Pra você e eu e todo mundo cantar junto

ter, 31/07/12
por Bruno Medina |

Sem sombra de dúvidas, o maior feito para qualquer compositor que se preze é um dia poder se orgulhar em dizer que uma música sua está na “boca do povo”. Não é para menos, afinal a caricata expressão traduz de forma incontestável o verdadeiro sucesso, e isto, meus amigos, não é algo que se conquista a partir dos ensinamentos de nenhuma cartilha. Compor uma música realmente popular está longe de ser uma ciência, sendo inclusive notório na história da cultura pop o fato de que qualquer tentativa de reproduzir a dita “fórmula do sucesso” quase sempre está fadada ao fracasso; segundo alguns cientistas gregos, no entanto, isso pode estar preste a mudar. No último dia 27, durante a Conferência Internacional de Percepção e Cognição Musical, realizada em Thessaloniki, na Grécia, foi apresentado um curioso estudo, que transforma a criação de uma daquelas músicas que todo mundo canta junto em algo semelhante a uma receita de bolo.

O trabalho consistiu em observar, ao longo de 30 noites consecutivas, o comportamento de frequentadores de pubs em 5 cidades inglesas; toda vez que a pista bombava e uma música era entoada aos brados pelos frequentadores locais os cientistas a catalogavam, procurando identificar similaridades desta com outras que anteriormente haviam despertado o mesmo tipo de reação. Ao todo, foram mais de mil episódios de karaokê generalizado, bracinhos para cima e camisetas girando no ar. De volta à universidade – e recuperados do efeito do álcool, suponho – os cientistas concluíram que as músicas que mais incitam vontade de cantar são as conduzidas por intérpretes masculinos de voz grave, clara e com forte emissão. Tais características reunidas evocariam uma conexão “neotribal” entre aqueles que as ouvem, determinando que se unam de maneira involuntária num alto e potente coro. A mesma regra não se aplicaria a vocalistas do sexo feminino, uma vez que alguns homens não se sentem confortáveis ao reproduzir versos proferidos por mulheres. É entre grupos de solteiros e nos finais de semana que evidenciam-se as mais expressivas cantorias e, ainda segundo o estudo, as dez músicas mais propícias para se cantar junto seriam as seguintes:

 

1. We are the Champions – Queen

2. Y.M.C.A – The Village People

3. Fat Lip – Sum 41

4. The Final Countdown – Europe

5. Monster – The Automatic

6. Ruby -The Kaiser Chiefs

7. I’m Always Here – Jimi Jamison

8. Brown Eyed Girl – Van Morrison

9. Teenage Dirtbag -Wheatus

10. Livin’ on a Prayer – Bon Jovi

 

Mas e se o estudo fosse realizado também no Brasil, qual seria o resultado? Pensei um tanto e cheguei a essa lista aqui:

 

1- O que é o que é – Gonzaguinha

2- Vou Festejar – Jorge Aragão

3-  País Tropical – Jorge Ben Jor

4-  Não Quero Dinheiro, Só Quero Amar – Tim Maia

5- Pais e Filhos – Legião Urbana

6- Deixa a Vida me Levar – Zeca Pagodinho

7- Rap da Felicidade – Cidinho e Doca

8- Apesar de Você – Chico Buarque

9- É o Amor – Zezé de Camargo e Luciano

10- Jesus Cristo – Roberto Carlos

 

Discorda? Então mande a sua seleção:

O Estrangeiro

seg, 23/07/12
por Bruno Medina |

Eu não assisto “Avenida Brasil”, pronto, falei. A bem da verdade, acreditem vocês ou não, até pouco antes de começar a escrever esse texto, tudo o que eu sabia sobre a festejada trama de João Emanuel Carneiro poderia se resumir ao fato desta ser estrelada por Adriana Esteves (rica e má), Murilo Benício (ex-jogador de futebol, casado com ela) e Débora Falabella (empregada do casal que, por alguma razão que não sei ao certo, esconde sua verdadeira identidade). Mas antes que o leitor seja levado a concluir que sou daquele tipo de sujeito que na mesa de um bar se orgulha por não assistir novelas – supondo que a declaração o posiciona degraus acima de quem as assiste num pretenso ranking intelectual – asseguro não ser esse o meu caso. Aliás, muito pelo contrário, foram muitas, mas muitas mesmo, as novelas que já acompanhei em minha vida, e admitir isso não me causa constrangimento algum. Se não assisto “Avenida Brasil”, como fazem quase todas as noites milhões de brasileiros, é apenas porque sou vítima da doce tirania dos meus filhos, que, no horário em que a obra é exibida, determinam que a TV esteja sintonizada num canal exclusivamente dedicado aos desenhos animados.

