No Meio do Caminho
– Boa tarde, companheiro. Você se importaria de mover o cavalete do seu candidato um pouco para trás? É porque está atrapalhando aqui a circulação…
– Que circulação?
– Dos pedestres, que estão precisando se espremer na calçada pra passar por esse ponto que você está ocupando, olha aí…
– Entendi. O senhor está irritado com o cavalete… vota em outro candidato, né? Quem é o candidato do senhor?
– Amigo, acho que você não entendeu bem o meu ponto. Em quem eu vou votar não vem ao caso, o que importa é que você está incomodando as pessoas com a sua ‘propaganda’, ou seja lá qual for o nome que vocês dão pra isso.
– O senhor não vai me levar a mal, mas eu não vou sair daqui não, até porque esse é o meu trabalho. Imagina se bate um vento e derruba a placa ou se algum engraçadinho resolve fazer um bigode ou pintar o dente do candidato de preto? Como é que eu fico? Isso aqui está sob minha responsabilidade!
– Olha, apesar de neste momento eu desejar isso mais do que qualquer outra coisa, entenda que eu não estou pedindo para você sair daqui, apenas para recuar um pouco pra trás. Seria possível você fazer isso, nem que seja pelo conforto das pessoas que precisam passar por essa calçada?
– Mas se eu for mais pra trás o pessoal que passa nos carros e nos ônibus não vai conseguir enxergar o cavalete… e se o sujeito que me contratou passar por aqui? Ele não vai gostar nada disso, com certeza.
– Ok, mas você há de convir que esse é um problema seu e dele, né? Nem eu nem nenhuma das milhares de pessoas que transitam por aqui todos os dias podem ser prejudicadas para que esse palhaço aí tenha mais visibilidade.
– Tá bom, tá bom, já percebi que o senhor está chateado. Vamos fazer o seguinte: eu movo minha cadeira para trás, o senhor passa e não se fala mais nisso. Tá bom assim?
– Claro que não tá bom assim! Eu quero que você deixe a calçada livre de vez, não só pra mim, mas para qualquer pessoa que precise passar por aqui!
– Ah, agora eu entendi. O senhor trabalha no TRE, por que não disse logo?
– Amigo, eu não trabalho no TRE, estou apenas exercendo meu papel de cidadão.
– Ah, não mete essa de cidadão… confessa logo aí, você trabalha pra outro candidato e tá querendo roubar meu ponto, é isso?
– Deus, o que mais eu preciso fazer pra te convencer a se mover dois metros para trás?! É simples, você pega sua cadeira, seu cavalete e vai continuar bancando o espantalho do mesmo jeito, só que ali.
– Espantalho? Ah, agora é que eu não me mexo mesmo. O senhor está falando com um profissional, ok? Não comecei nisso ontem não, irmão, eu tenho estrada! Sabe aquele lance de colocar uma garrafa PET cheia de água pendurada num barbante pro cavalete ficar de pé sozinho? Então, fui eu que inventei a técnica. Por conta disso, só hoje eu tô tomando conta de 5 peças, em esquema de rodízio. E no mais, tem outra: o direito que o senhor tem de passar por esse pedaço da calçada é o mesmo que eu tenho de ficar exatamente onde estou. Não se esqueça que vivemos numa de-mo-cra-ci-a.
– Democracia?! Olha aqui o que eu penso da sua democracia – esbravejou o cidadão, rasgando com um chute a foto do candidato e arrancando os pedaços que restavam com as mãos – pronto, não tem mais cavalete; agora você é só um maluco sentado numa cadeira de praia no meio da calçada, atrapalhando o trânsito dos pedestres. O que você me diz disso, hã?
– Que o senhor certamente tem um outro candidato…
Eu tenho vontade de destruir todos os cavaletes mesmo os de candidatos que eu não tenho nada contra… irrita , é tanto cavalete na rua.. suhauhsa…
Lamentável. Uma sujeira que fica a nossa cidade e esses “trabalhadores” se sentem os donos da verdade e da rua tbm. Dá até graça.
Bruno, não sei se presenciou a cena que relatou, ou se inventou o enredo, mas fica demonstrado um sinal muito comum da brasilidade: se alguém cobra uma atitude mais humana de um dos tantos zumbis hipnotizados com que se tromba todo dia, levanta as mais variadas suspeitas “vilãs”. Se o cara estava cobrando mais espaço na calçada para que indistintamente as pessoas pudessem passar com menos aperto, acabou taxado de faccioso e de fiscal do TRE pelo cabo eleitoral. Não passa seriamente pela cabeça do indivíduo que esse chamar a atenção tem finalidade desprendida, afinal é um gesto cidadão e os mais despertos tendem a cobrar atitudes de estranhos – mas em nome de um bairro melhor, de uma a cidade melhor, de um país melhor, de um mundo melhor. É uma forma de importar-se com o coletivo, com o todo, enquanto que o cabo eleitoral roda e roda em torno do próprio umbigo. Interessante que a “democracia” é, não raro, evocada para a defesa dos comportamentos mais egoístas… Bela crônica! Continue!
Mto bom. Não sei se eh isso q aconteceria se eu fosse pedir pra ele sair da calçada, mas imagino exatamente essa conversa.
HAHAHA tá triste a situação.
e digo mais: não só os cavaletes, mas também o pessoal que fica panfletando.
meu cunhado, que vive em Porto Alegre, relatou uma história de panfleteiro que não tem o mínimo respeito pelos transeuntes
bha tem que falar sobre a banda calypso
eu quero ver a joelma nos programas ela e muiiiiitooo! linda gata maravilhosa no bom sentido kkkkk pq ela e do chimbinha