Esta semana resolvi propor algo diferente aqui: dessa vez, você, leitor assíduo do blog, não encontrará neste espaço, como de costume, um post escrito por mim, mas sim um que será construído ao poucos, por vocês mesmos. Como assim?? Explico: ao longo dos próximos 7 dias, selecionarei para responder diariamente 3 perguntas que vocês me enviarão, relativas à turnê e aos 15 anos do Los Hermanos.
A iniciativa funcionará como uma espécie de aquecimento para os shows, e coincide com o início do período de ensaios para a banda, que se estenderá até o dia 20, data da primeira apresentação, em Recife. As perguntas devem ser enviadas para [email protected] e serão publicadas – dando crédito ao respectivo autor – todos os dias, a medida em que forem chegando. Se a matemática não me falha, ao final da empreitada teremos publicada uma entrevista com 21 perguntas, nada mal, né? Trata-se, portanto, da grande chance para esclarecer aquela sua curiosidade antiga, ou de entender, por exemplo, porquê todos nós usamos barba (então essa já não vale mais, ok?). 123, valendo!
21) Entendo que vocês necessitaram de um tempo até mesmo para descansar, pois conforme li, até 2006 eram muitas turnês e os cds que saíam um atrás do outro. Então, após esses anos em recesso e após essa turnê, há alguma previsão para a “volta” da banda ou os fãs deverão se contentar apenas com esses shows? (Carina Peres)
Carina, nesse momento, não existe nenhuma previsão para a volta definitiva da banda. O combinado que temos entre nós é o de fazer esses shows somente e, depois, a princípio, cada um volta a se dedicar à atividade que vinha realizando antes. Entendo a curiosidade dos fãs a esse respeito, mas vocês podem imaginar que retomar, digamos assim, “a carreira” é uma decisão muito mais complexa do que se reunir para fazer algumas apresentações. Ao longo dos últimos 5 anos, cada um dos integrantes da banda se envolveu com atividades distintas, criou vínculos em outros contextos, e tudo isso também precisa ser levado em consideração. Atualmente, tenho pensado muito no significado dessa expressão “voltar”, porque, sob essa ótica, o que representaria uma turnê de 24 shows? Há artistas por aí, embora não seja muito comum no Brasil, que lançam um disco e fazem 30, 40 apresentações apenas ao longo de 2, 3 anos. Independente do que vá ocorrer daqui pra frente, não enxergo mais o Los Hermanos como aquela banda que fazia 10, 12 shows ininterruptamente durante 18 ou 24 meses. Acho que esta foi uma fase de nossa trajetória, e que dificilmente irá voltar. Isso não impede, no entanto, que a banda tenha algum tipo de rotina, ainda que espaçada. Nesse exato momento estamos experimentando essa opção. Na falta de certezas quanto ao futuro – se é que alguém efetivamente julga pensar tê-las- só nos resta a todos aproveitar ao máximo esses shows e esperar que venha o que estiver por vir!
20) Bruno, as músicas do Los Hermanos guardam, cada uma delas, um significado especial em minha vida e acredito que na vida de muitos. Como é para vocês saberem que influenciaram de uma maneira ou de outra a vida das pessoas? Como é imaginar que a sua música toca tão profundamente as pessoas (como é o meu caso)? (Katiane Lanuza)
É maravilhoso! Acho que essa é a maior recompensa que um artista pode receber. No momento da composição é impossível tentar prever que reação as pessoas terão a um disco, portanto é incrível constatar que aquelas músicas criadas com tanto comprometimento e carinho e que, ao longo de meses, passaram a significar tanto pra nós, tocam algumas pessoas e que, de certa forma, passam a fazer parte de suas vidas. Nesses 15 anos tivemos a sorte de poder receber incontáveis provas da relevância do trabalho que desenvolvemos e isso, claro, nos dá a sensação de dever cumprido. Penso que a relação dos fãs com nosso repertório é uma espécie de patrimônio, uma conquista que nada consegue ameaçar. É sempre muito gratificante poder subir num palco e se deparar com uma multidão de 7 ou 10 mil desconhecidos, que durante quase duas horas cantam e dançam juntos e compartilham um momento único de satisfação. Poder estar a frente disso tudo é muito intenso e especial, e é por isso mesmo que, apesar de não lançarmos discos há algum tempo, nestes últimos anos, não conseguimos ficar muito tempo distante do nosso público.
