Não tenho como deixar de registrar publicamente minha satisfação por ter recebido ao longo desta semana tantas manifestações entusiasmadas em função dos shows do ano que vem. Para se ter uma ideia a que me refiro, o post anterior, que menciona a turnê, recebeu mais de 2.000 comentários, um recorde absoluto para este blog e, possivelmente, até para o G1 ao longo de seus quase 5 anos de existência. Na página oficial da banda no Facebook, caminhamos para 50.000 confirmações de presença nas apresentações, um número, no mínimo, impressionante.
Todo esse carinho recebido nos faz ter a certeza de que o empenho para viabilizar esta turnê será recompensado com shows memoráveis, arrisco até dizer, os encontros mais gratificantes e significativos que teremos com nosso público. Ao ler o que vocês escreveram (sim, sou eu mesmo quem libera os comentários do blog), notei que são muitas as solicitações para que toquemos em cidades específicas, sobretudo Belém, Manaus, Curitiba, São Luis, Vitória, e tomei conhecimento de que alguns destes lugares já contam com iniciativas de mobilização em prol da inclusão de tais capitais em nosso roteiro. O que posso dizer no momento é que não existe nada acordado sobre uma possível extensão da turnê, mas isto não me parece definitivo ainda.
Como não poderia deixar de ser, há também nos comentários perguntas sobre se estes shows representam ou não uma “volta” da banda e se existem planos para lançamento de um quinto disco em breve. Alguns vão além e questionam o por quê de se fazer uma turnê se não dispomos de músicas novas para apresentar. Tratam-se de dúvidas compreensíveis, portanto vou tentar esclarecê-las de uma vez:
Escrevi acima “volta” entre aspas porque acho curiosa a noção de tempo que algumas pessoas tem, como se este fosse palpável e retilíneo, como se a vida seguisse um roteiro previsível ou programável: quando, por exemplo, amigos de longa data permanecem dois, três anos sem se encontrar, por, digamos, morarem em cidades distantes, isso significa que a amizade deles “terminou” durante esse período? E então se conseguem estar juntos por um final de semana que seja, isso significa que a amizade deles “voltou”? O Los Hermanos não “foi” ou “voltou”. Ao longo destes 6 anos em que não lançamos discos ou tivemos uma rotina atribulada de shows –como foi costume por mais de uma década– nos dedicamos a outros projetos, alguns pessoais, outros profissionais, considerando que esta era uma manobra necessária para evitar a saturação de nossa convivência, o que de fato poderia interferir não só na qualidade artística do que produzíamos como também em nossa amizade.
Se hoje podemos nos orgulhar de ter ao menos dois discos apontados como sendo dos mais relevantes lançados no país nos anos 00, não é por acaso, é reflexo do comprometimento que sempre tivemos ao criar nossas músicas. O processo de feitura de um disco do Los Hermanos nunca se deu em menos de 6 meses, portanto por aí já se nota a dedicação e o tempo que a empreitada exige para estar a altura do parâmetro de qualidade que estabelecemos. De certa forma, também me parece um pouco infundada esta associação direta que se faz entre shows e disco novo, como se um não pudesse ocorrer sem o outro. Se os leitores puxarem um pouquinho pela memória, vão se dar conta de como é comum a bandas nacionais e internacionais com um pouco mais de história privilegiar maciçamente em suas apresentações sucessos da carreira, ao invés de músicas de seus discos mais recentes. Se fosse para chutar um número, numa apresentação de, supondo, 30 músicas, diria que o comum seria tocar de 3 a 4 canções novas, isso quando muito.
Mas se ainda assim restarem dúvidas sobre que argumentos amparam essa turnê, acrescento mais um, talvez o mais importante de todos; quero dizer que sempre será um privilégio estar junto desses caras que conheço desde os 19 anos, com quem dividi os momentos mais intensos, surpreendentes e prazerosos da minha vida. Qualquer chance que houver de tocar com eles, ainda que seja ao relento, numa madrugada fria, chuvosa e para as moscas, será considerado por mim uma honra. Quando olho em retrospectiva para o que se passou nesses últimos 15 anos, agradeço a sorte que tivemos ao nos esbarrar na faculdade, entre uma aula e outra, e por termos tido, a partir daí, a oportunidade de construir juntos algo que até hoje desperta tanta comoção. Se isso não é suficiente para justificar esses shows, bem, que seja pelas quase 50.000 pessoas que até o momento nos fazem pensar que sim.