Trágicas Lacunas

dom, 27/01/13
por Bruno Medina |

No momento em que o Brasil, em luto, busca respostas que elucidem o incêndio da Boate Kiss em Santa Maria, fico com a lamentável impressão de que o acidente – que custou a vida de ao menos 232 pessoas – possui contornos bastante familiares. Certo que ainda é muito cedo para se imputar culpa a quem quer que seja, portanto em nada surpreende, por exemplo, a especulação generalizada de que o ocorrido só se deu da forma como foi não por uma causa específica, mas sim por um somatório de erros e negligências. Ora, mas não é pelo mesmo motivo que caem os aviões? Não se iludam, meus caros, é exatamente disto que são feitas as tragédias, de omissões individuais, de pontos cegos nas legislações, de lacunas de responsabilidade.

Eu mesmo, que passei boa parte da vida tocando em palcos como este que hoje sucumbiu em chamas, posso afirmar que não foram poucas as vezes em que tive receio pela minha integridade física e a de todos os demais. Claro que esse é um pensamento pouco associável à ideia de diversão, até porque, que instrumentos possuem, na imensa maioria das vezes, artistas e público para avaliar se estão ou não em um lugar seguro? Nenhum. Você aí, que me lê, alguma vez vinculou sua presença em determinado evento à apresentação em dia de alvarás e licenças de funcionamento do local? Ainda que o fizesse, saberia dizer aonde se encontra esse tipo de informação? No quartel de bombeiros mais próximo? Na internet? No Diário Oficial? Na gaveta da escrivaninha do dono do estabelecimento? Se nos colocamos com frequência em situações de risco sem ao menos saber, isso se deve ao fato de acreditarmos que alguém, obviamente, está responsável por zelar por nossa segurança. Pois esse foi o engano fatal daqueles que, no último sábado, estiveram na Boate Kiss.

Nem se discute que a suposta ausência de saídas de emergência em número adequado, ou mesmo a conduta dos seguranças – que teriam impedido frequentadores de sair da casa “sem pagar” quando o incêndio começou – se confirmados, são indícios muito graves; nada que faça parecer menos estapafúrdia a ideia de disparar um sinalizador em ambiente hermético, lotado e revestido de espuma. Mas, se o perigo inerente ao ato escapou ao seu realizador, quem, afinal, deveria estar encarregado de proibi-lo? Perguntas sem aparente resposta que rondam a mente quando cogitamos o que poderia ter sido feito de outro modo para evitar os relatos e as imagens devastadoras com as quais agora temos que lidar.

Quando um acidente desta magnitude ocorre, o mínimo que se espera das autoridades responsáveis são medidas significativas, voltadas a impedir que os mesmos erros possam ser cometidos no futuro. Não sou especialista no assunto, mas me parece que um bom começo seria adaptar a legislação vigente, a fim de conferir maior rigor e, por que não, visibilidade aos atestados que qualificam casas de show, bares e boates como seguros, com o objetivo, sobretudo, de informar aos próprios frequentadores, que deveriam ser os maiores interessados. Mais do que isso, é preciso com urgência traçar um plano de ações capaz de prever os descaminhos da burocracia e da corrupção, um que verdadeiramente impeça que tantas pessoas percam suas vidas de um jeito tão banal. Cabe apenas a nós cobrar que seja assim.

Meus sentimentos sinceros a todos que, de maneira direta ou indireta, foram acometidos por essa tragédia. Infelizmente, anunciada.

No Fio da Navalha

seg, 21/01/13
por Bruno Medina |

Férias devidamente usufruídas, estou, enfim, de volta; já se vão saudosos os providenciais 15 dias que me dei de folga após nem sei quanto tempo, estes que de tranquilos nada tiveram, mas que foram recheados do que se faz essencial a qualquer período de descanso que se preze: poucas obrigações cumpridas, muito boas experiências vivenciadas. É certo que eu poderia discorrer parágrafos a fio sobre andanças e comilanças, até mesmo sobre o que, em minha opinião, Los Angeles e Nova York têm de melhor, mas esta é uma tarefa que com certeza cabe melhor às atrações turísticas na TV ou aos guias impressos de viagem. Hoje, prefiro me ater a uma pitoresca aventura particular – quer dizer, “aventura” talvez seja um termo um tanto forte –  e ao menos assegurar a possibilidade de ser autor da primeira crônica nacional a respeito de patinação no gelo.