19) Analisando o caso de algumas pessoas que passaram a gostar da banda após o hiato, percebi que a maioria é formada de calouros nas universidades. Como vocês veem essa relação da mensagem transmitida pela banda, que exige um pouco mais de atenção nas interpretações, com esse mundo universitário, no qual a banda começou, e hoje se resignifica a cada leva de alunos aprovados no vestibular? Costumo brincar, então, que Los Hermanos é matéria “obrigatória” em qualquer curso de universidade. rsrs (Victor Santos)
Victor, acho que isso não acontece à toa; possivelmente a identificação do público universitário com as nossas músicas se relaciona à idade que estas pessoas têm, e à fase que estão atravessando em suas vidas. Nunca parei para analisar isso, mas imagino que as temáticas de boa parte de nossas músicas aborde conflitos inerentes a quem tem vinte e poucos anos, porque essa era a idade que tínhamos quando estas foram compostas. Apesar dessa correspondência, me parece que uma canção pode ser apreciada ainda que fora de seu contexto, bastando para tal que seja feita com sinceridade e criatividade. O leque de fãs da banda se estende dos 8 aos 80 anos, muito embora os muito novos e os muito velhos não costumem dar as caras em nossos shows. Talvez essa sua impressão tenha a ver com o fato de que o público universitário seja justamente o mais frequente nas apresentações que fazemos, até porque, depois de uma certa idade (e digo isso por experiência própria) é um pouco mais difícil topar ficar de pé ou pulando por horas apertado no meio da multidão.
18) Ao decidirem pelo hiato da banda, muita gente acreditou que o LH não sobreviveria, que a musica iria sumir com o tempo, entretanto, isso não ocorreu, muito pelo contrario, o LH cresceu, e virou um refugio para quem sofre com a banalidade musical que vivemos hoje, principalmente a falta de sinceridade na música (sinceridade musical é a maior qualidade do LH) , para alguns até uma “religião” semelhante aos que torcedores de futebol sentem com relação ao seus clubes(eu mesmo discuto com as pessoas quanto falam mal de LH…rs).Tomando como base que “você é responsável pelo que cativas”.Parar o LH não é de certa forma “fugir” de uma gigante responsabilidade?Como vocês se sentem ao verem tantos órfãos dos LH? (Sidnei de Souza)
Sidnei, essa é realmente uma situação complicada. Apesar de não sabermos exatamente como isso aconteceu, temos plena consciência da importância que nossas músicas assumiram para uma parte dos fãs, e como o hiato da banda deve deixá-los insatisfeitos. Na verdade, como já comentei anteriormente durante a entrevista, a decisão de congelar nossa carreira no auge não teve uma, mas sim diversas razões para se dar, e uma delas, talvez a mais importante, tem justamente a ver com os fãs. Quando terminamos a turnê do 4, estávamos muito cansados desses 10 anos ininterruptos de shows e gravações. Naquele momento o próximo passo natural seria gravar um quinto disco, mas decidimos que não iríamos tomar esse caminho, sob o risco de macular a qualidade de nossos discos e de nossa própria carreira, além de oferecer aos fãs um trabalho que não nasceria de uma inspiração espontânea. O tempo passou, cada um da banda seguiu sua própria trilha e escolheu se submeter a outras experiências em busca de novos olhares, que se refletissem na música que fazíamos. Entre frustrar os fãs pela ausência de músicas inéditas ou pela má qualidade de um disco prematuro, optamos pela primeira. Isso foi o que nossos corações nos mandaram fazer. Ao olhar para trás agora e sentir orgulho de tudo o que já lançamos, percebo que fizemos a escolha certa.
17) Sabe-se que “Marcelo Camelo” ou “Rodrigo Amarante” assinam as músicas da banda. Porém, não é possível que ninguém mais dê palpites sobre acordes, melodias, solos, arranjos, letras… Mesmo entre eles (Marcelo e Rodrigo), não é possível que um não aconselhe algum caminho da “canção assinada” do outro. Então, como funciona este aspecto autoral das canções da banda? (Pedro Meinberg)
Pedro, você tem razão, seria impossível, ao menos para mim, não participar, de alguma forma, das composições da banda. Para você entender, no Los Hermanos, o processo de surgimento de uma música se dá assim: o Marcelo e o Rodrigo chegam a pré-produção com uma canção estruturada, ou seja, acordes, letras (as vezes não) e forma definida. A partir daí, a banda começa a tocar junta aquele esboço, sendo que cada um fica muito atento ao que o outro está fazendo e ao que a música que vai surgindo daquele encontro demanda. Aos poucos, um arranjo vai se impondo e, por vezes, isso significa suprimir uma boa ideia, porque não combina com o rumo que a música vai assumindo. Se alguém sentir que deve fazer um solo, faz, e os outros dizem se gostam ou não. De certa forma, a banda conversa abertamente sobre todas as partes da música, de versos a acordes, e as diferenças vão sendo lapidadas, até todo mundo ficar satisfeito. Se isso não acontece, a música é descartada e parte-se para outra, por vezes até uma nova composição. Acredito que, muito embora haja um papel bem definido exercido pelos dois compositores, o Los Hermanos é uma banda bastante democrática no sentido das composições. Acho que essa sonoridade tão singular que conquistamos vem justo disso, da capacidade que desenvolvemos de nos deixar permear pelas influências particulares de cada um dos integrantes.