A despeito de estar perdendo o que parece ser uma grande novela, a conjuntura ainda me submete à inusitada condição de estrangeiro em minha própria terra; seja na fila do pão, na sala de espera do dentista, no almoço de domingo em família ou mesmo no Facebook, onde quer que eu me encontre, lá está alguma referência à história ou aos seus personagens que não consigo captar: “Fala aí, Brunão, se a Nina faria um nhoque como esse?!” ou “hoje fiquei me sentindo feito o Tufão” são alguns exemplos reais de diálogos em que preferi sorrir amarelo a dar provas consensuais da minha completa ignorância sobre o assunto. Isso sem mencionar quando as pessoas em volta decidem debater o capítulo da noite anterior, e eu me sinto como um búlgaro que tem em mãos um cavaquinho numa roda de samba. Esse estado de absoluta exclusão me transformou em alvo preferencial do que poderia ser denominado como bullying novelístico, que se dá quando parentes e amigos me humilham em público ao fazer perguntas sobre o enredo da novela para as quais sabem que não tenho resposta, visando apenas me expor ao ridículo.

Não deixa de ser engraçado notar que, como ocorre com quase tudo que obtém muito êxito em nosso país, não se declarar abertamente admirador de “Avenida Brasil” quase sempre é interpretado como um ato de rejeição a tudo o que esta representa. Assim sendo, para muita gente, devo ser o cara que torce o nariz para a novela que melhor retrata os conflitos desta nova sociedade brasileira, de que agora tanto se fala. Tão pouco espero gozar de qualquer prestígio entre o grupo de pessoas (do qual acredito fazerem parte todos estes que me torturam) que, apesar de não ter aparente afinidade com os protagonistas, considera cult gostar da trama, segundo diz-se por aí, concebida para atingir em cheio o “gosto popular”, ou pelo menos o que na atualidade se entende pela expressão. Desconfio bastante desta teoria, afinal o que nos prende a uma boa história é a mera identificação com seus personagens ou a maneira como ela é contada?

Aqui, do alto do meu exílio involuntário, continuarei achando que “Avenida Brasil” é um sucesso – não só entre a dita classe C como em todas as demais – porque alcançou a excelência que em qualquer outra época configuraria uma boa novela, critério esse que não parece estar sujeito a alterações, apesar de todas as transformações sociais pelas quais o país passou recentemente. O que talvez tenha mudado, sim, é uma maneira de pensar, resumida décadas atrás na célebre e polêmica declaração de Joãozinho Trinta ao defender a exuberância de seus desfiles, e que coincide com a imagem que muitos brasileiros tinham de si mesmos: “quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta de luxo”. Se “Avenida Brasil” foi escrita para fisgar o povão ou fazer rir a elite, bom, são vocês que vão dizer, porque, na minha casa mesmo, toda noite é dia de desenho animado.

Fondue-se!

seg, 16/07/12
por Bruno Medina |

Revirando os armários da cozinha no fim de semana passado em busca de uma assadeira, qual não foi a minha surpresa ao encontrar no canto dos utensílios inúteis uma simpática panelinha de fondue? Agachado no chão, de frente para aquele emaranhado de travessas, potes plásticos, panelas e afins, passei uns bons segundos tentando me recordar de um dia ter ganhado ou comprado esse utensílio, que, não se sabe bem como, tornou-se símbolo inquestionável de requinte e sofisticação à mesa durante os meses de inverno. Imagino que deve ter sido no mínimo pitoresca a jornada que catapultou dos Alpes Suíços para os lares brasileiros as indefectíveis caçarolas onde se banham, em queijo ou chocolate fundidos, pedaços de pães e frutas. A despeito dos detalhes históricos, o fato é que – assim como os ovos de codorna mergulhados em molho rose e o Arroz à Piamontese – o fondue conquistou seu espaço no gosto popular, portanto, se na sua casa não tem uma dessas panelinhas, das duas uma: ou você ainda é solteiro ou optou pela máquina de waffle na lista de presentes de casamento.

Sim, porque, de modo geral, a sociedade acredita que casais, quando estão com frio e com fome, sentem um impulso incontrolável de fazer fondue. Eu mesmo não apostaria na intrínseca relação entre o ato de amar e o desejo de mergulhar espetinhos num creme escaldante, mas suponho que muita gente boa pense assim, afinal alguém há de ser responsabilizado pela perpetuação do ritual; e por mais rápido que eu tenha tentado ser, não consegui evitar que minha mulher testemunhasse o encontro com o item bissexto, cena que motivou a ideia de chamar uns amigos, naquela noite ainda, para adivinhem o que? Minha contraoferta foi uma pizza, mas é óbvio que não colou, então lá fui eu para o supermercado em busca dos itens necessários. “Assim como em um bom churrasco, o segredo para fazer um fondue bem sucedido é o correto controle da chama”; a frase constava num passo a passo que encontrei na internet, e que me fez refletir sobre o tipo de idiota que precisaria de uma dica dessas. Ora, dentro do queimador existe um feltro, é só tacar álcool nele que a mágica acontece, qual o mistério? Passo seguinte: preparar a mistura. O segredo do sabor, como se sabe, está no dente de alho esfregado no fundo da panela, e na escolha do vinho branco que rega a receita. Percebi que não havia uma garrafa sequer na despensa mais ou menos no momento em que os convidados chegaram. Sob o risco de denunciar minha própria imperícia, decidi utilizar vinho tinto mesmo, só um pouquinho, pra dar aquele realce.

