De rodinhas

seg, 27/09/10
por Bruno Medina |

Tarde chuvosa de domingo, pouco mais de uma semana para o começo dos ensaios com a banda. Teclado ligado ao laptop e, na tela dividida em duas, uma janela aberta no iTunes, outra, no Garageband. Essa tem sido minha rotina. Ao longo das tardes – e começo das noites –, vou repassando as músicas do Los Hermanos para a mini-turnê, as prováveis e as desejáveis, recuperando detalhes esquecidos e, aos poucos, retomando a boa forma.

Antes dos shows de março do ano passado, lembro-me de ter escrito um post comparando a sensação de tocar um repertório conhecido, após um longo intervalo, ao ato de andar de bicicleta. Realmente a gente nunca se esquece, mas, de lá pra cá, mais de um ano e meio se passou, e é bem verdade que a tal bicicleta não perdeu o prumo, não esvaziou os pneus, nem a graxa da corrente secou, muito embora – devo confessar encabulado, assim como fazem as crianças – tenho precisado de rodinhas.

As rodinhas a que me refiro são as providenciais cifras das músicas da banda disponíveis na internet, sem as quais meu trabalho seria um tanto mais difícil. E que mal tem em dar uma mãozinha à sobrecarregada memória? Me pergunto o que, em outros tempos, fazia um artista quando se esquecia dos pormenores harmônicos das próprias canções? Ligava pra um grande fã, ou, quem sabe, para um músico renomado da cidade? Ouvia o disco de trás pra frente até decifrar o enigma ou criava algo novo, para preencher a lacuna?

Aos que estiverem torcendo o nariz desde o início do parágrafo anterior, faço uma ressalva: não, meus caros, as cifras da internet não resolvem todos os problemas, até porque, na imensa maioria das vezes, elas estão incompletas ou simplesmente erradas. No caso das músicas do Los Hermanos, me deparei com a expressão “cifras simplificadas”, ou seja, o detalhezinho procurado é justo o que o sujeito responsável pela publicação da harmônia não conseguiu tirar, e a cola acaba passando apenas como dica.

São trechos como o de Samba a Dois, quando a letra diz “o meu bloco tem sem ter e ainda assim”; amigo, aqueles 4 acordes, se não treinar uma vez por semana pelo menos, já era, caveirinha preta. Outra música tinhosa, que é uma imensa caveira, daquelas com lenço e duas espadas fincadas, é Dois Barcos. Tem mais acordes complicados do que método de jazz para piano.

Como se não bastasse o extenso dever de casa, ainda restam as encomendas, que chegam por todos os lados. Ontem mesmo meu filho Vicente me viu tocando e falou “grupo papai, ha,ha,ha,ha”. A frase, traduzida, significa um pedido pela versão que fizemos para “Hollywood”, dos Saltimbancos Trapalhões, que faz o maior sucesso no playlist do quarto dele. Na prática, esse singelo exemplo já é uma espécie de campanha antecipada, porque o Vicente vai estar nos shows de Salvador e eu tenho a missão de convencer os demais hermanos a tocar essa música, ainda que seja em prol das criancinhas! Agora joguei pesado…

Tão criança

seg, 20/09/10
por Bruno Medina |

Certa vez, na hora da saída, a professora da alfabetização pegou minha mãe pelo braço para ter um particular. Num misto de graça e preocupação, contou-a que naquela tarde havia proposto à turma colorir um boneco contornado, que por acaso estava vestido de terno. Segundo a “tia”, todos os alunos haviam preenchido o desenho com múltiplas cores, tantas quantas pudessem imaginar, a exceção de um, que pintou o paletó de azul-marinho, a calça de marrom e a gravata de vinho. Perguntado sobre o porquê de ter escolhido essas cores, respondi indignado: “mas não é assim que é?”.

