A Raspa do Tacho
A última semana do ano é, sem dúvida, uma grande arapuca para a incidência de inevitáveis clichês. Não só para mim – que ouso tentar escrever sobre o tema sem recorrer à velha fórmula de recapitular o ano que passou ou planejar o que está por vir – como para qualquer um, independente da atividade que se disponha a exercer durante estes dias.
A bem da verdade, dificilmente algo que ocorra ou porventura seja decidido entre 26 e 30 de dezembro será definitivo ou mesmo relevante, isso porque toda a atenção das pessoas nesta época se converte para a recuperação física e psicológica da comilança natalina ou para a tarefa de antever as conquistas que pretendem alcançar no próximo ano. Portanto, esteja trabalhando ou curtindo férias, você pode estar certo de que não será surpreendido por grandes acontecimentos ou imprevistos.
A fim de evitar possíveis alegações sobre a leviandade desta minha tese, realizei uma breve pesquisa sobre os fatos que marcaram o referido período ao longo da história. O resultado fala por si só: 27 de dezembro de 1948, por exemplo, destacou-se por coincidir com a data da independência político-administrativa do município de Jequitaí, no norte de Minas Gerais, olha que bacana. Já em 28 de dezembro de 1975, cantou-se pela primeira vez o hino do Timor Leste. E quem sabia dessa? Também foi num 29 de dezembro, em 1992, que fundaram o Independente Esportes Clube Macaé; ainda no quesito esportes, em 30 de dezembro de 2009, acreditem vocês ou não, o clube belga Excelsior Mouscron foi excluído do campeonato local, por não entrar em campo para disputar uma partida.
Reparem que não é implicância minha, mas sim as próprias evidências a sugerir que o Natal e o Ano Novo poderiam se fundir de uma vez sem qualquer prejuízo, evitando assim a semana moribunda que tradicionalmente se faz entre uma e outra data. Agora pensem nos benefícios de ir dormir na noite do dia 25 e acordar logo na manhã do dia 31. Que semana não seria essa, hein?! Três dias de festa ininterrupta, praticamente um segundo carnaval!
Para quem costuma receber parentes em casa, a compactação do final de ano representaria também o fim daqueles colchonetes espalhados pela sala, da fila pra tomar banho e da necessidade de fornecer comida para um batalhão. Se bem que o novo modelo praticamente aniquilaria a chance de passar o Natal em casa com a família e o Ano Novo com os amigos, bem longe dela. Aliás, como dizer para aquele tio que veio de tão longe para usufruir de míseros 3 dias na companhia de seus entes queridos que você tem outros planos para o Réveillon? Não dá, né?
Pelo sim pelo não, melhor deixar tudo como está, e aproveitar esses últimos dias do ano para arrumar a gaveta das contas antigas, ler um bom livro sobre apicultura, aprender a embaralhar cartas de baralho, lixar os calos dos pés, e o que mais sua imaginação determinar, tendo a certeza de que nada nem ninguém se porá em seu caminho.
Caso você discorde radicalmente das razões expostas neste texto e considere possuir argumentos que justifiquem a existência dessa derradeira semana de 2011, não hesite em dividi-los conosco através da seção de comentários deste blog. Se você concorda com o que leu, escreva também, quem sabe juntos não consigamos alterar o calendário?
Bom, se você não concorda nem discorda, tudo bem. Afinal, semana que vem será 2012 de um jeito ou de outro. Então, feliz ano novo!