Acontece que eu errei na mão, e obtive como efeito um queijo cor de violeta, cuja aparência remetia a um daqueles caramelos de uva, nada semelhante ao que pretendiamos comer. Como disse sabiamente o avô de um amigo ao entrar de carro na contramão, “Tá errado, continua no teu erro, porque, ao tentar consertar, vai ser pior”. Dadas as circunstâncias, o melhor que arrumei foi chegar na sala anunciando um fondue um pouco “diferente”, uma receita que eu havia visto no GNT, proveniente da Suíça Italiana. Para piorar, escolhi o pão errado, mais macio, que se desfazia dentro da massa roxa a cada vez que um espetinho descia. Os amigos, coitados, se esmeravam em desenvolver técnicas para não perder suas lascas de pão, enquanto eu recebia aquele olhar de reprovação da patroa. Melhor partir logo para o chocolate, pensei.

Passa ma água na panela, taca mais uma dose de álcool no feltro (pra manter a pressão do maçarico), e lá fomos nós para o segundo round da noite. Quando atirei o fósforo no queimador, juro, a labareda subiu uns dois palmos, assuntando a namorada do meu amigo, que chegou a dar um gritinho e soltar o espeto no chão. Nessa hora minha mulher até abaixou a cabeça no tampo da mesa. Percebendo que a situação saira totalmente do controle, fechei o máximo possível a saída do queimador, mas ainda assim não consegui evitar que o chocolate começasse a fritar. Enquanto tentava domesticar as chamas em vão, os demais carregavam seus garfos com 3, 4 frutas de uma só vez, na expectativa de comer um pouco antes que o inevitável acontecesse: cheiro de queimado, panelinha chamuscada, chocolate com gosto de carvão e todo mundo com fome. Felizmente ainda era tempo de pedir uma pizza. A fatídica noite serviu para que uma lição fosse aprendida, e culminou numa providencial atitude: decidi mudar a panelinha de fondue de lugar na casa – do fundo do armário da cozinha para a lata de lixo.

De Quanto Dinheiro Você Precisa Para Ser Feliz?

seg, 09/07/12
por Bruno Medina |

“Dinheiro não traz felicidade”: atire a primeira pedra quem, apesar de endossar a afirmação na teoria, pelo menos uma vez na vida – ainda que secretamente e por breves instantes – não a contestou na prática. Afinal, sabe como é, trazer mesmo, assim, a gente até sabe que não traz, mas um reajuste no contracheque ou uma quadra na Loto, que mal podem fazer, certo? Há quem discorde. Mas deixando a polêmica um pouco de lado, seria muita loucura minha perguntar quanto dinheiro você, que me lê agora, precisaria para ser feliz? Bom, independente de concordar ou não com a razoabilidade da questão formulada, saiba que ela foi o ponto de partida para uma pesquisa científica realizada pela renomada Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, sobre a hipótese de haver uma relação mensurável entre dinheiro e felicidade.

Contradizendo o dito popular, o estudo aplicado a meio milhão de americanos surpreendentemente revelou que de fato observam-se melhores níveis de humor entre aqueles que ganham mais de U$75.000 anuais. Entretanto, estes seriam apenas 9% mais felizes do que os que recebem um terço deste valor, e a diferença percentual tende a diminuir a medida que o montante financeiro aumenta. Ainda segundo a matéria recentemente publicada sobre o tema no New York Times, os dados deste trabalho complementam pesquisas anteriores, comprovando que quanto mais dinheiro uma pessoa gastar adquirindo bens para si mesma, menos prazer terá ao usufruir deles.

