entre outros.

A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro surgiu em 1809, ano subsequente ao estabelecimento da Família Real Portuguesa no Rio de Janeiro em decorrência da campanha napoleônica de conquista do continente europeu. Em 1865, a PMERJ teve participação na vitória das tropas nacionais na Guerra do Paraguai, visto que, à época, o Brasil não dispunha de um contingente militar suficiente para combater os cerca de 80 mil daquele país. Dentre as atribuições creditadas à instituição estão:

• combate ao crime organizado, através de operações para a captura de criminosos ou apreensão de armas, drogas ou contrabando.
• apoio a órgãos públicos, estaduais e municipais, em atividades como ações junto à população de rua e trato com crianças e adolescentes em situação de risco social.
• atendimento direto à população, ajudando no transporte de doentes e na orientação de pessoas em dificuldades.
• segurança de testemunhas e pessoas sob ameaça.

O treinador Amarildo Tavares Silveira ficou conhecido como “Possesso” graças a seus feitos na Copa de 62. Pela Seleção Brasileira o saldo de 24 jogos foram 9 gols. Amarildo de Souza Amaral também fez carreira no futebol brasileiro, centroavante, lembrado pelo gol que, em 1987, garantiu ao Inter a decisão do título nacional.

***

O texto acima é um exercício para reunir num único documento os termos ‘pimenta’, ‘câmera de smartphone’, ‘Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro’, ‘ninjas’ e o nome ‘Amarildo’  ( pai de seis filhos, ajudante de pedreiro, morador da Rocinha, desaparecido desde a noite de 14 de julho) e ainda assim escapar da Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas (CEIV). Criada na última segunda-feira por determinação do governador Sérgio Cabral, o decreto estabelece o prazo máximo de 24 horas para que operadoras de telefonia e provedores de internet atendam a pedidos da CEIV relacionados a quebra de sigilo de usuários durante investigações de atos de vandalismo em manifestações.

 

Tempos difíceis estes nossos…

 

fonte: Wikipédia

Este gato arrumou um emprego, por que você não arrumaria também?

qua, 17/07/13
por Bruno Medina |

A descrição da cena provavelmente vai soar familiar: ao entrar no Facebook para saber a quantas anda o mundo e o que têm a dizer as pessoas com quem realmente se importa – ou não –, mais do que apenas ter acesso ao feed de notícias dos seus amigos principais, no canto direito da tela, você é contemplado com uma tripa de anúncios absolutamente surreais, protagonizados por personagens que mais parecem ter saído de um filme do Almodóvar. No espaço delineado por seus quadradinhos publicitários, halterofilistas deformados sugerem programas de musculação que, em questão de semanas, fazem qualquer emo magricela virar um guerreiro romano, beldades com decotes proeminentes prometem ganhos de até R$4mil por semana trabalhando de casa e gorduchos secam 50 quilos sem fazer exercícios, apenas seguindo a dieta milagrosa que recomendam.

Num misto de repulsa e curiosidade mórbida, você clica no xizinho que faz o anúncio desaparecer, na expectativa de, quem sabe, eliminar em definitivo as chances de deparar-se novamente com aquele show de horrores – ou mesmo de vê-lo ser substituído por uma oferta mais condizente; mas eis que surge o curso que em 10 dias dá a qualquer um maestria no idioma escolhido, a mulher com lábios que lembram um sofá bicama enumerando os benefícios da aplicação de botox, entre outros conteúdos de semelhante teor. Assoberbado pelo que parece ser um fluxo infinito de bizarrices, você tece o único comentário plausível frente a situação: “mas será que alguém realmente acredita nisso?”. Pois é, por mais absurdo que possa parecer, ao que tudo indica sim, visto que, ao menos na minha tela, os anúncios, digamos, ‘estranhos’ incidem na proporção de 3 pra 1.

Posso até imaginar o perfil de consumidor que é alvo preferencial desta modalidade de propaganda. Trata-se daquele tipo de pessoa que conversa com samambaias, que na infância teve porquinho da índia e que, nos almoços de família, ri todas as vezes que o tio pergunta “é pavê ou pá comê?”. Ele tem fé no próximo, no controle da inflação, na convivência harmônica entre corintianos e palmeirenses, mas, sobretudo, na improvável condição de ter sua vida transformada a partir de um anúncio que visualizou numa rede social. Independente da representatividade que possa vir a ter esse público, talvez a pergunta mais interessante a ser feita aqui é por que diabos o Facebook chegou a conclusão de que deveria me apresentar estes produtos??

Sim, porque já que são evidentes e incontestáveis as provas de que somos espionados a todo momento, fico imaginando que tipo de comportamento adotado ao navegar pela internet pode ter me enquadrado na categoria de usuários que deveriam ser expostos, por exemplo, ao anúncio que exibe um gato sentado em frente a um desktop com a inscrição “esse gato arrumou um emprego, por que você não arrumaria também?”. Tá certo que músico e blogueiro não são exatamente ocupações que gozam de muita credibilidade, mas gosto de pensar que ao menos posso me dar ao luxo de dispensar oportunidades profissionais em que animais de estimação sejam considerados referenciais de excelência.