16) Bruno, pelo Brasil afora existem várias bandas covers de Los Hermanos! Inclusive aqui em Londrina-PR, tem a Matitaperê, famosíssima e, mesmo com shows pelo menos uma vez a cada 2 meses, sempre lota! Eu queria se vocês já tiveram contato com alguma dessas bandas e como vocês se sentem em relação a isso. (Carolina Esteves)
Não, Carolina, não me lembro de ter tido contato com nenhuma banda cover especificamente. Até me lembro de uma que nos entregou um DVD e era impressionante como os caras levaram a coisa a sério, digo, os arranjos e timbres eram muito parecidos com os originais. As vezes o que acontece é que simplesmente não ficamos sabendo da existência dessas bandas, por falta de comunicação mesmo. Vez ou outra alguém nos diz, como você, “olha, lá na cidade tal têm uns caras que imitam vocês e estão ganhando a maior grana, casa cheia toda vez que tocam”. Na verdade não entendo uma banda cover como uma imitação, mas sim como uma homenagem feita por pessoas que curtem muito o trabalho que desenvolvemos ao longo dos anos. Isso me deixa bastante satisfeito e orgulhoso, inclusive ao saber que tem gente fazendo seu pezinho de meia através das nossas músicas! Nunca entenderíamos isso como uma afronta ou competição…
15) A música Anna Julia abriu as portas do sucesso para Los Hermanos. Em uma determinada entrevista com o Amarante, um repórter indagou insistentemente sobre o fato desta música estar vinculada a imagem da banda. Como é lidar com o fato de que muitas pessoas, ao falar de Los Hermanos, ainda hoje associam a banda a somente esta música e simultaneamente lidar com a imensidade do público apaixonado por toda e cada música já lançada por vocês? (Ledilene Trindade)
Pois é, Ledilene, isso acontece mesmo. Bom, não vou me aprofundar na análise do fenômeno Anna Júlia e o que a música representou para a banda, até porque passamos boa parte de nossa carreira falando sobre isso e, se eu fosse tentar explicar de verdade todos os aspectos relacionados a essa questão, o espaço deste post não seria suficiente. Para sintetizar ao máximo, temos plena consciência de que a maioria dos brasileiros nunca ouvirá nada composto por nós além de Anna Júlia. Por que? Porque, apenas entre os meses de janeiro e fevereiro de 2000, essa canção foi a mais executada nas rádios do país, tendo tocado mais de 8 mil vezes durante o período, o que resulta numa incrível média de 138 execuções diárias! Assim sendo, esse pedacinho do nosso trabalho (afinal esta era 1 dentre 14 músicas do primeiro disco) foi exposta a uma audiência fenomenal, que nunca mais se repetiu com qualquer outra música nossa, claro, assim como costuma ocorrer 1 ou 2 vezes na vida de artistas que tiverem muita sorte. Ao longo dos anos, aprendemos a separar esse episódio surreal de nossa carreira, considerando que a popularidade de Anna Júlia e o público cativo que passou a frequentar nossos shows estavam separados por um abismo. Se muitas pessoas passaram a nos conhecer por causa dessa música? Provavelmente sim, mas outras tantas a ouviram e não tiveram interesse em conhecer o trabalho da banda, ou então até conheceram, mas não gostaram. Se agora estamos fazendo 24 shows, e, pelo menos 20 deles estão esgotados há 4 meses, posso afirmar seguramente que não foi apenas por causa de uma música lançada 13 anos atrás. É bem provável que quando o nome da banda seja mencionado hoje, muita gente sinta até pena, imaginando que, depois de Anna Júlia, fomos engolidos pela terra, ou estamos tocando em alguma churrascaria por aí, hehehe. Isso não tem a menor importância de fato, porque nunca foi nossa ambição ocupar o trono de banda mais famosa, nossa vaidade não passa por aí. De certa forma, não sinto esse, digamos, “sucesso” como algo que perdemos, porque acho que esse lugar em que estivemos por um tempo foi completamente acidental. Penso que as coisas sempre se dão do jeito que deveriam ser, e acho que, atualmente, estamos no melhor lugar em que poderíamos chegar como banda.
14) Bruno, a expectativa de todos para os shows é enorme. Para mim, que serão meus primeiros shows da banda, é imensurável. É sabido por todos que vocês começariam os ensaios nesse mês de Abril. Como é, depois de um relativo tempo de ”separação”, o reencontro musical de vocês? A impressão que temos é que é um encontro de velhos amigos em uma festa escolar. É assim mesmo ou há um tempo de readaptação entre vocês mesmos? (Fred Abucater)
Fred, é mais ou menos do jeito que você falou mesmo, e isso sempre me surpreende. No momento em que estamos juntos, ainda que tenham se passado meses do último encontro, tudo volta a ser do jeito que sempre foi. Quem vê e não sabe poderia até supor que estávamos tocando na semana passada, num lugar qualquer; ontem foi nosso primeiro ensaio e, de saída, já emendamos 17 músicas na sequência, umas meio tortas, é verdade, mais a maioria de primeira. Normalmente os primeiros minutos de ensaio não são exatamente para se orgulhar, mas parece que aquela sinergia de ter tocado juntos tanto tempo fica estocada em algum lugar e, quando menos se espera, ela dá as caras. Só para citar um exemplo, lá pelas tantas, sugeri tocarmos “Adeus Você”, música que nunca foi das mais assíduas em nossos shows. Ainda que ninguém se lembrasse racionalmente de qual era o acorde seguinte, as mão de todos iam parar no lugar certo, e a gente ficou rindo e pensando, ‘como pode uma coisa dessas?’. A experiência de ter vivenciado um afastamento nestes últimos anos, sobretudo pela distância geográfica que passou a nos separar, me ensinou muito sobre a amizade. Acho que amigos de verdade não precisam se falar todos os dias para manter a afinidade que um dia tiveram, porque, uma vez conquistada, ela perdura qualquer obstáculo. Hoje teremos outro ensaio, e tenho certeza que tocaremos 200% melhor do que o ontem.