Nesse mesmo semestre fomos ao teatro, eu e os colegas, e, mais uma vez, o desenho que deveria resumir a experiência despertou comentários. Seguindo a mesma lógica, folha toda riscada de preto, professoras com medo de mim e, não por acaso, uns vinte anos depois eu estaria escrevendo crônicas. Lembro-me ainda de uma outra curiosa manifestação desse involuntário apreço pelo hiperrealismo, que me persegue desde não sei quando: sentado no sofá da sala, assistindo desenhos na TV, eu contava o número de absurdos que ocorriam na tela.

Funcionava assim: Papa-Léguas passa veloz pela beira do abismo e fica pairando no ar? 1 absurdo. Coiote é esmagado pela bigorna e, no momento seguinte, aparece sem ferimentos, como se nada tivesse acontecido? 2 absurdos. Papa-Léguas come alpiste posicionado em cima da carga de dinamite e é o Coiote quem explode atrás da moita (deu pra notar que eu gostava desse desenho)? 3 absurdos, e por aí vai.

Na medida em que ia crescendo, aumentava também a complexidade das questões que despertavam minha inquietação. Uma delas, inclusive, foi responsável pela maior decepção da minha infância, talvez apenas comparável ao dia em que testemunhei o Bozo fugindo de uma horda de crianças histéricas pelas escadas-rolantes de um shopping. Acho que foi através de uma propaganda na contracapa da revistinha da Mônica que conheci o Liquid Paper, revolucionário corretor ortográfico que prometia fazer os erros desaparecerem.

Esse é o tipo de anúncio que instiga o imaginário de uma criança – ainda que seja uma criança como eu fui – afinal, qual delas não gostaria de ter em mãos um pincelzinho que, quando molhado numa substância mágica, faria o que quer que fosse desaparecer? A mim, na verdade, pouco importava o que desapareceria, mas sim como. Pois bem, após muito encher o saco ganhei o meu, e, tão logo cheguei em casa, fui logo passando o alvo conteúdo do frasquinho no pé da cama.

Após a formação da característica crosta, fiquei contando os instantes para presenciar “a mágica” acontecer. O mínimo esperado era ver a peça se desmaterializando, e até cogitei apagar logo os 4 pés de uma vez, para deixar a cama levitando no quarto. Passados uns 30 segundos, caiu a ficha. O Liquid Paper era tão somente uma tinta branca que grosseiramente encobria a superfície da folha, não deixando pairar qualquer dúvida sobre quando se dá a utilização do produto.

Traído pelos apelos do marketing ou, quem sabe, pela imaginação infantil, constrangido por ter cometido tão vexatório engano e, de quebra, ter que explicar aos pais do que se tratava a arte feita sobre a cama laqueada, sorri. Naquele momento eu entendi as entrelinhas do que dizia, no rádio, a voz grave e rascante do sujeito que cantava “Já não sou mais/ tão criança/ a ponto de saber tudo”, sem nem mesmo ter ideia de que o bom da vida muitas vezes é justo não saber.

Eu gosto de uma coisa errada

sáb, 11/09/10
por Bruno Medina |

O título acima – homônimo do livro de Pedro Dória, que revelou ao mundo não só um punhado de boas histórias como a própria Bruna Surfistinha, – me é imprescindível para introduzir o tema desse post. A bem da verdade, a expressão cunhada pelo jornalista e escritor para nomear sua insólita jornada pelo comportamento sexual nos tempos de Internet é a mais fiel tradução de como me sinto em relação ao objeto sobre o qual discorrerei. Mas calma, não é nada disso que você está pensando! Antes que consiga me complicar ainda mais, melhor terminar logo com o suspense. Bem, não é muito fácil admitir, mas eu simplesmente não consigo resistir às revistas de celebridades.