Apesar de ter ficado bastante intrigado, ainda não foi desta vez que consegui vencer o receio de, ao clicar no link para saciar a curiosidade a respeito do novo emprego do gato, ser vítima de uma terrível armadilha cibernética que culmine com a captura de todas as minhas senhas e a consequente explosão do meu computador. Pode parecer exagero, eu sei, mas é que estes anúncios bizarros do Facebook inspiram tão pouca confiança que acabam aludindo aqueles pombos doentes, que ficam deitados no chão da praça com o pescoço recolhido e o peito estufado: só de olhar para eles você já sente que está correndo sérios riscos. Assim sendo, permanecerá o mistério, pelo menos até que algum colega de firma do gato tenha coragem de se manifestar em público…

Perto de um final feliz

qua, 10/07/13
por Bruno Medina |

No último final de semana, durante um agradável almoço de aniversário, estive conversando com o pai de um grande amigo, que me contou a respeito da impressionante meta que há 15 anos estabeleceu para si próprio: assistir a um filme, todos os dias. Seja locadora, TV a cabo ou sala de cinema, esteja ele em casa ou em qualquer parte do mundo, não importa, haja o que houver, cada novo nascer do sol é religiosamente preenchido com a devida cota da sétima arte. Não restam dúvidas de que o exercício do hábito ao longo desse tempo supõe o surgimento de um legítimo especialista, ainda que se veja às voltas com a crescente dificuldade de encontrar enredos que despertem seu interesse, o que, convenhamos, soa bastante compreensível se levarmos em conta as últimas safras de títulos provenientes de Hollywood.

Ameaçam a continuidade de sua façanha trilogias caça-níqueis, comédias românticas recheadas de diálogos rasteiros e roteiros supostamente originais que nada mais são do que desavergonhadas reciclagens de ideias surradas. Ao fim do papo, a desalentadora conclusão de que filmes que demandam centenas de milhões para serem produzidos, e que consomem outras dezenas de milhões para serem divulgados, dificilmente escaparão de seguir por uma trilha já desbravada pelos grandes estúdios, mais especificamente, a que apontar com maior clareza a possibilidade de reaver o suntuoso investimento realizado.

A bem da verdade, a medida em que os orçamentos aumentam, diminui o ímpeto por surpreender o espectador, e essa, infelizmente, parece ser uma tendência irreversível. A percepção de que o cinema norte-americano há muito deixou de ser terreno fértil para a criatividade é o que justifica a recente debandada de profissionais desta área para a televisão, seguida pela previsível ascensão do formato ‘séries’, que hoje representam o que há de melhor em entretenimento voltado para as massas. Mas, antes que se atirem todas as pedras na famigerada indústria cinematográfica, não esqueçamos que a sustentabilidade deste modelo ‘mais do mesmo’ só tornou-se possível porque, do outro lado da tela, entrincheirados em suas poltronas dobráveis e providos com porções indecentes de refrigerante e pipoca, encontram-se os reais protagonistas deste esvaziado espetáculo: o público.

Eis aí um belo paradoxo, capaz de suscitar uma daquelas intermináveis discussões sobre causa e consequência, afinal, os filmes em exibição refletem o gosto da plateia ou é a plateia que molda seu gosto a partir dos filmes em exibição? Tal dilema remete a um fato histórico que ilustra com muita propriedade a questão; é sabido que durante a Idade Média as propriedades mais valorizadas costumavam ser as que estavam nas cercanias das igrejas. Engana-se, no entanto, quem pensar que este juízo de valor estabeleceu-se devido ao anseio generalizado por chegar mais rápido à missa, mas sim pela importância estratégica que tinha, à época, ouvir o tradicional badalar dos sinos. Além de serem precisos marcadores do passar das horas – quando quase ninguém possuía relógio, diga-se, o badalar dos sinos trazia consigo uma mensagem implícita, essencial para a sobrevivência naqueles idos: a certeza de que tudo estava bem.

Sob a ótica atual, esta pode mesmo parecer uma ambição chinfrim, mas basta pensar que não era através do jornal, rádio ou TV que um camponês tomava conhecimento, por exemplo, de que sua aldeia estava sendo incendiada por um exército inimigo ou que porcos, mulheres virgens e barris de vinho estavam sendo pilhados por meliantes. Era a ausência do sacristão, e o consequente silêncio na torre da igreja, o que comunicava de forma indubitável que algo não ia bem. Em comparação aos dias de hoje é claro que quase tudo mudou, radicalmente. Se antes a vida se arrastava e os limites do conhecimento se restringiam ao entorno, hoje a sensação é a de que há mais tarefas a realizar do que horas no dia e o volume de informação disponível gera frustração, dada nossa notória incapacidade de absorvê-la na medida em que gostaríamos.