13) Faz um bom tempo que sou fã de los hermanos, mas sou menor de idade, por isso nunca tive como ir a um show, assim como várias amigas minhas, ano passado fomos a um de camelo, e fiquei muito triste ao saber que não vai ter show de vocês aqui no rio grande do norte, já que vocês tem um grande numero de fãs aqui, qual o critério para escolha das cidades da turnê? (Aline Juliana)
Pois é, Aline, acho que sua pergunta é pertinente, porque são recorrentes as queixas como a sua. Infelizmente são muitos os aspectos que incidem sobre a realização de um show, e nem todos dependem diretamente de nós. Só para você entender como funciona, basicamente qualquer artista do mundo só tem duas maneiras de fazer um show acontecer: sendo convidado por alguém (no caso, um contratante que paga o cachê solicitado) ou se bancando, quero dizer, assumindo os custos operacionais da empreitada, na expectativa de obter o retorno do investimento realizado através da bilheteria. Portanto, para que uma turnê não dê prejuízo, é preciso fazer um planejamento muito bem feito, mesclando shows remunerados antecipadamente e outros que podem representar risco. Há ainda que se considerar que existe uma questão de logística, explico: todo nosso equipamento viaja de caminhão, porque, se fosse transportado de avião, representaria um custo fenomenal, visto que tratam-se de toneladas. Se numa sexta estamos em Manaus, no sábado até podemos estar em Belém, mas não em Porto Alegre, por exemplo. Assim sendo, cada escala da turnê precisa ser posicionada minuciosamente, como num grande quebra-cabeças, e, muitas vezes, as peças simplesmente não se encaixam. Porque no domingo pode não ser um bom dia para se tocar em Santarém, ou então no dia em que conseguiríamos tocar em Santarém, pode estar ocorrendo um outro evento de grandes proporções na cidade, justo no lugar que seria ideal para receber nosso público. O exemplo é hipotético, mas é mais ou menos assim que acontece. No mais, qualquer apresentação do Los Hermanos envolve a remuneração de 30 funcionários, por baixo, considerando técnicos, músicos, motoristas, produtores e etc. e toda essa estrutura não custa barato. Fazer um show em condições desfavoráveis, além de ser uma irresponsabilidade com essa turma, pode representar um belo tiro no pé. Para citar uma história que teve final feliz, até semana passada, os capixabas estavam injuriados porque não passaríamos pelo Espírito Santo. Nos 45 do segundo tempo o universo conspirou a favor e todas essas questões, que antes impediam a tão desejada apresentação, se encaixaram com perfeição no Festival de Alegre, a última apresentação de nossa turnê. Não sei exatamente quais foram as razões pelas quais Natal ficou de fora dessa turnê. Tenho boas recordações de passeios que fiz na linda cidade e do público, sempre muito animado. Quem sabe numa próxima vez teremos mais sorte?
12) A título de curiosidade, como é feito o processo de seleção das músicas de cada show? Não vale dizer que “A flor” sempre encerrará o evento! (Bruno Franciso)
Pô, Bruno, você descobriu nosso segredo! Pode deixar que nessa turnê não vou permitir que nenhum show termine com “A Flor”, até porque fizemos isso muitas vezes ao longo dos anos, né? O que parece é que cada música de nosso repertório sugere uma posição no set list, pela sua própria natureza. Esse comentário pode parecer um pouco abstrato, mas, para mim, é muito fácil perceber se uma música tem cara de início ou de fim de show. Claro que essa impressão também provém da prática, porque fazer set list, meus amigos, é uma arte. Já erramos muito, e a própria experiência acabou se encarregando de ensinar o que funcionav e o que não funciona num show. Há cidades que gostam mais de determinadas músicas, outras em que o local da apresentação impõe o clima do repertório, e por aí vai. As variantes para definir que músicas serão tocadas, e em que ordem, são muitas, e passam até pelo nosso apreço particular, ou pelo quão bem aquela canção soa ao vivo. De forma geral, definimos o set list 30 ou 40 minutos antes do show, deixando aberta a possibilidade de nos deixar influenciar pelo dia, pelas pessoas da plateia e pelo lugar. Acho que não existe uma receita de bolo não, é uma decisão de momento, muitas vezes, equivocada, inclusive.