Uma experiência simples e capaz de confirmar a tese pode ser realizada pelo leitor: vá até a geladeira e pegue uma lata de refrigerante, dê o primeiro gole. Agora compare esta sensação magnífica de borbulhante refrescância com a que se obtém nos 39 goles restantes; não é nem de longe a mesma coisa, né? Isso acontece porque nossos cérebros se acostumam com rapidez à repetição do prazer, impulsionando-nos rumo à incessante busca por este mesmo sentimento sempre. Estaríamos então fadados a mendigar gotas de satisfação ao longo de nossa existência? Se não, como interromper este vicioso ciclo?? Fácil, basta não utilizar o dinheiro em benefício próprio. Acontece que, na esteira do estudo mencionado, foi realizado um outro, ainda maior, em que os pesquisadores comparavam a felicidade sentida por alguém que recebia um envelope contendo U$20 com a de quem era contemplado com igual valor, mas sob a condição de empregá-lo na compra de um presente para outra pessoa qualquer. Seja na Índia ou no Canadá, a conclusão inquestionável a que se chegou foi a de que gastar dinheiro com terceiros é muito mais recompensante do que com nós mesmos.

Portanto, no que tange à felicidade, mais importante do que a quantidade de dinheiro que temos no banco é a maneira como o gastamos. Ao que parece, está provado que, neste caso, menos pode ser mais. É como diz uma célebre frase em inglês, “The banquet is in the first bite”, ou, em bom português, “O banquete está na primeira mordida”.

A Prova do Crime

seg, 02/07/12
por Bruno Medina |

O leitor há de concordar que na vida poucas coisas conseguem ser mais desmoralizantes do que ser flagrado com um pedaço de comida entre os dentes. Interessante, no entanto, é observar o quão paradoxal podem ser os códigos de conduta aos quais estamos submetidos, uma vez que desde pequenos nos ensinam a desenvolver verdadeira ojeriza por algo relativamente provável de acontecer, visto que todos os humanos de que se tem conhecimento até hoje utilizavam seus dentes para triturar alimentos durante as refeições. Mal comparando, é como se de repente fosse exigido dos mecânicos terem mãos e macacões sem nem ao menos um traço de graxa ou óleo durante o exercício de seu ofício, mas como fazer um omelete sem quebrar os ovos?

É o que todos nós precisamos descobrir cada vez que nos propomos a mastigar o que quer que seja, mobilizados pela obsessão de não deixar vestígios perceptíveis do processo tão essencial à sobrevivência, como se o ato de comer em si fosse indevido ou inadequado. Aí está, meus amigos, a origem desta terrível paranóia coletiva que assola nossa sociedade, e que, após algumas garfadas, sempre nos leva a indagar – até aos desconhecidos – se temos algo preso entre os dentes. O engraçado é que, a título de evitar esse indizível vexame, o mesmo código considera aceitável a nada discreta prática de cavucar as gengivas em público com um palito, contanto que a “operação” esteja encoberta pelas mãos sobrepostas em concha. Bom, se o pedacinho de alface havia passado despercebido, é certo que a partir deste instante não mais restarão dúvidas no recinto sobre quem tem algo a esconder.

Não se pode discordar de que tamanha preocupação é justificada, afinal, aquele que por descuido deixa à mostra resíduos de sua última refeição é digno apenas de dois tipos de reação: um abraço de compaixão ou um chute na bunda, de desprezo. Chego inclusive a desconfiar de que existe algum mecanismo cerebral (ainda não mapeado pela ciência) responsável por colocar em xeque qualquer palavra ou atitude proveniente de alguém que exiba restos de comida enquanto fala. Sim, porque imagine se haveria alguma chance de sucesso, por exemplo, para o iPhone, se, no momento de apresentar ao mundo sua revolucionária invenção, Steve Jobs tivesse entre o canino e o incisivo uma tripa de broto de bambu? Pior, que país seria este se, ao declarar nossa independência, Dom Pedro I exibisse uma generosa casca de feijão sobre o molar superior direito? O comentário implícito em ambos os casos seria, “como levar a sério um sujeito que não tem competência sequer para manter a assepsia da própria boca?

Agora me dei conta de que acaba de ser desvendando um eficiente recurso para relativizar nossa postura em circunstâncias que, por alguma razão, nos intimidam; a fim de ser tomado pela confiança necessária e reverter a condição desfavorável, basta imaginar que a outra pessoa tem um pedaço de comida entre os dentes. É batata: entrevista de emprego, sentiu que o futuro chefe vai notar que seu inglês está mais pra básico do que pra intermediário, taca no dente dele uma couve imaginária e você vai se sentir confortável pra conversar até em russo. O raciocínio ainda vale para o ambiente escolar. Esporro magistral da professora porque te pegou colando na prova? Casquinha de milho virtual no dente dela e vão brotar argumentos suficientes para convencê-la de que quem merece uma suspensão é ela, e não você. Pra terminar, bateu por trás no carro do valentão e está com medo de apanhar? Lasca de manga no dente dele e você vai ver como, além de arcar com o prejuízo, o cara ainda não te leva em casa.

Então, da próxima vez que sentir vontade de perguntar a alguém se tem algo nos seus dentes, melhor deixar o abraço preparado. Por precaução.



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