1 Bilhão de Possíveis Enredos
Imagine um dia acordar e não ter a mais vaga ideia de quem você é. Abrir os olhos e se ver numa casa estranha, cercado de pessoas desconhecidas, sem ter uma pista sequer de como foi parar ali. O enredo de filme aconteceu na vida real de Mayank Sharma, um indiano de 29 anos que contraiu meningite tubercular, doença que ao agravar-se afetou seus sistema nervoso central, ocasionando a perda total de memória. Da noite para o dia – literalmente – , suas experiências e aprendizados tornaram-se inacessíveis; de repente, era como se tudo que ele viu e sentiu ao longo de quase 30 anos estivesse confinado no fundo de um baú que não se sabe qual chave abre.
Assim que tornou-se apto a operar um computador, o rapaz começou a procurar na web indícios de seu passado, na expectativa de que a pesquisa lhe indicasse o caminho a ser seguido para resgatar a pessoa que costumava ser. Foi então que sua busca o conduziu ao próprio perfil de Facebook e que, de maneira intuitiva, apoderou-se da por vezes inconveniente ferramenta “Pessoas que Você Talvez Conheça” de um jeito que ninguém havia feito até então. A chave para destrancar seu baú de vivências materializou-se a partir das sugestões do site; bastava pedir a quem surgisse em sua tela para compartilhar vídeos, relatos e fotos que o envolvessem, e dessa forma, Mayank foi construindo peça após peça o enorme mosaico de sua existência, sobre o qual atualmente se debruça.
O emocionante testemunho corresponde ao episódio inaugural do Facebook Stories, projeto lançado na última quinta-feira por Mark Zuckerberg, com o intuito de reunir numa mesma página casos extraordinários protagonizados pelos frequentadores da rede. A semente desta iniciativa, como alguns podem se recordar, foi plantada há mais ou menos 2 anos, quando, no ensejo de celebrar os 500 milhões de usuários inscritos, o site solicitou o envio de boas histórias que ilustrassem seus possíveis usos. Não surpreende, no entanto, que a ideia tenha demorado todo esse tempo para sair da gaveta, coincidentemente no momento em que o Facebook atravessa sua pior crise de identidade.
Desde que abriu o capital da empresa aos investidores, em maio, Mark e sua trupe amargam sucessivas derrotas, sobretudo pelo fato do negócio dos sonhos de outrora – antes protegido por uma indevassável cortina de mistérios – ter agora que se escancarar frente ao impiedoso humor do mercado. Afinal, são as regras do jogo. Os informes detalhados que Mark precisa endereçar aos seus milhares de sócios desnudam informações estratégicas e até então sigilosas, como, por exemplo, a receita obtida através de publicidade (que chegou a pôr em xeque a relação custo x benefício dos anúncios na rede) ou o montante de perfis inativos ou falsos (cerca de 83 milhões, segundo dados divulgados semana passada) existentes.
Frente ao contexto desfavorável, o Facebook Stories adquire uma missão adicional de transmitir aos que duvidam de seu potencial um importante recado: o de que a maior rede social do planeta pode ter múltiplos usos, alguns destes ainda não completamente revelados. Mas o que é o Facebook além de um poderoso hub de comunicação a mercê de centenas de milhões de usuários? Seu valor como instrumento de mobilização ou provedor de transformações sociais, portanto, é proporcional à capacidade daqueles que o utilizam de promover tais ações.
Em suma, o Facebook é tão bom e tão relevante quanto o são as pessoas que o frequentam.
Resta saber se a empreitada é um tiro isolado ou o primeiro passo de uma nova jornada que se inicia, voltada a atribuir outras funções e significados a mais popular ferramenta social que já existiu. E quem duvidaria de que Zuckerberg pode vir a surpreender todo mundo? De novo.
que interessante a história do Mayank Sharma…..
história de filme mesmo…
Muito bom texto Bruno! Acredito sim que, enquanto nós nos questionamos o quão “Poderoso” é o Facebook, “eles” já estão preparados para nos surpreender! Novamente!
Com certeza, Zuckerberg pode nos impressionar e surpreender, o que afinal é seu dom.
Eu não duvido. O Facebook desde a sua criação, esteve nesse conflíto de vantagens x desvantagens, e o Zuckerberg continua na mesma: liderando, solucionando e inovando.
Não sou nenhum fã do cara, mas admiro ele manter, por todo esse tempo, esse projeto tão pessoal e tão perto, mesmo depois de ter se tornado praticamente uma empresa multi-nacional.
Não sei que rumo Facebook vai tomar. Tem muita coisa boa e ruim acontecendo, com essa rede social, e dentro dela. Mas eu tô curioso pra ver.
Alguns blogs desse site eu não me preocupo em ler, alguns não me interessam, mas você até que tem o que dizer, só não sabe como. Vc não escreve muito bem.
Bruno, você sempre traz assuntos instigantes em seus artigos, diferente da maioria dos formadores de opinião. E a qualidade de seus textos reside no dinamismo que imprime aos relatos, nos quais estão presentes os aspectos que ninguém mais viu e também o senso de humor. A maior parte dos temas que aborda não é convencional, portanto, nada mais lógico do que redigi-los de forma não-convencional. Parabéns pelos seus talentos, tanto na escrita quanto na música. Quanto ao Facebook, tirando casos excepcionais (minoria) como o de Mayank Sharma, a rede social só é explorada no que tem de fútil. É um entretenimento de baixa qualidade e, por isso, tem tudo para continuar sendo procurado pelos ociosos e por quem deseja vender algo.
Que escola literária você cursou, Tati? Indica pra gente!
Facebook é uma rede social de sucesso, afirmação inegável. Só não consigo entender o motivo pelo qual enaltecem tanto seu criador, uma vez que, o facebook nada mais é do que o orkut renovado e, por consequência, surpreenderia se conseguisse ser pior! Gostaria que a rede pudesse ser melhor explorada pelos usuários: já li sobre um rapaz que encontrou o pai biológico (eua), um morador de rua que encontrou seus familiares (brasil), entre outras históricas fantásticas quanto essa do Mayank Sharma. Me incomodou, porém, uma reportagem com o Mark Zuckerberg, na qual o mesmo comenta que brasileiros não sabem usar a ferramenta e que estariam estragando-a! Sou usuária da ferramenta, pois é uma fonte de notícias globais, além de conseguir unir amigos antigos, mas não por ser uma \"grande\" criação de uso popular! Apesar dos desgostos, gostei da idéia do Facebook Stories! Pra uma grande ferramenta ser gerenciada, precisa mesmo de grandes funcionários na área de marketing! Mais um ponto para o \"grande\" Zuckerberg!