11) No bloco do eu sozinho o los hermanos dierecionava pra diversas vertentes, diversos estilos mas percebia uma unidade, diferentemente do Ventura que tem uma unidade musical mas os estilos das composições são um tanto quanto grudadas, caminham de mãos dadas. No quatro a impressão que dá é que é um álbum de dois compositores e que cada um quis expor o seu trabalho mas não tem essa unidade, mesmo achando ele fantástico.Você acha que isso já era um indicio que cada um precisava seguir o seu caminho ao finalizarem o 4? (Diogo Fangueiro)
Talvez, nunca parei para pensar nisso… O que eu costumava dizer em entrevistas é que o Bloco é um disco em que as canções estão submetidas aos arranjos, e que, no Ventura, ocorre o contrário disso. No caso do 4, lembro muito da nossa intenção de fazer um disco mais fluido e curto (tem apenas 12 músicas), mas acho que essa visão de unidade é sempre póstuma. Porque para nós, que estamos de dentro, seria impossível imaginar a concepção de um disco sem unidade, visto que esta seria implícita e decorrente das vivências coletivas que tínhamos à época. Assim como nos dois discos anteriores, neste também nos refugiamos num sítio, e o que pode ser ouvido no 4 é resultado desta convivência. O que posso dizer na tentativa de responder à sua pergunta é que o Rodrigo e o Marcelo, dentro da banda, sempre tiveram processos de composição muito individuais, e isso não necessariamente é mau. Penso que é como fazer uma redação em conjunto, há pessoas que conseguem, outras não. De certa forma, acredito que essa espécie de “isolamento” no momento de gênese das canções nos rendeu ótimos frutos, sendo que cada um deles conseguiu com muita facilidade estabelecer seu próprio estilo, o que nos ajudou a ter bastante pluralidade em nossos trabalhos.
10) No momento de composição e, posteriormente, produção de uma música, vocês pensavam em como seria a receptividade de gravadoras e fãs? Isto é, em algum momento, houve o estabelecimento e preocupação de postura da banda quanto a ser uma banda que vendesse bastante disco ou não? (Wladimir Trindade Pereira da Costa)
Acho que seria leviano dizer que nunca nos preocupamos com a receptividade dos fãs ou a venda de discos. Na verdade, suponho que qualquer artista que lança um trabalho deseja que este seja escutado pelo máximo de pessoas possível, e não tem nada a ver com finanças, até porque, como todo mundo sabe, isso já não dá dinheiro para quase ninguém faz muito tempo, hehehe. Quando se está numa gravadora, toda verba que será investida no seu disco (orçamento destinado a clipes, material promocional em lojas, apresentações de lançamento Brasil afora) depende diretamente da expectativa que a empresa tem de obter lucro em retorno apartir daquele produto. Ou seja, para se manter vivo dentro de uma gravadora, é preciso vender discos sempre e, de preferência, muitos. Essa é a regra. A questão que mais importa, no entanto, é quanto cada artista está disposto a permitir que essa expectativa de “lucro” permeie a qualidade de seu trabalho. No primeiro disco, acho que perdemos um pouco a mão na condução desse processo, porque o sucesso de Anna Julia foi muito grande e inesperado e eramos muito jovens. Nessa época fizemos muitas coisas que pensávamos ser inadequadas, tal como participar de programas estranhos na TV, por exemplo. Quando o Bloco saiu, ficou claro que só queríamos ir aonde aquelas músicas nos levassem legitimamente, sem forçar a barra. Não era um disco lá muito radiofônico, porque o repertório era mais introspectivo, então não fazia sentido estar em programas de auditório nos quais não nos sentíamos confortáveis em nos apresentar. Ainda assim, queríamos vender muitos disco, não pagando jabá, mas acreditando na qualidade de nossa música e no poder do boca a boca. O que aconteceu nesse caso específico foi que, ao ser lançado, o Bloco foi um retumbante fracasso comercial, considerando-se os parâmetros da época; entretanto, é o disco do Los Hermanos que mais vende até hoje…
9) Como vocês avaliam e enxergam a influência deixada pra novas bandas no Brasil,digamos assim, num pós-Los Hermanos? (Marcelo Cabala)
As vezes realmente enxergo uma referência, uma citação, no som das novas bandas, as vezes não noto nada. Hoje em dia as influências são tão difusas e variadas que fica difícil precisar. Lembro de que na época em que começamos, e foi o Yuka quem me disse isso, todas as bandas novas do Rio imitavam o Rappa ou o Planet. Nós optamos por seguir um outro caminho, então, de certa forma, acho que seria mais interessante para a cena que as novas bandas pudessem absorver essa influência nossa de uma maneira mais subjetiva. Tomemos por exemplo a coletânea Re-Trato que nos homenageia; gostei muito das versões e acho que aquela turma foi capaz de interpretar nossas músicas de uma maneira autoral que, de alguma forma, acrescenta ao significado das composições escolhidas.