Não que a sazonal modalidade de entretenimento, mais comum a estâncias do hemisfério norte, seja exatamente novidade por estas bandas. Afinal, desde que me entendo por gente, ringues de patinação são montados Brasil afora, mas, por alguma razão que desconheço, meu debut na atividade não foi como de praxe, ou seja, aos 9 anos, num dia em que a mamãe resolveu empenhar uma graninha para fazer compras no shopping desacompanhada, e sim num dos templos sagrados do invernal esporte, a Arena do Central Park, aos 34 anos, pai de dois filhos e com o nervo ciático pinçado. Dado o contexto, o tópico idade pode parecer um detalhe irrelevante, mas não duvidem que esses 25 anos de atraso justificam a própria existência deste post. Por quê? Porque quando se tem 9 anos de idade seu corpo é seu melhor amigo, digo, se alguém te pede uma cambalhota no chão de concreto, você dá sem pensar duas vezes, simples assim. Aliás, você daria em cima de uma tábua cravejada de pregos, ou de um tapete de brasas, porque “receio”, “precaução” e “ruptura total de ligamentos” são termos inexistentes em seu dicionário. Pra deixar barato, digamos que, após os 30, seu corpo não é seu melhor amigo, mas sim a materialização da consciência de que todos nós somos perecíveis.

Então, quando alguém que tem a minha idade se lança a tentar pela primeira vez o equilíbrio sobre uma lâmina que desliza no gelo, é importante ter em mente que a experiência tem muito mais chances de se transformar num festival de tombos, hematomas e bunda gelada do que numa legítima, prazerosa e bem sucedida sessão de patinação. Ciente dos riscos, tendo em mãos o cartão-emergência do seguro viagem, calcei as botas, respirei fundo e fui. “Um último conselho pra quem nunca patinou no gelo?”, perguntei apreensivo ao monitor, posicionado na entrada da pista. “Pense como um cisne”, foi o que ele disse.

Como assim “pense como um cisne?”. Acho que consigo pensar, sei lá, como um pato, um ganso talvez, mas cisne, com certeza não. A sugestão de refletir sobre movimentos e posturas das aves deve ser um truque recorrente para desviar a atenção dos mais medrosos, pois a verdade é que nem me dei conta de que já estava sobre o gelo. Quando isso finalmente aconteceu, agarrei o corrimão, e foram 3 voltas no ringue dessa forma, disputando com os tapados o sagrado direito de segurar-se num ponto de apoio fixo, a bóia atirada ao mar durante naufrágio.

Aos poucos, fui percebendo que a dificuldade da coisa não está em equilibrar-se sobre a lâmina, que tem a espessura de um palito de dente, mas sim assimilar que patinar no gelo não é como andar num chão escorregadio com um sapato estranho, mas sim… pensar como um cisne. Enquanto minha porção animal não se manifestava, invejei as crianças bem pequenas, que patinavam de mãos dadas com seus pais, as mesmas mãos que as suspendiam num possível desequilíbrio, evitando que fossem ao chão. Naquele momento, tudo o que eu mais desejava era que meu pai também estivesse ali, pra me dar uma moral, levar um Gelol, um Emplastro Sabiá, se bem que o mais provável seria que os dois patinando juntos caíssem de maneira cinematográfica.

Uma hora havia se passado e, a essa altura, a escolha a ser feita parecia muito clara; que lembrança eu levaria daquele ringue de patinação? A de ter agido como um pato assustado, que não ousa aventurar-se além do lago artificial do hotel fazenda em que vive ou a de ter tentado ser um cisne, ainda que desajeitado, e experimentar, ainda que apenas por alguns segundos, a verdadeira sensação de flutuar? Resolvi deixar o corrimão para os tapados, o nervo ciático pinçado para as futuras sessões de acupuntura e o receio da ruptura total dos ligamentos para os homens sensatos de 34 anos, porque, agora, eu não era mais um deles. Agora, eu era um cisne. Ampliei as passadas, enverguei o dorso ligeiramente para frente e ganhei velocidade, não mais do que o suficiente para atestar que patinei de fato. E quem se importa se não foi uma grande exibição? Após 2 horas de patinação – uma como pato, outra como cisne – acabei chegando a uma importante conclusão, que pretendo levar comigo pelo resto da vida: o medo de ficar com a bunda gelada faz milagres!

Férias

ter, 08/01/13
por Bruno Medina |

Pois é, meus caros, 2013, para mim, começou assim; duas semaninhas de férias, a primeira em Los Angeles e a segunda em Nova York. Até agora reencontrei um amigo querido, comprei um skate, vi o sol nascer do alto de uma montanha e andei de Montanha-Russa (2 vezes seguidas). Como se pode notar, a programação anda extensa, portanto é provável que eu não seja muito assíduo neste espaço nos próximos dias. Enquanto eu não volto de vez, aí vão alguns instantâneos dos melhores momentos!



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