Sendo muito sincero, não foram poucas as vezes em que fui visitar minha mulher enquanto fazia as unhas no salão de beleza, apenas para ter o álibi de folhear as malditas revistas enquanto a esperava. Nos consultórios médicos e salas de espera em geral, cheguei a desenvolver um método que permite sacar a leitura queima-filme do revisteiro sem despertar olhares tortos, mas isso eu prefiro não tornar público, sob o risco de arruinar a engenhosa estratégia.

Respondendo a quem já está curioso, ou mesmo assombrado, depois de um tanto pensar, cheguei a conclusão de que o que essas revistas têm de mais fascinante é a tentativa de glamourizar o “inglamourizável”. Eu explico; sabe aquela festa de estreia de peça fadada ao fracasso, a noite de autógrafos do livro de auto-ajuda escrito pelo empresário decadente ou o casamento do banqueiro desconhecido, velho e rico com a moça bela e jovem? Então, é mais ou menos isso a que me refiro.

Qualquer pessoa que tenha passado os olhos numa dessas revistas (e, por favor, não tente me convencer de que você nunca o fez) deve ter percebido que as ocasiões, os protagonistas, os rostos mais esticados do que pele de tamborim e as decorações das casas não se alternam muito, o que, de certo modo, enquadra aficionados como eu na mesma categoria daqueles que assistem do começo ao fim uma novela que não vai ter nada de novo.

Pois bem, assim sendo, meu capítulo preferido é “atriz famosa fala pela primeira vez sobre a dolorosa separação”. As pobres beldades posam sozinhas bebendo vinho em lugares frios, fitando paisagens distantes, lendo livros cabeça esparramadas em espreguiçadeiras, ou melhor, chaise longs, e até sorrindo, ainda que por trás de olhares melancólicos alternados com os de superação. Frase em destaque: “ainda é cedo para pensar no futuro. (nome do ex) sempre vai ser uma pessoa muito especial pra mim, mas sem dúvida estou melhor agora”.

Tendo a dor de cotovelo atenuada pela viagem totalmente bancada, a celebridade tristonha pode avaliar seu prestígio a partir da seguinte classificação: se a mandarem para um castelo na Europa, classe A, sendo o destino escolhido um lugar exótico e rústico, classe B. Se for parar na Ilha, classe C, com certeza, agora, se receber passagens para Punta Del Leste, bem, é melhor que o próximo namorado seja mais famoso do que o atual.

Dentre tantos personagens que se repetem, há um que me intriga. É aquele sujeito que se casa pela terceira ou quarta vez, sendo que as tentativas anteriores também foram devidamente registradas pela mesma revista. Se eu fosse a noiva de um desses caras, pensaria das duas uma: ou meu futuro marido tem o estranho hábito de colecionar fascículos de seus casamentos falidos ou o “que seja eterno enquanto dure” passou a ter prazo de validade inferior a três anos.

Pra fechar a tampa

qua, 01/09/10
por Bruno Medina |

600full-los-hermanos

Atendendo a pedidos, Los Hermanos, dia 9 de outubro, no SWU! Será o primeiro show da mini-turnê, muito embora o último a ser anunciado, e fecha com chave de ouro a lista de shows da banda em 2010 (antes que alguém pergunte, isso é definitivo). Além da coincidência do evento ocorrer justo na época em que tínhamos reservado para as apresentações desde o início do ano, pesou a relevância da proposta do festival, e o fato de disponibilizar área de camping para o público. Em minha opinião, essa é uma experiência incrível que, apesar de muito popular fora do Brasil, foi pouquíssimo explorada pelos produtores nacionais até hoje.

Nossa expectativa também é atender, ainda que parcialmente, à demanda dos fãs da região sudeste, que reclamaram bastante da distância geográfica em relação aos locais que tinham sido anunciados. Lembrem-se de que a proposta inicial era a de fazer 2 apresentações, que já viraram 5! Mais do que isso seria impossível para a banda, tendo em vista os compromissos que cada um dos integrantes já havia assumido.

Bom, acho que por enquanto é isso. E tá bom, né?



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