8 ) Com o passar dos anos, Los Hermanos tem se tornado cada vez mais um banda “modinha”. Isso não incomoda de algum modo vocês, os integrantes? (Mariana Arruda)
Um aprendizado que adquirimos ao longo desses anos na estrada pode ser sintetizado numa frase que alguém, não me lembro quem, disse: “um artista nunca deve acreditar no que se diz sobre ele, pro bem ou pro mal”. Trata-se de uma grande verdade porque, seja para onde quer que se olhe, sempre haverá quem ame ou odeie o trabalho que você faz, afinal o mundo é, de fato vasto e, as pessoas, diferentes. Na impossibilidade de poder agradar a todos, a única coisa digna a se fazer é seguir a própria convicção. Desconfio, inclusive, que esse é o único caminho possível para atingir o sucesso, no que quer se faça. Posto isso, minha experiência pessoal indica que já fomos a banda mais odiada do Brasil, e também a mais arrogante, a que tem os fãs mais fanáticos, a mais cool, a mais brega, a maior salvação e a maior decepção do rock brasileiro. O interessante é que durante o tempo em que diziam que éramos tudo isso, inclusive simultaneamente, as vezes, continuamos fazendo o mesmo: compondo e tocando as músicas de que gostávamos, e torcendo para que outras pessoas gostassem também. Ser a banda da moda é apenas mais uma expressão, um rótulo, incapaz de traduzir o nosso trabalho, ou mesmo a relação que desenvolvemos com nossos fãs. Quem aceita essa pobre definição como uma verdade precisa entender melhor o nosso trabalho, ainda que seja para odiá-lo, hehehe.
7) Vocês falaram que queriam que a nova geração de fãs fosse ao show porque nunca viu a banda ao vivo, mas aqui no Rio foi difícil para comprar ingressos sendo menor de idade, então, se existe esse desejo, por que as coisas foram tão difíceis? (Rebeca Tolmasquim)
Infelizmente, no Brasil, determinados artistas nem sempre conseguem tocar nas condições ideais para seu público específico. Não sei onde você mora, mas, tomemos o Rio como exemplo: nossa ideia inicial era fazer uma noite na Praça da Apoteose (Sambódromo), mas os custos eram ridiculamente altos e, basicamente, teríamos que pagar para fazer o show. Outras casas mais confortáveis eram de acesso difícil a quem vem da zona sul e, em nossa opinião, um pouco frias, por serem dentro de shoppings ou em lugares remotos. Acabamos fechando com a Fundição, casa que já abrigou shows da banda anteriormente e com a qual parte de nosso público (unânimidade seria impossível!), de certa maneira, se identifica. Sabemos que o lugar é mais direcionado ao público que gosta de, digamos, participar do shows de uma forma mais ativa, quiça “visceral”, ou seja, no meio da galera, estilo arena de rock, e que essa configuração não atrai a totalidade de nossos fãs, mas… Em relação ao acesso de menores de idade, acontece mais ou menos a mesma coisa: a imensa maioria das casas de show brasileiras precisa vender bebidas, é o praxê, porque a receita do bar normalmente é uma fonte importante de renda para esses estabelecimentos. Quando se vende bebidas, a presença de menores fica dificultada, e isso só poderia ser resolvido caso houvesse alternativas consideráveis em cada uma das cidades em que vamos tocar. Mas não é o que acontece. Tocar de tarde ou sem a venda de bebidas alcoólicas no recinto, por exemplo, por vezes pode também afastar parte do púlbico, isso quando existe um lugar onde seja possível fazer shows nesse formato. Ufa, não é uma equação simples de resolver. Tentamos fazer sempre o melhor para agradar a todos, mas isso quase nunca é possível. Em São Paulo, por exemplo, os fãs conseguiram solicitar à casa uma noite sem venda de bebidas, o que foi muito bacana, na verdade. Mas, como eu disse, nem sempre é fácil conseguir algo assim.
6) Qual a sua opinião em relação aos trabalhos de Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante pós Los Hermanos? Você curtiu o som deles, ou preferia quando eles tocavam juntos (rsrs)? (Darjan Oerlys)
Legal ter pintado essa pergunta, porque acho que nunca falei explicitamente sobre esse tema. De maneira geral, eu gosto muito dos discos que o Marcelo e o Rodrigo lançaram pós-Los Hermanos, de verdade mesmo. É preciso notar que, antes de termos uma banda juntos, somos amigos. Conheço esses caras sei lá, desde os 20 anos, e de certa forma assisti ao processo que transformou dois moleques ali da faculdade possivelmente nos dois mais brilhantes compositores da nossa geração. Ao longo dos anos aprendi a entender os limites e as qualidades de cada um quanto a este aspecto, e ouvir o trabalho que fizeram fora da banda não deixou de ser a constatação desse amadurecimento constante que eles experimentam como músicos e letristas. Considero que os dois foram muito felizes ao saber explorar nesta fase aspectos complementares à banda. Exemplo? O primeiro disco do Marcelo, na minha opinião, valoriza as canções em detrimento dos arranjos, o que, por vezes, é mais difícil de ocorrer dentro de uma banda autoral e ultra-participativa como o Los Hermanos. O disco do Little Joy, por sua vez, é marcado pela leveza, pelos arranjos despretensiosos, espaçados, o que nem sempre foi uma constante nos discos da banda. Enfim, acompanho tudo que eles participam de perto, e gosto de constatar a pluralidade que cada um deles demonstra nos novos trabalhos em que estão envolvidos.