Há, no entanto, um aspecto que em minha opinião aproxima estas duas realidades separadas por séculos, um que nos acompanha desde a origem como espécie e que permanece imutável, apesar de apresentar-se constantemente sob novas formas. Assim como nossos ancestrais, nós também possuímos a necessidade frequente de observar os sinais de que tudo está bem. E se para isso eles tinham o sino da igreja, meus caros, nós temos Hollywood. Aí está uma explicação bastante plausível para justificar o êxito de uma indústria bilionária, especializada em contemplar seus fiéis clientes com a mesma oferta sempre, embora boa parte destes considerem que, ao adquirir seus ingressos, receberão em troca algo inédito. Outros mocinhos, outros bandidos, outros finais felizes, todos uniformemente variáveis.

Talvez a pergunta mais apropriada não seja se os filmes produzidos em Hollywood são os que desejamos, mas sim se são os que precisamos assistir.

Hollywood

qua, 03/07/13
por Bruno Medina |

Rio de Janeiro, final dos anos 90:

- Caio! Pode entrar…

- Magalhães, quanto tempo… como você tá?

- Tô é ansioso para ouvir sua ideia, parece que temos um ‘blockbuster’ nacional a caminho, é isso mesmo?!

- Generosidade sua… mas confesso que eu tô otimista em relação a esse longa, acho que vai dar muito o que falar.

- Deus te ouça! Então, me conta o que você pensou…

- Tá certo, vamos lá: o filme se passa em 2013, ano que antecede eleições presidenciais e a Copa do Mundo do Brasil, a primeira realizada após o fiasco de 50.

- Uau!

- É um momento de expansão econômica e o país passa a assumir uma posição de protagonismo no cenário mundial. A presidenta…

- O presidente é mulher?

- Sim, pensei que poderia ser mulher e ex-guerrilheira política…

- Exótico, adorei!

- Pois bem, a presidenta está a frente de um grande programa de aceleração do crescimento, focado na melhoria da infraestrutura, sobretudo das cidades-sede da Copa. A mobilidade urbana é replanejada, aeroportos são remodelados, estádios são construídos especialmente para o evento. Tudo leva a crer que o Brasil está decolando, finalmente. Mas…

- A-ha! Sabia que ia ter um ‘mas’…

- … uma manifestação popular começa a ganhar corpo…

- Mesmo com Copa, aumento da renda e tudo mais?

- Isso. Em princípio, a reinvindicação é contra o aumento das passagens de ônibus, mas, aos poucos, outros temas não menos contundentes vão emergindo, como, por exemplo, os bilhões que serão empregados na estrutura da Copa.

- Ô Caião, cê acha que isso aí tá verossímil? Quero dizer, o país do futebol se revoltar contra a realização de uma Copa do Mundo?? Sei não…

- Magalhães, a história que eu quero contar é a de um povo que cansou de pão e circo, do despertar de uma consciência social há muito adormecida…

- Consciência social? No Brasil?? Tá bom, supondo que isso realmente fosse possível, quem seria o comandante dessa, digamos, nova ordem?

- O próprio povo brasileiro. Sem o intermédio de políticos, sem bandeiras partidárias, todos unidos em prol do desejo coletivo de transformar o país.

- Jura?

- Bem, continuando: as manifestações se espalham a partir da internet – vamos considerar que em 2013 quase todo mundo terá acesso –, das metrópoles as pequenas cidades, e o resultado desta enorme mobilização democrática se traduz num feito inédito: a redução das tarifas de ônibus.

- Ah, Caio, peraí… onde já se viu tarifa baixar de preço no Brasil?!

- Magalhães, isso vai ser só a ponta do iceberg. Os manifestantes ocupam não só as ruas como as instituições do poder, imagino até uma cena, das cúpulas do Congresso tomadas de gente.

- Hahahahaha… você só pode estar brincando!

- O governo se sente pressionado pela escalada de protestos, que só faz crescer, e eis que surge a proposta de um plebiscito, com o objetivo de consultar a população a respeito da realização de uma ampla reforma política.

- Reforma política? Em Brasília?? Essa é ótima! Por favor, conta mais!

- A aprovação popular dos principais líderes políticos do país despenca e a transição para um novo modelo de representatividade se torna inevitável. Como resultado direto desse descontentamento, antigos e importantes projetos de leis começam a sair da gaveta, um deputado federal é preso, acusado de corrupção.

- Político na cadeia? Hahahahaha, para, por favor, tô passando mal de tanto rir … esse roteiro bota Independence Day no chinelo, é Hollywood na veia! Agora me diz uma coisa, Caião: como é que essa história termina?

- Pois é, Magalhães, essa parte ainda precisa ser escrita…



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