5) O Los Hermanos chegou ao estágio em que, mesmo estando em recesso, a quantidade de fãs não para de aumentar. A música resultante dos 10 anos que a banda passou em atividade, agora, caminha com as próprias pernas, tornando-se conhecida e admirada por cada vez mais gente. Vocês veem a turnê de 15 anos mais como um reencontro com os antigos fãs, ou uma apresentação, perpetuação da música da banda aos que nunca tiveram a oportunidade de vê-la ao vivo? (Luiza Gadelha)
Acho que enxergo as duas coisas, simultaneamente. Quando um artista decide fazer um show, não tem como saber quem exatamente vai aparecer, afinal, trata-se de um evento público, certo? Portanto não é possível determinar por antecipação qual será o perfil dominante durante esta turnê, visto que, ao longo de 15 anos de atividade, atravessamos aí umas 3 gerações de fãs, hehehe. Conheço pessoas de 65 anos que adoram a banda, e outras, com 12, 14 anos, que ouvem os discos por causa dos pais, mas nunca nos viram tocar ao vivo. Ao longo do tempo, comecei a entender que existem vários tipos de fãs, mas uma característica, em especial, os distinguem: os que vão e os que não vão a shows. Entenda por ir a um show do Los Hermanos ter a disposição para, muitas vezes, ficar 2 horas de pé, no aperto, aturar guitarras no último volume, etc. Claro que tem muita gente que adora isso, mas outros, nem tanto. Nessa turnê em específico, meu palpite é que teremos um mix, ou seja, fãs que acompanham a banda faz anos e fãs que nunca nos viram tocar. Particularmente, esse é um aspecto que nos agrada muito, afinal a diversidade sempre foi uma bandeira da banda. Quero deixar aqui registrado que nos orgulha demais perceber que as músicas da banda, como você mesma disse, “caminham com as próprias pernas”, que resistiram ao tempo, aos modismos…o que mais uma banda pode querer, além de desejar que as músicas feitas perdurem sua própria atuação? Para mim, trata-se da honraria máxima que se pode conquistar nessa carreira…
4) Qual sua opinião sobre a idolatria que os fãs tem pela banda ? Vocês têm milhares de fãs pelo país e pelo mundo, durante os shows (ou até no meio na rua, talvez ), deve ser comum ver fãs chorando, gritando, entrando praticamente em “catarse ” ao ficar diante de vocês. Vocês ainda consideram esse assédio como algo incomum, ou virou uma coisa muito normal, digamos, como parte de qualquer rotina de trabalho? (Soraia Mirio)
Essa é uma questão bastante paradoxal, eu diria. Por um lado, é muito estimulante se sentir querido e poder perceber que nossas músicas fazem parte da vida das pessoas de uma forma tão contundente. Ao mesmo tempo, é um pouco desconcertante estar diante de alguém que treme ou chora apenas porque teve a oportunidade de conversar conosco. Não acho que este seja o caso do Los Hermanos, mas consigo perceber com clareza que essa espécie de culto que se cria em torno de determinados artistas acaba se tornando um fardo emocional pesado demais para ser carregado. A história da música nos prova que muita gente boa literalmente pirou por não saber equilibrar essa adoração, esse patamar inalcançável que lhes foi imputado com a trivialidade da vida cotidiana. Na verdade, acho que a maior dificuldade reside no fato do artista se sentir de alguma maneira responsável pela projeção que algumas pessoas acabam fazendo, tendo muitas vezes como referência uma composição artística que, por natureza, é completamente subjetiva e abstrata. Respondendo a sua pergunta, me parece possível considerar algo comum e ainda assim nunca se acostumar a isso…
3) É perceptível a mudança de som entre o Cd Los hermanos e o Bloco do Eu Sozinho. Essa mudança se dá pelo fato do amadurecimento de vocês como músicos, ou porque esse sempre foi o tipo de trabalho que quiseram fazer? (Kajé Soares)
Pode-se dizer que as composições do primeiro disco refletem essencialmente os anseios musicais do Marcelo, sobretudo durante o tempo em que ele frequentava a cena underground do Rio. Os outros integrantes da banda entraram no Los Hermanos a convite dele e, de alguma forma, procuraram dar corpo às ideias que ele tinha quanto ao tipo de banda que pretendia formar. Essas músicas, portanto, foram concebidas numa atmosfera muito voltada para o momento do show, visto que a imensa maioria das bandas que tocavam nos mesmos lugares que nós eram nada mais do que um bando de amigos que se reunia no palco apenas por diversão. Quando a loucura de Anna Júlia cessou, a impressão é de que 10 anos haviam se passado em 2, dada a intensidade e a importância dos aprendizados aos quais fomos submetidos. De certa forma, era então a primeira vez que sentávamos para pensar um disco do zero como banda, com disponibilidade de recursos para gravar, tempo e etc.
O underground tinha ficado para trás há muito, e agora nossas influências eram outras, bastante distintas (uma das principais foi o disco “La Marcha del Golazo Solitário” da banda argentina Los Fabulosos Cadillacs). Minha impressão é que essa transição deve se dar com muitas bandas, mas acho que cada uma delas, no momento da composição, se deixa permear por isso em medidas diferentes. Em nosso caso, foi tudo ou nada: o surgimento das novas composições, como reflexo das experiências que tínhamos vivido nos 2 anos anteriores, precisavam se tornar públicas, não havia como fugir disso. O Bloco tem muitas frases que simbolizam nosso estado de espírito naquele momento: “Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada, todo bossa é nova e você nem liga se é usada” ou “Feito pra mim, bom pra você. Deixa mudar e confundir! Deixa de lado o que se diz. Tem no mercado, é só pedir!…Me faz chorar… e é feito pra rir” são exemplos do que queríamos dizer a partir de nossas músicas.
Entendo que a mudança de sonoridade foi muito radical entre estes discos em específico (nós também sentimos isso), mas acho que esse estranhamento dos fãs e do mercado se deve, principalmente, ao fato de que não é muito habitual para as bandas abandonarem seus tradicionais estilos em nome de uma inspiração que aponte radicalmente para outra direção. Quando isso nos foi colocado como um potencial problema, pensamos: “pô, temos 21 anos e já vamos começar nossa carreira com o rabo entre as pernas? Melhor fazer o que temos vontade agora e depois ver como fica”. Sábia decisão. Irresponsável, mas sábia, hahaha…
2) Gostaria de saber sinceramente, o que entusiasmou cada um de vocês a realizarem esta turnê, visto que já estão em um longo recesso? (Rubens Souza)
Essa é uma pergunta que cada um de nós têm ouvido bastante nestes últimos meses. De certa forma, acho curioso como a motivação dos shows afeta o imaginário de algumas pessoas, como se o que está nos bastidores fosse mais importante do que o que está em cena. O mais engraçado é que nos perguntam detalhes muito específicos, algo como: “mas quem foi que mencionou a ideia da turnê, quem mandou o primeiro e-mail de todos?” e eu, sinceramente nem me lembro! Quanto a relação dos integrantes, o que posso dizer é que trocamos e-mails com frequência e que, eventualmente, nos encontramos, mesmo vivendo ou atuando em cidades (e países) diferentes, e temos vários amigos em comum, claro. A ideia da turnê surgiu numa dessas conversas por e-mail, digo, a ideia de comemorar os 15 anos da banda com uma série de shows pelo Brasil. Um disse “bem que podíamos fazer uns shows” e o outro perguntou “em que cidades? Quantos?” e por aí foi. Respondendo à pergunta, o que nos motiva nessa turnê são algumas coisas, dentre as mais importantes posso citar tocar e estar junto de grandes amigos, que se conhecem há muito tempo e que passaram por muitos percálcios e alegrias juntos e sentir, mais uma vez, a incrível energia que emana do nosso público (dizendo assim parece um baita clichê, mas quem já foi a um de nossos shows sabe a que me refiro). Se saber que quase 200 mil pessoas desejam nos ver tocar de novo não é motivo suficiente para fazê-lo, não sei o que é então.
1) A banda é algo tão especial, tão singular, pq vocês decidiram parar? pq não criam um álbum novo pra saciar a “fome” dos fãs? (Agnes Lemos)
Acho que a decisão de “parar” foi motivada justamente por isso, pela nossa percepção de que era preciso cuidar de algo que acabou se tornando tão especial para nós e para tantas outras pessoas também. Em 2006, vinhamos numa batida de praticamente 9 anos ininterruptos de trabalho, emendando um cd no outro, uma turnê na seguinte. Acho que a decisão de suspender as atividades da banda, que pareceu tão abrupta na época, foi muito importante para cada um de nós, porque nos fez olhar em volta, entender o que tínhamos conquistado até então e o que queríamos alcançar dali pra frente. Certamente, naquele momento, não precisávamos de mais um disco, e de mais outra uma turnê. Como resultado dessa, digamos, reflexão, posso dizer que todas as interações que nós, integrantes, tivemos deste ponto em diante foram extremamente positivas, e que todas as apresentações que porventura se deram foram muito desejadas e muito festejadas por nós. A verdade é que o Los Hermanos nunca deixou de existir – apesar de muita gente pensar o contrário; a banda apenas colocou as coisas em perspectiva, e passou a lidar com o tempo de maneira diferente… para poder seguir a diante. Penso que a banda é como uma casa de praia: por mais que você tenha escolhido outro lugar para morar e ainda que você só passe ali alguns dias por ano, trata-se do lugar em que você vai viver os momentos mais felizes da sua vida. Exatamente porque ali é seu refúgio, e não a sua rotina. Não sei se consegui responder à pergunta, mas talvez eu não seja mesmo capaz de colocar esse sentimento em palavras. Quanto a possibilidade de um novo disco, não sei, não existe nada combinado, nunca sequer conversamos sobre isso. Acho que tudo depende muito do que vai acontecer nos próximos meses. Se isso efetivamente vier a se tornar realidade, no entanto, não será por agora.